O trailer de lançamento de Destiny 2: Lightfall (Queda da Luz) ter a música Karma Police da banda Radiohead como trilha sonora chega a dar quase que um tom irônico após eu finalizar a campanha de Lightfall. Não pelos protagonistas descobrirem o que eles vão “receber depois de mexer” com a Testemunha e seu mais novo fiel Calus, o antigo imperador dos Cabais, mas sim do infeliz carma que o fã de Destiny têm depois de jogar a impressionante expansão (para os padrões da franquia) Witch Queen (Bruxa Rainha) e criar expectativas minimamente elevadas com a mais nova campanha que se comprometeu a apresentar um novo horizonte ao mundo de Destiny 2, junto de uma totalmente inovadora forma de explorar a jogabilidade de Destiny: o uso de um arpéu.
Entender Destiny 2 atualmente é quase que praticar uma espécie de trabalho arqueológico; claro que você pode simplesmente pegar a versão free to play dele pra jogar algumas missões com seus amigos, se divertir com o Looting, Shooting e estatísticas e incentivos neurais “satisfatórios” do ato de dar tirinho no jogo e acabar por isso mesmo, mas caso você decida (TENTAR) se inteirar no que está acontecendo e o que já aconteceu dentro do universo de Destiny nos últimos 8 anos, bem… você vai ter dezenas de histórias e lendas para conhecer e se impressionar, mas obviamente só vai conseguir acessá-las por meio da conversa entre fãs e advento da internet com vídeos do Youtube, wikis, e afins, já que nunca mais vai ser possível você experienciar tais histórias em toda a sua vida (até o momento que esse texto foi lançado).
Os conflitos entre Bungie e Activision Blizzard e o fim dessa união levou até a decisão por parte da Bungie de se criar o “Cofre de Conteúdo de Destiny”, anunciado em 2020 e que chegou com a proposta de diminuir o tamanho de Destiny 2 de uma forma bem simples: acabar com a campanha do jogo base (que não era lá um conteúdo muito bom) e quase tudo que estava ao redor dela.
Posteriormente também foi a vez da expansão Forsaken (Renegados) e essas exclusões obviamente criaram um alvoroço na internet pelo simples motivo de deletarem um pedaço importantíssimo da história de Destiny 2 e essa discussão fica até mais complexa quando se pensa na preservação de jogos digitais. De qualquer modo Bungie seguiu firme e forte com seu planejamento de exclusão de conteúdos de seus jogos e também com o começo da sua nova trilogia de DLCs.
Até que em fevereiro de 2023 chega mais um capítulo dessa jornada de quase uma década de absurdas crises de identidades e uma melhoria considerável na qualidade do conteúdo de campanha principal desde a Witch Queen, Destiny 2 Lightfall traz um novo ar a Destiny em quesitos estéticos e até narrativos; entretanto está mais para um pequeno passo para a Bungie do que um grande salto para a sua comunidade.
Destiny 2: Lightfall começa de onde a ultima temporada de Witch Queen terminou e caso você não saiba de nada sobre ou está longe de Destiny 2 há muito tempo, vai ser meio difícil explicar o começo desta DLC (tal qual é dificil explicar os acontecimentos do jogo de modo geral) de uma maneira tão clara, mas o importante é saber que o Guardião foi parar no planeta Netuno, um lugar onde a humanidade se desenvolveu de uma maneira um tanto diferente do resto dos terráqueos.
Em Netuno a maior parte da população está em um constructo de realidade virtual chamado de Nebularca (CloudArk), que os permite viver e transitar como hologramas pela cidade de Neomuna. Entretanto algumas pessoas se sujeitam a um processo de transhumanismo com nanotecnologias que melhoram sua força, agilidade, altura e até mesmo os possibilitam usufruir de skates voadores pela cidade; essas pessoas são conhecidas como Andantes Nebulares (Cloud Striders).
Tudo que eu citei em relação ao planeta Netuno leva a um caminho óbvio: essa expansão tem fortes inspirações na estética Cyberpunk: desde os cenários, trilha sonora e por fim os já citados elementos que compõem a história. Isso por si só aparenta ser uma ideia inovadora para Destiny 2, que mesmo com seus cenários fantásticos em momentos chaves de expansões passadas, se manteve numa abrangência estética um tanto limitada ao monocromático e a estética de alienígenas pós anos 2000.
