“Se eu tivesse oito horas para derrubar uma árvore, passaria seis horas afiando meu machado.”
Abraham Lincoln
Super Mario Land 3 — Wario Land foi um jogo simples, divertido, que teve ideias e executou elas. Apresentou bastante potencial e mecânicas bem trabalhadas que separavam ele de outros platformers antigos. Prezava pela exploração e acessibilidade, além de coleta de itens, e transbordava carisma. Um jogo bom, nada mais que isso.
Virtual Boy Wario Land expandiu essas ideias, com controles altamente melhorados e bem próximos de serem os melhores da franquia. Os gráficos embora limitados por uma paleta de cores vermelha, ainda eram incríveis; a exploração foi elevada ao máximo, e a coleta de itens? Triplicada. Embora separando-se como uma experiência única na indústria, ainda não era suficiente para mostrar ao mundo o que Wario pode fazer.
Wario Land 2 foi um reboot total no gameplay de Wario Land, tirando os power ups, jogando fora as fases difíceis e ignorando totalmente as leis de platformers comuns. Em Wario Land 2, Wario é incapaz de morrer. Levar dano só te faz perder moedas, e o motivo pra isso é a nova proposta do jogo. Wario pode levar danos específicos, de inimigos ou obstáculos específicos e se transformar, assim podendo fazer coisas que normalmente não poderia como passar por lugares pequenos, queimar coisas ou quebrar o chão. Mas essa mecânica também foi o motivo da queda do jogo, em que nenhuma das transformações vieram a ser divertidas, e mais de metade das vezes que aparecem são especificamente projetadas para serem irritantes. Já que o Wario não leva dano, o jogo sempre quer deixar você irritado. Seria quase perdoável a mecânica base ser tão mal aplicada se o resto da gameplay fosse bom, mas se torna extremamente entediante muito rápido e os controles são simplesmente terríveis, literalmente com o pior pulo que eu já vi em um jogo (eu joguei Bubsy 3D na mesma semana que joguei Wario Land 2, minha opinião realmente é essa aí). Embora obviamente teve muito carinho e muita ambição, foi uma experiência que dava um passo pra frente e dois pra trás sempre.
Wario Land 3 tem um começo muito bom, consertando os problemas nos controles e possuindo uma aproximação mais “Zelda” de exploração, fazendo as fases terem quatro objetivos que serão alcançados em momentos diferentes da gameplay. O problema do jogo, dessa vez, se tornou a repetitividade e a extensão imensa da sua campanha, e o fato de trazer de volta os mesmos problemas com transformações que o jogo anterior. Pensa comigo, um jogo que você não pode levar dano e os inimigos são selecionados e posicionados para serem irritantes. Um jogo que tem como ideia principal que você vai jogar a mesma fase várias vezes e ir e voltar até zerar ele, e também um jogo que se estende muito mais do que deveria por horas e horas e horas e horas de gameplay… o que poderia dar errado? Ao menos, acertou nos controles e nos gráficos, mas a música também é esquecível, diferente do anterior que tinha músicas ótimas.
Mas por que na review de WARIO LAND 4 a bonita decidiu falar sobre todos os jogos menos o 4? Bem, na época eu não tinha feito uma análise do 2 e 3 então queria tampar buraco, mas também queria levantar um ponto inicial.
Você pode ver os outros textos da nossa retrospectiva da série Wario clicando aqui!
A franquia até aqui foi uma bagunça, cambaleando e criando seus próprios abismos, caindo por suas próprias ideias e limitada pelas suas mecânicas. Uma franquia que até agora sempre foi injustiçada, porque absolutamente todos esses jogos tinham amor e carinho na sua essência, mas isso não criou algo que destacasse Wario Land de outros jogos de plataforma. Mesmo o primeiro apenas apresentava seus conceitos, e embora fosse divertido, não representava muito mais que um pequeno início, uma faisquinha do que Wario Land poderia se tornar se pegasse fogo. Nunca pegava. Mesmo Virtual Boy poderia ser facilmente comparado com Super Mario, mostrando que ainda não tinha largado sua essência e transformado-se em algo novo por si só.
Eu acompanhei essa franquia por todos os jogos até aqui. Eu me liguei com ela bastante e a amo muito. Eu adoro o Wario e me entristeceu bastante ver cada jogo novo ser decepcionante mesmo depois de mostrar tanto potencial (na verdade, lembrem-se que na época eu odiava VB Wario Land). Wario Land nunca recebeu o jogo que merecia, o respeito que merecia e isso é realmente muito triste. Mas, eu não fiz essa retrospectiva a toa…
Senhores, hoje o texto começou bem formal e com palavras bonitas porque estou mentalmente usando um vestido chique com uma garrafa de champagne na mão. Hoje estamos presenciando um gigante acordando. O dia chegou. Esse é o jogo.
