Eu ando muito perdida atualmente. Confusa sobre minha escrita, meu futuro e meu presente. Foi então que de uma linda maneira, como se atendendo minhas preces, acabei descobrindo Alien Holocaust — um jogo de Atari, feito nessa década por brasileiros, inspirado em um curta-metragem também brasileiro e desenvolvido pelo ator principal desse mesmo curta. Apesar da ideia simples, sua execução e simples existência me interessaram muito.
Alien Holocaust, além de ser um jogo de Atari, recebeu uma continuação, roda nativamente no console e possui um manual extremamente reminiscente da época, como uma carta de amor ao início da era dos videogames no final do século 20. E de alguma forma milagrosa, um dos criadores confiou no meu trabalho e me forneceu uma cópia de ambos Alien Holocausts, os dois manuais e me apresentou ao curta, que está disponível no YouTube com legendas em português para as curtíssimas falas do filme (que estão em inglês). Mas então, sobre o que é o jogo? Ou, melhor dizendo, o que é o Holocausto Alienígena, o curta-metragem que iniciou tudo isso?
A ideia principal do curta também é uma homenagem, utilizando a câmera Super 8 para não só imitar a imagem da época, mas sim reproduzí-la legitimamente. Todo o filme de dez minutos é acompanhado da mesma música, e quase que nenhuma fala. Sempre que há uma fala ela é do narrador. A ideia é muito simples — um homem chamado Bruce, totalmente ordinário e sem qualquer valor em especial, é parado na sua viagem de carro e, por curiosidade, acaba sendo encapsulado sem perceber em uma armadilha alienígena para levá-lo à insanidade e, por fim, abduzí-lo. Os alienígenas nunca são vistos durante o filme, nem sequer a besta que persegue o protagonista na floresta (não sabemos se tem a ver com os aliens). Tudo que faz Bruce enlouquecer são objetos que, de uma forma ou outra, fogem da sua compreensão. Telefones tocando sem receber ligação, relógios voltando no tempo e, em especial, uma pintura de um oceano com um barco, que traz os sons do seu cenário como se fossem reais. Essa pintura até mesmo está molhada. No final, ao sucumbir à loucura, Bruce é abduzido.
Mas então, como fazer um jogo interessante com essa história? Ou, ainda mais preocupante, no Atari 2600? Bem, algo bem legal da época é como sempre achavam uma maneira de transformar uma obra famosa em um jogo, mesmo que não fizesse sentido algum. E, ao adaptar essas obras para videogames, surgiam muitas inconsistências com a história original. O próprio manual tem uma história em quadrinhos do filme, que tem diferenças tanto para o curta quanto para o jogo mesmo que não precisasse. Isso tudo era bastante comum na época, por vezes é até nos dias de hoje. Então, como é o jogo?
Alien Holocaust tem quatro fases, cada uma com gameplay totalmente distinta. Na primeira, você dirige um carro desviando de tiros vindos o céu, alienígenas na estrada e tenta não ser abduzido. Sempre que for acertado, o carro vai ficar mais lento, dificultando e muito fugir do OVNI no céu. Eventualmente você vai ser acertado e Bruce vai saltar do carro para a próxima fase. Nela, Bruce corre e pula pela floresta em busca de uma chave, e também pode coletar outros itens. Você pode ser acertado apenas três vezes antes de recomeçar a fase, e tem diversos alienígenas, aranhas e outros obstáculos para desviar. Inclusive, a besta da floresta é um urso. Quando ele encontra a chave e vai até a cabana, começa a terceira fase onde você tenta não enlouquecer — desviando dos relógios, da água da pintura, buracos e de alienígenas. Ainda assim, o único jeito de seguir em frente é se deixando enlouquecer (eu realmente não sei se é possível perder de verdade). A quarta e última fase é uma viagem na nave dos alienígenas, onde você desvia de meteoros e destrói satélites humanos. É possível terminar essa fase, mas caso você morra os créditos ainda vão aparecer.
Tudo sobre o jogo é bem impressionante e a ideia dele nunca foi revolucionar o mundo dos games, afinal ele foi lançado para um dos primeiros hardwares de videogames existentes. Ainda assim, eu diria que se fosse para melhorar algo, seria a dificuldade. A segunda fase é muito interessante, mas a primeira e terceira, apesar da criatividade, são fáceis demais. Você acaba ficando tempo demais nessas fases que só podem ser terminadas ao morrer. São divertidas sim, mas eu diria que mesmo a ideia das pontuações seria mais interessante se as fases fossem mais difíceis e, por conta disso, mais curtas e recompensadoras. Ainda assim, esse é um jogo independente para um console lançado há décadas. Além das limitações do mesmo, o próprio feito de lançar o jogo já é um bom desafio e eu me diverti com ele.
A continuação, Alien Holocaust II: Invasion Earth foge bastante da ideia do curta (como muitas continuações de jogos licenciados faziam na época) e, agora, você controla os aliens em um jogo bem arcade focado em destruir cidades. Cada monumento das cidades é separado em pequenas partes que são destruídas com um tiro, enquanto você desvia de helicópteros, caças e tanques de guerra. Entre as fases você também abduz humanos ou vacas para aumentar sua pontuação ou recuperar sua vida. O OVNI tem uma barra de munição, e precisa subir para o topo da tela (uma área segura) para recarregar seus tiros. Algo interessante sobre esse jogo é que os projéteis — tanto seus quanto dos inimigos — acompanham o atirador após serem lançados. Não sei se isso foi proposital, mas pede muito mais estratégia do que simplesmente atirar, porque você precisa se manter no mesmo lugar até o tiro chegar. Por isso, é recomendado atirar o mais perto possível — uma área de mais risco, onde fica fácil um helicóptero ou caça aparecer do nada e destruir seu OVNI.
AH2 é muito mais longo que o primeiro, já que tem muitas fases. Aqui o sistema de pontos também foi aprimorado, e as fases bônus são bem divertidas. O primeiro me interessava no seu conceito único que compartilhava com o curta que o inspirou — o fato de ser um homem normal se perdendo na insanidade antes de ser capturado por seres de outro mundo. O segundo já me interessa mais por ser bem divertido, o tipo de jogo que você voltaria mais vezes para jogar. Tenho certeza que as construções que os discos voadores estão destruindo são baseadas em algum lugar real (espero que isso não traga problemas pra ninguém) e eu honestamente acho isso muito engraçado.
Conhecer Alien Holocaust foi uma experiência muito boa e fico feliz de ter me levantado pra escrever sobre. Acabou me trazendo bastante inspiração, e agradeço a confiança. Desejando o melhor do melhor para o pessoal da Teknamic, boa noite!