TAMASHII: Um sonoro e perturbador indie brasileiro – Análise

Na edição desta semana de Sexta-feira do Terror vamos analisar e contar pra vocês nossa experiência ao jogar o game Tamashii: um mundo perturbador, pesado e religioso criado por um brasileiro!

Lançado em 2019, o jogo foi criado pela desenvolvedora Vikintor, responsável também por Estigma e Teocida, outros dois com estéticas parecidas com Tamashii e tema de horror.

Vale dizer que a produtora enfrentou problemas antes do lançamento do jogo e teve até mesmo que “suavizá-lo” para ser aceito no mercado do Xbox e PlayStation, devido às imagens que podem atingir, da maneira errada, certas jogadores, especialmente as cristãs.

Destaca-se que a história não é tão enfatizada assim no jogo: óbvio, ela existe e é bem importante, mas por conta da duração ela não é tão explorada quanto estamos acostumados.

Como exemplo disso temos nosso protagonista, que não possui nome ou inspiração, ele apenas está ali para retirar todo o mal que existe naquele lugar (isso é bem explicado pelos poucos diálogos presentes).

Tamashii
Reprodução/Gustavo Gama

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O terror psicológico e agonizante de Tamashii

Vou dizer logo de cara: não foi fácil lidar com o começo do Tamashii. O game aborda temas bem “pesados”, mas não leve isso para o lado ruim! Afinal de contas, sua intenção é realmente não te deixar confortável.

Essa intenção é MUITO bem executada. Digamos que durante todas as horas de jogatina, são raros os momentos em que você pensa; “Ok, aqui estou tranquilo!”. Isso não vai acontecer.

As luzes, os cenários, as constantes e imperdoáveis armadilhas, os sons completamente angustiantes e a história macabra não deixam você desligar do seu monitor por nenhum momento.

Confira abaixo o primeiro trailer de Tamashii, disponibilizado pelo próprio criador, onde podemos ter uma noção maior do fato de que “não temos um minuto de paz” no grotesco universo do jogo.

A Iluminação

Digo com certeza: um dos fatos mais poderosos de Tamashii são suas complexas luzes e que conseguem passar o ar de loucura desde o primeiro segundo do jogo. A alta frequência do “piscar de luzes” pode deixar qualquer epiléptico a ponto de ter uma crise.

Claro que isso é proposital, a história tomada pelo jogo certamente te deixa com calafrios e com um sentimento meramente ruim. Com as frenéticas iluminações combinadas a gráficos de nudez corporal com exposição de órgãos, o jogo brasileiro pode deixar alguns players com mal estar e não se sentindo confortável o suficiente para continuar a jogatina (não, Tamashii não vai se tornar confortável em nenhum momento).

O tradicional preto e branco visualizado em quase 80% das fases é “corrompido” pelas cores chamativas e intensas de órgãos humanos, e flashes brancos e vermelhos disparados na tela com um único objetivo: não te deixar na zona de conforto.

Nem sempre o vermelho é apenas luzes aleatórias. Reprodução/Gustavo Gama

Ruídos e Efeitos sonoros

Primeiro segundo de jogo: luzes brancas piscando acompanhadas de um som alto de sirene no seu ouvido (jogar de fone é uma ótima recomendação), os dois no mesmo ritmo. Para “piorar”, o audio design é digno de games antigos, meio “arcaico”, então não é possível que uma pessoa não se sinta receosa logo no primeiro segundo do jogo com esse bombardeio de sensações que Tamashii providencia.

Além da trilha sonora ser fortemente baseada em jogos de terror do fim dos anos 80 (gráficos também), ela passa uma sensação “agonizante”, com barulhos que não estamos acostumados a ouvir, efeitos sonoros indescritíveis e músicas aterrorizantes que não trazem nenhum aspecto de “tranquilidade” durante as horas do jogo.