Mas… um minuto. Ao contrário dos meus outros “remasters” de texto, esse é um que não quero mexer muito. Então vou mantê-lo como é e só deixar melhor. Talvez não seja o meu melhor texto na sua visão, mas é na minha e eu quero mostrar o que eu fiz na época. Let’s rock.
Apresentação é o que Conta
Uma rua escura, um beco no meio da noite (talvez madrugada). Alguém abre uma porta e um portão de garagem começa a se abrir. Um motor começa a cantar. Blues, um carro estiloso sai pelas ruas no amanhecer. O destino? Uma pirâmide recém descoberta no deserto. É a chance de ouro do Wario.
Boa noite gente, faz um bom tempo desde a minha última review, né? Como eu disse na última (que foi de Wario Land também, a propósito), eu apenas faço uma análise quando algo realmente parece importante de ser falado sobre. Pois aqui estamos.
Já de cara, o jogo impressiona com essa maravilha de introdução, animada em pixel art super detalhada e estilizada, com uma música memorável e cantada de fundo. Embora ninguém entenda que merda tá sendo dito na música, alguém tava realmente inspirado porque no “Yeah, yeah, yeah… Wario Land…” eu senti. Assim o jogo começa, uma aventura do Wario em busca do ouro.
Já vamos abrir aqui uma observação importante — essa é a primeira aventura em um tempo que Wario se dispõe a ir. De fato, a última vez foi o primeiro jogo, porque em todos os seguintes Wario foi lançado em situações que, embora ele tenha conseguido dinheiro e riquezas, eram incômodas e inesperadas para ele. Pois agora em grande estilo, dessa vez, Wario que decidiu. Isso por si só já estabelece uma vibe muito mais divertida no jogo, com um Wario entusiasmado para tirar a sorte grande da sua vida.
Após a introdução maravilhosa e da felicidade de ver Wario animado com algo, o jogo pede para você apertar “Start” como qualquer jogo lol. Então você aperta e… Wario falou!?
Isso mesmo, Wario Land 4 marca o momento em Wario Land que Wario recebeu uma voz, e que voz. Durante toda a história Wario vai soltar frases e palavras soltas memoráveis e que dão cada vez mais carisma e personalidade ao jogo. É quase impossível não soltar umas falas dele durante a gameplay, e o jeito que ele entrega todas elas é com certeza acima da média. WL4 realmente não poupou esforços pra criar um hype nessa introdução, mas agora precisamos falar aonde o hype nos leva.
Tiremos a parte artística do caminho
Como sempre, vamos primeiro falar do que é secundário antes de focar no importante. Primeiramente, estamos nos deparando com uma das maiores maravilhas sonoras que já agraciaram esse console, essa franquia e a Nintendo. Cada música se destaca da sua própria forma, e trazem um carisma e personalidade que só esse jogo tem. Obviamente, algumas músicas bem mais memoráveis e bonitas que outras, mas não tem uma abaixo da média.
Seja um blues, um rock ou um violãozinho calmo e bonito, em Wario Land 4 tem de tudo, e todas as músicas ainda podem se alterar com a gameplay. Quando Wario se transforma elas se tornam versões deformadas delas mesmas referentes à transformação do Wario. Tudo isso mostra de verdade como se importaram com a parte sonora do jogo, e com parte sonora eu também me refiro aos efeitos.
Uma das coisas mais memoráveis desse jogo são de fato os sons dele, isso contando as voice lines do Wario, mas coisas como o som do relógio, de entrar e sair de portais — cada sonzinho fica na sua cabeça como uma parte de Wario Land no seu coração e isso é mágico.
Se não bastasse os ouvidos, os olhos são igualmente agraciados. Cores maravilhosas, sprites fluidos e extremamente expressivos, facilmente representados no protagonista do jogo, que não tem um sprite feio em geral. Tanto os efeitos como cenários e inimigos são perfeitamente desenhados e animados, vibrando de personalidade dos pés à cabeça. Tudo também é bastante memorável e fofinho, é difícil não reparar que o crocodilo usa máscara de natação, ou ignorar o Free Smile do Shopkeeper. Mas isso aqui não é um filme, temos que falar da parte “jogo” agora.
