WarioWare — os melhores momentos duram 5 segundos | Análise

WarioWare — os melhores momentos da vida duram 5 segundos Análise
WarioWare análise

Já estou de volta! Voltando às minhas origens com mais Wario! Eu senti falta de falar sobre Wario, e felizmente é de coisa boa. Vamos ter um texto mais curtinho dessa vez, e não vou me estender muito.

WarioWare análise

WarioWare é um jogo de GBA, o mesmo console de Wario Land 4. Wario só tem duas franquias (e alguns jogos soltos como Wario Woods ou Wario Blast), e essa é a que é mais conhecida e amada, e tem motivo pra isso. Nesse texto, eu não vou comparar WarioWare com Wario Land, e vou deixar isso claro no começo. O intuito, a proposta dos dois jogos não é só diferente mas como são dois extremos, não só na gameplay mas na temática, obviamente na história, nos personagens e no sentimento. Embora as duas franquias tenham seu próprio sentimento de “Wario”, WarioWare traz com força a parte mais estranha e interessante do personagem, que faz dele um dos carinhas mais diferentes dentro de Mario e um dos protagonistas mais legais que a Nintendo criou.

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A proposta de WarioWare é bastante complexa no papel, mas não tem nenhum jogo mais simples de jogar que esse. Ware é um compilado de jogos de três segundos, tacados em você um após o outro em rápida sucessão, cada vez ficando mais rápido. Isso por si só é diferente de absolutamente qualquer outro jogo, porque junto com isso tem problemas e soluções inerentes que o jogo traz. Primeiro, se os jogos são tão curtos, como você vai conseguir aprender todos tão rápido? Segundo, como você vai saber o que tem que fazer em cada jogo primeiro, pra depois saber como ficar bom nele? E terceiro, isso não faria um jogo extremamente difícil? WarioWare é um jogo genial em como ele funciona. Quando um jogo começa, você ve uma ou duas palavras rápidas do que você tem que fazer, como “Freie!” ou “Escove!” e você tem que olhar pra tela e deduzir o que fazer sozinho.

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Isso funciona muito bem porque a mente do ser humano é bastante subestimada, a gente consegue com essas poucas informações rápidas facilmente formular o que fazer, mesmo se você não está acostumado a jogar videogames em geral. O motivo pra isso é que os jogos de WarioWare são 90% coisas do dia a dia, não só coisas monótonas como lavar a louça, mas coisas estranhas como segurar um copo que foi jogado ou enrolar macarrão em um garfo. Coisas que você nunca imaginaria que seriam divertidas de fazer em um jogo, até mandarem você fazer isso em cinco segundos um após o outro. O dia a dia não é só do ser humano também, na verdade são coisas diferentes e situações hipotéticas interessantes de diferentes pontos de vista. Por exemplo, você pode ser uma galinha com um ovo nas suas costas, vivendo em um mundo em que um gigante bate um martelo enorme no chão, e você precisa pular quando ele acertar o martelo porque senão o tremor vai fazer você derrubar os ovos! Parece louco, e é, mas quando você olha a imagem com a palavra “Pule!” escrito, você sabe o que fazer. Esse jogo se vende na impossibilidade do ser humano de conseguir fazer isso todas as vezes, por isso errar faz parte, mas a real importância desse tipo de design é que não só é possível mas em pouquíssimas tentativas (duas ou três) você já sabe exatamente o que fazer. E daí pra frente não vai ser só ver coisas aleatórias e estranhas e dedução, mas também lembrar de coisas que você já aprendeu e aplicar, e muito naturalmente melhorar no jogo.

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WarioWare é uma experiência que traz ação intensa do início ao fim, força o jogador a ter foco no jogo e com esse foco nossa mente trabalha melhor pra realizar os joguinhos, e assim fica mais divertido de jogar. WarioWare é pra todo mundo, mesmo que algumas pessoas vão levar mais ou menos tempo pra ficarem boas nele. Eu fiz uma experiência com meus amigos: um deles joga o tanto quanto eu, outro conhece bem jogos mas não costuma jogar muito e o terceiro deles não joga nada. Esse terceiro tem as melhores pontuações entre nós quatro e ele simplesmente dominou os minigames da Mona (até eu passar ele eventualmente porque como o PC é meu eu jogo quando eu quero né).

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Não é só a gameplay que é fogo, a apresentação desse jogo é uma das mais originais e cheias de personalidade que você vai encontrar em qualquer título, em geral. A arte das cutscenes é uma junção de desconfortável e feia, mas muito detalhada, e às vezes extremamente interessante por ser simples ou legitimamente muito estilosa, sem mudar o artstyle em nenhum momento. Os menus do jogo são customizados pra cada personagem, que tem sua própria lista de minigames, e as ideias são muito originais, como a Kat que tá tentando salvar o jogador de um demônio enquanto passa por muitas salas de um castelo, ou a Mona fugindo da polícia ou o Wario que tá dentro de um rádio simplesmente. Melhor que isso, Dr. Crygor tá limpando a bunda porque ele tá com diarreia, e eu estou sendo deadass.

