Um momento de reflexão
A infância é o momento mais puro da vida. Crianças não são ignorantes para os problemas do mundo e possuem uma surpreendente capacidade de empatia (apesar de que nem toda criança é igual). A vida adulta traz problemas, preocupações, depressão, tira todo seu tempo e pede responsabilidade para ser o que a sociedade espera de você. Crianças são, por natureza, contra esse sistema.
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Juventude não é apenas uma fase da vida, é mais como um ponto de vista. Encarar as coisas como uma criança não é ignorar sua existência, mas empregar a simplicidade e energia que um jovem ser humano tem tanta facilidade em enxergar. Quanto mais você cresce, mais as memórias e sentimentos de uma infância feliz (mesmo quando não era tão feliz assim) se tornam preciosos, e também, desejados.
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Lembrar das bobeiras de escola, tardes brincando ou jogando videogame, ou mesmo dos arrependimentos que você tem de não ter aproveitado tanto aquela época. Por vezes na sua adolescência você também passou por coisas que parecem nunca mais retornar, sejam boas ou ruins, e isso dá saudade. Todos temos nossos períodos de juventude para relembrar, em momentos diferentes da vida.
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A sociedade diz que, para se tornar adulto de verdade, é necessário aceitar a morte desse passado e seguir em frente. Esquecer disso e não olhar para trás. É claro que não há como mudar o passado mas, para mim, só é possível ser um adulto feliz lembrando das coisas que te faziam feliz na juventude. Aquela mesma alegria só pode ser resgatada com um coração ainda jovem, e isso é algo que todos podem recuperar.
Namedrop
E isso nos traz à Azumanga Daioh, um mangá sobre um grupo de meninas no ensino médio aproveitando as bobeiras e simplicidades da vida, sem problemas muito grandes e sempre com um sorriso. Se divertir é tudo que devemos buscar em qualquer coisa que a vida jogue na nossa frente e, mesmo para os personagens adultos de Azumanga Daioh, isso continua real.
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Conheci o anime há pouco tempo por conta da minha maravilhosa amiga Jenny, e então assisti com meu melhor amigo Benjamin, rindo em todos os episódios sem exceção. Virou uma tradição assistir com ele, e eu nunca assisti um episódio novo sem ele do meu lado. Por vezes conversávamos sobre coisas do passado, sobre sonhos ou ríamos de coisas idiotas enquanto assistíamos o anime mais bobinho e divertido que já vimos juntos.
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Azumanga Daioh foi sim um motivo para passar mais tempo com meu melhor amigo, mas o impacto que teve na minha vida se estendeu bem acima disso. Assistimos antes mesmo dos milhões de memes recentes, e só conseguíamos pensar em Azumanga por um bom tempo! Eu até mesmo comprei todo o mangá físico, e eu ri muito até mesmo em público o lendo.
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É uma das coisas que eu fico muito feliz de ter conhecido recentemente, quando os aprendizados se aplicam a mim como adulta. É uma das coisinhas mais lindas que já li e assisti, e de vez em quando eu volto pra ler alguns capítulos ou mesmo volumes inteiros! Tantas piadas legais, tantos assuntos, e até mesmo lágrimas pra derramar. É meu mangá favorito!
De que serviu tudo isso!?
Ainda assim, não planejo fazer desse texto muito emocional… ainda. Azumanga Daioh é um mangá de comédia, e tem muito mais sobre ele fora sua linda mensagem!
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Humor inteligente, personagens únicos, escrita divertida, e diversas peculiaridades que fazem dele tão influente até hoje. De fato, ele tem suas partes emocionais (principalmente o último volume), mas a ideia principal é ser um mangá engraçado com piadas sobre… nada!
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Isso mesmo: nada! Não tem grandes desenvolvimentos de personagem, conflitos, triângulos amorosos… as meninas estão vivendo suas vidas, brincando, fazendo comentários estúpidos, sendo mordidas por gatos raivosos, incomodando umas às outras, participando de festivais, viajando nas férias, soluçando, passando por alguns porres (por que não?), esquecendo o dever de casa e aproveitando sua curta adolescência da melhor forma possível.
