Need For Speed: Hot Pursuit Remastered é o mais novo porte da Stellar Entertainment, um estúdio da EA criado com o foco de remasterizar clássicos do gênero de corrida, com seu único outro título sendo Burnout Paradise Remastered, que recebeu críticas por ser simples demais e caro demais para a melhora que apresentava.
O foco de uma remasterização costuma ser somente melhorar os gráficos, arrumar bugs e fazer com que o jogo se transforme em uma edição definitiva, muitas vezes chegando a outros consoles. Este porte acaba só trazendo a experiência do Hot Pursuit original para a geração atual e no caminho tropeçando nas características mais básicas.
Esta entrada da saga Need For Speed não é muito celebrada por fãs normalmente, mas, na minha experiência com a campanha, é decente. Ele peca em customização comparado a outros Need For Speed, pois não possui opções de tuning para os carros, somente troca de cor, porém compensa com o conceito novo (para a época) do modo Hot Pursuit, em que você pode jogar tanto como corredor ilegal quanto como policial, sendo seu objetivo como corredor ganhar a corrida enquanto despista os policiais e com policiais “prender” (bater até o carro deles quebrarem) a máxima quantidade de corredores possível.
Não existe uma história no jogo, somente breves cutscenes demonstrando o início de algumas missões como policial e mais algumas para demonstrar habilidades novas desbloqueadas. A campanha se passa inteiramente na costa oeste dos Estados Unidos.
A campanha de corredor é longa e satisfatória, com 78 eventos jogáveis. A seleção de carros também é enorme, com 77 modelos disponíveis no total. Os modos oferecidos para esta campanha são: Corrida, Corrida contra o relógio, Hot Pursuit e Gauntlet. Corridas este modo conta com vários corredores competindo para decidir quem chega primeiro, e as contra o relógio a mesma coisa, mas com você sendo o único corredor. Os dois últimos são diferentes, e incluem o sistema de habilidades do jogo.
Nesses dois últimos tipos de evento, o objetivo ainda é passar da linha de chegada o mais rápido possível, mas agora com policiais atrás e armadilhas e habilidades para todos. O Hot Pursuit é uma corrida com outros corredores e os ditos policiais e o Gauntlet é como o Contra o relógio com mais perseguições. Os dois modos são interessantes e evoluem bem conforme você vai avançando no jogo, tirando os eventos deste tipo bem próximos ao final, que costumam ser um completo caos de habilidades sendo jogadas de um lado para o outro.
A outra campanha oferecida é a Policial, que consiste nos modos de Corrida contra o relógio, Interception e Hot Pursuit. As diferenças são grandes até na Corrida contra o relógio, pois policiais tomam penalidades de tempo ao baterem em outros carros na rua ou colidindo com o cenário e também não ganham Boost ao dirigir na faixa errada. O modo Interception te coloca em uma perseguição a um corredor onde você deve drenar a barra de vida do suspeito ao bater nele e ao utilizar suas habilidades, como as armadilhas de espinhos ou o helicóptero, que persegue o adversário colocando-as na pista. O modo Hot Pursuit Policial é quase igual, porém com o objetivo sendo drenar a vida de diversos corredores até não sobrar nenhum e a corrida ser cancelada.
No geral, os eventos policiais são mais fáceis e simples de jogar, algo provavelmente feito de propósito pelos desenvolvedores para acostumar o jogador às mecânicas diferentes. Ela também é mais curta, possuindo apenas 63 eventos. Ela é no geral divertida em seus melhores momentos.
A trilha sonora do jogo é variada e interessante, porém com uma seleção muito pequena de músicas para o tamanho das campanhas, tornando ela repetitiva após a primeira dezena de horas. Os estilos principais oferecidos são eletrônica, pop e pop punk. Confira abaixo a playlist completa do jogo:
Primeiras coisas perceptíveis ao entrar no jogo é que, na versão de PC, mesmo com uma configuração ótima para jogos atuais, a performance engasga bastante. Considerando que Hot Pursuit foi originalmente lançado em 2010, isto é uma falha grande do remaster. A situação de performance também não é das melhores nos consoles. No Xbox One, PS4 ou Nintendo Switch o jogo roda a 30 FPS travado, somente aumentando para 60 FPS nas versões de Xbox One X e PS4 Pro. (em comparação, The Last Of Us Remastered para o PS4, que foi lançado apenas um ano depois de sua versão de PS3, oferecia um modo com performance a 60 FPS, em um jogo com gráficos melhores).
