Star Wars Jedi: Survivor é o segundo jogo da franquia “Star Wars Jedi:”. Sim, esse é um nome bem esquisito para uma franquia de vídeo games, e essa franquia não inclui Jedi Knight 1 e 2 e tão pouco Star Wars Jedi Arena pra Atari 2600, o que é uma pena. Essa é uma denominação um tanto estranha para uma franquia, mas de certo modo eles estão corretos; esse jogo se passa no universo de Star Wars, e você é um jedi, talvez não um “Star Wars Jedi:”, mas sim um “Jedi:”.
A primeira iteração dessa franquia foi lançada em 2019, com “Star Wars Jedi: Fallen Order”, um jogo que teve uma recepção “legal” e boas vendas. Mesmo com a recepção “ok”, ele já chegou na indústria com uma série de críticas: falta de complexidade nos cenários, gameplay sem grande variedade, bugs, má otimização, e até a duração da campanha incomodou os jogadores. Parte daqueles que criticaram tinham uma crença: uma sequência que se aprimorasse a partir dos princípios do primeiro jogo tinha um potencial imensurável, assim como ocorreu com franquias do passado, tal qual na boca de muitos ocorreu entre Batman Arkham Asylum e Arkham City.
Depois de finalizar Star Wars Jedi: Survivor eu posso garantir que eles ouviram as críticas. Eles realmente fizeram um jogo maior… de tamanho.
Star Wars Jedi: Survivor é um jogo de ação e aventura publicado pela Electronic Arts e desenvolvido pela Respawn Entertainment (mesma desenvolvedora de Titanfall 1, 2 e Apex Legends) e lançou em 28 de Abril de 2023 para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
Esse jogo passou e ainda passa por uma série de perrengues até o momento que esse texto foi lançado. Mesmo fazendo quase um mês de seu lançamento, Jedi: Survivor ainda tem sérios problemas de resolução, framerate e bugs atrelados a física em todas as plataformas. Jogando no Playstation 5 logo após ter finalizado Jedi: Fallen Order é meio triste notar que a resolução in-game do jogo de 2019 é maior que sua sequência pensada especialmente na nova geração e que a instabilidade de quadros por segundo permeiam a experiência de cabo a rabo, se estabilizando razoavelmente apenas em alguns momentos de áreas mais fechadas.
Além disso, quem me dera os problemas se limitassem a apenas em momentos intensos de gameplay, as próprias cutscenes de Jedi: Survivor tem uma instabilidade infernal, transformando (supostas) cenas épicas e emocionantes em apresentações de PowerPoint.
A história se passa cerca de cinco anos depois dos acontecimentos do primeiro jogo. Nosso protagonista Cal Kestis ganhou barba no rosto e se transformou num grande dum terrorista em meio à sua luta desenfreada contra o império galáctico, aprontando de montão com sua própria trupe. Em um determinado momento do jogo as coisas dão completamente erradas e assim Cal decide revisitar os seus antigos amigos que conheceu no período que se passou o primeiro jogo.
Dentro disso nós vamos descobrindo a narrativa que perpetua a história principal de forma beeeeem lenta, lenta ao ponto de conhecer o antagonista da campanha só depois de umas seis/sete horas de jogo, uma história que deveria ser uma trama importante mas que não gera impacto algum e parece estar completamente a esmo.
A história de Fallen Order não era nada demais, mas ao menos ela tinha um estrutura muito mais consciente de si mesma e que compelia o jogador em toda a história por trás do Cordova e o Holocron, as inquisidoras, e todo o arco do Cal de passar de apenas um Padawan despreparado para um “verdadeiro” Cavaleiro Jedi.
Provavelmente o maior problema que envolve a história de Jedi: Survivor não é nem a história em si, já que em propósito ela conversa com a anterior: um segredo jedi, e forças “malvadas” querendo esse segredo pra si mesmo. Na verdade é evidente que Jedi: Survivor não passa de um “desenvolvimento” forçado e sem grande densidade para um plano de um terceiro jogo que realmente traga grandes reviravoltas pra franquia. Assim como já ocorreu esse ano com Destiny 2 e sua expansão Lightfall, isso ocorre novamente em Jedi: Survivor, talvez de maneira não tão forte já que Survivor tem algumas grandes revelações e acontecimentos, mas eu não vou me prolongar para não entrar em spoilers. Mas eu realmente acredito que algumas decisões narrativa sãos bem infelizes de se fazer com um vídeo game moderno.
