Ys VIII: Lacrimosa of Dana é um jogo competente, e essa é uma afirmação ambígua. Quando se considera o uso popular da palavra “competência” em criticas, geralmente se trata de “coisas que dão pro gasto” e que são apenas “suficientes”, sem alcançar um pico tão elevado, mas não é esse o caso. Ys VIII mostra a sua excelência quando todos os fatores que o cercam têm a capacidade de fazer o “básico” de uma maneira sublime. E é essa competência de Ys VIII que já o transformou em um clássico-cult da geração passada e sobretudo, em um dos melhores RPGs de ação que eu já joguei.
Ys VIII: Lacrimosa of Dana é um jogo desenvolvido pela Nihon Falcom (também conhecida pela franquia Trails) e publicado pela NIS America, lançado no Japão em 2016 para Playstation Vita e Playstation 4, posteriormente em 2017 para as mesmas e ao passar dos anos para todo tipo de plataforma possível (PC, Switch, Amazon Luna e o falecido Google Stadia) até chegar na plataforma que eu irei analisar o jogo. A versão de PS5 de Ys VIII e o quão superior é a experiência de YS VIII num videogame de última geração? Você descobrirá em breve…
É importante ressaltar, eu não sou um fã assíduo de Ys (ainda) e tão pouco entendedor da história de outras iterações da franquia, portanto nessa análise, eu dou a preferência de permanecer assim, no ponto de vista de alguém que não sabe de muita coisa além de saber que o protagonista de cabelo vermelho, Adol Christin, escreveu uma centena de livros sobre as suas aventuras e cada jogo retrata um dos livros que o aventureiro escreveu.
O jogo começa com Adol sendo um simples marinheiro, trabalhando de favor para o capitão do navio Lombardia — nessa pequena introdução você conhece um pouco da personalidade e reflexões das pessoas que habitam o navio, mercadores, nobres, artistas e simples civis, não é nada muito aprofundado e alguns nem estão abertos a sequer conversar com você. No entanto, rumores sobre uma suposta ilha amaldiçoada são discutidos e obviamente, o navio é atacado por uma monstruosidade marinha que acaba por destruir Lombardia.
No momento que Adol Christin acorda naufragado na pseudo-amaldiçoada ilha de Seiren (Isle of Seiren), o jogo começa a desabrochar e expor seu ritmo eufórico. Adol anda pela misteriosa ilha com a sua recém-coletada espada enferrujada, enfrentando monstrinhos e reencontrando pessoas de sua antiga embarcação, formando amizades e companheiros de batalha. O objetivo inicial é alto e claro, explorar todo esse lugar, reunir o máximo de pessoas possível, construir um novo navio e sobreviver os ataques das feras e monstruosidades que vivem na ilha. Entretanto nada é tão simples, existem muitas histórias e acontecimentos em um lugar tão isolado e esquecido pelo mundo moderno, tal como a existência de criaturas “primordiais”, espécimes supostamente exclusivos da ilha, extremamente diferentes da fauna dos outros cantos do mundo.
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O Loop do jogo é bem simples, o mundo aberto está longe de ser um sandbox com opções variadas de interações por exceção de um minigame de pesca (que é excelente) e mais próximo de ser uma “dungeon-aberta” onde interações se limitam a coletar recursos, interagir e sobre tudo, lacerar os inimigos que andam no caminho do jogador quase como obstáculos ambulantes do cenário.
É aqui que cresce uma das coisas mais incríveis que YS VIII proporciona, seu combate: basicamente você tem Adol e outros dois companheiros de sua escolha com a capacidade de controlá-los com o simples apertar de um comando, numa constante de troca por razão da fraqueza do inimigo, já que cada um dos seus personagens tem uma espécie de classe, determinadas como Slash, Strike, ou Pierce.
Existem os combos básicos com o botão de ataque, que você pode ciclar com pulos e rolagens, enquanto acumula energia para ataques especiais que geralmente vão dar a maior parte do dano. Há a possibilidade de fazer uma guarda especial no momento correto, que vai te impedir de levar dano e principalmente uma rolagem perfeita que concede uma espécie de “bullet time” que te permite atacar seu inimigo como bem entende até esse determinado tempo acabar.
Tentar explicar essa algazarra de mecânicas não faz o menor jus de como elas são incorporadas na gameplay do jogo e se no começo a movimentação de Adol não é a mais veloz e satisfatória, com o decorrer do tempo, as melhorias tanto de combate quanto de exploração acabam por criar uma satisfação e conforto que faz Ys VIII ser tão divertido e imersivo quanto qualquer outro RPG de Ação mais “truncado” que você conhece, com uma qualidade e diversidade que se sustenta até o final do jogo.
Outra coisa que se sustenta com plenitude é a temática, partindo do conceito que os personagens estão limitados aos recursos da ilha; as soluções mecânicas são incrivelmente bem aplicadas no mesmo. Não existem milhares de cidades massivas e impressionantes e toda a questão mercantil do jogo é resolvida por simples trocas de recursos, e não pelo uso de moedas. As side-quests são trocas de favores e a limitação na quantia de NPCs da ilha te permite a lentamente conhecer cada um dos ex-tripulantes do navio de uma maneira um tanto mais pessoal.
Se a trama principal não parece idealmente a mais inovadora, começando em dinossauros ancestrais malvados e, tal qual um bom JRPG clássico, eventualmente chegando ao infinito e além. As batidas e surpresas da história são constantes, surpreendentemente interessantes e em dezenas de momentos tocantes, e isso se dá pela personalidade que cada um dos personagens, principais ou não, vão formando com o passar do tempo, passando de estereótipos comuns de animes modernos (como o cara edgy e a garota meio tsundere por exemplo) para pessoas “reais” e com motivações e problemas plausíveis.
Cada uma das coisas que eu citei sobre Ys, por exceção do combate, conseguem ser superadas em outros jogos do gênero que ele habita, porém é na junção de cada um dos fatores: Combate, Exploração, História, Side-Quests, Personagens, Trilha Sonora, Ambientação, Temática; que se cria uma espécie de sentimento catártico em que você incorpora tudo que o título tem a lhe oferecer e então, quando você menos espera, Ys VIII: Lacrimosa of Dana se torna uma obra tão memorável e marcante quanto qualquer outro JRPG de Ação de grande porte.
Versão de PS5
Eu joguei Ys VIII em várias circunstâncias: em um Monitor Full HD de 144hz, que me permitiu jogar Ys VIII em 120fps, algo um tanto incomum para jogos single player de Playstation 5 e também foi a maneira que eu mais joguei; por um curto período de tempo em uma Televisão 4k; num monitor de dezesseis polegadas 720p com Ghosting e finalmente em uma televisão de umas trinta polegadas também em 720p.
O resumo da ópera é o seguinte:
Se tecnicamente as diferenças são facilmente visíveis, Ys é um jogo para Playstation Vita com soluções tecnológicas de um console com os gráficos do calibre do mesmo e são excelentes em qualquer resolução que seja — portanto, não importa se você jogar Ys VIII: Lacrimosa of Dana em um console de nova geração, que tem opções de resolução 4k60fps ou 1080p120fps, roupinhas especiais anteriormente desbloqueadas apenas com a pre-order do jogo e loadings mais velozes ou apenas jogar no seu querido PS Vita (que é a consola mais tecnologicamente avançada de todos os tempos) com uma tela de cinco polegadas você terá um bom momento com uma obra extremamente memorável.
Uma cópia gratuita de Ys VIII: Lacrimosa of DANA para a plataforma Playstation 5 foi concedida pela NISamerica para análise no Recanto do Dragão.