Invocação do Mal 3 falha em ser assustador – Crítica

Invocação do Mal 3
Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio é um filme bom e bem feito, mas o terror faz falta. Imagem: WarnerBros/Reprodução

Dirigido por Michael Chaves (A Maldição da Chorona), Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio é o primeiro filme da franquia sem a direção de James Wan, e prometia ser “o filme mais sombrio dos três”. Mas será que conseguiu ser mesmo?

Como seus antecessores, o filme é baseado em um dos casos de possessão demoníaca investigados por Ed e Lorraine Warren, mais especificamente no julgamento de Arne Cheyenne Johnson, que, em 1981, foi o primeiro processo judicial nos EUA em que a defesa alega “possessão demoníaca” para provar a inocência de seu cliente em um caso de homicídio.

Atenção: a crítica possui SPOILERS do filme!

O filme já se inicia com um exorcismo. O menino David Glatzel (Jullian Hilliard), de onze anos, se encontra possuído por um demônio, e o casal paranormal foi chamado para auxiliar a família. Nos primeiros minutos do filme, o demônio é expulso do corpo do garoto, porém ele não vai embora por completo, e fica claro que a entidade passa a residir em Arne Johnson (Ruairi O’Connor), namorado da irmã mais velha do menino David. Possuído, David assassina o proprietário da casa onde mora, e aí sim temos o terreno preparado para as próximas horas de Invocação do Mal 3.

Sobre as atuações, Vera Farmiga e Patrick Wilson (Lorraine e Ed Warren) continuam com uma química intensa, fazendo o público torcer pelo casal e agonizar com seus problemas. Outro destaque vai para o pequeno Jullian Hilliard, que vive David Glatzel e é assustadoramente realista em sua atuação como uma criança possuída, mas também possui uma amabilidade e sensibilidade que tornam muito fácil de simpatizar com o personagem; vale lembrar que Hilliard já possui experiência com terror com a série A Maldição da Residência Hill.

Ainda sobre o elenco, Ruairi O’Connor e Sarah Catherine Hook vivem o casal Arne Johnson e Debbie Glatzel, extremamente apaixonados um pelo outro, incorporando o casal da vida real, que permanece junto até os dias de hoje. O’Connor também se saí muito bem como a vítima atormentada pelos demônios, e sua atuação torna muito fácil comprar a narrativa e temer por sua vida, mesmo nas cenas mais intensas e dramáticas. 

O interessante em Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio é que ela foge da fórmula clássica de filmes de terror: a família perfeita que se muda para uma nova casa onde eventos estranhos começam a assolar os membros um por um. O enredo se volta para acontecimentos maiores: investigações de uma seita satânica, bruxas criando maldições, envolvimento com a polícia, e, em meio a tudo isso, um tribunal, e a necessidade de se comprovar a existência do ‘oculto’ para um júri na tentativa de impedir Arne Johnson de ser condenado à pena de morte. É uma fórmula nova, refrescante aos fãs de filmes de terror, e que remete à clássicos como A Bruxa de Blair e O Exorcismo de Emily Rose

O problema é justamente esse: por contar com tantos elementos novos, o terror se perde na narrativa, e o filme se descola da franquia Invocação do Mal, amada por muitos justamente por seus filmes serem assustadores sem precisarem de sustos. As criaturas sobrenaturais são tradicionais, para não dizer ultrapassadas, e as cenas de possessão são simples e não levam medo ao espectador, especialmente se comparadas com o exorcismo final do primeiro filme da franquia.

Em contrapartida, temos a primeira antagonista humana da série, uma bruxa que amaldiçoou a família Glatzel, o que é muito interessante e espero que seja mais explorado na franquia a existência de pessoas vivas fazendo o mal em futuras produções, já que sabemos tão pouco sobre a vilã: não temos um motivo para seus pactos e maldições, recebemos pouquíssima história sobre ela e, ao final, saí do filme sem sequer saber seu nome.

O desenvolvimento da trama é envolvente, as habilidades mediúnicas de Lorraine são muito bem exploradas e trazem o elemento oculto para uma história primariamente investigativa. É uma pena que, para termos um filme de terror completo, faltou justamente isso: o terror. Os minutos em que os créditos rolam e o áudio do verdadeiro exorcismo de David Glatzel é tocado são mais aterrorizantes do que o filme inteiro, porém, até nesta hora senti falta de um detalhe específico: algum agradecimento ou homenagem à verdadeira Lorraine Warren, que faleceu em 2019.

Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio já está em exibição nos cinemas brasileiros.