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A personalidade do jogo vai mais longe em todas as partes que eu poderia passar horas mencionando. Por exemplo, a junção perfeita de diferentes artstyles e estilos musicais, além de efeitos sonoros que criam uma experiência alucinante, divertida e estranha que vai te deixar lelé da cuca birutinha. Você vai de um rosto muito realista em preto e branco pra uma artstyle de gibi com um monge japonês socando madeira, então uma pintura oriental antiga de animais em uma floresta, pra arte de um Gameboy, pra de um Game & Watch, aí voltamos pra uma arte super realista, depois a arte das cutscenes do jogo que parece que foram feitas no paint, seguindo pra bonequinhos de palito, então gráficos 3D no estilo de Star Fox 1, e terminando com bonecos de massinha.

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As músicas transitam de uma canção de dois segundos que fica cada vez mais e mais frenética usada na transição entre cada minigame pra uma música calminha, ou um rock, ou uma música com letra, algo mais funky, e depois que essa termina (dentro do minigame de cinco segundos) volta a música extremamente rápida e agora uma musiquinha feliz de desenho animado. A melhor parte de tudo isso é que o jogo cria um clima, corta ele, e aí cria outro, e parece extremamente natural. É claro tem vezes que seria legal continuar escutando a musiquinha de um minigame ou outro, mas no momento que a música ou a arte troca você automaticamente se acostuma, ou ri muito do quão absurdo cada mudança pode ser. E tudo isso acompanhado pelas falas dos personagens, que são extremamente carismáticas e cativantes, mas bastante limitadas, então eles falam coisas como “Awesome!”, “Alright!” ou eles riem. Mas o interessante disso é como a voz deles é usada, as vezes repetindo as primeiras sílabas ou cortando no meio, ou fundindo várias falas em uma, ao mesmo tempo que usam elas de jeitos bem inteligentes e por vezes engraçados em cada momento diferente, (e tem muitos momentos diferentes nesse jogo) deixando tudo cada vez mais insano e interessante. E, claro, as voicelines do Wario são reutilizadas de Wario Land 4, a segunda melhor voz dele, assim como muitas das músicas vem de lá, por WL4 ter uma soundtrack extremamente diversa. Eu fiquei muito feliz vendo tanta influência de Wario Land na parte artística dessa franquia.

+Leia também: Wario Land 4 é muito mais que eterno

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A ideia dos minigames são igualmente malucas, tem um minigame de comer uma banana, enfiar o dedo no nariz e outro de fungar com o nariz, outro de pular por cima de salsichas, aí vem algo mais simples como estourar um fogo de artifício ou rebater uma bola de baseball, mas instantaneamente você já voltou a fugir de um pé gigante tentando pisar em você, e agora você tá largando uma carga em um caminhão, logo depois de estacionar seu carro. Você calmamente precisa passar um fio por uma agulha, então marcar uma página no livro que você tá lendo, só que do nada você tá lutando por sua vida em uma erupção de um vulcão, pra depois colocar ketchup no seu hambúrguer, aí escovar os dentes, e aí o quê? Apagar um incêndio, logo depois de ser um baiacú espantando uma piranha de te morder. 

Impressionante. Honestamente, eu dei tanta risada das ideias desse jogo que eu já não sei se rio de qualquer outra coisa que não seja tão absurda quanto WarioWare. Eu simplesmente amo que tenha um minigame de comer sanduíche, e aí você tá matando a Mother Brain em Metroid logo em seguida. O interessante disso tudo é que, no final, tudo isso volta pro nome do jogo, WARIO Ware, porque esse frenesi de ideias confusas, criativas e absurdas umas atrás das outras é a coisa mais Wario que um jogo pode te trazer e nada vai mudar minha opinião.

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Esse jogo é uma das melhores experiências que alguém pode ter pra simplesmente se divertir um monte sem precisar de história, mecânicas, nem nada. WarioWare é o jogo perfeito pra quando você não se sente muito bem e só precisa se divertir com algo, porque esse jogo serve pra qualquer pessoa. O único problema dele é que nunca vai poder ser usado pra relaxar, porque em WarioWare você não tem um segundo de descanso e você precisa jogar, pensar, esmagar, comer, pular, tomar cuidado espremer segurar transformar equilibrar desviardormircobrircolet — joguem WarioWare.

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