Então esse texto vai ser mais como uma combinação de ensaios menores que conectados de alguma forma. Como uma coleção de pensamentos aleatórios sobre uma das minhas obras favoritas, sabe? E também é meu aniversário! O que faz desse texto mais especial pra mim.
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Azukoma — 4 lados de uma piada
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4 é o número da sorte!
Azumanga Daioh é estruturado em 4koma — significa que são quatro painéis do mesmo tamanho pra terminar uma piada curta. Como uma tirinha de jornal! Todos os sets de quatro painéis possuem um título breve.
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Esse estilo de escrita e progressão permitem ao Azuma brincar bastante com a maneira de contar uma narrativa de mangá. Apesar de ser difícil ter uma piada terminada em apenas quatro quadros e repetir isso várias vezes, Azumanga tem vantagens em comparação com um mangá tradicional. A maior delas é o tempo.
Toda história é contada em uma certa ordem e separada em cenas. Se você analisar um livro, filme, anime ou mesmo outros mangás, é assim que funciona. Azumanga Daioh é um pouco mais nebuloso: os quatro painéis que você leu agora podem ou não ter algo a ver com os próximos. Por vezes, não se passam nem mais no mesmo dia, mas o mangá não te diz isso.
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É como uma tirinha de jornal mesmo — você lê ela no jornal, naquele dia específico, sem realmente saber em que ponto da história se passa. No dia seguinte, outra tirinha vai aparecer e, ainda que sejam os mesmos personagens, não tem nada a ver com a história anterior.
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Rindo para as paredes
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E isso é o que ajuda Azumanga a ser um mangá de comédia sobre nada! Tudo que você precisa para contar uma história são quatro painéis, e eles não precisam levar a nada. De fato, alguns sets de painéis se relacionam direta ou indiretamente, mas isso não é uma necessidade.
Quando Azuma decide que faz sentido continuar aquela curta historinha, ele faz mais alguns 4komas relacionados a ela. Mas a regra é que uma piadinha precisa de quatro painéis, qualquer coisa a mais não é mais necessário. Assim fica fácil contar algo idiota como uma simples interação da Sakaki com um gato na rua, mostrar que a mesa da Yukari é uma bagunça ou ouvir um comentário sem noção da Osaka.
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Apesar de que os números múltiplos de quatro pareçam bastante limitadores, eles abrem espaço para histórias que outros mangás não poderiam ter sem drasticamente alterar sua estrutura. Isso também permite que Azumanga Daioh não precise de conflitos sérios, grandes arcos de personagem, capítulos inteiros de Natal e etc. Por isso, é uma história que mais se comunica com seus leitores nas imbecilidades da vida — como a vez que um amigo seu fez um comentário idiota, quando você tropeçou na rua, ou quando erraram seu pedido em um restaurante.
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São pequenos acontecimentos, com pouquíssimas repercussões (se sequer houver alguma), que são mais engraçadas de relembrar do que foram de viver (depende). É como se cada “cena” de Azumanga Daioh fosse o início de um episódio de The Office — uma piada curta que pode não ter nenhum significado para o enredo real do episódio, pois quando for cortado pela abertura será apenas mais um dia no escritório.
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Crise de identidade!?
Por vezes Azumanga Daioh terá alguns capítulos que fogem propositalmente do estilo 4koma. Não porque não poderiam ser contados no padrão do mangá, mas porque são mais engraçados na estrutura tradicional dos quadrinhos! A piada da Osaka soluçando não teria essas lindas artes fodonas da Kagura em 4koma, por exemplo.
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Também se torna mais fácil contar histórias mais emotivas, como a da Sakaki e seu primeiro gatinho. É uma história fofa e muito bonitinha, que faz com que a Sakaki seja um dos pouquíssimos personagens com um arco fechado na história.
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Admito que, apesar de admirar e tirar muita inspiração do estilo de Azumanga Daioh, eu amo esses capítulos “padronizados” porque, além de super irados visualmente, são bem dinâmicos e continuam engraçados. Não gostaria que Azumanga fosse assim sempre, mas acho bem legal quando fazem isso.
