Este é um texto mais curto do que o normal para falar sobre uma das minhas obsessões… a Peach! Feliz mês da mulher! Esse texto tava pra ser postado antes de termos a ideia de falar sobre mulheres o mês todo, então decidi readaptar esse texto pra muito Peachposting (imagens e nerdolices sobre minha personagem favorita da franquia e quase do mundo todo). Enfim, boa leitura! :3
Esse texto faz parte da nossa comemoração do Mês das Mulheres! Você pode ver os outros clicando aqui!
Super Mario RPG é uma chuva de boas decisões de design pra fazer RPGs em turno mais ativos e menos maçantes, seja pra iniciantes, crianças ou veteranos no gênero. Ele busca inicialmente um caminho de simplicidade. Menos opções, maior qualidade e versatilidade. Para acomodar isso, o jogo faz algumas mudanças básicas de design por questões de balanceamento. Por exemplo, na falta de um item para curar cada tipo de efeito singularmente, ele introduz o “Able Juice” que cura todos os efeitos de uma vez. Não há muitas variações do mesmo item, porque os que temos cumprem a maioria das tarefas necessárias. Por isso, existe uma limitação no seu inventário, podendo carregar apenas 30 itens, e itens iguais contam em espaços diferentes. Dessa forma o sistema complementa seus itens, e você precisa decidir melhor o que levar, não sendo apenas questão de ter dinheiro ou não mas uma melhor decisão e gerenciamento dos seus espaços livres. Futuramente, Legend of Dragoon (texto em breve) adaptou essa mesma ideia, um jogo que tira muita inspiração de Super Mario RPG.
O jogo é uma aproximação muito mais amigável ao modelo de JRPGs básicos e de todos os “Mario RPGs” ele é o mais RPG que tem, ainda sendo muito acessível. Danos não costumam chegar a mais de três dígitos, e a gameplay é toda baseada em timing e aprendizado. Você aprende combinações e ritmos necessários pra cada ação, de atacar a defender. Isso cria um balanceamento interessante em um jogo que os números importam bem menos, já que você tem maior controle sobre eles e os inimigos responsáveis pelos números.
Existe uma clara diferença entre o rato vermelho e o rato azul, além do nome, força e vida. Mais importante que o número, o sistema permite ao rato vermelho um timing diferente de ataque, fazendo o jogador interagir de outra forma com o “mesmo” inimigo ao ter que reaprender a se defender de seus ataques. Faz do encontro muito mais individual e o rebalanceamento do inimigo mais efetivo. Esse tipo de sistema age sobre todos os oponentes que você acha, criando encontros muito mais memoráveis e oponentes muito mais únicos. Afinal, todos eles são diferentes de modos ativos na gameplay.
Não existem inimigos iguais, e no momento que você vê eles uma segunda vez a estratégia vem automaticamente na sua cabeça. Todo inimigo tem uma peculiaridade específica que faz deles mais memoráveis e individuais. Isso se faz bem importante pro jogo, afinal a gameplay é muito mais ativa e a interação com os inimigos mais profunda. O que fortemente complementa esse sistema são as opções que seus personagens tem.
Tem só cinco personagens, e todos tem uma variação bem grande de utilidade. Mario é o main attacker, até o fim do jogo o que ele mais vai fazer é atacar normalmente, e vai ser seu dano principal nesse meio.
Mallow é seu mago, desde o início do jogo com um spell que acerta todos os inimigos ao mesmo tempo. Ele tem healing e mais pra frente algumas habilidades mais fortes individuais como shocker, mas ele se torna mais útil por culpa de uma habilidade do que várias. Mas a parte de curar vira da Peach quando ela entra no time.
Geno é um dano mais geral e um auxílio completo em tudo. Um red mage que não toca em elementos, nesse caso usando blasters e habilidades de energia ou físicas, acertando danos mais consistentes em qualquer inimigo por não usar magia elemental. Ele quase sempre tá no meu time! Assim como a Peach fazendo desses dois meus parceiros principais.
A princesa é a healer, cobrindo o que Mallow costumava fazer e muito mais. Por ser um personagem focado em uma build defensiva, ela tem mais possibilidade de fraquezas, com menos defesa e ataque pra acomodar o seu set destrutivo de skills roubadíssimas que fazem tudo. Ela pode não só recuperar sua vida como curar qualquer status ruim no corpo na mesma magia. Ela é a melhor!
Bowser talvez seja o único problema, não complementando o sistema muito bem e não tendo tanta utilidade individual, cobrindo as mesmas coisas que o Mario já faz sendo a força bruta do time. Ele interage com inimigos de formas legais, ainda assim.
Esses personagens podem ser trocados na party a qualquer momento do gameplay, e o jogo nunca força você a trocar, dando XP igual para todos os personagens, dentro e fora da party. A decisão é sua a todo momento, afinal, vão evoluir mesmo sem uso.
A mentalidade de simplicidade é auxiliada com o MP do jogo, os Flower Points, compartilhados entre toda a party e upados com itens — exploração em geral. Isso é balanceamento. Pra não deixar a aventura muito fácil e aprofundar as estratégias — que são pequenas em número — ele coloca mais em jogo. Não é porque o Mario mal usa spells que quando precisar ele vai ter acumulado, porque tudo que ele usar vai contar pro Mallow e Geno. Geno tem poucas spells e todas são boas, algumas bem mais caras, e essas mais caras não vão apenas afetar o uso do MP do Geno mas do Mallow e da Peach também. Este é um sistema mais simples, embora profundo, com números menores e mais controle estratégico de poucas opções que são criativas e versáteis.
