“X, eu lhe dei a habilidade de escolher trilhar o seu próprio caminho na vida. Eu esperava que o mundo o deixasse optar por um que fosse pacífico.”
Megaman X sempre foi uma franquia que admirei de longe. Ambas uma das primeiras que conheci na vida, e uma das que menos joguei. Bem, na verdade, passei um bom tempo da minha vida em X4 e X8, e já terminei X5 também, mas fica difícil dizer que sou fã de Megaman X com um vasto número de jogos que nunca terminei. Sendo honesta, eu nunca sequer terminei X4 e 5 de X, então nem estes eu sinto que posso afirmar com exatidão que “zerei”.

O motivo para isso é um trauma (palavra bem exagerada) de infância, que por muitos anos me fez ter medo de chefes em todos os jogos do mundo… bem, esse medo já foi, e o que restou foi a aversão ao combate de Megaman. Por muito tempo julguei que eu apenas não gostava de jogar de X e de atirar ao invés de cortar, mas agora eu sei que era só medo. Eu venci o medo. Terminei o que a pequena Rosie jamais havia sonhado que conseguiria.
Eu sempre amei Megaman X, em lore, personagens, música e na ligação que eu tinha com MMX e meu irmão. Eu joguei MUITO mais Marvel Vs Capcom na vida do que joguei Megaman, e sempre gravitava para os personagens da franquia quando estavam disponíveis. Sempre fui OBCECADA pelo Zero. Ainda sou. E agora que sou adulta, chego a me sentir culpada no tanto que amo essa franquia sem jogar sequer metade dela. Quero mudar isso!

Vamos começar do princípio. Megaman X em seu primeiro jogo é como uma evolução natural da fórmula clássica da série. Os wallkicks e dashes dão ao X um charme especial, mas parecem como apenas adições legais ao moveset já conhecido do Rock. Com o tempo, as diferenças de MMX tornaram-se seu diferencial, e construíram a cara do que viria a ser a minha parte favorita na franquia (apesar de ter Legends como jogo favorito).
O jogo se passa um bom tempo no futuro. Rockman X, apesar de ter sido criado por Light na época dos clássicos, havia sido escondido para um futuro distante. A cápsula em que ele foi preso faria um diagnóstico completo de X para prevenir que seu poder não seria usado contra os humanos. O doutor Cain o encontrou, e de X, surgem os demais Reploids modernos.

Os Reploids são seres vivos. São capazes de pensar, sentir e tomar suas próprias decisões. Eles não são meras ferramentas, nem apenas uma inteligência artificial — as capacidades cognitivas e emocionais deles os fazem humanos. Apesar disso, os Reploids são mais poderosos que os humanos, e ainda possuem um corpo composto por máquinas. Com o surgimento dos Reploids, não demorou para uma infecção conhecida como “Maverick Virus” se espalhar entre a nova geração de robôs. Um vírus de computador ainda pode alterar a percepção de mundo dos Reploids, assim como doenças como Alzheimer podem alterar a mente de seres humanos.
Os jogos de Megaman X lidam com diversos conflitos morais, representados por seus personagens. X é um pacifista que, em todos os jogos é obrigado a matar ex-colegas pelo bem do mundo. Zero é aliado da justiça, mas precisa lutar contra sua própria natureza tão intrinsicamente ligada aos Mavericks quanto X se liga à bondade do seu coração.

Por mais simples que os jogos sejam, completamente baseados em correr e atirar em todo inimigo que ver pela frente, fico muito feliz em ver como a parte narrativa de MMX não fica de lado. Não é o melhor enredo dos videogames, mas é surpreendentemente único e interessante.
O primeiro jogo dá algumas pinceladas no que seria aprofundado em jogos seguintes, introduzindo os jogadores iniciantes e veteranos a esse novelho universo de Megaman. Mas, é claro, Megaman não é sobre escrita.

Após dar ignição na tela de título, X é lançado para sua primeira missão em Central Highway. Logo fica claro o que está acontecendo: a cidade está sendo atacada. Existem ensaios e mais ensaios sobre como essa primeira fase é perfeita e eu concordo, ela é muito boa mesmo! Não preciso dizer muito do que estão fartos de saber, mas é um dos mais clássicos exemplos do tutorial invisível, em que os inimigos e level design influenciam o jogador a aprender sozinho como movimentar o personagem. Um peso balanceado entre desafio e acessibilidade, para jogadores que não fazem ideia de como Megaman X, ou mesmo Megaman, funcionam.
No fim do nível, de dentro de uma nave sai Vile, um ex-membro dos Maverick Hunters que possui um ódio especial por X. Provavelmente, por não gostar do estilo pacifista. Vile rouba lutando numa Ride Armor, e X perde sem poder fazer muito. É então que um tiro semi-carregado surge do outro lado da tela e paralisa Vile. Esse é Zero, o melhor personagem de todos os tempos.

Eu AMO o Zero e talvez nos textos futuros da franquia possa entrar em mais detalhes, mas aqui o papel dele é bastante claro: esse é seu “irmão mais velho”, que é muito mais irado que você, muito mais forte, e mostra onde X pode chegar no seu potencial máximo. Zero nunca fala com X como se fosse superior a ele, sempre lembrando seu irmãozinho de que o verdadeiro poder do reploid azul ainda está escondido. Ele está certo, e em poucos jogos, X se torna ridiculamente mais forte que Zero. Bem, com só metade da aura.

