Vampire Hunter D (PSX), a ponte entre o estilo e o horror

Eu não sei nada sobre Vampire Hunter D. Na verdade, não mais, pois tudo que eu agora sei sobre essa franquia veio da minha pesquisa ao escrever esse texto, e não foi das mais longas. Ainda assim, eu joguei o jogo de PS1 de Vampire Hunter D; sem saber nada, sem pesquisar nada, e em live. Eu me diverti de formas surpreendentes, em um jogo que tinha tudo para ser esquecível.

Milhares de anos após a queda da humanidade, estamos agora no seu eventual recomeço na constante guerra contra os vampiros. Ainda agora, vampiros vivem reclusos e ainda enxergam os humanos como inferiores na sua cadeia alimentar, caçando-os sempre que sentem o ímpeto.

Como resposta da natureza, o caçador se torna a caça — “Caçador de Vampiro” é uma profissão que está a cada dia se alastrando mais entre os humanos, e também entre os seres que vivem entre ambas as raças: os Dhampirs, ou Dunpeals na tradução. Isso é tudo que posso afirmar com exatidão sobre o contexto geral, pois o resto da minha pesquisa é um pouco nebulosa.

Parece que, em um contexto social, os Dhampirs são a escória do mundo. Não pertencem aos humanos por suas tendências vampíricas que envolvem a eventual perda do bom senso —  os fazendo experimentar da iguaria que é o sangue humano — nem pertencem aos vampiros que os desprezam por natureza. Entre todos os Dunpeals, D se destaca por sua habilidade, beleza e personalidade. Esse é nosso protagonista, levando em sua mão esquerda um simbionte que se alimenta de outros seres, assim como um vampiro.

Vampire Hunter D é uma longa série de light novels, que também tem mangá, filmes e, é claro, esse videogame. À primeira vista, parece um clone ruim de Resident Evil. À segunda vista, parece um clone ruim de Devil May Cry. À terceira vista, você descobre que saiu bem antes de Devil May Cry, e que é um clone ruim de Resident Evil… bem, não é.

Fazer um clone ruim de Resident Evil não é tão difícil. As mecânicas básicas são muito simples e fáceis de replicar, e todo o esforço vai para a parte artística o que, com cenários pré-renderizados, não deve demorar tanto também. Fazer um BOM clone de Resident Evil já é outra história.

Vampire Hunter D

Vampire Hunter D faz esforços adicionais para ser uma experiência única. Apenas alguns detalhes estéticos vêm de RE, como a câmera fixa, estilo gráfico e direção das cutscenes. São coisas bem “Resident Evil” em identidade, mas não realmente constroem a base do jogo. De um jeito esquisito, VHD se aparenta mais com Devil May Cry ou Onimusha, ambos lançados após ele.

D pode atacar com sua espada, usar poderes mágicos com uma barra de Mana, bloquear, desviar e pular, além de mais algumas particularidades que fazem do combate de VHD muito mais ativo do que um survival horror. Na verdade, o horror em si é pouco, e o survival é apenas relevante enquanto você não aprende como o jogo funciona.

Vampire Hunter D

A ideia dos recursos de Vampire Hunter D é pouco sobre encontrar suprimentos entre os destroços, e mais sobre criá-los você mesmo. Os seus recursos são seus inimigos! Na verdade, muita coisa sobre o jogo não é diretamente ensinada, e ficam mais à mercê do manual que vinha com a cópia dele no PS1. Mas a explicação de como recuperar seus recursos é uma das poucas coisas que são, de fato, ensinadas ao jogador.

Antes de explicar à fundo como funciona, vamos conhecer a nossa tela. No meio dela está D, oi D! Na parte superior esquerda se encontra sua barra de HP e VP. HP é… óbvio, né? Ao perder tudo, D vai morrer, mas deixemos um asterisco no “morrer”.

Vampire Hunter D

Quanto ao VP, este significa Vampire Points. Ridículo, né? Bem, as duas barras são necessárias, e representam os dois lados de D — o seu lado humano e vampírico. Eles estão sempre em conflito mas, ao utilizar do jeito certo, podem se ajudar. Mais VP significa mais defesa, golpes mais poderosos, magias melhores e, também, faz de Blood Pills um item vital para sua sobrevivência, recuperando ambas as barras ao mesmo tempo.

