Elden Ring Shadow of the Erdtree — lembranças maculadas | Análise

Há dois anos e meio atrás era lançado Elden Ring. Dois anos e meio depois, era lançada sua expansão, Elden Ring Shadow of the Erdtree. Abrindo o jogo com minhas emoções singelas, eu não gostaria que uma expansão de Elden Ring fosse lançada. Eu gostaria que a From Software trabalhasse em algo novo… mas eles trabalharam, já que ano passado foi lançado Armored Core VI: Fires of Rubicon.

Então, querendo ou não, Shadow of the Erdtree existe. E a pergunta que eu gostaria de fazer é fundamentalmente simples, qual é o propósito? 

Isso é por essência uma piada. Eu não quero criar um limiar objetivo do proposito material de um vídeogame, muito menos de um tão singular como Shadow of the Erdtree. Mas eu gostaria de criar um limiar da onde meus olhos conseguem enxergar e tratar essa expansão, vinda de uma empresa afundada em suas próprias derivações, expansões de videogames e claro, um pouquinho de fé.

Elden Ring Shadow of the Erdtree foi desenvolvido pela From Software e publicado pela Bandai Namco. É uma expansão do jogo Elden Ring lançada em 21 de Junho de 2024 para Playstation 4/5 Xbox One, Series X|S e PC.

+ PUBLICIDADE: Confira Elden Ring: Shadow of the Erdtree na Nuuvem!

Elden Ring: Shadow of the Erdtree
Reprodução: Bandai Namco/Divulgação

Pergunta Rápida: Como você define o limiar de uma DLC e de uma Expansão?

Resposta fácil: Grandiosidade, certo? Uma DLC pode ser uma roupinha de cavalo em The Elder Scrolls IV: Oblivion ou apenas um cenário curto adicional tal qual um Final Fantasy VII Intergrade. Mas uma expansão… envolve uma grandiosidade de tempo de jogo e claro, conteúdos exclusivos tal qual as expansões que acercam jogos como World of Warcraft ou até Monster Hunter. Perfeita resposta, nota dez…

Segunda Pergunta Rápida: Como você define The Old Hunters de Bloodborne, Artoria of the Abyss de Dark Souls ou mesmo The Ringed City para Dark Souls III?

Expansão ou DLC? DLC ou Expansão? Independente da resposta que você me deu, olhe nos meus olhos hipotéticos com atenção e me responda!

Aonde diabos se encaixa Shadow of the Erdtree? Eu não peço uma resposta determinada por lojas digitais, embalagens plásticas, ou databases da internet, eu peço a resposta que veio do seu coraçãozinho.

Elden Ring: Shadow of the Erdtree
Imagem: Alexandre “Avatics”/Reprodução

Shadow of the Erdtree se inicia no “cânone hipotético” de Elden Ring, na metade final do segundo terço do jogo (de acordo com meus complexos estudos baseados no chute). Você precisa participar de um festival muito louco e cheio de gente esquisita lá em Caelid (que já é esquisito por si só) e vencer o Flágelo Estelar, Radahn e encontrar e derrotar o lorde do sangue e estudante de latim básico nas horas vagas, Mogh.

Enfim, você fala com uma cavaleira que gosta muito do Miquella, encosta em um ovo, o jogo começa. Isso mesmo, a minha resposta é que Shadow of the Erdtree é um… jogo novo, mais ou menos! Esse assunto não é sobre méritos ou deméritos, mas as estruturas da expansão se adentram em aspectos e diferenciações que vão para além da relação DLC/Expansão convencional para mim.

Uma jornada nas terras em que Marika surgiu e onde Messmer massacrou com suas chamas, e claro, seguindo os passos e caminhos que o Empirio Miquella seguiu em uma jornada de autodestruição. Não estamos sozinhos e outras pessoas também buscam respostas, portanto seguimos em busca de tais respostas.

caramba… além do horizonte… nada… nadinha de nada… – Imagem: Alexandre “Avatics”/Reprodução

Esses são alguns dos ritos e lendas que você vai conhecer e compreender pelas próximas 30 a 40 horas de jogo, quase que aprisionado em um mundo com suas próprias estruturas e percepções de como a engine do vídeogame deveria reagir. Mesmo o sentimento de progressão é próprio e funciona através de basicamente coletáveis espalhados ao redor de um grandioso, afundando em camadas, mundinho realmente hostil.