É uma jornada muito mais lighthearted (“leve na alma”?), e a falta de números é um grande componente nisso. Isso é facilmente apresentado na premissa dos encounters, que não são necessários e todos os inimigos podem ser ignorados. Isso apenas pede que você seja um estrategista melhor nos encontros que você de fato passar, melhor usando as mecânicas e possibilidades que o jogo apresenta. Vejo isso com bons olhos, afinal o drawback de ter inimigos mais complexos e únicos se torna a repetição: quando você acha eles muitas vezes, a novelty enfraquece. Desse jeito, o jogo deixa você decidir o quanto quer lutar com seus inimigos, pelo custo de perder XP, deixando a experiência menos maçante.
+Leia também: A simplicidade de Mario + Rabbids – Sparks of Hope | Análise
Assim, se torna um jogo menos baseado no seu nível teórico dos level ups, e só baseado nas suas opções e ações, que, como já mencionadas, prezam por versatilidade individual. Um ataque que acerta todos os inimigos desde o início de Mario RPG tem muito mais impacto estratégico do que parece, justamente por acertar todos os inimigos. Mais do que 214324 vezes se torna um ataque principal, e faz jus a um personagem por inteiro, já que o Mallow tem tipo duas utilidades por 80% do jogo e essa é a maior.
Isso também faz de Mario RPG muito mais curto, e uma experiência muito mais saudável pra qualquer pessoa. Extremamente satisfatório sem estender mais do que deve, porque nem tem o que estender, ele é tudo que precisava e quer ser. Isso se alonga até à história e personagens, cativantes e fofinhos. É uma história simples, com premissas simples, propositalmente abrindo espaço para uma jornada muito mais descontraída, engraçada, divertida e fofa.
Os diálogos são carismáticos e cheios de personalidade, o mundo é muito vivo e os protagonistas são os melhores acompanhantes em uma aventura que você poderia pedir. Eles também são mais do que os olhos veem em funções narrativas e personalidade, já que o mais popular deles, o Geno, é normalmente visto como sério e edgelord, mas ele é um dos mais comunicativos e amigáveis do grupo. Um orador nas cenas de explicação que são bem animadas e bonitinhas, e bastante filosófico e determinado. O próprio Mario é talvez o melhor personagem do jogo, um protagonista silencioso mas que fala muito mais do que todos os personagens juntos com gestos e sprites expressivos. É uma apresentação simples que mostra muito amor e carinho com a história. Se algo precisar ser explicado, eles vão fazer um teatrinho amigável e divertido, em que o Mario vai ser todos os personagens na maioria das vezes.
Os personagens ficam melhores justamente pelo seu elenco inteiro, que é bem versátil e diferenciado. Além do Mario que se expressa graficamente e de jeitos engraçadinhos, o Mallow é o mascote: fofinho e dedicado, chora fácil e é bem emocional, mas muito forte. Geno é um alienígena, divertido e gentil, que só parece desagradável porque escolheu um corpo muuito diferente da própria personalidade pra habitar. Bowser é fofo de uma maneira muito diferente, um pouco tsundere tbh. Ele tenta sempre ser legal e parecer forte, mas acaba se abalando por muitas coisas na história, como perder sua fortaleza. Ele tenta mascarar seu desejo de se unir ao Mario forçando-o a entrar pra sua tropa Koopa, que Mario finge aceitar pra deixar ele feliz. E a Peach é só extremamente adorável, e se junta à party só porque ela quer. Fofinha e expressiva, curiosa e ingênua. Um amorzinho.
Essa também é a primeira vez que ela recebe uma personalidade de verdade e muito da Peach daqui faz parte da princesa que conhecemos atualmente. A sua parte mais brincalhona e curiosa é deixada de lado pela Nintendo nos dias de hoje, mas sempre foi uma parte muito importante da personagem e é uma muito divertida também. Ela também traz algo maravilhoso na representação de personagens femininas que hoje em dia devia ser mais claro: mulheres não tem a obrigação de ser femininas o tempo todo, mas suas partes masculinas não faz delas menos mulheres ou mais fracas.
O padrão de personagem feminina atualmente com personalidades tomboyish e assertivas é uma representação real de mulheres que de fato existem e não é um número pequeno também. Mas mulheres femininas e meigas são assim porque são assim, e elas também são fortes. A diversidade na personalidade e design de personagens femininas é algo que falta muito atualmente, e o gamer médio (e autores homens) acham que mulher só pode ser foda se for algo exagerado pra um lado classicamente masculino. Nos jogos de RPG do Mario, começando por esse, Peach sempre tem um papel importante e ajuda na história de maneiras impactantes, algo que é mais vivo aqui, no jogo que ela se junta ao time principal. Ainda assim ela usa maquiagem, brincos, vestidos elegantes e é bastante feminina. Na época ela de fato era um tipo de padrão, mesmo que seja forte e interessante por si só. Mas atualmente, a indústria de mídias em geral está criando outro padrão pra mulheres, que nessa visão só podem sentir orgulho de ser quem são se forem mais dominantes e desafiarem diretamente os padrões sociais de gênero. A luta feminina é constante e não é por exagerar no lado contrário que a sociedade vai melhorar. Mulheres podem ser tudo que quiserem, tanto em personalidade quanto em corpo, e todas vão passar dificuldades na vida que apenas mulheres entendem.
Esse jogo é muito melhor do que a superfície mostra, sendo uma aventura bem simplezinha e até que habitual. Uma experiência nova feita com pouco e que pode ser terminada em pouquíssimo tempo. Um jogo baseado em ações e menos em pensamento. E você pode jogar com a Peach! Recomendo pra qualquer pessoa porque não tem como Mario ter uma aventura melhor em RPG.