Se você é um old gamer, com certeza deve conhecer EarthBound, sendo um dos maiores jogos da Nintendo. Mas será que deve conhecer a história de Giygas? A partir de agora existem spoilers, se ainda não jogou e quer ter uma experiência uníca, aconselho a pular.
Earthbound, conhecido no Japão como Mother 2 (o primeiro jogo, lançado para NES, nunca foi localizado para os EUA), é um RPG desenvolvido pela Ape em parceria com a HAL Laboratory. Idealizado por Shigesato Itoi e tendo a participação na producão de figuras como Satoru Iwata (que comandou a programação) e Hirokazu “Hip” Tanaka, o game buscava parodiar e brincar com vários elementos da cultura americana, de uma forma bem leve e humorada, com uma história envolvendo abdução e invasão alienígena aliada à habilidade de poderes psíquicos e paranormais.
No entanto, essa abordagem foi totalmente esquecida no momento final do jogo, quando os personagens precisam enfrentar Giygas, que, enquanto que no primeiro Mother era uma espécie de alienígena cuja “mãe” humana o ensinou a ter compaixão – o que definitivamente foi crucial para sua derrota nesse episódio – agora adquire tamanho poder a ponto de destruir sua própria consciência e mente, tornando-se não apenas a personificação ou representação do que há de maligno, e sim o próprio mal em si, sem forma definida ou aparência. É o puro “conceito” do mal.
Sem mais delongas, vamos ao perturbador vídeo que ilustra esse momento final. No início, os heróis têm de voltar ao passado para derrotar Porkey, o vizinho do protagonista Ness que sofreu uma lavagem cerebral dos alienígenas, e o próprio Giygas, ainda em processo de transformação física através de um dispositivo chamado Devil’s Machine. No entanto, Porkey, após derrotado, decide desligar essa máquina, liberando toda a energia maligna que Giygas é, jogando os heróis em uma dimensão de completa escuridão, onde os ataques da “criatura” são imensuráveis e incompreensíveis, e quaisquer tentativas de revidar não surtem efeito significativo.
Porém, há uma última esperança de derrotar Giygas: através do poder da fé. Paula, que está junto nesta batalha desesperadora, começa a clamar:
“Por favor, dai-nos forças… Se possível… Por favor… Alguém… Ajude!”
Assim, aos poucos todos os personagens os quais Ness e seus amigos encontraram durante a aventura começam a sentir algo diferente, a ponto de fazer suas preces pelo bem-estar dos heróis naquele momento difícil. As defesas de Giygas se tornam instáveis, e novas transformações dimensionais passam a ser constantes.
Para os impacientes, a 1ª transformação ocorre aos 3:00min do vídeo, e as orações se iniciam a partir do 6º minuto de vídeo.
Conforme Giygas demonstra sua fraqueza, são disparadas frases meio que incompreensíveis, e todos os habitantes do universo do game continuam orando pelos heróis, enfraquecendo mais ainda o mal. As coisas se tornam cada vez mais instáveis, e as preces de Paula são absorvidas pela escuridão, sem serem transmitidas aos outros. No entanto, a batalha termina bem. A transformação final e o desfecho da luta podem ser conferidos aqui (sem o final do jogo, é claro), a partir dos 5:00min, quando tudo foge do controle. É bizarro até mesmo de assistir.
Quem imaginaria um game da Nintendo com tantas coisas assim?
Como surgiu
Tudo isso veio da mente doentia de Shigesato Itoi. Mas como? Em uma entrevista concedida em 2003, o designer declara de onde surgiu a ideia de Giygas:
“Basicamente, Giygas é algo do qual não faz muito sentido, sabe? Mas existe uma parte dele que é como algo vivo que precisa de amor. Essa parte é o seio de Hisako Tsukuba no filme ‘The Military Policemen and the Dismembered Beaty’ […] É um trauma de infância. Quando eu era criança, acidentalmente acabei assistindo ao filme errado no cinema. Depois que vi, voltei para casa totalmente consternado. Eu estava tão chocado que deixei meus pais preocupados. Afinal de contas, uma mulher havia sido estuprada. Em um rio. No filme. Quando o cara pegou seio dela e apertou bem forte, parecia uma bola. Isso me atingiu de uma forma muito forte, diretamente na minha mente
[…]
Em outras palavras, havia esse senso de terror com a atrocidade e o erotismo caminhando lado-a-lado, e é isso que o monólogo de Giygas significa. No final, ele diz: “Isso dói”, não é mesmo? Aquele é… O seio dela. É como, eu descrevo, como uma sensação ‘humana’”
Para resumir, Shigesato Itoi usou da forma mais apropriada para tratar de seu trauma de infância: compartilhando-o com todas as outras crianças no mundo! No entanto, talvez seu inconsciente tenha ido além do que deveria, criando uma memória de algo que realmente não aconteceu.
O que quero dizer com isso? Bem, acontece que o filme citado NÃO POSSUI cena alguma de estupro. A única coisa retratada no filme é um estrangulamento de uma mulher. E nem aparecem os seios! Confira uma versão super resumida da película:
Por mais que isso seja algo totalmente fabricado pela mente de Itoi, a menção a estupro e erotismo aliada à forma de Giygas após sair da Devil Machine serviu para alimentar diversas teorias acerca do que a batalha final de Earthbound representaria de fato. A mais famosa é a…
Teoria do Aborto
De acordo com essa imagem do mapa referente o trecho final do game, a estrutura da Devil’s Machine se assemelha muito ao Cérvix, também conhecido como o colo do útero de uma mulher. E a “forma” que Giygas adquire seria semelhante a de um feto, ou seja, toda a cena é uma figuração de um aborto!
A tese também suporta o fato de que a origem de Giygas tenha sido através de um estupro. De acordo com a história canônica desde o primeiro Mother de NES, dois terráqueos chamados Maria e George foram abduzidos e obrigados a cuidar da criatura, designada a invadir a Terra. No entanto, indo além desse conto, Maria teria sido violentada pelos alienígenas a fim de gerar a criatura, e algumas das frases que Giygas profere na batalha final seriam na verdade o que Maria havia dito enquanto era estuprada.
Isso sem falar, é claro, no nome original do jogo em japonês: Mother. E no trauma de infância de Itoi, ou seja, do estupro que ele diz ter presenciado no filme e que na verdade é apenas um produto de sua mente imaginativa. Ainda assim, essas evidências só apoiam a tese criada por alguns dos aficionados pelo jogo.
No entanto, com o tempo, isso não a impediu a Teoria do Aborto de ser ridicularizada pelos fãs, como podemos ver imagens como essa.
E você, acha que é somente uma teoria, ou pode ter algo de verdadeiro na história do jogo?
Via Digimon Forever