Consume Me — alimentando necessidades intermináveis | Análise

Consume Me — alimentando necessidades intermináveis  Análise

EI, VOCÊ!!!
Por acaso você precisa… comer todos os dias?
Ou, quem sabe… decidir o que fazer todos os dias?
Ou talvez… tentar se sentir bem todos os dias?

ENTÃO ESSE JOGO É PERFEITO PARA VOCÊ!!!

Consume Me Análise

Conheça o jogo mais #relatable (?) que você verá hoje: Consume Me, lançado em 24 de setembro de 2025. É um jogo focado em narrativa, gerenciamento e minigames feito pela Hexecutable: Jenny Jiao Hsia e AP Thomson, os desenvolvedores principais, que acumulam mais de três funções cada! Essa dupla já trabalhou em conjunto em Stellar Smooch e Beglitched, ambos jogos de puzzle. Dessa vez colaboraram com Jie en Lee, na arte, Violet W-P, no som, e Ken ‘coda’ Snyder na música!

Consume Me Análise

Experienciar Consume Me foi como um exercício autorreflexivo, tendo em vista o contexto da criação do projeto semi-autobiográfico: anos de vida da garota adolescente Jenny Hsia. Ah, sim ~ o grande momento da vida onde você deveria agir meio como criança mas é obrigado a viver como um jovem adulto morando com os pais!

Sua família espera mais de você, seus amigos esperam mais de você, seu parceiro espera mais de você e até mesmo você espera mais de você! Poxa… Algum dia será o suficiente?

Ah não… tem mais!

Você precisa se preocupar com seu peso! 😁

Ao clicar em jogar, nos deparamos com super avisos de conteúdo sensível sobre gordofobia e transtorno alimentar. Apesar de saber que toda a apresentação de Consume Me nas redes gira em torno desse tema, receber esta mensagem me fez repensar minha decisão de continuar jogando.

No fim, decidi encarar e aprofundar esse assunto com vocês; no fim, chorei algumas vezes — mas não pelos motivos que achei que choraria.

Somos apresentados ao cotidiano de Jenny: ela acorda, sai de baixo de suas cobertas, escova seus dentes, troca de roupa, se alimenta… come demais… e recebe uma bronca de sua mãe! Uma bronca que até pode ser lida com boas intenções? Mas ainda assim questiona o valor de Jenny como pessoa. Comparação, dúvida e decepção, isso é tudo o que ela expressa pela própria filha com essas palavras.

E é fácil assim para entrar no fundo da cabeça de alguém e fazê-la repensar todo tipo de interações futuras! Mas dessa vez baseadas na aparência!

O mundo afora também não ajuda! Na moda, na televisão, na rua, na escola. A pessoa gorda ou até só um pouco acima do peso já é vista com olhares diferentes, já é tratada e falada como fora do padrão, e sofre as consequências disso.

Pule a próxima sessão caso não queira/consiga ler um relato sensível!


Com onze anos de idade, uma criança teve infecção urinária e foi ao médico geral; a médica receitou alguns remédios.

Logo no fim da consulta, completou: “O peso está um pouquinho maior do que deveria, vou encaminhar para o endócrino.”

E assim começou uma grande etapa ridícula da minha vida! Durante mais de sete anos todos meus exames estavam impecáveis! Mas não meu peso.

 Não coma demais nem de menos, aprenda a almoçar, a comer de três em três horas, a provar coisas diferentes, a tentar zilhões de exercícios; continue perdendo tempo com estagiárias de nutrição repetindo sempre as mesmas coisas e nenhuma delas pensando em te mandar para um 
psicólogo.

Ouça coisas terríveis! Frases “motivacionais” que só te jogam para o fundo do poço — sim, SIM! SINTA-SE UMA PESSOA HORRÍVEL POR TENTAR O MÁXIMO E MESMO ASSIM NÃO FUNCIONAR!

“Você não quer ficar bonita para seu aniversário de 15 anos?”

Vai. se. foder.

Mas não se engane! Aos onze essa mesma criança já falava para sua mãe: “eu sei que ninguém nunca vai gostar de mim… porque eu sou gorda!!” — sem nem chorar, como se fosse uma verdade absoluta, era quase engraçado (para a criança).

Muita coisa aconteceu.
Esse tipo de interação, no meu caso, só piorou tudo.
Às vezes a pior coisa para as pessoas são outras pessoas.
Por isso tive medo desse jogo.


A sessão acabou!

Dito isso: Consume Me não se aprofunda no assunto — e nem acha necessário. Agora vou te dizer o porquê!

Jenny passa os próximos meses de sua vida aprendendo sobre dietas, afetada pela balança e as expectativas de outras pessoas, além da vontade de impressionar um interesse romântico.

Consume Me é sobre suas tarefas diárias

Jenny coloca metas no começo de cada capítulo — cada pequeno ciclo de sua vida, considerando algum evento importante para ela. Em cerca de uma semana você precisa cumprir objetivos obrigatórios (e alguns extras), como seguir sua dieta, terminar um livro, ganhar uma quantidade x de dinheiro, e muito mais!

Para isso você viverá um dia de cada vez com auxilio de uma lista cronológica de coisas que estão por vir! Alguns dias são ligeiramente diferentes, mas o ciclo base é o seguinte: Acordar, comer (com limitações), escolher uma roupa, lidar com um evento aleatório, escolher o que fazer no tempo livre e, então, dormir.