Shadow of the Erdtree começa extremamente brutal, e aqueles que tentarem transpassar as barreiras apenas batendo a própria cabeça contra o muro vão acabar sofrendo as consequências de suas próprias atitudes. A experiência inicial acaba me recordando das minhas jornadas em Caelid depois de abrir aquele baú maldito e nem sequer ter derrotado o Margit ainda.

Então explore, conheça, sofra um pouquinho e logo logo Shadow of the Erdtree se torna uma experiência razoavelmente familiar daquela que você conheceu pela primeira vez em 2022. Ainda assim, é diferente, Elden Ring Shadow of the Erdtree é tipo Super Mario Lost Levels. Desculpa, eu precisava fazer essa comparação.

A real é que a tida expansão se lida menos como mero complemento de cenários e bosses, como uma The Old Hunters (não que isso seja um demérito), e mais como um “novo jogo” dentro do próprio jogo, e isso é basicamente a história de vida da empresa From Software.

Elden Ring: Shadow of the Erdtree
Imagem: Alexandre “Avatics”/Reprodução

Em 1996 se lançou Armored Core; um ano depois, Armored Core: Project Phantasma e em 1999 Armored Core: Master of Arena. Apesar de vendidos como jogos à parte (já que não existia Playstation Store de internet discada nos anos 90, por incrível que pareça), eles basicamente complementavam um jogo ao outro: novas histórias, novos inimigos e novas corporações. Ainda assim, te possibilitando exportar sua build em cada jogo novo e, portanto, novas peças se agregavam no seu arsenal, pavimentando a sua busca de criar um maquinário de guerra perfeito para todas as ocasiões.

Isso continuou no Playstation 2 com Armored Core 2: Another Age, Armored Core III: Second Line, Last Raven, e claro, o queridinho de muitos, Armored Core: For Answer. Todos vendidos como experiências singulares à parte, mas derivativas da experiência original que os antecedem. O que isso significa? Além de que demorou muito tempo até as empresas japonesas começarem a se aproveitar da ideia de criar expansões à parte e não relançar jogos antigos com contéudo extra a preço cheio pra mesma plataforma? (né, Atlus) 

saudades de você… espera, não tem nem um ano que esse jogo lançou??? – Imagem: Alexandre “Avatics”/Reprodução

+Leia também: Armored Core VI: Fires of Rubicon — dias de corvo

Tudo isso reflete e muito a natureza derivativa das experiências que a From Software criou desde sempre. Se você tirar um tempo pra jogar o primeiro jogo de King’s Field, você vai ver que entre as paredes invisíveis interativas e os esqueletos com efeitos aterrorizantes que o Playstation 1 é capaz de materializar, a essência da empresa sempre esteve lá. Vivendo décadas e décadas na sarjeta até um verdadeiro milagre pós-moderno, do advento da internet a transformar-se em, essencialmente, a empresa mais influente no coração dos jogadores e desenvolvedores.

Aí que as coisas entram em nevoeiros conflituosos em minha mente, afinal, a partir do momento que você começa a expansão, o sentimento de retornar ao mundo originário de Elden Ring soa… desconfortável… fácil demais, sem conectividade ou sequer desafio na maior parte do tempo.

Mas não são esses os méritos que pavimentam minha crítica à expansão. Dificuldade e balanceamento em um jogo tal qual esse são assuntos tão subjetivos e circunstanciais que o discurso pode se comprometer a se tornar tão vazio quanto um protagonista de Dark Souls.

