Descobrindo o apocalipse indie – Indiepocalypse

Indiepocalypse - descobrindo o apocalypse indie

Desde 2020, existe um projeto na internet extremamente interessante e inovador. Indiepocalypse é uma mistura de revista digital e bundle de jogos que oferece dez jogos independentes por mês por meio da plataforma Itch.

Criado por Andrew, também conhecido como PIZZAPRANKS, o projeto vem se tornando cada vez mais popular e completo. Qualquer desenvolvedor indie (até você!) pode enviar seu jogo para fazer parte do Indiepocalypse, mas só a seleção dos 10 melhores vai ser incluída em uma edição. Os desenvolvedores são pagos diretamente por terem suas obras exibidas e ainda ganham royalties por vendas após a revista ter recuperado seus gastos!

Quando descobri o projeto, fiquei encantado tanto pela qualidade dos jogos oferecidos em cada bundle quanto pela própria iniciativa de seu idealizador, que ajuda desenvolvedores indies com ideias malucas a atingirem mais pessoas com seus jogos.

Por isso o time do Recanto do Dragão resolveu cobrir vários dos jogos lançados para o Indiepocalypse. Não iremos cobrir tooodos os de cada edição, mas pelo menos três serão discutidos em cada matéria/vídeo. No caso dessa, vamos começar com quatro!

Neste primeiro texto, iremos focar na edição mais nova até então, que é a edição número 30 do mês de julho. Vamos começar!

Making Friends

Making Friends

Making Friends é uma visual novel desenvolvida por Autumnotopia, Elita, e Ace Luke, que são desenvolvedoras vindas da costa Noroeste dos EUA. No jogo, inicialmente, acompanhamos Morrigan e Willow, duas bruxas estudantes da Faculdade de Alquimia Mágica Trogcroft.

Morrigan odeia tudo lá e resolve fazer uma homúncula (no sentido mágico, uma criatura artificial) para a fazer compania, o que é super ilegal. Tipo muito, muito ilegal. Enquanto isso, Willow, que é a mais certinha, acaba brigando com Morrigan pela sua falta de atenção nas aulas. Em meio a tudo isso, as únicas coisas que você pode controlar são as emoções das três personagens (incluindo a homúncula, que você mesmo nomeia).

É uma aventura que levará cerca de uma hora para pegar todos os finais, e é profundamente pessoal. É fácil ver pedaços de si mesmo refletido em pelo menos uma das protagonistas, sejam eles positivos ou negativos. A história não tem medo de demonstrar abertamente as características mais negativas de suas personagens, e tudo que você pode fazer é controlar suas “emoções”, e não suas “ações” naquele momento.

Isso quer dizer que as rotas são inteiramente focadas em mudar o seu final, acima de tudo. Escolher que a Morrigan vai ficar irritada por brigar com a Willow ao invés de desinteressada não fará ela agir diferente na hora, mas vai influenciar o final. Isso adiciona um fator mais humano à história, e deixa claro o que as desenvolvedoras queriam dizer sobre cada uma das personagens.

Mesmo assim, é inegável o quão questionáveis são as ações de Morrigan, que ama ficar em casa, então mantém a homúncula trancada lá sem saber o que está acontecendo. Ela isola sua própria criação que foi feita para amá-la incondicionalmente, o que é um problemão. Mas claro, não precisa se preocupar, pois a história lida com esse tema com toda a cautela necessária.

Making Friends é uma visual novel tocante e divertida que pode ser experienciada uma vez rapidamente ou múltiplas vezes com muito mais detalhes e até um final secreto. Também é um jogo polido e lindo de se ver, lotado de CGs especiais para diversas interações e cada um dos seus finais.

Links: Indiepocalypse #30, Making Friends (standalone)

PHANTOM’S REVENGE

Indiepocalypse Phantom's Revenge

Ok, esse é meio difícil de descrever. PHANTOM’S REVENGE é um JRPG e o capítulo final da série de webcomics furry e brony SLIME & PUNISHMENT. Ah, vale dizer que SLIME & PUNISHMENT faz parte do universo de ENDLESS WAR, um MMORPG inteiro que só pode ser jogado dentro de um servidor do Discord, e é inteiramente feito em texto. 

Tem mais: tecnicamente, tanto o jogo quanto os quadrinhos são canônicos ao webcomic Sonichu de Christine Weston Chandler, que, se eu fosse explicar também, íamos ficar aqui o dia todo. Eu juro que tirei toda essa informação da página da Itch.io do jogo, e que tem muito mais coisa na história.

O cara por trás de tudo isso é Ben Saint, um artista americano que faz muitas coisas, e quase nenhuma é totalmente compreensível. Incrível. Agora, eu quero deixar bem claro aqui que eu vou ler SLIME & PUNISHMENT antes de jogar PHANTOM’S REVENGE. Eu volto quando tiver terminado.