História envolvendo temas um tanto quanto “não recomendáveis”

Já falei e volto a repetir, os temas abordados na história do jogo não são tão fáceis de “engolir”: são imagens sangrentas, rostos relacionados a religiões distorcidos, fetos deformados, enfim, Tamashii é ótimo e cumpre muito bem sua missão de deixar o jogador altamente desconfortável.

Ocultismo e religião presentes em Tamashii

“Já recebi comentários de que o jogo parecia uma propaganda para uma seita. Era para ser uma crítica negativa, mas foi exatamente o que eu estava buscando alcançar.”

Essa foi uma das explicações do objetivo da história de Tamashii em uma entrevista dada pelo Vikintor, o desenvolvedor responsável, para o UOL Start.

Achava que não era preciso falar muito sobre essa parte religiosa do jogo né? Errado, o jogo vai muito além de “uma propaganda para uma seita” e apresenta um universo desconhecido para muitos e poderosíssimo para mentes criativas.

Definitivamente, o jogo não é para crianças

Tudo bem, concordo que são temas pesados para um jogo que pode ser acessado por qualquer pessoa (inclusive crianças) nas plataformas para qual o jogo está disponível.

Porém, para o público adulto e com mente aberta, os temas abordados são bem profundos e intrigantes, mesmo que aterrorizantes (e até mesmo muito perturbadores para pessoas devotas): o universo consegue te colocar dentro da história e, com até que poucos personagens e poucas falas, detalhes importantes do universo são passados de forma clara para o jogador.

Correlações com outras obras

Fazendo uma conexão com um escritor muito famoso de obras relacionadas ao terror e à religião, eu posso destacar H. P. Lovecraft. Ao jogar Tamashii, uma das primeiras obras que me vieram a mente logo nos primeiros detalhes da história foi com certeza os mitos do universo de Cthulhu.

Como já falei, Tamashii mostra ocultismos e seitas pagãs muito parecidas com os mitos citados em obras “lovecraftianas”, como o Deus Nyarlathotep. Além disso, o próprio criador do jogo já enfatizou que se inspirou nos livros de H. R. Giger, que também possuem esses elementos citados anteriormente.

Entidades

Tamashii
Reprodução / Gustavo Gama

O ponto principal da narrativa do Tamashii é a proteção de um templo de uma religião parecida com o satanismo, então óbvio que o tema de religião e entidades relacionadas a isso seria muito bem abordado.

Como já disse, mesmo não tendo um roteiro aprofundado, são inúmeras as quantidades de entidades conhecidas que dão as caras durante as quatro horas de terror.

Um exemplo disso, e o que, pra ser sincero, mais me marcou, foi logo na primeira das cinco câmaras presentes no jogo. O “boss” dessa fase é simplesmente um “alien” que surgiu por meio do corpo de Cristo na cruz (além de contar com duas figuras grotescas que representam a Nossa Senhora Aparecida, figura conhecida da região católica).

Reprodução/Vikintor

Mostrando algumas coisas assim, já fica óbvio o porque do jogo ter sido modificado pros relançamentos de console.

Além de aterrorizante, Tamashii é desafiador

Mesmo que o jogo seja relativamente curto (em 2/3 horas no máximo você finaliza), Tamashii é bem desafiador e conta com uma gameplay complicada na medida apropriada.

Reprodução/Gustavo Gama

Com aspectos de plataforma, nosso papel controlando o personagem é pular obstáculos, cuidar com “hologramas” e prestar atenção no cenário e nas armadilhas, tudo isso ao mesmo tempo em que tem que se preocupar com os sons agonizantes e com a ambientação esquisita que só te deixa cada vez mais afobado pra passar logo de fase (0 que não vai te ajudar em nada).

Para quem se interessou e quer vivenciar a fóbica experiência de Tamashii, ele pode ser encontrado nas mais diversas plataformas: PC, Xbox One, Playstation 4 e Nintendo Switch.