Era uma vez uma mulher chamada Marine D. Raccoon, que era a Rainha dos Piratas. Ela tinha fama, poder e riqueza além de seus maiores sonhos. Antes que a pendurassem em uma forca, essas foram suas últimas palavras:
“Minha bufunfa tem que ser encontrada. O tesouro tá atracado com a chave para o Poder das Estrelas, por isso chamei de Sol Piece, não é um nome bacana?”
Desde então piratas de toda a parte do mundo saíram navegando pelo Oceano de Sol procurando por Sol Piece, o tesouro que faria os sonhos virarem realidade!
Ok, depois da referência óbvia e cringe, o título e isso devem ter deixado claro que estamos falando de Sonic Rush Adventure. E de qualquer forma todo mundo sabe que a Marine seria o Luffy. Bem, aqui estamos, e dessa vez acredito que o jogo é mais inusitado que Rush, embora seja óbvio que eu fosse falar dele.
Rush Adventure é um jogo ousado e criativo, que captura perfeitamente a essência da franquia enquanto apresenta muitos novos conceitos e uma história que, embora curta, tenta trazer o sentimento de jogos maiores como Adventure ou 2006. Ele se passa inteiramente em outra dimensão, que é onde Blaze vive. Sonic e Tails são lançados lá por uma tempestade e agora procuram um meio de voltar, até que são inseridos no meio de um conflito com piratas ao lado de sua amiga Blaze e uma menininha chamada Marine, a capitã do bando.
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A gameplay felizmente mantém as mesmas coisas de Rush, com algumas mudanças bem vindas. Agora, o contador de tricks possui um finisher, que pode tanto ser o dash/double jump quanto uma pose final que não move o Sonic apertando A. Assim, você vai juntando muitos hits nesse combo de tricks para então finalizá-lo e receber muita Tension (barra de boost) de uma vez, o que é muito bacana. Além disso, o airdash do Sonic foi aprimorado em velocidade e alcance, agora também referenciando Sonic Advance 2. O Double Jump também vem de lá.
Outra pequena novidade é que não existem mais duas campanhas, e você é livre para trocar entre Sonic e Blaze quando quiser. Embora isso seja bastante útil, é raramente necessário, já que ambos cumprem funções parecidas. Ainda assim, Sonic é muito mais rápido, enquanto Blaze tem movimentação melhor usando seu glide e double jump trick absurdos.
Algo que foi refinado ao extremo foi o level design, agora com bem menos buracos e bem mais velocidade inteligente. As fases são muito mais divertidas do que já eram, além de trazerem ideias insanas com a física maluca de um jogo de Sonic. Algo notável é que agora as fases parecem bastante com jogos de Boost 3D, sendo bastante cinematográficas por vezes. Existem muitas diferentes set pieces e acontecimentos que caracterizam cada nível do jogo, algo que é bastante apreciado e raro em Sonics 2D (embora presente). As gimmicks tanto mecânicas quanto visuais do jogo estão tão boas quanto Rush, que já era maravilhoso. Em geral, essa é uma continuação que aprimora quase tudo do anterior, exceto por algumas coisinhas.
Primeiramente, a música não é nada como Rush original. É claro, Hideki Naganuma não voltou, mas houve um esforço claro com algumas músicas para tentar parecer com o estilo criado pelo mesmo no Rush anterior. Isso é facilmente visto em Plant Kingdom, mas existem poucas músicas realmente notáveis nesse segundo jogo, algo que com certeza não é verdade sobre Rush. Plant Kingdom, Waterbike, Blizzard Peaks e Haunted Ship são ótimas trilhas e bastante memoráveis, mas não dá pra lembrar bem das outras como Machine Labyrinth, embora seja uma ótima fase.
Antes de partirmos para a história, é necessário falar da maior adição de Rush Adventure: um Adventure Field. Basicamente, não é só um mapa que você seleciona fases, existe uma ilha de hub e você vai dela para diversas outras ilhas no mapa com veículos marinhos diferentes. Não é só um menu, você de fato joga o tempo todo. Assim, tem minigames MUITO divertidos de jetski, submarino, entre outros, que ambientam muito bem o sentimento da aventura. Embora tenha bastante história e viagens entre as fases, tem fase suficiente pra que você tenha essa satisfação da gameplay de Sonic em um balanceamento muito bem feito.
Mas se existe um problema com Rush Adventure provavelmente é a história. Não me entendam mal, ela não é horrível, afinal ela cumpre seu papel do início ao fim. O problema é o novo personagem apresentado pelo jogo: Marine the Raccoon.
Marine é uma criança que sonha em ver o mundo e velejar pelos mares. Ela é meio ingênua e meio burra, além de acreditar ser a capitã do time embora não faça nada. Marine é um alívio cômico do início ao fim da jornada o que… é muito merda. Marine é tratada como lixo pelos escritores dessa história, e durante a aventura toda não faz absolutamente nada notável exceto por uma única coisa no final… e os personagens ainda assim brigam com ela.