Controlando um Wario nerfado
Nesse jogo, Wario recebeu uma barra de vida, corações. Você pega pontos de energia para encher uma barrinha embaixo dos corações, e ganha um coração novo quando estiver cheia… ou pega corações inteiros pelas fases. Isso significa que agora Wario pode morrer, ele pode levar dano. Mas e a mecânica de transformações? Mantém-se, embora falarei mais sobre ela depois, você ainda se transforma quando acertado por certas coisas.
Os controles do Wario estão melhores e mais responsivos, os melhores controles que já teve. Um Shoulder Bash maravilhoso, um pulo super preciso e uma habilidade nova — correr! Que pode ser usada como uma versão mais forte do Shoulder Bash, com a necessidade de um lugar para conseguir velocidade para ser usado. O Wario também vem com seu ground pound, que ganha mais força se ele usar de um lugar alto.
Todos esses controles são extremamente parecidos e aparecem com qualidade similar a Virtual Boy Wario Land que, surpreendentemente, foi uma das maiores inspirações desse jogo e isso não é difícil perceber. Seja pelo design das pedras ou pelo fato de você poder correr, ou mesmo o próprio level design e a exploração do jogo serem similares.
Wario é divertido de controlar, e as habilidades que ele tem não vão evoluir mas quanto mais você joga, naturalmente fica mais experiente nas possibilidades do protagonista. São controles intuitivos e divertidos que com o tempo se tornam tão automáticos quanto respirar.
Os controles já são um começo muito bom pra gameplay, mas isso não constrói um jogo por inteiro. Felizmente, estamos olhando para uma obra de arte hoje.
Wario Game Design
Bem, já preciso deixar isso claro desde o início. Independente de todas as qualidades e defeitos (que não existem) que eu falar sobre o jogo nessa análise, ele é divertido, e não é pouco. Wario Land 4 reúne o melhor de todos os jogos, não apenas em alma; mas de fato reutiliza muitas ideias, só que dessa vez, com o intuito de divertir ao invés de ser apenas interessante ou original (o que ele continua sendo mesmo assim). Uma das coisas que eu mais amo em um jogo é uma boa ideia de design, e a de Wario Land 4 é a diversão, acima de tudo, e muitos dos melhores jogos que já joguei optaram pela mesma filosofia base de design.
Wario Land 4 especificamente não poupa esforços para manter o sentimento de diversão intacto, em todas as fases, do início ao fim do jogo. Faz todo o possível para balancear todas as suas facetas, que são muitas, e faz da melhor maneira possível. Tanto é, que se encaixa em padrões de design e subgêneros extremamente complexos e difíceis de acertar. Wario Land 4, ao contrário do que poderia ter sido, foi um jogo que se arriscou para tentar ser bom de verdade, e apenas deu certo porque os desenvolvedores entendiam profundamente as ideias e conceitos que optaram por utilizar. Wario Land 4 não poderia ter sido feito por qualquer um. Com isso em mente, lá vamos nós.
Passagem de Entrada — Introdução
Wario Land 4 separa seu Hub World em quatro passagens diferentes (e a Inicial, um tutorial). Você pode livremente decidir em qual ir, e pode jogar na ordem que achar melhor. Cada Passagem tem quatro fases, uma porta de Mini-Game e um Boss. Quando você vence todos eles, você pode entrar na Pirâmide Dourada no meio do Hub World e jogar a fase final, além de lutar contra o último boss. Eu gosto desse sistema de Passagens por alguns motivos.
O primeiro deles é que permitir que a qualquer momento você tenha quatro fases disponíveis para jogar é incrível. Se você morreu em uma fase e ficou muito frustrado, você pode sempre jogar outra e voltar nessa depois, ou simplesmente ignorar uma Boss Fight e ir jogar mais fases porque você não tá a fim de lutar com o chefe agora.
O segundo é que quebra uma barreira de level design que talvez seguraria o jogo. Embora exista uma ordem recomendada de fases, e existam algumas mais difíceis que outras, toda fase do jogo é única porque não existe a pressão da fase seguinte ter que ser mais difícil que a anterior, como muitos outros platformers fariam para manter o jogo interessante. Isso abre maiores possibilidades criativas. Toda fase tem seu desafio individual e não precisa ser comparada com outras para estabelecer se essa viria antes ou depois de tal e tal fase. Muitos jogos de plataforma se perdem por causa desse problema, deixando as fases cada vez mais difíceis sem saber como sustentar esse tipo de filosofia.