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Me lembra Fullmetal Alchemist só que ao contrário, já que Fullmetal é um mangá tradicional que por vezes faz uma gag em 4koma por nenhum motivo. Fullmetal é o competidor mais forte para meu mangá favorito, então aprecio muito lembrar dele de qualquer jeito.
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Wonderland!
Mas, mais conhecido do que o mangá, é o anime de Azumanga Daioh que se tornou bastante popular nos tempos mais recentes, apesar de sempre ter sido dono de seu próprio nicho. Um anime não pode ser em 4koma, isso é fato, e a progressão também é bem mais linear e não permite essas rápidas pequenas histórias desconexas. O mais perto que um anime chegou a replicar o estilo do mangá de Azumanga Daioh foi Nichijou, mas Nichijou é… diferente. Bem diferente. Alienígena, até.
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Para o anime de Azumanga, uma abordagem diferente precisava ser tomada. E eu diria que… eles conseguiram! A animação toma algumas liberdades criativas bem interessantes e espertas para adaptar a história à um novo meio. Muitos mangás podem ser adaptados com precisão para animações, mas esse depende bastante da estrutura de leitura dele, de um jeito que não transmite bem para um formato audiovisual.
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Por isso, as cenas do anime, apesar de mais curtas que a maioria dos outros, costuma juntar piadas de diferentes partes do mangá em apenas uma. Diversas bits vem até mesmo de volumes completamente diferentes! O episódio três, protagonizado pelas duas professoras, possui piadas dos primeiros três volumes do mangá!
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Não existe um capítulo específico para cada personagem na obra original, pois a cada quatro painéis tudo pode mudar. Mas, para o anime, faz muito mais sentido realizar essa separação. É como se a animação incluísse quase todas as piadas do mangá, em momentos totalmente diferentes que fazem mais sentido com o meio.
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Fairyland!
No terceiro episódio, a mesa bagunçada da Yukari, múltiplas saídas pra beber e os dias que Yukari passou na casa da Nyamo foram representados, apesar de serem dias completamente diferentes no mangá. Não sabemos quando cada uma dessas coisas aconteceram, mas existem muitos dias de diferença entre cada uma com certeza porque os quadros do mangá ainda estão em ordem cronológica. Essa ideia funciona perfeitamente e nos apresenta de uma vez quem é Nyamo, como ela e Yukari interagem e já cria o espaço para as próximas cenas com elas em episódios futuros, como as viagens para a casa de praia da Chiyo.
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Algumas grandes piadinhas também são contadas antes no anime, por um motivo ou outro, alterando certos fatores. A gag dos soluços da Osaka originalmente inclui Kagura, que dá tanto o soco no plexo solar da Osaka quanto os tapas nas costas. No anime, ambos são feitos pela Tomo, o que faz bastante sentido mas altera bastante o humor: Kagura é inocente e burrinha, Tomo pode não ser muito inteligente mas muita coisa ela faz na maldade mesmo.
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Outra mudança do anime é o timing das piadas. No mangá, como já explicado, elas são contadas em quatro painéis, então sempre que há um painel completamente vazio ou repetindo algo do anterior você sabe que por um determinado período de tempo nada de novo aconteceu, dando um certo impacto a mais na punchline.
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Para isso dar certo no anime eles decidem estender a piada por segundos ou até minutos de maneira muito irritante, até dar a volta e ser Hilário. É o conceito por trás da partida de “vôlei” da Osaka e Chiyo, que só tem quatro painéis no mangá e uns dois minutos no anime. Eu engasguei de rir nessa cena assistindo (eu sou idiota e autista), a ponto de cair no chão, e até hoje me escapa um ar pelo nariz quando assisto.
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Batalha de Gigantes
Então, qual você deveria escolher? Ambos! Mas comece por qual quiser. A estrutura diferente cria experiências diferentes, ambas muito boas e divertidas. Não consigo dizer qual prefiro, mas você deveria seguir seu conforto!
