The Jackbox Party | entendendo os processos de localização · Entrevista

The Jackbox Party - time de localização
Marco Nepomuceno, Carlos Cassemiro, Cristiano Prazeres Foto: Reprodução/Gabriel Morais

Ao decorrer de nossa cobertura da gamescom latam 2024, o Recanto do Dragão junto do Game Design Hub teve a incrível oportunidade de conversar com a equipe de localização da Rockets Audio, responsáveis pelo processo de tradução e localização de jogos como Atomic Heart e Ghostwire: Tokyo e, agora, os mais novos lançamentos da Jackbox Games, The Jackbox Party Pack 10 e o recém traduzido The Jackbox Party Starter.

Durante a entrevista, conversamos com Carlos Cassemiro, Cristiano Prazeres e Marco Nepomuceno para entender os desafios das barreiras linguísticas e os processos culturais que dão a singularidade para uma boa localização de um videogame na nossa cultura.

Divulgação: The Jackbox Party Pack 10/Jackbox Games, Inc

RDD: Como foi o processo de converter as referências culturais vindas do exterior ao conhecimento do Brasil, visando construir a melhor experiência ao jogador, enquanto também tentavam conceber uma experiência acessível para jogadores das mais diversas faixas etárias?

Carlos Cassemiro: Quando o material chega para o processo de tradução, inicialmente recebemos todas as linhas de texto do jogo e destacamos o conteúdo que necessita passar por um processo de “transcriação”; então existem piadas no original que falam sobre a política de lá, referências de lá, brincadeiras, músicas… Nós primeiramente identificamos para depois reescrever adaptando isso para o brasileiro. Ao invés de fazermos uma brincadeira com um cantor norte-americano, a gente usa um cantor sertanejo popular, ou os memes que os brasileiros reconhecem. Com o contexto histórico, político, qualquer coisa que não se encaixe com o território brasileiro nós podemos alterar.

Cristiano Prazeres: (Sobre faixas etárias) normalmente o jogo já vem com uma classificação original, então tentamos manter dentro desse tom. 

Carlos Cassemiro: Quando a equipe de tradução recebe o briefing sobre esses materiais, já vem indicado se é +18, +16 ou livre para todos os públicos, então nos dedicamos para manter isso. Depois, o jogo também passa por três a quatro camadas de QA (Garantia de Qualidade), que verificam caso algum erro tenha escapado do processo de tradução.

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Divulgação: The Jackbox Party Pack 10/Jackbox Games, Inc

RDD: Ainda falando sobre as faixas etárias, mas também incluindo a questão da temporalidade do material cultural referenciado, como é o processo de trabalhar tanto com temas mais antigos quanto mais recentes citados na versão original? Como a equipe trabalha com essa disparidade para garantir uma experiência acessível para a família?

Cristiano Prazeres: Normalmente, quando recebemos o material, a gente pergunta qual é a faixa etária média do público-alvo, digamos dos “15” aos “40” anos. Assim, nossa equipe tenta manter o nível de piadas e referências de forma condizente com esse público, com referencias à partir dos anos 80 por exemplo.

Carlos Cassemiro: E o time de tradutores também é composto de pessoas de 18 anos até 40 ou 50 anos, então aproveitamos dessa mesclagem de gerações traduzindo e revisando para balancear a experiência.

RDD: Assim vocês atingem um consenso sobre materiais que podem ser soar mais “datados” e que apenas os mais velhos vão entender ou que apenas os mais jovens vão entender.

Cristiano Prazeres: Esse é um problema de usar memes, hoje em dia eles acabam muito rápido. Então usar um meme muito pontual, que semana que vem já vai sumir é perigoso… Tentamos usar coisas que sobrevivem por mais tempo.

Carlos Cassemiro: O Marco, nosso diretor artístico, também ajusta o texto durante a gravação, caso sinta que algum material ficou fora do padrão ou tiver novas ideias, ele possui a liberdade de inserir mudanças e coisas do tipo.

Marco Nepomuceno: Dentro do estúdio temos mais três pessoas trabalhando em cima do texto, então vamos ter mais três cabeças pensantes em cima do material enquanto estão gravando. O ator sempre pode dar um pitaco, os técnicos…

Carlos Cassemiro: E assim que acontecem mudanças, esses textos voltam para os tradutores verificarem o que “não pode”, o que “não deve” mas isso nunca aconteceu, de recusarem ou atualizarem.

Marco Nepomuceno: Até porque o material já chega muito redondo, então são poucas referências que decidimos mudar na hora sem fugir do que já chega preparado de forma extensa pela equipe de tradução.

Divulgação: The Jackbox Party Pack 10/Jackbox Games, Inc

RDD: Então pode se dizer que vocês possuem muita liberdade não apenas com o texto desse jogo, mas também com os outros jogos que já trabalharam na localização?

Carlos Cassemiro: Cada jogo, cada publisher, cada desenvolvedora, cada cabeça tem uma sentença. O projeto já nos chega com suas instruções: “não mude nada” e então nós não mudamos; “pode adaptar”, então nós adaptamos; ou você manda o conteúdo e após a revisão eles afirmam que não é pra mudar mais nada. Os motivos das restrições podem ser vários: restrições de recursos, de tempo, da equipe de arte como diferenças de fala ou lip-sync (sincronização labial) que já estão programadas. Não são questões de censura ou nada disso, vai depender do estúdio oferecer ou não essa maior flexibilidade para mudarmos o texto… Mas normalmente quem possui essa liberdade maior para verificar se o texto chegou muito quadrado, se ele não casa com o material traduzido, é o diretor de tradução.

Cristiano Prazeres: Mas nem todo jogo permite você colocar referencias brasileiras, já que você está mudando um contexto que não faz parte da história.

RDD: Essa é uma discussão muito proeminente que temos no meio de tradução hoje em dia, como vocês citaram sobre o uso de memes de curto prazo de vida que soam datados para os jogadores.

Carlos Cassemiro: A exceção é se o jogo fosse projetado pra durar pouco tempo. A desenvolvedora afirma que o jogo vai durar seis meses até lançarem outro, nesse caso tudo bem… mas com os tipos de jogos maiores com que trabalhamos, idealmente não se coloca esse tipo de material. O projeto Jackbox é inédito para nós no sentido de como (um party game) funciona, o quanto a localização é relevante para a experiência do usuário. Se for mal feito, mal gravado, você simplesmente para de jogar. Por isso somos gratos; o trabalho da nossa equipe de tradução foi fantástico.

RDD: As localizações ganham tanto protagonismo nesses casos que, de certa forma, basicamente transformam o projeto em um novo jogo.


Você pode conhecer mais da nossa cobertura de Jackbox Party e uma entrevista exclusiva com os representantes da Jackbox Games junto dos nossos amigos do Game Design Hub clicando nesse link!

O Recanto do Dragão agradece a Theogames e a Anna Coelho pela incrível oportunidade desta entrevista!

The Jackbox Party Pack 10, e a localização de The Jackbox Party Starter já está disponível na Steam, Xbox One, Xbox Series X|S, Playstation 4 e Playstation 5, Nintendo Switch, dispositivos Android e Apple Store.