O demônio morreu… né? Apesar da conclusão definitiva de Evil Dead, não é difícil imaginar o porquê de Sam Raimi ter interesse em uma sequência — afinal, o time original todo adorou a ideia e queria mais. Mesmo com os direitos do primeiro filme fora de suas mãos, Raimi dirigiu a continuação semi-forçada do seu grande sucesso, criando Evil Dead 2, que possui uma direção completamente diferente.

Evil Dead 2 é o motivo de eu ter assistido o primeiro! Porque eu sabia como seria… parte do final. Se não assistiram, sugiro que o façam. É claro que vão ter spoilers nesse artigo!
Como denotei anteriormente, minha motivação para ingressar na película do livro dos mortos era o próprio Ash Williams, e não era o Ash do primeiro filme. Evil Dead 2 começa onde o primeiro terminou: após matar todos os seus amigos possuídos, Ash se encontra na floresta ao amanhecer. Ele é então perseguido e atacado pelo demônio em sua forma mais pura como o ponto de vista em primeira pessoa da câmera.

Mas espera, esse não é bem o começo de Evil Dead 2. Antes disso, rola um resumo do primeiro, agora com apenas Ash e Linda, interpretada por outra atriz. Os acontecimentos são rushados para caber em poucos minutos, apenas ambientando o que seria mais importante para o enredo atual: Linda é possuída, Ash corta sua cabeça e a enterra. Os outros personagens foram cortados, pois Raimi perdeu os direitos do filme anterior e não poderia usar cenas dele. Se fosse para refazer, valia mais a pena trazer de volta só o que importa, pois Linda é o cataclismo que inicia o enredo.

No final de The Evil Dead, Ash é atacado pelo demônio, como já falamos. Lá, fica implícito que o mesmo morreu ali, já que sobem os créditos. Bem, agora temos uma recontextualização, e uma muito engraçada: Ash é lançado na velocidade do som pela floresta, girando, até que bate em uma árvore e desmaia. Isso já deve ser um testamento da nova pegada do longa.

A primeira parte da história é bem legal e inusitada: Ash sobrevive sozinho na casa, lidando com todo tipo de bizarrice. Sua esposa levantando dos mortos representada por um monstro de massinha, sua mão sendo possuída e tentando matá-lo e até mesmo uma parte absurda em que Ashley cai na sua insanidade e vê toda a casa rir dele: os móveis, o abajur, a cabeça de alce pendurada na parede… e tudo é interrompido pela chegada de um grupo de estranhos. Mas para! Rebobinando:

Esse primeiro terço da história é enlouquecedor, engraçado e as vezes desconfortável. Eu fiquei perturbada com algumas cenas, mas elas são mais voltadas para ação e comédia dessa vez. A mão do Ash até dá o dedo pra ele! Toda a situação é bizarra e por vezes assustadora de imaginar, mas é representada com um tipo de humor esquisito e até meio David Lynch. A cena das risadas com Ash dançando, o sangramento das paredes da casa, a briga hilária de Williams e sua mão demoníaca em que ele precisa dizer “Quem está rindo agora!?” ao esfaquear a própria mão. Ele até mesmo corta a mão fora com uma motosserra, e logo mais voltaremos nesse objeto peculiar.

Eu me diverti, fiquei confusa, às vezes enojada, mas essa primeira parte me puxou para o filme de uma maneira estimulante. Já vi filmes, animes e jogos bizarros na vida, mas quando vi esse segmento de Evil Dead 2 só pude pensar “eu esperava tudo menos isso”. Essa é minha parte favorita do filme! Pois eu diria que ele é separado em três partes específicas: a loucura de Ash, a parte de “terror”, e o nascimento do verdadeiro Ash Williams. Essas três partes são completamente diferentes e, sendo honesta, eu gosto muito dessa progressão esquisita.

Depois do prólogo, Ash e sua dancinha coreografada com os objetos possuídos da casa é interrompida por um som na porta, o qual nosso herói responde com um tiro de escopeta, assim ouvindo um grito. Do lado de fora surge um homem feio e nojento (sejamos francas) que acaba com Ash no soco, pois o tiro pegou de raspão em sua namorada. Prendendo Ash no porão por um mal entendido, o grupo discute o que aconteceu na casa.