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O mangá, por ser o original, possui as intenções mais “puras” de como contar as histórias e é bem divertido de ler. O anime tem a dublagem maravilhosa, músicas engraçadinhas e atmosféricas, e te oferece uma transição mais delicada para a narrativa estranha de Azumanga Daioh.
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As duas obras também tem suas cenas originais, com algumas piadas que não foram adaptadas para o anime e também cenas criadas apenas para a TV. É o caso dos momentos mais emocionais no fim da história, como a cena da Tomo na casa da Yomi, que claramente aconteceria no mangá só… não rolou lá. Algumas piadas que já estão na obra original também são continuadas aqui, já que é bem mais fácil fazer isso no anime.
Azumanga Daioh é incrível em qualquer uma de suas versões então recomendo as duas! Apenas escolha o que te atrai mais. Só tenha em mente de que o mangá não tem a voz adorável e hilária da Osaka, apesar das suas cenas também serem muito engraçadas na versão original.
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Azudachi — Lista de chamada
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Você pertence!
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Provavelmente quase toda piada no mundo precisa de personagens. E mesmo as que não precisam, ainda tem um narrador para contá-la. As coisas no mundo se tornam especiais quando tem pessoas para acompanhar, e as memórias mais lindas da sua vida provavelmente contam com a presença de alguém. Acho que pra quase todo mundo é assim!
Por isso, Azumanga Daioh é uma obra amada não só por ser muito engraçada, mas principalmente pelos seus personagens tão carismáticos e únicos. Azumanga Daioh não conta com bullies, patricinhas e nerds dos clássicos tropes de escola, até porque muitos deles são bem… americanos. As personagens aqui são bem realistas e, salvo apenas um personagem, fica bem difícil desgostar deles.
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São meninas engraçadas que, apesar de suas estranhezas, ainda vão lembrar você de si mesmo, de algum amigo que você tem ou de alguma boa lembrança da sua história. É assim que eu interpreto a mensagem “You belong” (Você pertence) que está tão presente no mangá, pois essa história também é sobre você e você faz parte das memórias bonitas e joviais de alguém.
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Azumanga Daioh é atraente pelas carinhas que compõem esse colorido elenco, e gostaria de apresentar cada um de sua própria maneira. Alguns com um pouco mais de profundidade que outros, admito, mas tenho sentimentos fortes por todos!
10 anos
Chiyo Mihama se transfere para a sala das meninas já no primeiro ano, nos primeiros dias também. Ela tem dez anos! Transferiram ela para o ensino médio por ser uma prodígio, um gênio. Vocês sabiam que entrar na escola delas é muito difícil? A prova de ingresso é bastante complexa. Claro que para a Chiyo-chan isso não é problema, mas é interessante teorizar como algumas das outras meninas conseguiram…
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Chiyo-chan é fofa por ser uma criança, como crianças normalmente são. A ideia do personagem é muito simples: apesar de ela ser muito inteligente e ter o intelecto de um adulto, ela ainda é só uma menina. Ela tem medo de relâmpagos, gosta de bichinhos de pelúcia, é bastante emocional e é muito fácil fazer bullying com ela, sendo um dos passatempos favoritos da Tomo.
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Chiyo é rica, mora em uma mansão e também possui uma casa de praia. Apesar do esperado pela sua vida financeira, ela é muito responsável e esforçada, cozinha para si mesma e está sempre tomando decisões adultas sobre seus problemas. Eu perdi os meus primeiros dois anos de ensino médio por conta da pandemia, então me deixa triste ver que a Chiyo pulou vários anos de escola… mas ainda assim, ela não se deixa abalar.
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A garotinha é a alma do grupo, todos gostam dela e muitos gostam de implicar com ela também (amigavelmente). Ela não perdeu sua infância por pular esses anos, e aproveita seus dias feliz com um grupo de amigas que vê ela como igual, porque todas são meio que crianças emocionalmente!