No canto inferior esquerdo está sua barra de Poder, que chamaremos de Mana, com dois ícones importantes. Um deles, a magia selecionada. Select troca entre elas, e existem “três” opções: absorver (engolir), curar e atacar. Logo explicamos o que cada uma faz, mas atentem-se ao outro ícone: ops! Cadê ele?

Vampire Hunter D
Percebam: em algumas imagens, tem um ícone ao lado da barrinha no canto inferior. Aqui, ele sumiu.

Esse ícone, um símbolo do D, só se encontra presente quando o jogador possui uma “vida extra”. A ideia é que, ao subir sua barra de Mana ao máximo, D recebe uma dessas. Não é possível acumulá-las, mas você ainda pode perder uma com Mana cheia e recuperar com facilidade. Ambas Mana e VP descem com o tempo e dependem das ações do D — para manter sua Mana, absorva inimigos. Para manter seu VP, beba sangue e evite danos desnecessários.

No lado direito, logo à frente, fica o seu ícone selecionado. Não sou muito fã da ideia, mas até mesmo seus poderes mágicos dependem de estar com a mão esquerda de D selecionada. No canto superior direito eventualmente aparece o símbolo de lock-on, que permite D andar em volta de um inimigo ao invés dos controles de tanque padrões do gênero.

Vampire Hunter D

Certo, agora vamos falar do que você pode fazer. Bolinha é seu botão de interagir mas, assim que triângulo é pressionado, D desembainha sua espada, e Bolinha é agora seu botão de atacar. Existem três golpes: um corte aéreo, um combo de três hits no chão, e um golpe mais forte executado ao desembainhar a espada enquanto corre.

A parte de atacar é bem comum, apenas requer apertar o botão. Inimigos possuem padrões diferentes que impedem a tática de apenas atacar, mas além disso, existem outras estratégias a tomar: algumas ofensivas, outras defensivas, e algumas que são ambas.

Vampire Hunter D

Bloquear é uma habilidade muito importante, mas como funciona exatamente eu… não sei explicar. D usa sua capa para repelir ataques, mas ele não pode defender tudo. Quais ataques ele pode bloquear exatamente eu não sei. É difícil saber, pois D não pode bloquear a espada de uma vampira qualquer, mas pode bloquear os cortes e estocadas da capa do Meier Link. Os bloqueios que funcionarem negam apenas parte do dano, então você não pode bloquear de mais, ou de menos.

Vampire Hunter D

Para isso, D também pode desviar pressionando uma direção duas vezes. Não é uma técnica onipotente! Precisa saber quando usar, pois além de não ser tão rápida assim, tira D da posição ideal para contra-ataque. Saltar também é uma opção, mas a maioria dos inimigos pode te acertar mesmo no ar.

Vampire Hunter D

O bom é que você possui habilidades a mais para causar danos, ou mesmo finalizar embates. A magia ofensiva gasta uma das três porções de Mana, mas qual magia será depende do seu nível de VP. Quanto mais alto, mais forte será! Também é possível usar itens consumíveis, como dardos de madeira (estacas), granadas explosivas ou granadas de luz. No entanto, sua melhor arma está sempre na sua mão esquerda.

O Simbionte de D pode absorver inimigos fracos o suficiente, e a energia vital deles recupera sua barra de Mana. Mais Mana significa mais magia, mais magia significa mais dano, mas também dá ao D uma forma confiável de se curar. Com a barra no máximo, você consegue uma vida extra, então é sempre inteligente derrotar oponentes dessa forma.

Para usar, é apenas necessário pressionar quadrado com a magia de absorção selecionada, mirando em um oponente perto da morte. Isso pede algumas espadadas ou estacadas mas, eventualmente, quase todo oponente cede à boca assustadora na palma esquerda do Dhampir. Dessa forma, um ciclo de combate é estabelecido.