Zero será exclusivamente importante nos jogos futuros, mas aqui, é apenas o side character mais legal que o protagonista, que curiosamente também era o queridinho dos desenvolvedores. Ele só não é o protagonista porque não tem “Megaman” no nome, é vermelho e não parece COM o Megaman original. Sempre relacionei ele ao Proto quando era pequena, acho que é normal, né? Apesar de não terem nada a ver. Bem, o Axl ter a cor preta e um Revólver com o exato design do cachorro Treble me diz que eu não estava tão errada em associar o novo trio com o antigo.
X retorna ao QG e é, enfim, apresentado ao seu objetivo principal: parar a rebelião de Sigma destruindo seus oito capitães Reploids… antigos companheiros de X. A ideia de Sigma é buscar a paz para os Reploids, mas o método é destruindo todos os humanos. Para X e os Maverick Hunters, isso não cola.

Você conhece a base de Megaman então: oito fases, qualquer ordem. Cada chefe dará ao X um poder diferente que pode ser a fraqueza de um outro. Toda ordem é, então, válida, mas aqui tem umas coisinhas a mais…
Diferente dos Megamans clássicos, MMX tem diversos coletáveis especiais. Heart Tanks que aumentam sua vida, Energy Tanks que funcionam como itens de cura, e peças de armadura. Honestamente, essa é, de longe, a minha parte favorita de Megaman X.

Uma coisa que me separava de Megaman por um bom tempo era nunca sentir que eu estava melhorando. Eu sentia que vencia os chefes por sorte, e, na próxima fase, talvez minha sorte acabasse. Em Megaman X, além da sua habilidade crescer, o personagem também fica mais forte dependendo do quão bem você explora e, ao explorar, você encontra mais conforto e pensa em novas ideias de como usar seus movimentos.
Cada pequeno upgrade pode não mudar muita coisa, mas em pouco tempo as alterações acumulam e dá um enorme senso de progresso quanto mais parecido com os esquemas do Dr. Light nosso parceiro X fica. É muito mais divertido jogar um platformer como esse tendo uma clara noção do quão diferente você ficou em relação ao começo, e parece que o sistema de upgrades foi criado com RPGs em mente, o que aprecio.

Também achei as armas do X muito interessantes aqui, por mais simples que fossem. Achei usos especiais para diferentes tiros, e alguns itens secundários necessitam deles. É um sistema que está sendo desenvolvido há pelo menos seis jogos então é de se esperar que o polimento atual já esteja bem avançado, mas ainda me impressionou o quanto eu me diverti porque… bem, eu achava que só odiava jogar de X.
Quanto aos chefes, quase todos eles foram satisfatórios. Gosto de como os bosses de Megaman são como fases ambulantes, lançando obstáculos de platforming para desviar. Isso pode ser real para muitos outros platformers, mas em Megaman X se torna especialmente visível. Eu estou tomando as mesmas estratégias que tomo nas fases, pensando na mesma forma para desviar, e atirando como sempre atirei.

Uma coisa que os chefes me fizeram aprender à força foi que X tem quatro níveis de tiro, e não é só pra brincadeira. Todos os quatro níveis são úteis e seria mais inteligente da sua parte saber quando usar um Level 2 ou 3 bem quanto sempre carregar até o 4. Por vezes, vale a pena fracionar esses danos, fazendo inimigos cairem ainda mais rápido! É interessante como a barra de vida invisível dos seus oponentes se torna mais solidificada na sua visão, pois tal inimigo morre com tantos tiros desse nível ou tantos desse outro.
Mesmo após conseguir o buster evoluído (dando acesso ao Level 4 e tiros carregados para armas secundárias), ainda se torna essencial saber usar os projéteis comuns. Tornado carregado é ótimo mas, além de lento, acerta em um ângulo completamente contrário do seu tiro comum. O Tornado comum fica três anos na tela e acompanha a corrida do X, podendo pegar mais e mais inimigos a sua frente com um único tiro. Ele nem sequer gasta mais energia para ser lançado do que um simples Boomerang Cutter!

Uma coisa que me deixava confusa em relação ao X era o uso do Dash no personagem. Para Zero, faz total sentido! Zero usa uma espada, o dash o faz chegar mais perto dos inimigos e, no risco de algo surgir enquanto ele rapidamente avança, ele pode cortar! Acontece que funciona diferente para o X, mas é tão necessário quanto.
O dash em X o permite encontrar melhores ângulos para atirar, seja de longe ou à queima-roupa. É normalmente usado para desviar, e é uma evolução natural do slide de seu precursor pois, além de dar velocidade no chão, pode transferir essa aceleração para um salto. Pular e atirar é a base de Megaman; são as duas únicas coisas que ele sabe fazer desde o princípio. O dash complementa essa dupla e, com wall clinging, faz do X praticamente imbatível.

Para o reploid azul, ter um dash não significa chegar mais perto dos oponentes. O dash é multidirecional e usado em diversas situações diferentes! Você o quer para desviar, mirar, ultrapassar armadilhas e até mesmo por estilo. Uma habilidade que hoje é tão comum em jogos de plataforma já era quase perfeita aqui, nos anos 90, e todo personagem se beneficiaria com um boost horizontal desse tipo.
Megaman X é um jogo muito bem pensado e criativo, que acabou por sendo muito mais do que eu esperava. Quer dizer, eu sabia que era ótimo, mas achei que eu não ia gostar. Um jogo que “não é pra mim”, sabe? Errei feio porque agora eu amo MMX1 também.

Essa é mais uma parte da minha infância que pude dar uma conclusão satisfatória, e acho que acabei de expandir meus horizontes. Tem muitos outros Megaman X para terminar, e agora eu sei que sou capaz! Ironicamente, enquanto X olha para o horizonte e se arrepende de todos os seus atos em busca pela paz, vendo a carnificina que foi gerada na guerra que ele terminou, eu vejo o horizonte com otimismo mórbido para os próximos reploids que terei que assassinar. Acho que exagerei nessa, né? Bem, agradeço a atenção, e uma boa noite.