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A bomba relógio
Conheçam a Tomo Takino! Energética! Motivada! Esforçada! E um completo fracasso. Como descrito pela minha pookie Jenny: Tomo é como seu amigo pedrinho, e tá sempre fazendo alguma merda que muito provavelmente vai ferrar alguém. Mas as vezes você tem que admitir que é muito engraçado quando ela faz essas merdas.
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Tomo sempre se esforça ao máximo em tudo! Até que não conservar energia alguma e não ter prática em nada dá o bote e ela desiste. Uma menina capaz de tudo, por poucos segundos. Como ela descreveu: seu estilo de vida é sobre estar em primeiro por pouco tempo, mesmo que fique em último pelo resto da corrida!
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desconfortável
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Isso também transfere para o quão absolutamente insuportável ela consegue ser, implicando com qualquer um só pra dar risada de alguém se irritar com ela. Mas isso não categoriza ela como bully, porque ela é patética demais pra conseguir olhar pra você de nariz empinado.
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Uma das piores notas da sala, até em educação física (nas aulas práticas). Não consegue fazer nada e ainda assim, nada abala seu ego! Seus rivais são Sakaki e Chiyo — respectivamente a melhor atleta e a aluna mais inteligente da escola. No mínimo, você tem que aplaudir o entusiasmo!
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Ninguém é perfeito!
Ainda assim, em um lado um pouco mais profundo, Tomo é bastante insegura. Ela tem a necessidade de se provar o tempo todo para todos, porque não realmente acredita que é tudo isso. Ela pode ser bem rude e mal-educada com as amigas, por vezes cutucando as inseguranças dos outros, mas não porque ela realmente acha isso. Tomo é uma menina bem mais complexa do que parece!
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Ela tem a necessidade de pertencer a um grupo, não gosta de estar sozinha e tem medo de não ser suficiente. A maneira que ela encontrou de lidar com isso é negar tudo e forçadamente se atirar nos seus problemas… e às vezes dá certo!
Suas maiores amizades vieram da sua necessidade de ser irritante o tempo todo, perseguindo a Yomi não importa para onde vá (até mesmo ingressando nessa escola de alto nível para não desgrudar dela), implicando com Kagura sobre sua inteligência ou mesmo dando a Osaka seu apelido porque ela veio de Osaka. Tomo atrai as pessoas, ainda que não queiram, e seus amigos começam a apreciar sua companhia.
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Apesar das suas falhas, ela sempre percebe quando vai longe demais, e raramente ela vai longe demais. É um dos personagens mais hilários da história, e a sua necessidade de ser a tsukkomi (straightman) de um manzai também ajudam nesse fator.
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Disforia, autismo, ansiedade
Sakaki, sem sobrenome, é apresentada bem cedo na história também. Uma menina quieta, alta, com alguns traços ditos “masculinos” no rosto. Ela é muito boa em esportes, tem boas notas e é vista como “legal” no mesmo sentido que um herói de filme de ação seria descrito.
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Sakaki é bastante tímida e não tinha amigos antes do ensino médio. Ela não gosta da sua aparência, porque além de querer ser mais “fofa” e menos “legal”, ela gosta bastante de coisas fofinhas como animais pequenos — especialmente gatos! Apesar de ser odiada por todos os gatos que conhece.
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É uma menina muito gentil e sensível, com alto estima baixíssima e bastante admirada por colegas tanto dentro quanto fora de sua classe. Ainda assim, ela não percebe que é uma das pessoas mais adoráveis da escola!
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Não consigo desver o fato de que ela parece bastante uma alegoria transfem. Desde sua aparência, personalidade e inseguranças, ela é tipicamente trans de diversas maneiras, e eu diria que, ainda que fosse canônico e confirmado, nada na sua caracterização seria diferente. As piadas e diálogos não mudariam, pois Azumanga Daioh preza muito mais pelo cotidiano das meninas do que comentários expositivos sobre as personagens. Tudo você meio que pega lendo normalmente, até o que é intencional é lido como “subtexto”.
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Como olhar em um espelho
Azumanga Daioh tem esse fator de que, baseado no quão realistas e mundanos são seus personagens e cenários, fica fácil se identificar com eles de uma maneira mais profunda. E, seja propositalmente ou mera coincidência, Azuma conseguiu criar personagens que se comunicam com pessoas trans e neurodivergentes com muita facilidade.