O real grande problema aqui é o ritmo. Se em Fallen Order você passava de duas a três horas explorando cenários que remetiam uma série de localidades da trilogia original (IV/V/VI), aqui em Survivor os elementos e cenários se misturam com a trilogia dos anos 2000 (I/II/III), e eu realmente não deveria ficar tão feliz quanto fiquei com isso. Rever Coruscant naquela pegada “cidade cyberpunk” com as naves voando e tudo mais e principalmente aqueles droides de batalha engraçadinhos e outros elementos visuais foi muito legal, mas é meio que isso, sabe? Eu tive uma série de momentos “bazinga” em relação a conhecer uma série de eventos e localidades citadas, mas a propósito de que se tudo que cerca o jogo em material de história principal é um poço de desinteresse e acima de tudo é maçante?
Os mapas de Jedi: Survivor vivem numa estranha escala em que ou você passa duas horas em uma instalação do império, ou passa 10 num deserto completamente desinteressante com um bizarro senso de mundo aberto que é inútil pra estrutura, cheio de besteirinhas preparadas apenas para inchar o jogo para agradar aquela fração de jogadores que criticou o tamanho do primeiro.
A característica que eu mais valorizava em Fallen Order era seu lado “metroidvania”. Não que eu considerasse ele de alguma forma denso ou sequer dentro desse gênero, mas é inegável a inspiração de Metroid e até mesmo Zelda nele, e isso sempre me foi interessante. Jogos como Fallen Order, Control, e até Returnal conseguiram iterar com esse gênero. Mesmo dentro do âmbito AAA de grande orçamento, estes jogos trouxeram um divertimento que alivia o jogador se comparado à estrutura de jogos Ubisoft-like e aqueles de câmera no ombro feitos pra chorar, mas Jedi Survivor, ao invés de evoluir a fórmula com um orçamento maior e uma base mais estruturada, decidiu deixar como tava e meio que flertar tanto com os Ubisoft-Like com mapas grandes cheios de coisinhas pra fazer quanto também com os câmeras de ombro triste cinematográficos.
O design de mapa de Jedi Survivor é bem mais simplificado, os puzzles parecem mais emburrecidos e a exploração se torna algo totalmente opcional tendo como principal serventia o acúmulo de arquivos de áudio e texto, cortes de cabelos, barbas, tintas para seus equipamentos, peças de sabre de luz, peças pro BD-1, peças de revólver… etc etc… e muitos, mas muitos flavorzinhos do tipo.
Eu não gostaria de transformar esse texto em uma coisa tão negativa assim, porque tem algo que eu gostei! A jogabilidade melhorou muito do primeiro para o segundo e, se em Fallen Order essa era a coisa que eu menos gostava, em Jedi: Survivor se tornou minha coisa favorita, principalmente no que se trata a abordagem de uso do sabre de luz. O possível uso de dois sabres, o uso de revólver na gameplay e até a espada pesada que remete ao sabre de Kylo Ren realmente me trouxeram um novo ar na dinâmica do jogo, algo que também esteve presente na movimentação que também foi aprimorada. Jogando na dificuldade Jedi Master é engraçado como a dinâmica de combate funciona, a maioria dos inimigos são facilmente derrotados com um pouco de parry e uso de habilidades, mas os bosses próximos do final do jogo realmente se tornam um grande de um problema. Mesmo assim, a maioria consegue divertir na escala da dificuldade.
Existe um senso de power fantasy na hora de cortar dezenas e dezenas de droides ao meio, mas eu não sei se consegui realmente me engajar no “roleplay” jedi da parada. Parte da minha infância jogando Star Wars Episode III para Playstation 2, The Force Unleashed e os Lego Star Wars teve como princípio uma busca de me sentir como a ideia que eu havia formulado na cabeça de ser um jedi: a mistura de elegância, agilidade e disciplina da ordem, mas eu nunca me encontrei sentindo esse tipo de coisa em video games. Quando eu joguei novamente Fallen Order esse ano, tive quase uma fagulha de tal sentimento, e eu acreditei que talvez isso voltasse agora, mas esse realmente não é o ponto de Star Wars Jedi: Survivor.
Como o próprio nome já diz, o jogo é sobre a sobrevivência, sobre fazer todo o possível para permanecer em pé, desafiando a sua ética e honra em prol daqueles e daquilo que amamos, e eu acho que consigo entender esse título, já que depois de umas 27 horas jogando Jedi: Survivor para enfim finalizá-lo, eu posso dizer que foi difícil sobreviver a uma experiência tão decepcionante.
Uma cópia gratuita de Star Wars Jedi: Survivor para Playstation 5 foi concedida pela EA para análise no Recanto do Dragão.