Seu objetivo em cada fase é conseguir quatro pedaços de um losango (que representa a jóia da passagem) e uma chave; a chave abre a próxima fase e o losango é necessário para enfrentar os Bosses, que possuem tesouros necessários para abrir a Passagem Final. Adicionalmente, toda fase também tem um disco, um CDzinho que… eu não sei se toca música porque no Sound Room todos parecem só sons random… mas é um colecionável também, dando ao jogo um total de seis coisinhas pra pegar por fase.
Quando você chega no final de uma fase, você ativa uma bomba relógio. Isso é necessário para abrir o portal de volta para as Passagens. O jogo então te dá um timer, e diversas mudanças acontecem na fase especificamente para acompanharem esse temporizador. Normalmente o timer te dá tempo suficiente para continuar explorando a fase e suas mencionadas mudanças, mas ainda assim não é tempo pra ficar de bobeira.
Essa talvez seja uma das minhas ideias favoritas no jogo. Eu acredito que ele é chamado de HURRY UP! porque é assim que todo mundo se dirige a ele (o Wario, a soundtrack…). Cada fase usa esse momento do seu próprio jeitinho, mas é sempre uma fuga desesperada e angustiante de volta para o início, enquanto ainda podem existir coisas para pegar na fase que só estão disponíveis agora. Um método bastante comum de mudar as fases é a existência dos Frog Blocks, quadrados azuis com sapinhos, que vão aparecer (ou sumir) quando você acionar a bomba. Isso pode limitar certos caminhos, mas também criar novos. Também existem fases que você consegue coletar tudinho (inclusive o CD) antes mesmo de acionar a bomba. Nesses casos, a fuga é completamente uma speedrun divertida e emocionante de volta pro começo.
Essa ideia por natureza pede que as fases te deem um certo nível de liberdade para ir e voltar, já que você obrigatoriamente vai ter que retornar ao o início dela. Embora existam pontos em que você não vai poder retornar para uma certa sala (sem resetar a fase), não é um problema tão grande quanto parece mesmo para um collectathon, e já já falarei mais a fundo sobre isso.
Passagem Esmeralda — Exploração
Já adianto, essa é de longe a minha parte favorita do jogo, e também é o foco dele. A exploração desse Wario Land 4 é talvez uma das mais inteligentes que eu já vi, intuitiva e natural, respeitando seus limites, mas favorecendo seu potencial.
Ir de um ponto a outro, achar segredos, liberar caminhos e coletar coisas utilizam conceitos e habilidades que você já conhece ou adquiriu pelo jogo, e WL4 sempre faz questão de deixar você ciente que algo acontece de uma forma antes de exigir que você saiba disso. Não tem melhor maneira de mostrar a naturalidade da exploração do que falar como ela acontece na prática.
Quando você vê uma passagem pequena cheia de pedras, você sabe que precisa rolar pra passar por ali. Então, você procura lugares por perto que possivelmente o Wario possa deslizar para sair rolando, e então chegar onde precisa. Caso não houver, você automaticamente mantém isso guardado pois sabe que logo mais, vai ter. Mas, digamos que talvez não aconteça, e não haja um lugar para deslizar? Pois, o jogo vai fazer questão de te mostrar essa mesma entrada em outro ambiente, um ambiente em que você vai achar outra maneira de passar por ela. Por exemplo? Um inimigo que você possa segurar, e o jogo disponibilize uma plataforma que deixe você convenientemente no ângulo certo para jogá-lo dentro do buraco e abrir uma passagem para que você possa facilmente atravessar. E isso tudo ocorre naturalmente.
Se você vê uma pedra azul que não pode ser destruída com um Shoulder Bash, você procura por um lugar que te dê distância e velocidade para correr, ou um lugar alto para realizar um ground pound mais forte, ou um macaco que jogue maçãs e transforme você em Fat Wario. A questão é que a exploração embora não seja 100% óbvia, não demora a ser solucionada por ser apenas um meio mais inteligente de usar as habilidades que você naturalmente já tem, ou de fazer você conseguir elas ou dominá-las.
Mas, os fatos são fatos, o jogo nunca te apresenta uma situação que você desconhece, e nunca vai haver uma solução que você não viu antes. Dessa forma explorá-lo nunca vai te empacar, mas nunca vai ser fácil demais ou tirar a diversão, além de influenciar o uso mais inteligente das habilidades e funções que você já conhece.