É uma balança delicada entre simplicidade e complexidade que faz do elenco tão especial. Claro que não apresentei todos ainda, mas fez-se necessário criar esse pequeno adendo!
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Todos amam de coração ao menos uma das meninas, pois elas são muito mais do que ferramentas para contar uma piada. Em diversos âmbitos, faz parecer que cada uma é a representação de alguém real, seja conhecido do Azuma ou o próprio Azuma.
Acho que isso também denuncia como Azumanga Daioh consegue ser um anime tão fofinho e confortável, pois você se vê nessas meninas de uma forma positiva. É reconfortante olhar para uma menina tão linda como a Sakaki e ver tantos traços que eu também tenho e que ela, assim como eu, não gosta em si mesma. É uma troca bastante efetiva entre leitor e obra!
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A “arma secreta”
Posterguei ao máximo sua apresentação porque todo mundo sabia que ela viria. Ayumu Kasuga é uma aluna transferida de Osaka, cidade conhecida por cidadãos que falam alto e rapidamente, também sendo bastante engraçados.
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Como ironia do destino, Kasuga é o contrário: uma menina calma e serena que fala baixo e lentamente. Ela até tenta ser engraçada mas suas piadas não fazem ninguém rir (dentro da obra). Nos primeiros dias, no entanto, ninguém mais ligou para seu nome e até mesmo na lista de chamada do segundo ano ele foi trocado, por um solene e singular “Osaka”.
E é assim que todos conhecem ela, Osaka. Ninguém chama ela de Ayumu ou de Kasuga, dentro e fora do mangá. Até mesmo a gentil e educada Chiyo-chan chama ela de “Osaka- san”, é simplesmente o nome dela.
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É bem engraçado que o apelido ridículo que a Tomo inventou pegou tanto, e Osaka se tornou oficial. A própria Osaka criou estampas com a letra “O” do “nome” dela para distribuir para os amigos que fossem gentis com ela, e essa piada é muito engraçada por diversos motivos.
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Dueto de Neurônios
E todos conhecem a Osaka mesmo sem assistir ou ler Azumanga Daioh pela sua personalidade. Ela é uma menina… desligada, uma “cabeça de vento”. Seu crânio é oco, mas não por ela ser burra ou por não pensar. É mais o contrário.
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Osaka pensa bastante, mas não sobre o que precisa. Ela esquece tudo e rapidamente perde a atenção, vagando nos seus pensamentos obscuros. Ela costuma observar bastante as coisas mais pequenas do mundo, e achar certa diversão em coisas como perseguir um cisco no próprio olho, contar as bolinhas vermelhas que aparecem quando você fecha seus olhos ou em estudar como as palavras e sílabas funcionam.
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Não demora muito também para esses pensamentos a transportarem para o mundo dos sonhos, fazendo da Osaka o personagem que mais dormiu na história e olha que ela tem muita competição! Basta alguns segundos que ela rapidamente pega no sono e começa a sonhar com as coisas mais bizarras que puder. Normalmente com a Chiyo!
O tom calmo das suas falas também deixam tudo que ela diz mais engraçado e absurdo, pois ela sempre dirá com bastante naturalidade. Em qualquer situação ela tem um sorriso bobo na cara e é capaz de não reagir a nada que aconteça por alguns minutos, denotando como a menina já está em outro universo.
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Forçação de barra ou não?
Muitas pessoas associam Osaka a neurodivergências, em especial ao autismo. Apesar de eu ter descrito ela com tom cômico, todo mundo ama a personalidade dela, e eu também. Ela é meu personagem favorito da obra, e eu faço parte de uma maioria nisso.
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O jeito que ela fala é adorável, seu rostinho amigável deixa qualquer um confortável e a maioria de suas cenas são consideradas as mais engraçadas da historinha. Conheço pessoas com diagnóstico de autismo que se sentiram muito mais felizes consigo mesmas por conhecerem a Osaka.
