Freedom Planet sempre foi familiar para mim desde pequena, mas nunca tinha me proposto a ir à fundo nele. Agora para o Mês das Mulheres do Recanto decidi fazer isso pelo elenco principal ser quase todo composto de mulheres… e aí descobri que a criadora do jogo é mulher também então eu realmente precisava escrever esse texto.
Esse texto faz parte da nossa comemoração do Mês das Mulheres! Você pode ver os outros clicando aqui!
Se você olhar de fora, FP parece apenas um clone de Sonic. Não que isso seja algo ruim, só que é bem mais do que só reproduzir Sonic com outro universo. Freedom Planet é um take original e extremamente criativo na fórmula de design dos jogos 2D (e por vezes 3D) do Sonic, usando de muito mais combate estratégico. Menos ênfase no momentum (que ainda está lá e bem empregado) e mais no moveset do seu personagem e sua habilidade de desviar de ataques instantaneamente.
Algo que Sonic usa com frequência nas suas lutas é o fato do ouriço começar lento e ganhar velocidade com o tempo, ou usar o spindash pra ir tudo de uma vez. Embora as meninas de Freedom Planet possam ficar mais rápidas enquanto correm, elas já começam com uma boa velocidade e conseguir rapidez considerável é bem fácil. Isso é pensado justamente pro combate, você precisa poder desviar de golpes a qualquer momento. Por isso seus pulos também não ficam mais altos se pegar velocidade, porque mesmo parada você deve conseguir pular alto o suficiente pra desviar de algum ataque. Assim, o level design consegue ser mais parecido com outros platformers tradicionais (mas ainda rápidos) como Megaman X, e o momentum fica de lado (embora ainda esteja lá).
Aqui seus personagens tem uma barra de vida ao invés de rings, e também uma barrinha para ataques especiais. Todo movimento é meticulosamente preparado pra auxiliar e desenvolver o level design e, principalmente, as lutas contra os diversos oponentes do jogo. Existem três personagens jogáveis e cada uma explora de maneiras muito criativas o sistema de FP.
Lilac é completamente focada na sua movimentação e é de longe o personagem mais rápido e que mais faz uso da estrutura das fases. Seu ataque normal é fraco e lento, mas o seu verdadeiro poder vem do movimento “Cyclone”. Cyclone pode ser usado como um pulo duplo ou apertando pra baixo + ataque enquanto corre (similar a um roll em Sonic, porque te deixa mais rápido em ladeiras). Como um double jump, dá pra usar ele pra ir pra cima ou pra baixo, e você vai usar a segunda dessas variações normalmente como ataque mesmo. Esse movimento é um poderoso multihit que dá bastante dano se você usar nos momentos certos, e enquanto ele está sendo utilizado você pode se movimentar para os lados também. O único problema dele é ter uma trajetória vertical fixa e não poder ser finalizado antes da hora. Assim, embora seja ótimo, por vezes ele vai durar demais ou escapar do seu inimigo antes de terminar. Isso pede mais estratégia antes de usar um Cyclone, até porque ele usa um pouquinho da sua barra de especial.
Ah, não expliquei antes mas essa barra tá sempre se enchendo. Ela enche bem rápido quando você não tá usando; na Lilac, ela só significa que se você der Cyclone não pode usar seu movimento especial que já vou explicar, já que ele pede que a barrinha esteja cheia. E esse movimento chamado Dragon Boost é um dash absurdo para uma de três direções (frente, diagonal pra cima e diagonal pra baixo). Quando bate em algo, Lilac ricocheteia e continua o dash. Você pode usar ele para chegar à lugares altos, ou pra conseguir muita velocidade de uma vez ou, é claro, em combate. Esse ataque é muito forte em lutas se você usar direito, mas é de longe o mais difícil de pegar pelos seus ângulos fixos.
Adicionalmente, Lilac possui um uppercut no chão e um divekick no ar, tanto usado na sua movimentação quanto como ataques. O divekick em especial é ótimo contra chefes para desviar de certos golpes e causar dano rápido sem iniciar o Cyclone (que demora pra acabar).
A segunda personagem é Carol, completamente especializada em combate podendo destruir qualquer inimigo gigante com facilidade mas sofrendo um pouco contra bichos menores. Seu ataque principal é muito, muito rápido e causa dano considerável por conta disso. É ótimo contra qualquer inimigo e como pode ser usado a qualquer momento, em algumas coisas consegue ser melhor que Cyclone. Ela também possui o hyakuretsukyaku da Chun-Li que é uma versão muito mais poderosa dos ataques normais que são multihits bem fortes. Como movimentação ela tem um pequeno airdash (que é mais ela se jogando do que um dash) e walljumps infinitos como em Megaman X. Ela também pode rolar pra adquirir velocidade em descidas assim como Sonic.