A parte mais importante da exploração, no entanto, é o porquê de você explorar. O que você quer achar? Como mencionado anteriormente, existem seis grandes coletáveis por fase, então, dinheiro que tem em todos os cantos. Você precisa de cinco desses coletáveis em todas as fases para poder terminar o jogo, mas não precisa para terminar a fase específica, isso significa que você pode voltar e pegar o que faltou se não conseguiu encontrar. Como já dito, a exploração e o level design são maravilhosos, mas se acontecer de você ter perdido algo, retornar na fase não é tão chato quanto parece, e não teve uma única vez que em uma segunda entrada eu demorei demais para encontrar algo. Em todos os Wario Land, tive ao menos uma vez que ver algo na Internet (o que é normal), mas todos os problemas aqui foram solucionados com lógica, e todos os coletáveis, necessários ou CDs, são encontrados facilmente se você realmente procurar. O jogo amplamente recompensa sua criatividade e inteligência, escondendo esses coletáveis (ou bastante dinheiro) atrás de pequenos desafios que qualquer um consegue completar, mas que vai ter que se esforçar ainda assim, e sempre vai existir a satisfação.
E, talvez satisfação seja a melhor parte de toda a aventura, e a exploração dele se pendura na satisfação de encontrar algo, descobrir um caminho secreto; coletar todas as coisas nesse jogo não foi um saco, na verdade foi um prazer e eu me senti muito feliz não só por ter conseguido terminar o jogo 100%, mas por ter tentado.
Passagem Rubi — A Gameplay de um Platformer
Embora a parte principal seja explorar, a gameplay do jogo consiste em platforming, pois ainda é um jogo da Nintendo e ainda um Wario Land. Os desafios usam de gimmicks interessantes, inimigos bem feitos e plataformas bem posicionadas para causar satisfação a cada salto e a cada shoulder bash. É uma gameplay dinâmica e divertida, que embora possa ser mais lenta ou mais rápida dependendo da fase, é extremamente bem usada. Uma das coisas mais importantes de Wario Land, no entanto, sempre foram os inimigos.
Os inimigos são uma das maiores qualidades dos dois primeiros jogos, mas são o downfall do 2 e 3. Naturalmente, se esperaria a esse ponto que ou Wario Land 4 retirasse as mecânicas de transformação, ou ele tropeçasse nas mesmas coisas que o 2 e 3 tropeçaram. Bem, ao contrário das minhas expectativas, o jogo tomou seu próprio rumo.
Wario Land 4 reconhece as falhas e chatices da sua mecânica principal de transformações, e então acha suas várias maneiras de torná-las divertidas e menos intrusivas ou irritantes, e o jogo fez isso de muitas maneiras diferentes. Se elas apareciam demais e acabavam sendo enjoativas, agora elas aparecem com bem menos frequência e menos atrapalham a gameplay normal do jogo, dessa vez ajudando. Algumas transformações se tornam aliadas, por você já contar com elas em lugares específicos e já querer se transformar em certas coisas.
Se elas duravam tempo demais, o jogo acha maneiras inteligentes de encurtar o tempo delas, como Fire Wario, que agora só termina quando você bate 3 vezes ao invés de ser baseado em tempo, fazendo os puzzles muito mais lógicos e palpáveis — no entanto deixarei a discussão de puzzles para mais tarde. Ele também toma providências como no Wario balão, que o jogo deixa você aumentar a velocidade para chegar em um teto mais rápido.
Se as transformações não eram divertidas de usar na maioria das vezes, vão ser as que menos aparecem e quando aparecerem, não vão ocupar muito da gameplay para que, mesmo se não divertirem, ao menos não durem o suficiente para incomodar.
Se uma transformação era muito irritante e comprometia a diversão de jeitos extremos, ela é fortemente nerfada pelo próprio level design e posicionamento, ou, ainda melhor, as maneiras de ser acertado pela transformação mudam e agora incentivam estratégia ou habilidade para desviar. Antes, os zumbis eram só um pé no saco porque você precisava só se abaixar e esperar (se não for acertado sem querer por não ver eles saindo do chão), mas agora os fantasmas que os substituem são super divertidos de enfrentar porque a movimentação divertida do Wario faz você QUERER desviar dos tiros deles, que são utilizados em posições e lugares muito mais bem pensados do que os zumbis dos jogos anteriores.
Esse é o primeiro Wario Land que eu sinto vontade de me transformar, porque as transformações que mais aparecem são as mais divertidas e versáteis, com maior criatividade e maior liberdade. Isso e algumas são apenas mais úteis para coisas gerais e tomam menos tempo, como Bat Wario e Fat Wario. Flat Wario se usei 3 vezes foi muito, e isso só me traz felicidades.