Uma das pessoas invadindo o local é Anne, a filha de um pesquisador. O Arqueólogo que vivia na casa estava estudando o Necronomicon ao lado de sua esposa. Ela encontra a fita que Ash escutou com seus amigos no filme anterior e recapitulou com Linda no início da história, e termina de escutar a gravação.

Nela, o pai de Anne diz que sua esposa já foi transformada e tentou matá-lo, o forçando a se defender. Ele decidiu não desfigurar seu corpo e a enterrou no porão. Como Ash sabe, o demônio só pode ser exorcisado pelo desmembramento, e agora que ele está preso no porão, fica de frente com a mãe de Anne.

Essa parte do filme é mais focada em suspense e ação mais padrão do gênero. Ash se junta ao grupo, para então o namorado de Anne se transformar em outro dos Deadites (como eles são oficialmente chamados).
Em resumo, um a um o grupo morre, sobrando apenas Ashley e Anne. Muita coisa acontece, é claro, mas não quero narrar o filme todo! Eu vejo essa parte no meio como uma construção para o final. Um buildup de mistério para o real propósito da jornada. É fácil ver como a progressão do filme segue o exemplo mais básico da produção de uma história: seu início, meio e fim são bem destacados pelo protagonista e sua atitude. Se no início ele era um louco sobrevivente, no meio um sensato estrategista (e por pouco tempo, um deadite também), no final ele se torna o imbatível herói que todos esperavam que ele ia ser… principalmente eu.

A inteiridade do filme leva a esse final. Ash e Anne se juntam para lutar com a mãe dela no porão, e expurgar o demônio lendo o ritual de banimento. Mas antes, Williams precisa de uma mão, e a antiga não serve mais.
Em uma garagem estão peças metálicas, cintos, e o ingrediente principal: uma motosserra. Ash recebe um novo braço, agora capaz de cortar demônios em segundos. Ele tem uma única palavra a dizer: Groovy.

Desse ponto em diante, depois de sofrer de diversas formas, Ash Williams é uma máquina. É como se a serra, unida ao seu corpo por juntas metálicas, tivesse se fundido na sua personalidade. Agora ele fala one-liners legais, mata monstros sem pensar e é sempre acompanhado de uma trilha heroica de ação. Não gosto da trilha heroica, mas esse é o Ash que me atraiu pra começo de conversa.

Os monstros do filme, feitos em stopmotion, são todos derrotados pelo Ash com facilidade. Evil Dead saiu da sua raiz de terror e agora foca quase que inteiramente no seu estilo, e põe estilo nisso! Ash Williams é conhecido como uma ameaça para os convencionais monstros e assassinos de filmes de terror, pois ele se transformou em um vilão de slasher. Não tem como ficar mais foda, né?

Bem, tem! Em um momento do filme eles descobrem que no livro de como banir o demônio existe uma lenda sobre um herói vindo dos céus; um com uma motosserra. Mas isso foi apenas um milênio depois de Cristo, então motosserras não eram reais! Então, desde que eu vi aquilo eu olhei pro meu mano Benjamin e disse “ele vai voltar no tempo em algum filme”. Falei meio que na sacanagem mas sabendo que Evil Dead ia ficar insano o suficiente para tal.

Ééé…. eu tava certa, mas também precipitada. Quando o portal é aberto, levando a floresta INTEIRA com ele em PNGs giratórios, Ash é levado junto. Assim que ele acorda, é abordado por cavaleiros em uma duna, mas antes que fosse decapitado por ordem de um senhor, uma gargula demoníaca surge nos céus. Ashley perfura o crânio do monstro com um tiro de shotgun.
Assim que isso acontece, os cavaleiros o declaram um herói enviado por Deus para salvá-los, e todo o exército se curva perante ele. Mas Ash, percebendo que está beeeem longe de casa, grita deprimido. Eu pretendia parar no 2 mas agora eu PRECISO assistir Army of the Dead.

Enfim, agora é tarde para dizer isso mas recomendo bastante Evil Dead 2. É um filme divertido, excêntrico, criativo, confuso, estiloso e engraçado. O fato de Ash ter se tornado o que é hoje aqui nesse filme é apenas a cereja do bolo. Boa noite e tenham bons sonhos! Groovy!!

#RECANTODOSUSTÃO2025