Carol tem um pouco mais de dificuldade desviando de golpes por não ter um double jump/float como Lilac (ambos feitos pelo Cyclone), ainda assim ela é extremamente rápida e pode usar de certos Jump Pads no cenário pra se “teleportar” (no caso, ela pula bem rapidinho pra onde tá o próximo Pad). Como um personagem sozinho ela já consegue destruir alguns chefes com mais facilidade que a Lilac, mas quando ela pega sua moto…
Motorcycle Carol é… a Carol numa motocicleta! Os seus controles são quase os mesmos com algumas boas diferenças no entanto. Agora ela tem um Double Jump (que também conta como ataque), pode andar nas paredes bem rápido e atacar enquanto anda, seja seu ataque normal, seus mil chutes ou com seu mais novo dash. O problema dessa forma é que você perde ela quando toma muito dano e pra conseguir de novo, só pegando mais gasolina que encontrar na fase… o que seria impossível no meio de uma boss fight.
Milla é a mais interessante delas por ser de longe a mais segura. A gameplay da cachorrinha é se proteger e explorar, um personagem focado quase que completamente em platforming. Quando ela precisa lutar, Milla não tem ataques rápidos mas o que ela tem é extremamente forte e tem muito alcance. No seu botão de ataque ela pode criar um bloquinho, que por si só não faz nada demais nem dá muito dano. No seu botão de Special ela faz um escudo que, ao soltar, dá bem pouco dano em uma pequena explosãozinha. Mas se juntar as duas habilidades, Milla faz um Blast que pode derrotar quase qualquer inimigo e dá muito dano nas boss fights. Por isso o playstyle dela em combate consiste em desviar bastante, criar blocos e usar esse ataque. Ela é bem mais defensiva por isso, e pode usar do seu pequeno vôo pra escapar de inimigos (ela não pode voar com algo na mão no entanto).
O escudo da Milla pode bloquear projéteis e mesmo o bloco conta como um escudo. Ela também consegue muito mais pontos de vida pela sua habilidade de cavar! Justamente por isso ela tem menos vida máxima que os outros personagens. Milla é bem divertida de usar e sua interação com o design do jogo é muito interessante.
Uma coisa realmente incrível de Freedom Planet são suas boss fights absurdas e criativas. São o lugar perfeito para usar o máximo das habilidades dos personagens com muito cuidado. Embora algumas possam ser difíceis, o sistema de checkpoints e continues quase sempre te coloca logo antes do chefe quando você morre, enquanto eles mesmos tem estratégias bem acessíveis que não vão pedir demais do jogador. A movimentação divertida é um dos maiores motivos pra que essas lutas sejam tão interessantes.
Fora gameplay, Freedom Planet também se propõe a ser um espetáculo artístico nos seus visuais absurdos inspirados no Super Nintendo e trilha sonora fantástica e memorável, com bastante variedade. A história também é um ponto forte desse jogo porque tem mais tempo de cutscene que de gameplay (você pode ignorar o plot se quiser), e todos os diálogos são dublados. A dublagem é excelente e algumas vozes se destacam muito mesmo pela atuação excelente, como o Magister ou Brevon (especialmente ele). Todo personagem passa por coisas diferentes na história também e você pode ver o lado de cada um mesmo quando estão na mesma fase ao mesmo tempo! Tem fases exclusivas pra cada personagem também, o que é bem divertido.
O enredo é sobre uma invasão alienígena em um mundo que já é convencionalmente fantasioso. Lord Brevon dizimou milhares de planetas no caminho até Avalice e agora ele começou uma guerra entre os três reinos cuidando de tudo por trás dos panos. O destino do mundo acaba caindo na mão de três meninas que embora sejam crianças, são tudo que Avalice tem. A história por vezes é muito séria de uma maneira engraçada, e costuma ser bem “anime” de um jeito charmoso. A escrita é na verdade bem melhor do que o esperado e por vezes as cutscenes conseguem ser até pesadas e mórbidas, sem deixar de parecer um jogo ideal para públicos mais jovens. Ainda assim, ver a Lilac gritar “NO ONE HURTS MILLA!!!!!” como sua última fala antes de vencer o vilão principal completamente tomada pelo ódio é… no mínimo engraçadinho.
Se tiverem interesse em Freedom Planet o primeiro jogo tá a 30 reais fora de promoção na steam. É um jogo de 2014 então o preço abaixa com frequência nas sales! Obrigada pela atenção, boa noite.