Mas, óbvio, com inimigos também vem um jeito de vencê-los, o que nos leva ao combate do jogo, que se mantém bem similar a Virtual Boy Wario Land, que já era bom o suficiente. Mas aqui você tem muito mais chances de errar, só que cada dano que você leva ainda traz um risco e um certo medo. Dessa vez, o combate é algo mais segundo plano, porque morrer não é algo tão recorrente em Wario Land 4 (porque tem bastante coração pelas fases), mas lutar ainda existe e ainda mantém a parte inteligente das lutas, com cada inimigo tendo uma estratégia própria. Além de que agora, as mecânicas de transformações auxiliam o combate, com inimigos com padrões de ataque diferentes, e ataques que causam efeitos diversos no Wario, que podem ou não prejudicar você (mas normalmente são irritações pequenas, bem pequenas já que o jogo fez tudo que podia pra minimizar o tanto que você vai se irritar). Ainda assim, devo dizer que tem fases que vão mais além com inimigos; não de um jeito ruim, mas uma certa fasezinha da Passagem Topázio me quebrou as pernas, uma dificuldade muito boa, com desafios realmente mais complicados, organizados felizmente de uma maneira divertida e possível. Em relação ao resto do jogo, se destaca no tanto de dano que você pode acabar levando, mas é uma das mais divertidas (embora tenha pego ódio do porco artista).
Vale mencionar que o Hard Mode auxilia de uma maneira muito bem feita o combate do jogo. Não só adiciona o triplo de inimigos, mas muda a posição de certos itens importantes na fase. Assim, é um desafio novo e bem divertido, que força uma jogabilidade mais cuidadosa e uso mais inteligente da barrinha de cura ao matar inimigos. Vale lembrar que morrer nesse jogo de fato faz você reiniciar a fase, mas se você sabe onde estão todos os coletáveis, voltar para onde estava se torna bem fácil. O importante é sobreviver.
Passagem Topázio — Puzzles
Puzzles são uma parte menor do jogo, mas são importantes e presentes em todas as fases, inclusive, como parte da exploração dele (o que implica que muitos elogios que eu dei para a exploração também podem ser usados aqui e vice versa). Os puzzles, como sua exploração no jogo, usam conceitos naturais e conhecidos em quebra-cabeças interessantes. Eu já falei bastante sobre isso mas importante reforçar.
No entanto, as vezes, o jogo usa um puzzle para te mostrar algo novo e interessante, um jeito inteligente e natural de te dar uma nova habilidade, e isso pode ser tanto uma habilidade individual do jogador quanto de fato, dar uma habilidade para o Wario, com as transformações. Nesse jogo, é a primeira vez que os puzzles com transformações são de fato uma parte boa da aventura e um dos seus grandes valores. São puzzles intuitivos que podem ser decifrados por qualquer um com neurônios, e usar as transformações também influencia nisso. Puzzles com o Fire Wario são inteligentes e divertidos, porque agora ao invés de tentar ver quanto tempo você pode enrolar até ele pegar fogo e você estiver no local certo, você vai contar os lugares em que vai bater pra chegar em algo para incendiar.
Os puzzles permitem que você teste e experimente, sem se comprometer com isso, para melhor conhecer o ambiente e o desafio mental que Wario Land 4 propõe. Assim, o jogador pode resolvê-los facilmente, sem tomar muito tempo da gameplay com uma parte secundária dela.
Apesar disso, Wario Land realmente experimenta nos puzzles em salinhas secundárias, escondidas em canos roxos em todas as fases. Nessas salas, um puzzle especial e bastante experimental é apresentado, com as recompensas sendo dinheiro ou te encher sua vida. São puzzles que podem ser resetados entrando e saindo da sala, e te dão mais ideias de como usar suas habilidades de um modo geral. Muitos são extremamente fáceis, e são usados como um tutorial totalmente secundário para ensinar certas mecânicas que logo serão úteis. Às vezes tudo que eles mostram é que jogar inimigos pode destruir blocos em uma linha reta, e mais nada, mas isso vai ser essencial de saber. Caso você só não queira, você não precisa passar por nenhum dos canos roxos e seguir a vida.
Passagem Safira — Boss Fights
Assim, Wario Land sempre teve uma relação complicada com Boss Fights. Wario Land 1 tinha algumas boazinhas, mas esquecíveis, enquanto VBWL tinha batalhas maravilhosas e que eram com certeza uma das melhores partes do jogo. Só que aí Wario Land 2 e 3 tiveram as piores e mais chatas, todas com gimmicks entediantes e irritantes, nas quais um errinho te levava pro início da luta (na verdade pra fora da sala, você tinha que fazer um caminho pra voltar pro boss). Isso se dá pelo Wario não poder morrer nesses jogos.
