Final Fantasy XV é um caso curioso pra mim, é um jogo que joguei há anos e nunca retornei pro mesmo desde então, porém ele nunca saiu da minha mente, e logo agora ele vive na minha mente, e ainda conversa como nunca comigo. Por que logo depois de tantos anos ele ainda vive minha cabeça? Estaria mentindo se eu não falasse antecipadamente que esse texto é mais sobre mim que o jogo, mas não tem como desassociar um do outro, e explicar o apreço lentamente que esse jogo constrói em mim.
Este texto foi originalmente escrito em 29/11/2023.
Primeiro preciso explicar a fase da minha vida que estou. Há alguns meses eu fiz 18 anos, e estou próximo do final de meu ano eletivo, e não apenas isso, no final de dezembro me mudarei para outro estado. Vou me mudar do lugar onde nasci, o único lugar que conheço e trato como meu verdadeiro lar, claro, minha família sempre teve costume de viajar de forma constante — não é como se eu conhecesse apenas aqui, mas o único lugar que realmente conheço é aqui, o único lugar onde tenho o costume de acordar, trilhar os mesmos caminhos, ver as mesmas pessoas, e ainda continuar ressignificando pouco a pouco o lugar. Dito isso, claro que abandonar esse lugar não vai ser fácil, mas eu estaria sendo falso comigo mesmo se falasse que esse é o motivo que faz essa mudança tão complicada pra mim.
O fato é que, são meus amigos que ainda me prendem aqui. Mesmo com tudo que eu falei, lugares novos são mágicos para mim, e eu me adaptaria nesse quesito não com tanta dificuldade. A questão é que eu nunca fui uma pessoa fácil de fazer amizades, e por muito tempo sofri de amizades falsas, ou até tinha genuínas, mas as outras pessoas em minha volta tornavam minhas experiências desagradáveis. Isso durou muito tempo. Achava que as únicas pessoas que realmente me entendiam eram as que eu conhecia na internet, que tinham gostos semelhantes, e nunca me excluiriam apenas por ser “diferente”, porém, eu apenas achava.
No primeiro ano eu me aproximei de um amigo que eu não falava muito, e conheci um novo — fora que no final dele, eu me reaproximei de um dos meus melhores amigos, e com ele, conheci uma grande amiga que é próxima de mim até hoje. Eu nunca esperei que, nesses próximos três anos, eu me sentiria pela primeira vez incluído em um grupo. Mesmo com suas ressalvas, eu tive tantos momentos guardados em minhas memórias… eu me senti ficando solto, eu me senti um genuíno adolescente, parei de achar que estava vivendo errado, parei de me restringir tanto. Só vivi, errei quando era pra errar, chorei quando era pra chorar, e principalmente, sorri quando era pra sorrir.
Nota: este texto contém spoilers de todo o conteúdo de Final Fantasy XV.
Talvez você esteja se perguntando o que caralhos isso tem a ver com FFXV, e acho que tudo? Final Fantasy XV, além de ser um RPG épico, além de ter um mundo aberto com tantos detalhes, além de ser de fato uma jornada de RPG, ele é uma viagem de verão com seus amigos. Pra ser mais específico, a última e a mais especial que eles terão em suas vidas. O mais mágico disso é que eles não sabem que vão ser seus últimos momentos juntos. Noctis viaja com Gladiolus, Ignis e Prompto. Inicialmente apenas para o casamento do primeiro citado, mas logo no início ele recebe a noticia da morte seu pai, e de que ele não pode mais voltar para casa, agora apenas o que resta pra ele é a companhia de seus amigos em sua jornada. Isso já demostra o tom do jogo, um ponto tão importante para qualquer RPG que nem sequer foi mostrado, a necessidade de tudo isso nasce mais em abalar os personagens e mostrar que a única coisa que existe agora é a relação deles. Esse não é o único momento que o jogo dá o dane-se pra plot points, e para muitos isso seria um problema, mas quando o jogo demostra ligar mais pras pequenas interações entre seus protagonistas. Está nas conversas clássicas sobre as garotas do jogo; seus amores juvenis; os gostos pessoais de cada um; o Ignis ficando feliz em apenas cozinhar para seus amigos e ver como eles gostam de saborear sua comida; a paixão de Gladiolus pela caça; o gosto quase infantil para pesca do Noctis, que ainda lembra dos momentos que ele teve com seu pai; o Prompto e sua paixão por fotografia, o sonho dele de viver disso, tirando foto de seus amigos e marcando aqueles momentos nas lentes da máquina. Guarde isso, vai ser importante pra depois.
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Final Fantasy XV brilha nesses momentos, quando ele foca mais na interação do grupo, e nesse quesito muitos RPGs se perdem quando fazem interações brilhantes e um grupo geral fantástico, mas pecam quando precisam destacar uma individualidade do grupo. É diferente de FFXV, que sabe que o que brilha no grupo dele é como os personagens se complementam e como a característica de um pode ser tão distinta do outro mas, quando juntas, elas se conversam, elas se destacam, os sonhos de cada um e os seus gostos que ainda existem. Mesmo que a jornada inicial seja apenas do Noctis, seus amigos estão sempre juntos dele porque querem auxiliar seu amigo. Eles ficam ao seu lado apenas por amarem ele. A jornada não precisa ser de todos para dizer algo sobre cada um, isso é dito por si só.
Depois de uma longa jornada, a perca do primeiro amor, a fuga pra sobrevivência e um timeskip para um mundo agora em ruínas, eles sabem que isso é um reencontro, mas também em seus subconscientes sabem que o adeus definitivo se aproxima, já falando da cena que sempre queria chegar: a última do acampamento.
Essa cena é curiosa, por que o momento que ela acontece cronologicamente é cortado, e é mostrada só após o final do jogo, e isso ressignifica boa parte da cena. Eles sabem que é a última vez que vão se ver e vão ter um momento íntimo, e nós já sabemos como se desenrolou, ao mesmo tempo que essa cena é seu acampamento depois de anos (para todos menos Noctis e o jogador). Sabendo disso, Noctis pela primeira vez conta seus sentimentos por eles, coisa que ele tem tanta dificuldade que fica calado por um tempo apenas pensando em como se expressar. Esse texto em partes tem o mesmo intuito, estou agradecendo a todos que fizeram parte da minha vida até agora, que me fizeram evoluir e me acompanharam todo esse tempo, mas as palavras são tão complicadas de saírem de minha boca que escrevo esse texto como uma forma de homenagear eles. E, como Noctis, é difícil dizer um adeus sabendo que falta tão pouco tempo, é difícil ver vocês e saber que vão ser algum dos nossos últimos momentos por tanto tempo, ou até pra sempre. No final é difícil falar detalhadamente como você se sente. O que importa é expressar, é dizer porém sentir mais do que as palavras que saem, todos os amigos de Noctis ficam calados, mas entendem e compartilham do mesmo sentimento, pode ser difícil falar, mas o que importa é estarem juntos, o que importa é só falar o mais simples “vocês são os melhores”.
Não acho que eu vá mostrar o texto pros meus amigos, eles não se importam com esse jogo e em geral é meloso até demais, mas diria que é mais um texto pra mim mesmo, é mais pra eu tirar todos os sentimentos sobre esses últimos anos e a jornada que eu tive com Final Fantasy XV, com a força que o Noctis demonstra no final, com os espíritos de seus amigos, de sua noiva, de seu pai, todos que morreram ou vão. No final, só sobram cadeiras vazias, os lugares que nós passamos por nossas jornadas.