Elden Ring: Shadow of the Erdtree
Imagem: Alexandre “Avatics”/Reprodução

Mas eu só acho engraçado… que na perspectiva antropológica da From Software, é finalmente um flerte com algumas das coisas mais interessantes da From Software como empresa. A forma como tudo se reproduz e se deriva em um processo abstrato entre a arte e o comercial.

Como um jogo Dungeon Crawler tridimensional influenciou um jogo de montagem de Mechas, e que, por sua vez, para além das influências em seu próprio gênero, chegou a influenciar um outro jogo de fantasia medieval bem popular lançado em 2009. Aquele que também se inspirou em batidas de combate de Ocarina of Time e que basicamente fez história pra todo mundo ver.

Caramba, até Armored Core VI tem alguns combates que relembram muito Sekiro: Shadows Die Twice, e na própria expansão de Elden Ring você adquire um parry análogo ao que você usa e abusa em Sekiro. O que esse povo tinha na cabeça???

São experiências que mesmo nas estruturas de um jogo como Elden Ring, dialogam uma coisa própria, sistemas novos, uma perspectiva nova, dentro daquele velho novo jogo. A From Software vive uma jornada invejável para muitos, uma estrela que brilha e reluz cada dia mais, mas que está eternamente conectada a sua própria constelação.

Elden Ring: Shadow of the Erdtree
Imagem: Alexandre “Avatics”/Reprodução

Elden Ring Shadow of the Erdtree foi uma experiência extremamente cativante para mim e aos trancos e barrancos, de pouco em pouco, eu progredia em um mundo que eu não tinha certeza se era pra mim, em um jogo que eu já não tinha mais certeza que gostava tanto quanto um dia eu já gostei e amei. Todavia, entre o respeitar das minhas emoções e anseios; engolir um pouco de um senso de orgulho gamer e finalmente buscar entender e mesmo aceitar aspectos e mecânicas que um dia eu negligenciei por ser “veterano”, eu finalmente encontrei meu lugar naquele mundo.

O discurso de vídeogame da From Software vai ser sempre trancado em discussões funcionalistas que criam uma falsa matemática de game design ideal, e essa é uma das coisas que mais me incomodou dentro deste senso de comunidade. Buscando comparar os vídeogames o tempo todo entre as frame data dos ataques e movimentos e buscar a fórmula de como cada elemento se lida para criar um senso de loop perfeito… eu vou ser honesto: Pra mim tudo isso não passa de uma grande farsa. 

Elden Ring: Shadow of the Erdtree
Reprodução: Bandai Namco/Divulgação

Eu já estive dentro dessa tal farsa, tentei buscar categorizações de dificuldade e isso não serviu de nada. O jogador faz do jogo o seu jogo. A sua expressão é intrínseca ao seu contexto e enquanto só se criar regrinhas do jogo bom e jogo ruim, você só vai se frustrar com as regras que você criou na sua própria cabecinha.

Eu falo isso como forma de tirar do meu peito aquilo que me impediu de escrever sobre um “soulslike” por muito tempo na minha vida, a necessidade de agradar uma parcela de pessoas, incluindo a mim mesmo. Elden Ring te dá o beneficio da modularidade em sua experiência original como uma ferramenta de variedade, e se usufrui dessa ideia na expansão, mas agora como ferramenta de limitação. Eu gostei disso, exceto nos momentos que eu não gostei. Eu amei alguns dos bosses, exceto nos momentos que eu não gostei nem um pouquinho (é dele mesmo que eu to falando…) e eu honestamente não poderia ligar menos sobre isso, porque bem… eu gostei da expansão de Elden Ring, e eu mal posso esperar pra próxima coisa que a From Software vai derivar e repetir, como tudo na vida!

Muito obrigado a você que leu esse texto e claro, um agradecimento à mais nova parceira do Recanto do Dragão , a Nuuvem, que nos disponibilizou um código de Elden Ring: Shadow of the Erdtree para PC!

Elden Ring: Shadow of the Erdtree
Reprodução: Bandai Namco/Divulgação