Agora, Wario Land tem a chance de acertar nos chefes e ah, minha gente, ele acertou. Pra começar, só do Wario ter vida de novo, já seria suficiente. Boss fights como de outros jogos, né? Não, isso é Wario Land. Wario Land não é outros jogos. Wario Land sempre fez seu próprio caminho em tudo, e nas boss fights ele se superou.
Elas agora não são particularmente difíceis, mas tem um porém, um adicional importante… um relógio, o mesmo relógio do fim das fases, retorna nos bosses. As estratégias dos por si só são simples, intuitivas e bem divertidas, e os bosses tem bastante vida mas vão mudando um pouco quando vão levando cada vez mais dano. A vida é indicada no canto da tela. Mas, o relógio adiciona um fator externo. Se seu contador chegar a zero, você morre, e recomeça a luta. Mas, quando ele começa a chegar ao zero, tesouros no background começam a sumir. Esses tesouros seriam recompensas do Wario, que você pode perder se for lento demais. Isso faz você não só querer vencer os bosses, mas dominar as estratégias e ser o mais rápido possível pra vencer, fazendo o desafio não ser o boss em si mas o tempo… junto com o boss.
Com isso, eu não digo que todas as boss fights são boas, mas a grande maioria é, e mesmo a ruim é divertida o suficiente, e se pra você não for, tem maneiras de consertar isso. O jogo te dá uma loja de itens. Esses itens, quando comprados, são usados pelo Shopkeeper (um bichinho preto fofo) no boss, para dar um número fixo de dano. Cada boss leva danos diferentes para itens diferentes, e você não é obrigado a usá-los, mas eles estão ali caso você sinta que um boss é difícil demais ou demorado demais. Só que, como no jogo você coleta muito dinheiro enquanto naturalmente joga ele, seria meio roubado e fácil só comprar os itens e tirar vida de todo boss, né? Errado, você não usa o dinheiro normal, é aí que entram os mini-games.
Depois de terminar as quatro fases de uma passagem, você libera uma área de mini-games. São três diferentes, e você precisa pagar pra participar, e pagar bastante, na verdade. Os minigames te dão moedas especiais para serem usadas na loja, e você não precisa aprender todos, mas pode escolher um e ficar bom nele para ganhar jóias. Tem baseball, um jogo de memorizar coisas e um Dinossauro-do-Google-like. Assim, você se sente mais satisfeito mesmo que use um item para vencer do boss, porque você teve que trabalhar por ele em minigames que são, de fato, difíceis.
Gostaria de só abrir um último detalhe sobre as boss fights e dizer que a última é simplesmente maravilhosa, e a mais divertida delas. A satisfação de conseguir terminar ela com todos os tesouros foi incrível. Recomendo de verdade tentar pegar todos os tesouros, essa vontade de dominar todas as boss fights realmente aumenta a diversão delas substancialmente.
Passagem Dourada — Celebração
O jogo termina de maneira bem simples, Wario vence o final boss, escapa com todo o seu tesouro e um gatinho preto que seguiu ele até aqui, que então se revela uma princesa! É um final feliz e bem animado, mas o melhor vem logo após… os créditos.
Com exceção de VBWL, os créditos de Wario Land são sempre bons. O 3 teve um decentezinho mas foi bom e trabalhado o suficiente, mas nada chega perto da maravilha que foram os créditos do 2, que felizmente eu vi várias vezes já que o jogo pode ser zerado de diversas formas diferentes. Embora a música não seja tão tocante quanto, os créditos de Wario Land 4 chegam bem perto, e é uma cena muito mais trabalhada.
Wario, no seu carro, voltando pelo deserto com todo seu tesouro, e uma música funky com letra legal tocando. Então, memórias e experiências dele nessa aventura aparecem no céu, em artes muuuuito bem feitinhas, carismáticas, e muito fofas também, uma pra cada tesouro que você coletou (os baús). Quando a musiquinha termina, um medley de músicas bonitas do jogo começa. E assim que o Wario chega em casa, a intro do jogo reinicia… mas o gatinho preto tá branco? A intro segue normalmente até que o jornal que antes mostrava a descoberta da pirâmide agora é um cartaz falando sobre um buffet, o tanto de carne que o Wario puder comer. E assim, Wario Land 4 termina.
