Jogos de filmes sempre foram algo que ignorei por muito tempo. Talvez sejam traumas de ter jogado alguns realmente ruins, e sempre ter virado o olho para a maioria. São poucas as pequenas exceções, reservadas à franquias que sou muito apaixonado. Então, quando vejo a Teyon fazendo um jogo de Terminator muito elogiado pelos fãs, fiquei interessado na empresa. Até que anunciaram Robocop: Rogue City, que me empolgou ainda mais — o suficiente para dessa vez eu resolver jogar, por ser muito fã do primeiro filme (e ter me divertido com o segundo).

A ideia de um jogo em primeira pessoa onde controlamos a geladeira com uma pistola-metralhadora é bem chamativa. E ele me impressionou ainda mais com seu design semi-aberto à la Deus Ex, onde não só matamos os outros, mas também recebemos quests como um policial mesmo, para resolver pequenos casos, dar multas, e achar gatos perdidos. Foi uma experiência bem divertida que me fez explorar cada vez mais. Sem contar o combate fantástico e satisfatório, onde sua arma causava danos pesados em quem você clicava. Você pode até utilizar de armas dos inimigos ou objetos do ambiente para jogar neles. Foi um jogo muito bom, e bem divertido sem nada muito além do normal, mas fazendo a base de um jogo, ser interessante.
Até que anunciaram o jogo em questão deste texto. Robocop: Rogue City — Unfinished Business, que também me deixou empolgado. Nem precisei ver trailers, sabia que iria jogar dado meu amor pelo original. E, quando iniciei, percebi que alteraram bastante coisas do design do original, e com medo de isso se tornar uma daquelas sequências onde pegam uma gameplay sólida e colocam em um level design mal feito pra acabar com toda a diversão. Felizmente, esse não foi o caso. Esse jogo será para muitos melhor que o original, dadas as alterações que dão um novo ar para a gameplay.

Bem, para entendermos o novo jogo, primeiro temos que saber o que Murphy está fazendo. Robocop — Unfinished Business começa sem muitas celebrações, na famosa delegacia de Detroit, que foi atacada por alguém que matou boa parte dos policiais. Aí, descobrimos uma pista — como somos o Robocop, vamos sozinhos lidar com isso. Eu particularmente fiquei um pouco triste de não manter os personagens dos filmes originais ou pelo menos sua parceira Anne Lewis, porém, quando eu for aprofundar mais para frente sobre a narrativa, gostaria de mostrar como mudei de perspectiva.
Após isso vamos, a uma torre da OCP que abrigava pessoas da antiga Detroit, e que foi tomada pelos mercenários que causaram o massacre na delegacia.
Na parte de apresentação não tem muito o que falar, o jogo é bonito tentando replicar realidade, com iluminações, reflexos, partículas e até modelos bem feitos. Na parte sonora não fica atrás com o ator original do personagem Peter Weller dublando Robocop, e a trilha sonora clássica tocando aqui e ali para momentos de empolgação, mesmo que se torne repetitivo algumas vezes (diferente do Rogue City). Não tem muito o que aprofundar dado que eles replicam a artstyle do filme que já é excelente, e com os gráficos Unreal 5 Ultra 4k high end mostrando todos seus detalhes. Mas ele não fica sem críticas, que infelizmente são aspectos técnicos chatos. O que pouco provável de corrigirem é como a boca se movimenta durante diálogos; com o Robocop funciona, afinal ele é um robô, mas quando trazemos isso para humanos, que são para servir de contraste ao nosso protagonista, fica esquisito. São os mesmos três movimentos sendo aplicados sem quase nenhum lip sync.

A única coisa que sinto como uma perda de oportunidade é a maneira que matamos os inimigos. É bem visceral: arrancamos braços, pernas e deixamos metade da cabeça aberta, mas sinto falta dos tiros nos corpos não só explodirem sangue e parecerem mais com o filme como aqueles tiros que tinham bastante impacto, mas não é necessariamente uma crítica, só senti falta.

Felizmente, essa é a única parte que imagino que não será corrigido. Já nos outros problemas técnicos que tive, são bugs constantes do personagem parar de falar de movimentar a boca durante diálogo, um inimigo ficando imortal e eu não conseguindo acertá-lo, inimigos saindo de paredes para me atacar e uma lista bem grande de bugs que não fizeram eu repetir alguma missão mas com certeza atrapalharam um pouco. O que me fez reiniciar um capítulo inteiro, foi durante uma missão em que escolhi um diálogo e meu personagem duplicou, e quando o diálogo acabou estava preso dentro de mim mesmo. Mas, assim como Robocop disse uma vez, e dado o histórico com Robocop: Rogue City… “Eles vão arrumar. Eles sempre arrumam.”

Robocop: Rogue City — Unfinished Business mantém boa parte da gameplay do seu antecessor. Você é uma geladeira de guerra, com uma pistola que dispara balas de alto calibre e com uma cadência de tiro enorme. O combate não é muito sobre movimentação, é mais sobre ir andando a pequenos passos tentando atirar em todos inimigos possíveis, enquanto toma alguns tiros e vai recuperando sua vida com o auto-reparo. Sem contar que podemos interagir com o ambiente jogando objetos em cima de inimigos ou mesmo agarrando punks pra arremessá-los. E se quiser, pode usar a arma deles, mesmo que seja meio inútil dado o fato do seu canhão de mão ser bem prestativo e icônico.

