Clair Obscur: Expedition 33 — polímeros versados | Análise

Clair Obscur: Expedition 33 — polímeros versados | Análise

expedito

Clair Obscur análise

A condição do que é qualificado como arte tem seus próprios desvios e acertos. Toda a percepção que cada alma humana constrói sobre o valor da arte se molda nos entornos da expressão da criação. A factualidade começa a se esvair.

Ao não se entender como a arte, Clair Obscur: Expedition 33 se proclama o artista. Uma profecia demarcada por seus próprios gritos — vinda da ausência da concepção originária. Seus provérbios são deprimentes e hiperpessoais. Sua metodologia profana à noção geracional de se entender como si.

Uma autarquia sobre a percepção de todo o mundo como o instrumento da flagelação, Clair Obscur percorre um linear labirinto de segredos púberes e pueris. Seus propósitos desvairados buscam latejar as palmas de um espetáculo que arrebata, cega e desvia atenções.

Clair Obscur: Expedition 33 é um RPG — de algumas ações — desenvolvido pela Sandfall Interactive e publicado pela Kepler Interactive em 24 de abril de 2025 para Playstation 5, Xbox Series S|X, PC e definitivamente não foi um jogo desenvolvido por 30 pessoas…

luminescência

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A apresentação se compromete a buscar um fascínio pelo espírito de comprometimento com aquilo que está sendo dito. Um tanto envergonhada, mas portadora das grandes ideias. Os primeiros passos de Gustave são tratados com uma potência de renovação.

No entanto, as despedidas iniciais derrubam flagelos otimistas, substituídas por cascas melancólicas e uma bagagem de dor e sofrimento que o jogador precisa atuar contratualmente. Tudo clama a busca de destacar o espetáculo da incursão final dos membros da Expedição 33. O X de todas essas questões só habita nos fins que justificarão os milhares de meios, que sucumbem aos ares.

Clair Obscur possui um combate focado quase que plenamente nas circulações mecânicas da ação de defletir (e suas variáveis) ataques no momento certo. Sim, é isso que você faz no proclamado jogo de turno. Talvez o seu pequeno dicionário Michaelis do RPG (11.5 x 4 x 15.2 cm) não vá ter uma definição tão atualizada quanto a isso, mas essa é uma realidade. A realidade que permite aquele seu amigo que jogou Chrono Trigger (até o Frog participar da equipe) encontrar o seu novo único RPG bom.

A forma que se molda esse conceito em Clair Obscur cativa — uma ideia de lidar com ação nos intervalos de decisão. A atuação do jogador deixa a passividade dos comandos para se tornar uma ação de alta-intensidade intervalada, como uma metralhadora giratória que precisa recarregar tal qual uma baioneta do século XVII… ou como o conceito de exercícios HIIT (High-Intensity Interval Training)escolha sua analogia.

Todavia, além de se transformar em uma tarefa cansativa e desgastante em longas jogatinas com intenções aparistícas aficionadas em brincar com timing e ritmo, ela degrada todas as bases que a Bíblia Sagrada das Iterações de Rastejadores de Cavernas dos Anos Oitenta….

Este um processo que transforma combater oponentes em uma tarefa consideravelmente mais densa do que jogar Pokémon no celular, usufruindo de Fast-Fowards e afins; ao passar do tempo, repetir lutas e enfrentar chefes temíveis para seu nível pode se transformar em uma tarefa desgastante de aparos, esquivas e a obrigação de ter seu ouvido aguçadíssimo aos berros de um velho. Aqui jaz a quebra da BSIRCAO¹. Absolutamente reside uma beleza em tal negligência — eu confesso.

Lamentavelmente esse desprendimento não impede Clair Obscur de uma busca da normalidade em seus ecossistemas de masmorras lineares com intersecções intuitivas — sem tintas amarelas ou sequer mapas acurados em localidades — a maioria dos mapas se argumentam em três ou quatro bonfires e chefes secundários… e roupas engraçadinhas.

Coloque Soulslikeanismos neste caldeirão do videogame contemporâneo e assim os espinhos de uma armadura sistêmica se desenvolvem neste clássico produto — que se qualifica por natureza às grandes premiações de jogos que se tateiam. Assim nasce uma lenda.

obscurantismo

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Sacrificar seu mundo e contos em busca de uma mensagem direta àquele que está frente a tal comunicado é uma tarefa com milhões de porquês e por quais. O princípio daquele que busca dizer algo para alguém é ter algo para se dizer para alguém… não aqui.

Não me venha com uivos e lamúrias encarregadas da dor da perda e do luto; uma das grandes morais de Clair Obscur é que a figura encarada como escolhida pode muito bem se perder em suas fantasias de poderes, por traumas de uma infância recente. A continuidade do conto da dor de diversos personagens está perdida em uma sopa de peças narrativas hollywodianas.

A trama de caixinha secreta do J. J. Abrams acaba emaranhando ainda mais as expectativas e boas vontades da compreensão de um mundo mágico que só realmente se justifica na mente de seus idealizadores. Não existe a busca de relatar as coisas que o mundo de Clair Obscur busca contar.

Esta forma de contar histórias é excelente para impedir o jogador de prever as grandes reviravoltas de seu mundo. Ela é tão boa que também acaba impedindo aquele que joga a simplesmente entender por quais motivos alguém sequer quis escrever momentos que não carregam peso algum quanto às coisas que são contadas.

Uma ideia de motivação naquele mundo vai dissolvendo-se e contorcendo-se, ao decorrer que tudo que envolve as histórias dos Expedicionários vai se afundando e se centralizando exclusivamente nos sofrimentos de uma família — família esta que reina todo o escopo de noção de realidade do mundo em que os personagens vivem. Surpresas capazes de explodirem cabeças e, principalmente, infligir implosões na ideia de uma boa-fé na mensagem comunicada; abstraída de emoção.

Clair Obscur: Expedition 33 quer contar sobre o sangue, dor e suor do artista. Artista este sobretudo humano, sob tudo predestinado a errar, falhar e continuar. Contextualizado nas dores de um povo que chorou, ele se infla de uma natureza que o permite egolatria de suas funções e razões.

Toda a aristocracia de seu mundo busca afundar tudo em busca de um luto compartilhado; sobra à juventude reivindicar seu espaço no mundo e conquistá-lo… um mundo aparenta estar domesticado por um sistema pré-estabelecido. A luta é fútil. Ela permanece e acaba fútil. A vitória demonstra amargor.

Um mundo que degrada os seus originários e obriga aqueles que nasceram em tal partirem com prazo pré-determinado. Não existem muitas opções e qualquer uma vai ter uma base egoísta ou egocêntrica. Salve o mundo. Destrua o mundo. Essas coisas significam o mesmo. Parte por perspectivas filosóficas, parte pela simples ação de um salto de fé daquele que empunha a lâmina.

A busca por contar uma história do enfrentamento de um deus tão poderoso quanto a ideia da criação se perde nos entornos do que realmente a existência tem como proposito àqueles que… realmente existem. Em quem eu deveria acreditar? A imputação da binaridade ressoa uma incapacidade do sonhar. Eles venceram? Prefiro acreditar que não.

¹Bíblia Sagrada das Iterações de Rastejadores de Cavernas dos Anos Oitenta.

Uma cópia gratuita de Clair Obscur: Expedition 33 foi concedida pela Kepler Interactive para análise no Recanto do Dragão.