Pois, aqui vem a parte sentimental. Esse jogo foi um abraço quentinho e apertado da franquia. Trazendo o melhor dela, consertando erros e mostrando o que todos os jogos poderiam ter sido. Uma celebração completa, uma comemoração por essa franquia existir, com o jogo mais ambicioso e trabalhado dela.
Eu considero Wario Land 4 uma masterpiece, e eu não critiquei ele em nada na análise porque não achei o que criticar, pra ser sincera. Nessa semana, esse jogo me trouxe felicidade, felicidade de verdade.
Wario Land 4 me fez chorar, sério. Eu não esperava que iria, mas acompanhar toda a franquia até aqui e ver o que ela se tornou me deixou emocionada e muito feliz. Eu fiquei tão animada no dia que comecei ele que eu acabei precisando fazer um cházinho pra me acalmar. Eu estou muito orgulhosa de Wario Land, e meu amor pela franquia só cresce e cresce. Sou uma garota feliz por ter jogado ele, e eu gostaria de dizer que essa é a review que eu possivelmente mais gostei de fazer. Eu não faço há um tempo, e esse foi um jogo mais difícil de destrinchar, mas valeu a pena.
Foi um jogo divertido, bonito, fofo e que me trouxe bastante conforto; e eu queria transmitir esse conforto na minha análise. Foi maravilhoso de verdade, e eu agora fico feliz por ter jogado tudo antes de chegar nele. Obrigada por lerem, de coração. Muito amor e beijinhos.
O Verdadeiro Capítulo Final — Um abraço apertado no passado
E… corta! Rosie do presente agora. Esse pode não ter sido um dos textos mais impressionantes que já leram, talvez nem de minha autoria. Pode ser uma análise simples e talvez não tão bem escrita, mas não houve nada que eu tenha feito com tanto amor do que esse texto que leram. Mais do que meu primeiro texto, meu maior ou o meu mais famoso, “Wario Land 4 — Um Abraço Apertado na Franquia” foi a melhor coisa que já escrevi. Significa o mundo pra mim.
Embora 2020 tenha sido um ótimo ano, em 2021 minha depressão havia voltado e eu estava em um estado bem ruim, ao menos foi o que minha psicóloga havia dito. Então, fizemos o possível para conseguir medicamentos, e eu comecei a tomá-los. Essa visita a Wario Land 4 na época me trouxe uma alegria incomparável. Talvez, minhas medicações não estivessem devidamente balanceadas mas nunca eu havia chorado de pura felicidade tão facilmente.
Meus primeiros momentos com Wario Land 4 não me tiraram o sorriso do rosto e lágrimas nos olhos. Tudo isso aconteceu um mês antes de eu acabar pegando Covid e ter as semanas mais depressivas da minha vida em um bom tempo, mas por esse pequeno momento eu fui feliz como nunca antes. Talvez nenhum dos meus amigos lembrem tão bem quanto eu dessa época, e de ser feliz com tão pouco. Minha vida mudou muito de agosto de 2021 até agora, quase em 2023. Eu me tornei quem sou por causa desse período, e Wario Land 4 influenciou muito minha vida.
Ser uma pessoa melhor, mais otimista, e finalmente me dedicar por completo à minha escrita. Wario Land 4 e esse lindo texto me trouxeram coisas maravilhosas e até hoje continuam trazendo. Esse foi o texto que eu tive o maior prazer de regar amor até esbaldar, e eu amo Wario Land com tudo que tenho pelas experiências que me trouxe e por ser uma parte importante de quem eu sou.
Não me importo que esse texto já seja ultrapassado. Não me orgulho de outro texto tanto quanto desse. Eu sei o carinho que eu tive quando o fiz e continuo o tendo hoje. Mesmo com um texto de 65 páginas ou mais atualmente, eu não posso dizer que é meu melhor. O que importa é o sentimento. Essa é a melhor análise que eu já escrevi, e fiz questão de não mudar muito dela ao trazer para cá no Recanto. Além de achar o melhor jogo de plataforma da Nintendo, ao menos eu sei que Wario Land 4 é algo único no mundo independentemente de sua qualidade.
Obrigada por terem lido esse. E obrigada a todos que me acompanharam até aqui, vocês estando lendo ou não. Minha vida é boa. A vida é incrível. Não importa se você acredita em Deus, destino, ou qualquer outra coisa, o mundo sempre dá um jeito de trazer sua felicidade de volta, com as menores coisas. Eu estou contente com o que tenho agora, com o que sou agora. Se cuidem, e aproveitem a vida, o amor, e as pessoas a sua volta. Beijos da Rosie.
YOU’RE GONNA CARRY THAT WEIGHT