Você precisa de HP, e para se curar, as formas são limitadas. Itens são consumíveis, e os Potions diminuem seu VP por serem feitos para o lado humano de D. Você fica desprotegido sem VP, ficando mais suscetível a danos e com poderes mágicos mais fracos. Para recuperar VP, você precisa lutar contra oponentes e digerir seu sangue ao deferir ataques. Com mais VP, suas magias melhoram, mas para usar magia, você precisa absorver oponentes em batalha. Claro, absorvê-los significa receber uns cortes a menos de sangue para seu VP, e também significa que você entrou em combate — isso pode tirar seu HP. Precisa de HP? Pois com a mana que você conseguiu, pode se curar sem perder VP, e até mesmo garantir uma vida extra.

Vampire Hunter D

Existe uma troca clara entre os sistemas, que recompensam sua estratégia como também a execução das suas habilidades em combate. Perder controle desse sistema é o que leva o jogador para a morte, e isso pode acontecer a qualquer momento. Apesar disso, sempre que estiver no controle, D parecerá um personagem imbatível.

Itens podem garantir uma válvula de escape ou duas para protegê-lo de certos erros. Dardos são úteis contra vampiros, os inimigos mais perigosos e difíceis de acertar. Bombas ajudam no combate contra multidões, e itens curativos, como Potions, Blood Pills ou cristais recuperam suas barras tão preciosas. Mas lembre: o item mais comum e fácil de encontrar é a Poção. A Poção é feita para humanos. Como Dunpeal, D pode beber uma Poção, mas perde suas forças vampíricas no processo. Blood Pills curam ambas as barras, e curam seu HP ainda mais quando seu VP está alto, mas estes itens são raros. Quando não há outra escolha, você pode sacrificar o seu poder por mais alguns segundos de vida usando poções.

Vampire Hunter D

O mais raro de todos os itens é o que recupera sua Mana, o que faz todo sentido. Mais Mana sempre dá um passe livre para magias de cura que não gastam consumíveis raros nem diminuem a barra de VP, e ainda podem te dar um passe livre para longe da morte. Isso é o mais perto de survival horror que Vampire Hunter D consegue chegar, e ainda assim, se assemelha bastante à um jogo de ação. Talvez esse seja um dos primeiros Hack ‘n Slashes 3D tradicionais do mundo, e venceu de DMC nessa corrida. 

O sistema de combate está envolto por uma história interessante, personagens cativantes, músicas atmosféricas impressionantes e exploração… um pouco chatinha, mas ainda legal. Eu joguei esse em live, e ninguém assistindo entendia qualquer coisa sobre Vampire Hunter D. Apesar disso, o final comoveu todo mundo, seja na call participando da live ou no chat. Personagens que eu não tinha qualquer apego há alguns minutos atrás conseguiram tocar meu coração, por mais simples que fossem.

O castelo de Carmilla também não é tão complicado de explorar. Usar o mapa me salvou bastante pois me permitiu entender bem melhor como cada área dele funciona, e assim ficou fácil traçar meus próximos passos. Tive até alguns momentos meio Castlevania de quando você abre muitas salas ao mesmo tempo e, ainda que saiba para onde ir e avançar a história, você quer muito ver as secundárias.

O castelo é dividido em diversas áreas: temos os quatro andares principais, então um subterrâneo, a torre do sol e a torre da lua. Muito backtracking ocorre entre as áreas, mas por mais confuso que seja no início, logo as peças se encaixam na sua mente e tudo começa a fazer sentido. A história também parece um quebra-cabeça para quem nunca viu nada de VHD antes, mas até isso fica bem explicadinho. Você entende o que são os Dunpeals, a hierarquia dos vampiros, conhece diversos nomes da lore e um pouco sobre eles, entende mais do passado dos vampiros e também desvenda o porquê de D ser especial entre os demais Dhampirs.

Vampire Hunter D

Me peguei em diversos momentos tendo que admitir que, por mais sofrida que tenham sido minhas primeiras experiências com esse jogo, lotadas de crashes, bugs, mortes bizonhas e confusão, eu estava me divertindo DEMAIS quando pegava o fluxo de cada mecânica. Vampire Hunter D me ganhou completamente!

É um jogo que talvez eu revisite futuramente, porque acabou sendo uma experiência maravilhosa para mim. Realmente pensava que não seria! E, de alguma forma, esse jogo obscuro é minha porta de entrada na franquia, pois fiquei muito interessada nesse mundo e nos personagens dele. Agradeço a atenção e muito boa noite!

#RECANTODOSUSTÃO2025