Tendências de mercado são uma coisa interessante de se acompanhar, pois acaba abrindo espaço para a repetição de fórmulas para alcançar algum sucesso — mesmo que repetir algo em alta não seja garantia do tal sucesso — mas podem ser bons termômetros para o entendimento da situação em sua totalidade. Platformers de mascote nos anos 90 (e seu retorno em 2010), a ainda presente onda de metroidvanias ou até mesmo os malditos Games as a Service que assolam a indústria são indícios de como existem tentativas fazer um próximo jogo do momento.
Isso se dá mais por videogames não terem construído de forma sólida uma linguagem para a mídia. Existem técnicas e movimentos artísticos, mas nenhum deles sobreviveu (ou sobreviverá) ao estágio avançado do capitalismo em que a mídia nasce. E assim vivemos de momentos efêmeros, passageiros. Por essa efemeridade, videogames se transformam com o tempo, mas sempre levam algo de um ao outro para frente.
Nesse contexto, a sétima geração de videogames teve uma quantidade anedótica de jogos em estilo “character action”, vide Heavenly Sword, Splatterhouse, Transformers: Devastation; todos queriam fazer um God of War/Devil May Cry para chamar de seu. Mas são poucos desses jogos que são lembrados. Nem sendo pioneiro em algo garante seu espaço na memória coletiva, mas se você fazer algo diferente o bastante, talvez isso aconteça.
E é assim que em 2012, em meio a vários jogos do mesmo gênero, a Grasshoper Manufacture solta Lollipop Chainsaw, um jogo de ação e comédia dirigido por Suda51 em colaboração com James Gunn. Lollipop Chainsaw narra a história da caçadora de zumbis Juliet Starling, que precisa enfrentar uma infestação fora de controle de zumbis no dia do seu aniversário. O jogo possuia nomes de peso, estúdio de renome, mas não foi um grande sucesso.
Lollipop Chainsaw é um daqueles hits adormecidos. Só quem estava realmente de olho naqueles caras que iam atrás, mas o tempo deu outra chance ao título, que retorna após 12 anos em um novo pacote, chamado de Lollipop Chainsaw RePOP, uma remasterização desenvolvida e publicada pela Dragami Games (e não a Grasshopper) que visa principalmente trazer o jogo para consoles de nova geração e alcançar um novo público.
Nesse pacote há melhorias gráficas e adições de qualidade de vida para tornar o jogo mais amigável. Isso inclui mira automática, QTEs automáticos e outras adições mínimas. No fim, a ideia é passar a mesma experiência do jogo original 12 anos depois, mesmo que essa busca por fidelidade venha com certas ressalvas.
Como mencionado anteriormente, Lollipop Chainsaw é um jogo que nasce em um contexto de inchaço do Hack and Slash, e bem, o que o tornou único foi principalmente o seu estilo de arte, que remete à pop art, com muito uso de halftone em certas partes, indo na contramão do realismo em que diversos jogos daquela época perseguiram incessantemente.
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Não vivemos no mundo perfeito onde todos os jogos estão acessíveis em qualquer lugar ou a qualquer momento. Jogo “velho” só tem relevância se for um port, remaster ou remake, já que certos jogos ficam presos em consoles específicos ou até se tornam impossíveis de comprar — que quase foi o caso de Lollipop Chainsaw já que o PS3 estava para fechar sua loja há um tempo — então se mostrou necessário o relançamento do jogo.
Que fique claro: ainda acho válido, mas Lollipop Chainsaw RePOP sofre de sérios problemas de identidade e performance. O jogo tem um gráfico diferente do original, e os momentos de pop art comic não existem mais, se resumindo apenas aos menus, hud e cutscenes pontuais.
Isso fez o jogo perder um pouco de seu brilho, já que a ideia é justamente controlar uma personagem híper exagerada em uma história ainda mais exagerada em uma situação mirabolante… e o remaster ainda conta com um brilho meio estranho que quebra certas cenas que no original tinham outro peso e no caminho perde a dinâmica que era construída ao decorrer do jogo. Apesar de ser um jogo colorido, Lollipop Chainsaw é emo e muito edgy.
Dito isso, a versão de PC do jogo é bem instável, desde não ter a possibilidade de alterar a qualidade dos gráficos (só a opção de mexer na resolução da janela). Existem até problemas dentro do próprio jogo, como um freeze que pode ocorrer se você realizar muitos recursos em um curto período de tempo, o que pode desencadear soft-locks e perda de progresso. Problemas com a câmera também são recorrentes… mesmo as legendas em português brasileiro têm problemas na sincronização. Esses são problemas que particularmente acredito que serão resolvidos com patches futuros, todavia.
No mais, Lollipop Chainsaw RePOP é um pacote meio esquisito. Como o remaster foi desenvolvido por um time externo sem supervisão dos desenvolvedores originais, Suda51 e James Gunn publicaram nas redes sociais que não tinham que não queriam ser associados com o projeto. RePOP não possui opções básicas para uma versão de computador, além da legenda ser um pouco esquisita (por vezes com traduções literais de certos termos), e ainda peca ao retirar a icônica direção de arte que o jogo possuía, tornando-o apenas mais um em meio de vários. Lollipop Chainsaw RePOP é como um pirulito doce demais que chega a ser enjoativo.
O revival de jogos da sétima geração vem acontecendo aos poucos nos últimos anos, e eu vejo isso com bons olhos, mas assim como em seu lançamento original, Lollipop Chainsaw RePOP deixou a desejar e talvez seja esquecido junto do tempo.
Uma cópia gratuita de Lollipop Chainsaw RePOP para PC foi concedida pela Dragami Games para análise no Recanto do Dragão.