Mas não foi a decisão visual que salvou Lightfall da absurda crise de identidade de Destiny 2 e para cada cenário belo e inventivo, existem 10 absolutamente sem graça e esquecíveis; a própria metrópole que a expansão se passa não é tão incrível quanto as CGIs prometiam e não traz tantas surpresas.
Passar a maior parte dos momentos do jogo andando por cenários mais urbanos e enfrentando Cabais da Legião da Sombra me trouxeram uma estranha nostalgia da Guerra Vermelha de Destiny 2 Base. Não que eu tenha carinho por esse pedaço da história do jogo, mas me soou quase como o começo do fim de um ciclo, o que em breve será uma realidade, já que em alguns anos Destiny 2 vai chegar ao seu fatídico fim e Destiny 3 o substituirá, até Destiny 2 enfim ser apagado por inteiro e ser totalmente esquecido…
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Mas eu não poderia esquecer dos Algozes (Tormentors) guerreiros com aparências de ceifadores e comandados pela Testemunha, eles são disparados a melhor surpresa que a campanha de Lightfall poderia proporcionar; os Algozes são inimigos desafiadores que te forçam a fazer um jogo de posicionamento bem mais atento, já que basta um ataque à queima roupa deles para você possivelmente ter sua barra de vida no limiar. Entretanto não são todas as arenas que conseguem ser bem designadas ao combate contra os Algozes e enfrentá-los sem o arpéu consegue ser uma experiência bem desesperadora.
Quando anunciado, o arpéu que estreia dentro das subclasses lançadas junto com Lightfall foi certamente o principal elemento que me fez querer voltar a esse jogo. A ideia de agregar um grappling hook em qualquer jogo de tiro traz todo um novo horizonte a se explorar na dinâmica de gameplay de um vídeo game e principalmente num jogo que já se garante tanto em uma jogabilidade satisfatória (mas repetitiva a longo prazo), porém o uso dessas subclasses na campanha é um tanto bizarra e até a metade da história você vai usar cerca de apenas três vezes, mas esses vão ser momentos que abrem um sorriso no rosto e habitam um sentimento de “por que isso não existia antes?” mas quanto maior o uso do “Filamento” foi se encontrando necessário na minha jogatina, mais eu percebia as limitações da mesma e o seu uso não tão bem aplicado, principalmente em áreas próximas do final do jogo, onde é muito fácil morrer para o abismo após levar um ataque ou simplesmente transitando pelas pontos de usos do arpéu.
Se você não liga tanto para a gameplay e na verdade esperava informações e descobertas impressionantes em relação a Testemunha, o antigo imperador Calus comandando a legião das sombras e até mesmo sobre a população que vive em Neomuna, o sentimento de balde de água fria tem uma chance muito alta de estar presente na sua jogatina. Afinal, tais elementos parecem apenas tapa-buracos sem uma exploração mais aprofundada dos mesmos.
São nesses momentos que um sentimento amargo transita na boca do jogador e além de muitas missões não inspiradas e uma própria história principal fraca que parece correr atrás do próprio rabo sem grandes revelações sobre a tal Testemunha que foi tão falada em Destiny 2, a expansão não parece encontrar tanto propósito na sua existência. Isso não é uma coisa nova no universo de Destiny 2, mas a Witch Queen chegou e trouxe um novo parâmetro de como era possível fazer uma campanha com conteúdos mais diversificados, narrativos e interessantes por si só e por Lightfall não progredir nesse caminho e na verdade travar e retroceder alguns passos, é difícil não se decepcionar com o que a expansão trouxe em seu lançamento.
O veredito final sobre Lightfall só o tempo dirá, ao passo do lançamento de seus conteúdos post game e temporadas subsequentes. Mas, da maneira que o mesmo lançou nas lojas e pelo preço que lançou, é realmente perceptível que a queda não esteve presente apenas no nome do jogo.
Uma cópia gratuita de Destiny 2: Lightfall para a plataforma PC foi concedida pela Bungie para análise no Recanto do Dragão.