AI: The Somnium Files é uma das obras mais surpreendentes que já tive o prazer de experimentar.
E foi pensando nisso que resolvi fazer este texto. Venho aqui apresentar para você alguns dos motivos que fizeram desta visual novel uma das melhores experiências que tive em jogos do Xbox Game Pass.
Para começar: por ser um jogo japonês, com visuais que podem afastar alguns jogadores que não fazem parte dessa parte mais nichada da indústria, entendo que uma parcela dos gamers não se sintam atraídos pelo jogo ou por apenas algumas prints tiradas por outros jogadores.
Porém, é hora de deixar esse preconceito de lado e entender os motivos que fazem de AI: The Somnium Files uma apreciação obrigatória para amantes de narrativas investigativas de sci-fi.
Vale dizer que esse texto não contém spoilers ou dicas sobre as escolhas, apenas levantarei alguns pontos interessantes para que você entenda um pouco sobre o universo do jogo antes de começar.
História memorável
O primeiro ponto de peso que destaco entre os positivos presentes em AI: The Somnium Files é sua história, que pode ser resumida como uma receita de bolo com os seguintes ingredientes:
- Troca de corpos;
- Invasão de sonhos;
- Ficção científica;
- Inteligência artificial;
- Ação;
- Mortes;
- Momentos tristes;
- Momentos alegres;
- Cenas bem grotescas de assassinato;
- E a cereja no topo: os personagens.
Eu sei, talvez o resultado dessa receita seja aquele tipo de bolo que olhamos para a foto e pensamos: isso é de comer?
Se foi isso que você pensou, digo com tranquilidade que sim. AI é um jogo que será facilmente apreciado através de suas longas captações emotivas e afetivas que fazem paralelo à mastigação de uma fatia de bolo cujo cada dentada te proporciona um sabor diferente e uma textura única.
A narrativa ficcional
Mesmo já sabendo que temas fortes de ficção científica estarão presentes, seguindo o próprio título do jogo, AI: The Somnium Files consegue surpreender deixando de lado a mesmice do gênero.
É normal que filmes, séries e jogos ligados ao tema envolvam histórias parecidas, com enredos que englobam viagens no tempo, robôs e outros fatores narrativos comumente introduzidos no mundo da ficção. Porém, foram poucos produtos que conseguiram misturar investigação criminal com inteligência artificial de um jeito tão singular como nesta experiência interativa.
Começando como uma simples inspeção sobre uma série de crimes, AI prende o jogador ao rapidamente transcender a narrativa em que outras obras do subgênero costumam se prender.
Além do foco de investigação presente nessas obras (que permitem ao receptor observar os fatos e se mergulhar na história a fim de descobrir quem é que causou os crimes), este jogo conta com aquela sensação de que você não está no controle total da situação, e que todas suas escolhas serão extremamente importantes no caminhar da narrativa.
E isso realmente acontece, já que o jogo possui vários finais que, em um contexto geral, virão a se tornar peças importantes de uma única finalização de narrativa, algo que irei explicar melhor nos tópicos seguintes.
Investigação encantadora/estimulante
Dentro do roteiro, acompanhamos uma investigação criminal sobre a possível volta de um assassino em série pelos olhos do protagonista, detetive e “Psync”, Kaname Date.
Seguindo isso, o jogo constrói uma narrativa futurista onde o Japão começa a adotar mecanismos tecnológicos avançados que auxiliam a polícia e o governo, como uma máquina onde uma pessoa entra nos sonhos das outras.
Com base nisso a história se desenrola, apresentando escolhas que levam a caminhos diferentes dentro de um período de cinco dias dentro do game (cada dia dura cerca de uma hora, dependendo do caminho individual realizado a partir das suas opções).
Vale dizer que, como eu já disse, mesmo tendo vários finais, AI conta com apenas uma conclusão verdadeira, algo que explicarei sem spoilers daqui a pouco.
Passado, futuro e presente: conectados
É válido destacar que se você deseja finalizar totalmente a história do jogo, terminando sem nenhum furo de roteiro (a narrativa consegue finalizar com sucesso todas as pontas em aberto), você terá que jogá-lo mais de uma vez.
Mas fique tranquilo, o próprio menu do game garante que o player tenha acesso a um fluxograma que contém todos os “capítulos” do jogo, e a cada nova escolha ele vai atualizando as ramificações.
Desta maneira, é permitido ir e voltar entre os dias de todas as linhas temporais presentes no game sem que seu processo seja interrompido em narrativas paralelas.
Isso dispara o fator de rejogabilidade de AI lá pra cima, já que você pode usar dessa mecânica para destrinchar completamente cada microscópico detalhe do rico universo desse jogo.
É impossível não querer testar outros caminhos, pois o jogo apresenta um número enorme de segredos e mistérios que não possuem solução em certas finalizações de narrativas ao longo das linhas de tempo abertas durante a gameplay e suas escolhas. Quebrar a quarta parede é parte da solução do quebra-cabeça.
Gostou de Psychonauts?
Se sua resposta foi sim, você com certeza sentirá uma forte ligação entre os jogos devido à peculiaridade que também faz de Psychonauts uma franquia única.
Lembra quando citei sobre a máquina que permite entrar nos sonhos das pessoas (universo chamado de Somnium)? Pois é, é quase impossível não fazer a ligação entre AI com o jogo sobre os Psiconautas, um grupo de heróis que combatem problemas psicológicos entrando na mente das pessoas.
Mas claro, vale ressaltar que o game protagonizado pelo Date não é para crianças como o Psychonauts. Logo na primeira cena da obra já nos deparamos com corpos de pessoas com os olhos removidos, sendo essa a “assinatura” do assassino em série.
Além disso, AI também contém muitas outras cenas de mortes e trata de assuntos pesados, como depressão e doenças crônicas.
Por outro lado, acho válido destacar que, como ex-professor de inglês, posso dizer que AI: The Somnium Files é um ótimo jogo para pessoas que querem aprender um pouco melhor sobre a língua inglesa e expandir o vocabulário.
Mesmo sendo um jogo primordialmente concebido em japonês, há a presença de legendas em inglês e uma dublagem na língua estadunidense muito bem feita. Assim, o diálogo pode ser interpretado por qualquer aluno que se considere mediano dentro do idioma.
AI: Somnium Files é diferente de muitas outras experiências do Xbox Game Pass
Espero que eu tenha te convencido, minimamente, a dar uma chance e experimentar esta obra ficcional que se diferencia em muitos aspectos da grande maioria dos jogos presentes no mercado atual de games.
Nesse aspecto, posso dizer que dentro do serviço de assinaturas Xbox Game Pass, do qual o jogo faz parte, ele também se destaca em alguns quesitos referentes ao seu enredo e apresentação.
Mesmo que sua perspectiva consiga abranger temas presentes em jogos como Psychonauts e Danganronpa (que é dos mesmos desenvolvedores de AI!), também estão disponíveis no serviço, AI é singular naquilo que deseja apresentar: desde sua narração até seus plot-twists.
Com isso, esta sapiência que te permite controlar e decidir escolhas realizadas por um detetive japonês se torna uma obrigatoriedade para quem possui o serviço de assinatura da Microsoft.