Alisa é perfeito para veteranos e órfãos de Survival Horror – Análise

Alisa

Alisa é um dos novíssimos games a chegar na boca do povo nas comunidades de survival horror. Produzido pelo desenvolvedor independente belga, Casper Croes, foi lançando ao final de outubro na Steam e se destacou pela estética noventista low-poly ao estilo dos gráficos de PlayStation 1, além de ter fortíssimas influências na estética e no game design do primeiro Resident Evil (1996).

Alisa

O jogo foi criado em conjunto com seus irmãos e até a namorada de Casper (de nome “Arisa”, que inclusive dublou a personagem), conforme ele mesmo nos contou em uma entrevista exclusiva ao Recanto do Dragão.

Aviso: esse texto terá leves spoilers em forma de fotos e clipes da nossa gameplay completa de Alisa, diretamente da Twitch.tv do Recanto do Dragão. No entanto, não há conteúdos explícitos relacionados às partes finais do jogo, para não estragar a experiência dos leitores interessados em jogar.

Uma atmosfera impressionante

Segundo Casper, Alisa foi inspirado pela fusão de duas mídias: o primeiro foi Resident Evil, o clássico survival horror com zumbis, navegação com os (péssimos e datados, mas ainda amados) controles de tanque, câmeras em ângulos fixos, puzzles e ambientação em localizações gigantescas e labirínticas, gestão de recursos para sobrevivência, etc tal.

A outra inspiração já não é tão conhecida: Alice (1988), de Jan Švankmajer, um longa de horror e surrealismo psicodélico que reinterpreta o romance ‘Alice no País das Maravilhas’, de Lewis Carroll, onde a pequena garota se encontra presa em uma casa cheia de bonecas e animais mortos empalhados, tentando encontrar uma saída desse pesadelo.

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Por fim, o dev também expressou sua paixão inegável por Bloodborne, o autor H.P. Lovecraft e até mesmo a lendária franquia de terror Alone in the Dark, um bastião que concebeu o gênero “survival horror 3D” e incentivou a criação de franquias como RE e Silent Hill na década de 90.

No fim das contas, a atmosfera apresentada aqui é provavelmente seu ponto mais forte e inegavelmente o mais chamativo da obra: Alisa possui uma das identidades visuais e trilhas sonoras mais imersivas, criativas e originais dos últimos jogos de terror que saíram nesses últimos anos, abordando bem a temática das bonecas vitorianas de Alice com a arquitetura gótica de Resident Evil (talvez até melhor que o próprio RE Village? Hm…).

Tudo isso ainda é complementado pelo design visual de inimigos memorável, harmonizado com o estilo de modelagem 3D de Casper que atinge o perfeito limiar entre as artes low-poly limitadas dos consoles da década de 90 com um nível de detalhamento e cuidado notáveis pelos jogadores.

Para encerrar, além do charmoso filtro pixelado, Croes também soube implementar muito bem alguns dos seus ângulos de câmera de forma que o jogador se sinta “perseguido” pelas sombras: câmeras posicionadas do lado de fora das janelas, em becos escuros fora do campo de visão da protagonista, dentre outros que chamaram bastante a atenção, técnica essa que considero um ponto fortíssimo nos jogos desse estilo de perspectiva da época.

Alisa

Uma jogabilidade perfeitamente crua e brutal

Não preciso recapitular o essencial: tudo que você já viu ali em cima sobre os primeiros Resident Evil se aplicam ao Alisa. Não significa que existe uma falta de originalidade, mas sim que o fundamental da franquia de zumbis da Capcom foi recriada com propósitos e perspectivas diferentes para o título indie.

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De novidades, nós temos bastante: um sistema de armaduras com atributos especiais, uma variedade bem grande de inimigos e, principalmente, muitas armadilhas e surpresinhas escondidas ao longo dos cenários. Inclusive, coisa que não faltou nas nossas lives da Twitch foi me ver morrendo por estupidez:

Por ser um lançamento recente e o primeiro jogo sério de Casper, já era de se esperar (tanto que ele mesmo comenta abertamente sobre isso nas redes sociais) que o jogo sofresse com problemas de balanceamento de armas, inimigos, itens oferecidos e, especialmente, bugs com puzzles ou crashes inesperados.

Uma quantidade GRANDE desses problemas já foi corrigido desde o lançamento, sendo que atualizações semanais continuam sendo lançadas para “alisar” o programa (rs), mas ainda assim é inegável dizer que a única dificuldade padrão do jogo não é para todos, mas sim destinada aos veteranos do gênero que já estão acostumados principalmente com o combate com controles de tanque.

Seguindo a rota contrária na qual muitos gamers se acostumaram na última década, Alisa não segura sua mão constantemente com incontáveis tutoriais: muito pelo contrário, o jogo tem um problema com a falta de explicação de certas mecânicas que não sejam os controles clássicos de qualquer survival horror do PlayStation 1.

Se você estiver interessado em jogar, aqui vão algumas dicas retiradas dos guias de Shoe-Zen, além do walkthrough completo de Salty Justice na Steam:

  • Reconfigure seus controles nas Opções;
  • Apertar “correr” enquanto anda para trás faz um 180º (MUITO ÚTIL, queria ter descoberto antes);
  • Não subestime o potencial do Sabre, a espada vendida por Pol;
  • Economize munição e dinheiro, e tente comprar o uniforme de soldado e armas melhores;
  • A posição de inimigos e alguns puzzles recomeçam ao sair e voltar em uma sala;
  • SEMPRE examine objetos duas vezes, pois alguns podem te conceder itens (como curas, que são escassas);
  • Inimigos sofrem tanto com os controles de tanque quanto você;
  • Salve frequentemente, especialmente caso se deparar com um bug;
  • Por fim, tenha ciência de que alguns puzzles do jogo são bem difíceis, além de que certas áreas opcionais (como o portão trancado com uma moeda, a boneca aliada e o buraco no jardim) ainda não podem ser acessadas, pois Casper ainda não as concluiu (mas fique de olho nas atualizações!).

E para encerrar o texto, vai uma última dica pessoal de alguém que sempre foi fã dos clássicos de terror com câmeras fixas e tudo mais: NÃO SUBESTIME os inimigos “crawlers” e similares a cachorros.

Sei que eles sempre foram estúpidos e fáceis de se desviar nesses jogos, mas inimigos pequenos em Alisa são absolutamente o maior desafio que você vai enfrentar, especialmente pelo fato de que a mira do jogo é completamente manual, então você não vai ter uma trava de mira ou assistência de disparos como era de costume nos jogos do PS1.

Reflexões finais

Alisa foi uma surpresa inesperada e uma experiência mais que satisfatória para degustar nesse final de 2021, um ano inquestionavelmente turbulento para todo mundo no planeta inteiro.

Apesar dos inúmeros problemas que ainda não tinham sido resolvidos nos primeiros dias de lançamento (mas a maioria já foi nivelada), a experiência independente oferecida por Casper Croes é uma dedicatória de amor produzida com intensa criatividade, um produto de grandioso agrado para fãs órfãos de experiências dos primórdios de Resident Evil, Silent Hill, Alone in the Dark, Rule of Rose, Clock Tower e muitos outros clássicos esquecidos pelo tempo.

Alisa é perfeito para veteranos e órfãos de Survival Horror – Análise
3.8
Criativo, mas nostálgico