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Além disso você deve balancear seus status: vontade, energia e estômago. Se qualquer um destes chegar a zero, você MORRE! Ações e eventos aleatórios interferem diretamente com esses números, sem contar efeitos especiais (bons ou ruins) e itens!

Escolher uma boa roupa para começar seu dia é essencial, esta pode influenciar em status e trazer efeitos ativos ou passivos diversos — mas sua roupa fica suja, então tu pode utilizá-la apenas durante este dia, então se planeje direitinho!

Vamos falar de comida, o motivo desse jogo existir!

Após ler um pouco de uma revista, Jenny aprendeu a limitar seus alimentos e contar “bites” — ou, em português, “nhacs” por unidade. A partir de agora, todos os dias Jenny comerá uma refeição completa onde cada alimento possui um formato único (assim como tetriminos de Tetris) e devem ser encaixados até completar toda a área do estômago, sem passar o limite de bites diário da dieta!

Consume Me Análise

Comer é o mini game mais importante de Consume Me; este interfere diretamente em suas escolhas do dia! Comer demais te obriga a se exercitar, gastando tempo e energia ou aceitar um dia do lixo (existe um limite semanal). Não encher seu estômago te obriga a comer alguma coisinha mais tarde. Você gasta dinheiro, ganha bites ou até gasta tempo! É possível comer demais E não encher seu estômago… que horror!

Mas não se preocupe, se a dieta não for para você, dá pra dar um jeito gerenciando outras partes da vida — mas vai dar um trabalhinho!

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No seu tempo livre, existem muitas possibilidades: ler livros, para aumentar habilidades; fazer tarefas de casa, para ganhar dinheiro; fazer exercícios, para queimar bites. Isso se você manter os status de Jenny sob controle! Para isso você também pode usar sua cama, para aumentar seus status! E claro, todas essas possibilidades são minigames tranquilos, diferentes e contextualizados à la WarioWare!

Dentro destes núcleos maiores existem mais e mais tarefas específicas com ganhos e gastos diferentes! Como passear com o cachorro, lavar suas roupas, fazer yoga, dar aula para seu irmão, e por aí vai. Além de atividades únicas, como fazer maquiagem, para ganhar um bônus aleatório!

Jenny precisa manobrar tudo isso com apenas dois turnos! Seu tempo livre é curto, é possível aumentar a quantidade de turnos, mas tudo tem uma consequência…

E MAIS UMA VEZ realizei uma explicação extensa sobre mecânicas dependentes entre si de jogos de gerenciamento! Consume Me foi meu preferido! A escala, complexidade, aleatoriedade e pessoalidade entraram em comunhão, trazendo sentimentos impetuosos.

Viver é demais

Além de se preocupar com coisas do dia a dia, Jenny lida com pressão familiar e acadêmica, amizades complicadas, um relacionamento à distância…e continua… Não é… coisa de mais? Tipo… em quantidade, mesmo…? Por turnos…

O início de Consume Me é bem amigável, apresenta com calma cada uma de suas mecânicas e tem exigências baixas, no aguardo de que o jogador internalize e possa maximizar seu tempo da melhor maneira possível futuramente.

Para mim foi tentador seguir uma lista bonitinha que te desafia para, no fim, cumpri-la. Por mais da metade do jogo eu não conseguia parar. É inevitável se sentir produtivo jogando Consume Me. “POR FAVOR JOGO, NÃO ACABE AGORA!!!” — pensei, com medo, sabendo que a qualquer momento poderia ser o seu fim, levando em conta que é um jogo indie.

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Mas…a cada capítulo Jenny colocava mais e mais E MAIS coisas na lista! É quase como se fosse… inspirado na vida real??? Haha.

Creio que, por ter jogado oito horas sem pausa, consegui sentir com muita intensidade o peso que Jenny queria passar. Fui consumido — por favor não façam o mesmo que eu!!!!! PAUSE. PAUSE NO CAPÍTULO QUATRO E CINCO!!!

Relatable: o jogo. Nada para, tudo continua! Pense cuidadosamente no seu tempo, tarefas, metas, autocuidado, crescimento, descanso… no que é necessário para viver.

A vida é isso? É só fazer, fazer e fazer? E continuar fazendo? Pra sempre?

Ahm…

É!

Mas existem momentos menos intensos! Momentos menos complexos… momentos menos sofridos……………. ?

Por isso reitero: esse jogo é para você! Afinal, você vive a vida!

Em Consume Me, Jenny Hsia expressa uma evolução, uma passagem! Na adolescência esses momentos existiram. Ela sentiu, encontrou um suporte, uma maneira de continuar e… se adaptou!

Consume Me é sobre uma pessoa que se provou e está, atualmente, em ciclos completamente diferentes do que na época retratada, e o mais importante: está satisfeita! O tempo passa, mas não é como se o que ela passou não importasse, é mais como um alívio de “deu tudo certo”, mesmo que não seja igual o que Jenny do passado achou que seria! Ela apenas… se encontrou.

A vida não é igual um jogo. Você não tem seus dados na sua cara e não pode prever exatamente como estará seu corpo e mente no dia seguinte. Existem condições diversas que podem nos influenciar e, infelizmente, nem sempre é “tão fácil assim” (mesmo que ainda não seja em Consume Me).

Mas, ao mesmo tempo, Consume Me é como a vida! Um lindo recorte, puro e sensível, sobre a vida de alguém.

Uma cópia de Consume Me para PC foi concedida pela Hexecutable para análise no Recanto do Dragão.