Ela é uma personagem que podia facilmente se desenvolver e crescer para se tornar um membro importante do bando, mas, como Blaze disse, ela é só um incômodo. E é só isso que ela é mesmo. Durante a aventura inteira, tudo que Marine faz é atrapalhar e isso nunca para. Eu não culpo o personagem, na verdade, seriamente acho que ela foi muito mal escrita. E no final, o pessoal acaba sendo muito desgraçado com ela, a deixando de lado e simplesmente dizendo que ela só atrapalha e não ajuda em nada e, sinceramente, não tem como culpá-los. Essa é a verdade. Mas essa cena engloba perfeitamente meu problema com a história do jogo, e eu gostaria de compará-la a uma cena do meu filme favorito que é bastante parecida. Sim, Kung Fu Panda 2.
Após uma luta com o vilão, Lorde Shen, Po acaba deixando ele fugir porque entrou em choque com algo e isso quase matou todo mundo. Quando voltaram para um lugar seguro, Tigresa pediu uma explicação do porquê, e Po envergonhado não quis dar. Então, ela diz que nosso protagonista vai ficar aqui, e eles vão sozinhos. Po não quer aceitar isso, e eles tem um conflito. Tigresa apenas fica parada e impede os movimentos do panda sem esforço, completamente certa de que ele não vai. “Você fica aqui”. É então que Po decide contar a verdade, e diz que Shen estava lá no dia que os pais dele foram mortos, e que ele sabia a verdade. “Os durões nunca entenderiam…”, então Tigresa abraça seu amigo porque, de fato, o entende. Então diz “mas não posso deixar meu amigo ser morto”.
Em Sonic Rush Adventure, eles deixam Marine para trás para protegê-la, e porque ela não seria útil na luta final. No filme, Po também não seria útil na luta porque poderia fraquejar e acabar pondo em risco a vida de todos. Mas a parte do “não posso deixar meu amigo ser morto” é muito mais forte. Po é o Dragão Guerreiro. O líder do time, que foi nomeado como tal porque merece. É talvez o mais forte, embora seja improvável, mas não é imbatível. Quando os Cinco Furiosos deixam Po para trás para protegê-lo, podem ou não estar tirando sua chance de vencer, indo atrás de um exército sem seu maior lutador. Ainda assim, eles não querem que Po morra e sabem da chance que existe dele não conseguir vencer Shen pela importância no seu passado.
Mas em Rush, Marine nunca foi útil na história. Ela não tem a mínima importância, e eles a deixam para trás porque ela de fato só ia atrapalhar. Po é parecido com a Marine em não ser convencionalmente forte ou muito inteligente, mas o panda mostra seu valor da sua própria maneira sendo quem é. Marine não faz nada e não mostra qualquer valor. Sonic e Blaze estão certos em deixar ela pra trás, porque ela não tem importância no time e essa é a pior parte. Não fizeram qualquer esforço para fazer da Marine um bom personagem, e por consequência ela se tornou um peso, que nunca deixou de ser até o final da história.
Ambos Po e Marine invadem a cena, e o resultado no final acaba sendo parecido, embora tudo tenha dado certo com a Marine. Mas a parte da Marine consegue ser pior. Quando Po aparece, ele consegue perfeitamente vencer Shen, e tirar alguma informação dele (embora seja falsa). Ele foi capaz, mas Shen ainda tinha uma carta na manga e o acertou com a arma mais poderosa do filme, fazendo-o ser considerado como morto pelos seus amigos. Deu errado. Não precisamos entrar nas cenas seguintes que são as mais fodas de toda a história do cinema, mas mesmo que tudo tivesse dado errado, ainda consegue ser melhor que a Marine.
Marine invade a cena, acaba por não fazer nada, sendo capturada e dá mais trabalho para os protagonistas. Ela é salva por um plano do Tails, e por pouquíssima conveniência do roteiro ela conseguiu pegar o cetro embora… qualquer um podia ter pego, só esqueceram. Então a batalha final acontece, onde Sonic e Blaze lutam sozinhos de qualquer forma e a invasão da Marine não levou a lugar nenhum. Deu certo, eles acabaram vencendo. Mas a Marine não fez nada e só atrapalhou de novo.
O pior é que foi escrito como se esse fosse o momento importante de redenção dela, e é fato que no final real ela faz alguma pequena coisa que salva todo mundo, mas ainda assim não foi algo que foi desenvolvido para acontecer. Mesmo nessa cena que ela de fato faz algo ao impedir um tiro que poderia matar Sonic e Blaze, a construção da cena fez parecer que esse plot foi apenas jogado ali para que a Marine tivesse algum propósito narrativo, já que esse tiro nunca foi dado no meio da batalha e Sonic e Blaze poderiam só… desviar, como eles fizeram a luta toda.
Enfim, Marine é um personagem muito injustiçado que eu gosto muito. Não recebeu o desenvolvimento que merecia, e eu tenho certeza que ela poderia ser muito legal se tivessem tido esforço na história dela. Talvez isso mudasse se ela retornasse em algum outro jogo mas… ficou por aí mesmo. No meu coração, ela sempre será o Rei dos Piratas.