Dreamy Planet é uma kinetic novel desenvolvida por ebi-hime sobre Haruka, uma garota de 28 anos que vai a um parque abandonado para se reencontrar com sua antiga amiga Shiina após anos separadas. O jogo será lançado dia 15 de setembro tanto na Steam quanto no Itch.io.
Antes de começarmos a falar sobre Dreamy Planet especificamente, é importante contextualizar os trabalhos de ebi-hime para quem não é familiar. Ela é uma escritora extremamente prolífica do gênero, uma total veterana. Dreamy Planet é sua 33ª visual novel feita nos últimos sete anos. Ou seja, é difícil olhar suas histórias de maneira completamente separada, pois ela foi desenvolvendo suas ideias entre elas, mesmo que em mundos diferentes.
Dreamy Planet é uma mistura de romance nostálgico com a tensão e amargura que vem com uma protagonista em depressão que está relacionamento sem saída. Haruka tenta resistir a tentação de reacender seu amor complicado por Shiina ao se reencontrar com ela, por causa de seu senso de dever com seu noivo Mahiro, e claro, medo de mudança.
Alguns destes temas já foram explorados em alguns dos trabalhos mais dark de ebi-hime (sejam eles romances ou não), mas em contextos diferentes. Dreamy Planet é contemporâneo mas característicamente nostálgico. Haruka e Shiina eram extremamente próximas quando moravam na cidade de Nara no Japão, mas desde que Haruka se mudou, elas perderam completamente o contato. É um romance mais tenso que o comum devido à possível traição que Haruka fará se acabar ficando com Shiina no meio do dia.
O parque abandonado em que elas escolhem se encontrar é o titular Dreamy Planet, claramente inspirado no parque real Nara Dreamland, que fechou em 2006. É um local interessante para uma visual novel de romance e drama, pois parece mais apropriado para um jogo de mistério, aventura ou terror. Mesmo assim, o que faz ele encaixar na história é o ar de nostalgia rasa que ele emana. Por ser uma cópia da Disneyland, sua estrutura vagamente lembra a de qualquer outro parque que seguiu os passos bem sucedidos do original. Você mesmo vai facilmente ver similaridades até a parques Brasileiros em sua estrutura.
Isso se conecta com o tema forte de nostalgia e tempo perdido. Todas as boas lembranças de Haruka estão no passado. Hoje em dia ela é apenas uma dona de casa entediada para seu noivo, e então quase toda anedota que ela nos conta positivamente tem a ver com o passado. É uma visão extremamente romantizada de nostalgia, mas já que o parque agora está completamente decrépito e abandonado, reflete o estado atual de Haruka. Tudo de bom foi embora.
Este é um fio temático de grande foco e ao mesmo tempo fácil de passar despercebido ao ler a história por ela ser tão focada em conceitos concretos na sua escrita. Mesmo assim, a escrita não acaba não aludindo tanto a visuais mas sim correndo em paralelo com eles, até considerando que a falta de variedade de alguns backgrounds do jogo seja uma pena (o que é entendível pois ter que lidar com a arquitetura de um parque real e replicá-la em múltiplos desenhos com múltiplos ângulos deve ser um inferno).
De resto, os visuais representam o tipo de história a ser contada bem. São sensuais quando necessários para representar a química entre as duas garotas, e são surpreendentemente moe para uma visual novel com um tema mais pesado. É sempre interessante ver que artistas ebi-hime contrata para trabalhar na arte de cada um de suas novels, pois costumam representar bem os temas só de você bater o olho.
Dreamy Planet faz isso tanto com seus planos de fundo detalhados que usam referências diretas de Nara Dreamland quanto com sua UI limpa e estreita, que obscurece uma grande parte da resolução em troca de oferecer um flair visual melhor e mais informações úteis para um jogo como esse, como o tempo. É importante saber que horas são por que o jogo se passa no decorrer de apenas um dia, e muitas de suas situações requerem o contexto do horário para fazerem sentido.
Já que Dreamy Planet é curto, com três ou quatro horas de leitura, eu irei limitar bastante o que posso falar sobre o desenrolar de sua história. Saiba que vale a pena se você está a procura de um romance com uma mordida um pouco mais forte.
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Shiina conseguiu viver uma vida boa nesses anos sem ver Haruka. Ela fez faculdade de medicina e se tornou uma enfermeira, enquanto a Haruka teve que abandonar seu emprego após fazer o mesmo curso, mas na cidade de Kobe. A Shiina não é retratada como perfeita (ela é bem desleixada), mas representa uma tentação grande para Haruka. Elas clicam muito bem juntas, afinal. Dois problemas atrapalham a bolha crescente do romance entre elas: o noivo e depressão de Haruka. Não só ela está basicamente presa em um noivado infeliz, mas como também não considera a si mesma uma pessoa que merece ser amada.
Ela constantemente pensa nas duas coisas, e inclusive um pouco demais em seu noivo Mahiro. Isso faz sentido considerando o tema do jogo, mas talvez algumas menções a menos dele fariam bem ao ritmo da narrativa, já que a opinião de Haruka em relação a ele é um pouco repetitiva. Ela acha ele chato e monótono… é isso. Ela repetir as mesmas anedotas faz sentido para mostrar o quão rotineira sua vida se tornou, mas ainda assim é um pouco demais. Tipo, ela nem odeia ele nem nada, só acha ele sem graça, mas as vezes a narração em 3ª pessoa ataca ele do nada, sem nem usar as palavras de Haruka o que torna suas menções mais repetitivas ainda.
Não me leve a mal, este não é um problema tão marcante, e é basicamente o único que tive em relação à narrativa. De resto, tudo desde o tom do diálogo até a maneira que ebi-hime escreveu o final funcionam perfeitamente para acentuar os temas da história. É uma aventura realmente bittersweet com medida igual entre os dois sabores.
Novamente, Dreamy Planet lança dia 15 de setembro tanto na Steam quanto no Itch.io.
Uma cópia gratuita de Dreamy Planet para PC foi concedida pela ebi-hime para análise no Recanto do Dragão.