RE:Verse – Beta Fechada é divertida, porém fundamentalmente quebrada

Resident Evil RE:Verse

RE:Verse não é a primeira vez (estranha, inesperada) da Capcom de transformar a franquia de armas biológicas em uma espécie de “Call of Duty/Left 4 Dead Multiplayer”: Resident Evil 6 foi o primeiro a introduzir expansões competitivas online, incluindo os modos Siege, Onslaught, Predator e Survivors.

Como um fã de Resident Evil, posso afirmar que na época desses lançamentos pouquíssimos jogadores levaram os modos a sério, especialmente por serem vendidos separadamente como expansões pagas.

Desde então, volta e meia a Capcom lança novos modos e spin-offs tentando reproduzir o sucesso dos jogos multiplayers com Resident Evil: Operation Raccoon City, Umbrella Corps e Resident Evil REsistance.

Ficou muito claro pra comunidade que a Capcom não é muito boa na criação de spin-offs multiplayer (com exceções como Monster Hunter, claro). Mas bom, se eles não vão desistir, não custa nada analisar.

Vale ressaltar que a Beta Fechada de Resident Evil Re:Verse foi concedida pelo programa de Embaixadores Resident Evil, para coletar feedback dos jogadores e testar novas funcionalidades.

O jogo será uma parte gratuita de Resident Evil: VILLAGE como um modo multiplayer do jogo, assim como REsistance faz parte de Resident Evil 3 Remake.

+Leia Também: Resident Evil 7 é um retorno à franquia executada perfeitamente

Primeiras Impressões

O jogo me lembrou muito de Radical Heights (quem lembra?), um Battle Royale de Cliff Bleszinski, antigo diretor da Epic Games e reconhecido pelo seu trabalho com Gears of War e Unreal. O grande projeto que ele tentou produzir era o LawBreakers, que foi um fracasso enorme por ter lançado juntamente de Overwatch e Battleborn, outro jogo que também falhou.

Desesperado, Cliff decidiu produzir o Battle Royale às pressas, usando vários recursos supostamente roubados ou reciclados da Unreal Engine Store para cortar ao máximo os custos e o tempo de produção do jogo. A ideia dele era de “conquistar o público” de PlayerUnknown’s Battlegrounds e Fortnite.

Porque eu te contei essa história? Bom, porque é assim que eu vejo as últimas tentativas da Capcom de fazer spin-offs multiplayer de Resident Evil. RE:Verse é literalmente um recorta e cola de inúmeros conteúdos produzidos para Resident Evil 7, 2 e 3, todos produzidos na mesma engine, a RE Engine.

Personagens, monstros, objetos, mapas, músicas são, em sua grande maioria, reciclados desses outros projetos passados da empresa.

Gameplay

A jogabilidade de RE:Verse é… peculiar. O jogo funciona, fundamentalmente, como uma grande arena free-for-all, onde o seu objetivo é matar todos que cruzarem seu caminho e conseguir o máximo de mortes em sequência para acumular pontos.

No jogo, você é responsável por controlar um dos “heróis” da franquia: Chris Redfield, Jill Valentine, Leon Scott Kennedy, Claire Redfield, Ada Wong e Hunk.

O monstro que você se transforma depende de quantos frascos de T-Vírus você coletou antes de morrer. Dentre eles, você automaticamente vira um dos seguintes B.O.W.s ao ser morto: Gordura Mofada (RE7 – 0 Frascos), Caçador Gamma (RE3R – 1 Frasco), Jack Baker (RE7 – 2 Frascos), Nemesis (RE3R – 3 Frascos) ou Super Tyrant (RE2R – 3 Frascos).

Resident Evil RE:Verse

Cada um desses personagens tem munição infinita e estatísticas diferentes, incluindo “Nível de Sobrevivência, Poder de Arma e de Habilidade, Nível de Sobrevivência e de Poder Transformado”. Apesar do jogo não explicar nada, eu chuto que essas “barrinhas” de estatísticas são relacionadas as quantidades de dano e vida que seu personagem possui, mesmo que não façam isso de uma forma muito precisa.