Teremos desde o início habilidades vindas do jogo anterior: o dash para conseguirmos ir para cima de inimigos ou nos proteger, um flashbang que atordoa alvos próximos, um aumento de armadura para ser uma geladeira mais resistente, poder atirar em certos locais para sua bala ricochetear (tipo aquela única cena de Robocop 2, ou a série de Robocop só que com violência), e a câmera lenta que deixa tudo (inclusive você) lento; essa última serve mais para ter noção do ambiente ao seu redor do que pra virar algo estilo F.E.A.R. Mas, aproveitando que citamos o clássico da Monolith (RIP [morra Warner]), Robocop faz um excelente uso da apresentação e do poder da engine para causar aqueles momentos John Woo ou a cena do corredor de Matrix, onde você atira e sai quebrando paredes com cada tiro voando vários pedaços de partícula para cada lado. E, como sempre, é lindo.
Ganhamos também a habilidade de finalizar inimigos próximos de ventiladores, áreas de lixo, telas de computadores e por aí vai. Fazer isso é divertido, vem junto de uma cinematiczinha tipo as dos Deus Ex modernos. Sem contar que também temos vários tipos de inimigos diferentes. Não só os humanos armados, que ganham armadura e armas novas com o tempo, como também alguns androids (iguais àquele robô ninja de Robocop 3) que vêm pra cima de você aos montes com uma katana ou os mais irritantes, que são os robozinhos que te seguem até explodir ou os que voam.

Também temos um sistema de upgrade, assim como o do jogo original, onde melhoramos os status de Robocop, seja vida, mira, armadura, e por aí vai. Você sempre desbloqueia algo novo fazendo um certo número de upgrades, seja poder desbloquear cofres, carregar mais um kit de reparo para sua vida, melhorar sua mira e por ai vai. O sistema de upgrade da arma de Robocop voltou, com o minigame de ir desbloqueando caminhos para melhorar precisão, dano e todos aqueles aspectos de arma, que vêm juntos de pontos amarelos que desbloqueiam certas habilidades para a arma. Na minha jogatina, usei um chip que matava a maioria dos inimigos com um tiro, que fez jogar no Difícil extremamente fácil. Morri tendo só duas vezes por inimigos e três por mim mesmo me explodindo. A outra habilidade que utilizei fez com que minha cadência de tiro fosse de uma chaingun, e com munição infinita sem precisar recarregar; isso tudo sem contar os danos críticos que derretiam os inimigos.

Mas não é só de combate que um robô vive, temos também alguns momentos entre missões que iremos conversar com personagens, que são moradores da torre, para resolver problemas de lá. Estes são curtos e bem mais lineares. Me lembram aquelas quests rápidas de jogos da Bethesda, onde seguimos a seta para o próximo ponto mas com narrativas interessantes no meio. Essa parte, apesar de dar um descanso dos combates pra não deixar eles repetitivos e desenvolver os personagens com quais caminhamos, são bem fraquinhas comparadas ao mesmo aspecto em Rogue City, que é muito mais sobre exploração. Acho essa troca justa. Assim existe um jogo focado em exploração, combate e diálogos, e outro com os três mas o foco principal no combate.
Não é à toa que Robocop — Unfinished Business também conta com algumas outras setpieces para dar mais respiros. Algumas simples, como remover sua arma pra ter que ir improvisando com as dos inimigos, um momento que não darei spoiler de tão foda que foi, ou só te dar uma BFG do mundo de Robocop, que é uma arma que dispara um tiro de nitrogênio, congelando tudo à sua volta (o motivo de minhas três mortes acidentais). É um espetáculo visual ver tudo sendo transformado em gelo e os inimigos parados (e claro, você pode quebrá-los).

Momentos de flashback são espalhados entre setpieces para entendermos mais da história, como um onde controlamos o Murphy como policial, que é bem legal! Os outros dois são para mostrar mais das motivações dos outros personagens, e só achei meio forçado o último que vem em um momento que corta bastante da narrativa.

E a narrativa como um todo? É interessante. Os personagens são legais, obedecendo alguns clichês de filmes dessa época, e o vilão tem motivações que não trazem necessariamente um debate mas dá para entender como ele se perdeu para esse caminho, mas com certeza ele não tem a ameaça de um vilão, e só demonstra ela bem no final do jogo. Você tem interações legais do Robocop com as pessoas que nos auxiliam durante a jornada, trazendo sempre aquele lado humano dele quando necessário; questionando bem e mal, e como deveríamos resolver situações problemáticas — inclusive, foi exatamente isso que fez eu comprar a ausência dos antigos personagens ausentes neste jogo. Então é o famoso funciona, entendemos o que cada personagem quer, e as interações entre eles são interessantes.

Então, Robocop: Rogue City — Unfinished Business é um jogo bem sólido, mesmo com seus bugs e alguns inimigos irritantes. Ele consegue entregar uma experiência extremamente divertida, que quando finalizei saí satisfeito. Não necessariamente explodiu minha cabeça, mas fiquei feliz de finalizar um jogo acima da média que me deixa empolgado assim. Dado o fato que Terminator: Resistance ganhou uma expansão seguida de uma guinada para outra propriedade intelectual, estou ansioso para ver qual será a próxima da Teyon. Sei que deve ser outro nome icônico do cinema e que vai apresentar bastante carisma e diversão no meio.
Uma cópia de Robocop: Rogue City — Unfinished Business para PC foi concedida pela Teyon para análise no Recanto do Dragão.