O jogo também possui problemas de crashes, inclusive todos os momentos em que eu tentei ligar o Cross-play (uma adição nova ao remaster) o jogo fechava, e às vezes logo após abri-lo também. O suporte para volantes foi retirado, e era presente na versão antiga. Algumas melhorias são tangíveis, mas são poucas. A iluminação, sons dos carros e (algumas) texturas receberam melhorias, assim como os modelos de carro ao serem danificados, porém o novo sistema de iluminação acaba retirando um pouco dos detalhes próximos dos carros.
Focando nas partes positivas do jogo, dirigir é feito de maneira perfeita. Todos os carros possuem pesos diferentes para virarem. É tudo bem exagerado, parecendo mais Velozes e Furiosos que uma simulação, seguindo o caminho da maioria dos jogos modernos na saga Need For Speed.
A imensa quantidade de carros no jogo é impressionante e traz variedade nos eventos. A maioria deles são ótimos de dirigir e melhoram a experiência. Também encaixa bem na campanha policial a seleção que oferece carros mais pesados, que muitas vezes têm performances melhores que os mais rápidos, considerando que o objetivo é destruir os carros inimigos e não chegar em primeiro lugar.
O sistema de armadilhas e habilidades é simples de usar e funciona perfeitamente. As estratégias possíveis com eles são vastas mesmo com a dita simplicidade, e nenhum bug relacionado a esta parte do jogo aconteceu durante a jogatina. Também é fácil perceber quando um inimigo utiliza habilidades por causa dos distintos sons que são feitos dependendo da habilidade usada, instantaneamente reconhecíveis.
A campanha é um pouco longa demais, com muita repetição de pistas, já que elas são todas conectadas de alguma maneira e só mescladas dependendo do evento. Das 18 horas que eu passei na campanha, as últimas 5 acabaram sendo muito inferiores ao resto por causa disto. O jogo também limita a quantidade de carros que você pode jogar dentro de uma série em vários eventos, muitas vezes dando apenas uma ou duas escolhas, retirando a experimentação e liberdade vistas em outros jogos do gênero.
O modo Hot Pursuit para corredores é inicialmente muito divertido, mas acaba ficando mais frustrante nas últimas partes da campanha. Existem muitas barreiras policiais que podem aparecer no meio do uso de um turbo, deixando inevitável a batida. O completo caos e duração grande destas corridas também faz com que seja difícil, e às vezes decidido por sorte se você terá seu carro destruído (e consequentemente falhar o evento) ou não.
Eu recomendaria Need For Speed Hot Pursuit, porém com certeza não esta versão remasterizada. Se você joga no PC, ainda existe uma boa opção: Ao assinar o EA Play por R$20,00 você ganha acesso à versão antiga do jogo (e vários outros jogos publicados ou licenciados pela EA), algo que é bem mais leve na carteira que os R$150,00 pedidos pela remasterização. Os jogadores de consoles terão que aguardar pela entrada da versão remasterizada no sistema de jogos da EA.
Need For Speed: Hot Pursuit Remastered acaba mostrando mais uma vez que até uma remasterização deve receber atenção do estúdio, ainda mais um com esta faixa de preço. Espera-se que os próximos projetos da Stellar Entertainment consigam entregar uma boa experiência por um preço justo, sem levar diversos problemas novos e falta de consideração ao consumidor. Mesmo o jogo original sendo divertido e com uma campanha grande, é impossível recomendar esta versão em seu estado atual.
Confira o trailer do jogo:
Uma cópia gratuita de Need For Speed: Hot Pursuit Remastered para a plataforma PC foi concedida pela EA para análise no Recanto do Dragão.