Os personagens e monstros se mostraram relativamente desbalanceados: o tempo para matar os humanos é muito rápido, e alguns personagens são bem mais úteis que outros.

Além disso, o jogo não possui feedbacks visuais ou sonoros bons para o jogador. Quando você dispara em alguém, toma dano, colhe itens, o jogo “não te informa” que esses processos acontecem.

Um bom exemplo de feedback bem feito é quando você atira nos membros (cabeça, braços, pernas) de um zumbi em Resident Evil 2 Remake e ele claramente ricocheteia o corpo inteiro, escorregando e fazendo sons explícitos de impacto da bala.

RE:Verse, em contrapartida, não tem quase nada disso, o que torna a gameplay muito menos intuitiva e satisfatória que poderia ser.

Mesmo assim, o jogo se prova ser divertido e intenso, se você ignorar alguns problemas de design básicos como o balanceamento dos personagens.

Resident Evil RE:Verse

Agora sobre o mapa, a beta apenas disponibiliza uma: a R.P.D. de RE2 Remake, mas numa versão aberta e esburacada, parecida com uma arena dos antigos jogos de Quake. A Capcom já confirmou que vários outros mapas deverão ser disponibilizados no lançamento, junto de Resident Evil Village, e eu não duvido que mapas como a Casa dos Bakers ou o Hospital de Raccoon City também surjam eventualmente.

Por fim, vale destacar que a gameplay de RE2/RE3 não foi projetada pra ser um multiplayer competitivo. Os jogos são feitos para serem travados e propositalmente lentos, para combinar com a tensão de ser um survival-horror.

Isso não significa que o jogo ficou injogável, mas só que é bem estranho de se acostumar com o combate dele se não for bem adaptado para um jogo de ação PVP, ainda mais se for em um controle. A jogabilidade deve ser bem melhor no mouse e teclado, mas ainda não existe uma beta para os PCs.

A Capcom também usou de gambiarras estranhas, como diminuir o tamanho dos personagens e fazer eles correrem mais rápido e rolar (como a Jill desvia em Resident Evil 3), que funcionam até certo ponto nas mecânicas do jogo.

Resident Evil RE:Verse

Gráficos e Trilha Sonora

Não há muito o que dizer da questão visual e sonora do jogo: salvo algumas exceções (como as músicas do Menu), a trilha sonora de combate e os recursos (mapas, personagens, etc.) são totalmente arrancados dos jogos que já citei da RE Engine.

Apenas algumas fotos dos personagens, poucas músicas e outros elementos são originais. O resto vem de boss fights e minigames dos outros games.

O jogo possui um “filtro de HQ” que pode ser removido nas configurações do jogo.

Resident Evil RE:Verse

Além disso, vale apontar que algumas mecânicas (como as minas terrestres e a jogabilidade do Nemesis) são diretamente retiradas do outro multiplayer falho de Resident Evil, o REsistance.

Servidores

Diferente de REsistance, um acerto de Resident Evil RE:Verse são os servidores: não se sabe se há servidores alocados na América do Sul ou não, mas pelo menos ESSE spin-off é minimamente jogável e não engasga agressivamente a cada passo que você dá no jogo.

Conclusão

Resident Evil RE:Verse é um projeto interessante e, diferentemente das várias outras tentativas da Capcom de criar um Resident Evil multiplayer, mostrou que tem uma mínima chance de ser um jogo divertido e intenso para os jogadores.

Eventualmente a Capcom tentará fazer dinheiro com ele, e talvez cosméticos ou personagens pagos possam surgir no jogo. Mas, até lá, tudo que eles precisam fazer é trabalhar mais no design de fases e na polidez da movimentação e do balanceamento do jogo, que ainda estão em um estado muito precário.

O beta fechado de Resident Evil RE:Verse está disponível no PlayStation 4.