~~40 capítulos de SLIME & PUNISHMENT depois~~


Uh… na real, esse webcomic é muito bom. Tipo, muito bom mesmo. Por mais que seja obtuso, ele é obtuso das maneiras que menos importam para você realmente começar a curtir a história. Dentro do webcomic você encontra uma comuna de mortos dentro de um bueiro, musicais inteiros expressos por texto, muitas referências à cultura obscura da internet, self-inserts meta e várias outras coisas do tipo. Agora sim podemos realmente começar a falar de PHANTOM’S REVENGE, e não se preocupe porque não vou enfiar mais detalhes confusos aqui.

É mais fácil descrever esse jogo como um de estratégia/sobrevivência do que um JRPG, se formos nos limitar a termos estabelecidos de gênero. Você mata todos os inimigos com um ataque, mas paga caro por isso. Ataques que tem efeito em vários inimigos (AOE, ou área de efeito) não existem, então você deve tankar muita bala para sobreviver.

Além disso, todo ataque seu usa slime, que também funciona como sua vida. Ah, esqueci de falar que existe uma barra de fome que também cai quando você usa um ataque. Você pode recuperar elas com os itens “Poudrin” e “Fuck Energy”, respectivamente. Sim, é daí que vem a parte de sobrevivência do jogo. Pode acreditar que tem mais por vir.

+Leia mais: 5 recomendações de jogos curtos focados em narrativa

Basicamente tudo que você já aprendeu sobre JRPGs vai por água abaixo a partir daqui, e eu não quero spoilar tudo de uma vez pois quase todo o desafio do jogo está em você entender o que c*ralhos está acontecendo. Mesmo assim, aqui vão duas dicas importantes pra você não ficar perdido:

1- Use o item “Bottle” para invocar Virginia, sua parceira slimeoid e única Party Member. Ela é essencial para sobreviver diversos encontros, mas morre em apenas um tiro. Ver três ou mais inimigos com armas na tela significa que você deve usar a Bottle de novo se quiser que ela continue viva. Mesmo assim, sacrificá-la pode ser uma estratégia valiosa (se você não tiver coração, claro).

2- O mercado financeiro não faz nada até onde eu saiba. Investir está lá só como uma mecânica extra engraçadinha, então não precisa se preocupar com ela em todas suas runs.

Bônus: a chave para entender Phantom’s Revenge é experimentar possibilidades, então mexa nos menus, tente estratégias alternativas, e preste atenção nas consequências de suas ações.

Phantom’s Revenge é bem difícil e oferece um nível de desafio que pode se provar apenas frustrante para muitos, além de já possuir uma lore complicada. Mesmo assim, eu diria que esse é só mais um motivo para você jogá-lo. Não é todo dia que um jogo tão maluco quanto esse aparece.

Links: Indiepocalypse #30, PHANTOM’S REVENGE (standalone)

Underliner

Underliner

Underliner é um jogo de puzzle 3D desenvolvido pelo artista multidisciplinar coreano Jungwoo Yom. Nele, você passa por diversos quebra-cabeças contidos em caixas onde deve conectar pirulitos. Sim, pirulitos. Os visuais coloridos e minimalistas até chegam a me lembrar um pouco de Lovely Planet, mas os dois jogos não têm muito a ver além disso.

Eu odeio ficar fazendo comparações sem parar, mas já que Underliner é um daqueles jogos difíceis de descrever, mas fáceis de entender quando você está jogando, algumas comparações talvez ajudem meu caso. Então vamos lá: Underliner toma bastante inspiração de outros jogos como The Witness em relação a como sua perspectiva tridimensional afeta o design e a solução dos puzzles apresentados.

Isso não significa que as coisas são exatamente iguais. As regras únicas de cada pirulito em Underliner tornam os puzzles inesperadamente variados nos 30 minutos de gameplay que oferece. Mais do que tudo, eles demonstram o potencial de Jungwoo como designer por conseguirem passarem um nível de personalidade forte.

Por exemplo, alguns puzzles vão pedir que você passe um tempo quicando entre dois pirulitos antes de se conectar ao próximo (eu sei o que você tá pensando com o que eu falei mas… não tenho desculpa), o que é meio brisa pra quem está acostumado com puzzles estruturalmente perfeitinhos.

Links: Indiepocalypse #30, Underliner (standalone)

In the Shade of Lilies

Indiepocalypse In the Shade of Lilies

In the Shade of Lilies é uma visual novel curtinha sobre o abismo entre o real e o imaginário, segundo os próprios desenvolvedores. Nele, você acompanha a história de Silvie, uma jardineira animada, e sua gata Simone, que a ajuda com seus afazeres, além de ser um pet fofinho.

Já que ler todos os finais de In the Shade of Lilies leva menos de 10 minutos, eu não vou continuar esse sumário pra não estragar sua experiência. Por enquanto, eu gostaria de dizer apenas que vale a pena dar uma boa pensada no diálogo para entender os temas, que são apresentados de maneira incomumente abstrata para um jogo.

Links: Indiepocalypse #30, In the Shade of Lilies (standalone)

E tem mais!

Este texto cobriu apenas quatro dos 10 jogos da edição número 30 do Indiepocalypse. Aqui, eu gostaria de encorajar você a dar uma olhada nos bundles, juro que tem muita coisa boa neles. Em um futuro próximo, pretendemos cobrir mais edições e jogos para ajudar a espalhar a beleza que os jogos indie podem proporcionar.