É similar à Sakaki — é como ver traços de você mesmo, dos quais você não se orgulha, serem retratados de forma muito positiva e ainda assim realista. Não como uma fantasia do mundo real, mas um lado positivo sobre as coisas que você não havia notado mas, agora, é incapaz de ignorar.
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Por isso Osaka rouba os corações de muitos fãs de Azumanga Daioh, e até mesmo de quem nunca experienciou essa historinha, ou mesmo pretende. Todo mundo ama ela, e ainda que ela soubesse disso, acho que não ligaria, pois ia imediatamente se distrair com a fonética da palavra “próstata” e possíveis piadas com isso, pois tanto trocadilhos quanto linguagem são seus maiores passatempos ou mesmo, hiperfocos.
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Ossu! Ora Kagura!
A jovem Kagura é introduzida levemente no primeiro semestre como parte da classe da professora Kurosawa, mas então se junta à classe principal do anime no segundo semestre e fica lá até o final do mangá. Como Sakaki, ela é boa em esportes, mas diferente da Sakaki, ela liga pra isso.
Kagura é como uma protagonista de anime shounen, só esqueceram de contar para ela que esse é um anime de comédia slice of life. Ela quer ser uma atleta profissional, e suas notas acadêmicas caem muito por conta disso.
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Já na sua primeira aparição, ela denuncia que Sakaki é sua rival, embora Sakaki não lembre dela porque, apesar das duas dominarem os primeiros e segundos lugares em todas as competições, Sakaki não liga pra isso. Ela também é forçada em uma rivalidade com Tomo, como um choque de realidade de que é tudo uma grande piadinha.
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Não leva muito tempo para ela achar seu lugar especial no grupo, terminando a tríplice das “Knuckleheads”: Tomo, Osaka e Kagura, com as piores notas do grupo. Curiosidade: Osaka tem as melhores notas entre as três, porque se ela conseguisse focar nas aulas, provavelmente teria notas ótimas. Ela não é burra! Só lenta.
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A última peça do quebra-cabeça
Kagura é a última personagem principal introduzida na história, e suas interações com as personagens mais antigas são muito interessantes. Ela é um adendo perfeito para o elenco!
É uma menina animada mas não irritante como a Tomo, bastante emocional mas não tanto quanto Sakaki ou Chiyo. Contrasta perfeitamente com Sakaki tanto em interesses quanto personalidade, e ainda assim as duas conseguem se conectar o suficiente.
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Como mencionado antes, ela faz seu lar ao lado da Tomo e Osaka, e muitas piadinhas divertidas surgem dessa união. As três se entendem de um jeitinho bem especial e único, pois quando nenhuma das três entende qualquer coisa sobre um assunto, elas se juntam para desenvolver a pior explicação possível.
Kagura é uma das minhas favoritas! Apesar de bastante impulsiva e por vezes destrutiva, ela é bem empática e gentil. Ela parece um cachorrinho! E eu amo cachorro…
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Um lesbilhão
Kaori (ou Kaorin) é um dos primeiros personagens apresentados na história, mas propositalmente é deixada de escanteio durante todo o mangá. No anime, ela recebeu mais importância, só não aparecendo em apenas cinco episódios dos 25 totais. No mangá ela só aparecem em 18 capítulos, o que é menos de metade.
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de Azumanga foi a Kaorin
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Kaorin é uma menina normal e fofinha, de fato amiga das outras e até mesmo esteve em viagens com as meninas algumas vezes, e ainda assim, um personagem secundário. Talvez seu traço mais “interessante” que rende quase todas as suas piadas é o fato de que ela está perdidamente apaixonada pela Sakaki.
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Isso não é um headcanon, não é mais uma “interpretação subjetiva”. Ela tem atração romântica pela Sakaki, e isso fica tão claro que ela se tornou icônica por isso mesmo no Japão. Tem até mesmo arco íris em uma cena dela no anime!
Por mais fofas que sejam as interações dela com as outras meninas ou mesmo com a Sakaki, nada realmente se desenvolve para ela. Kaorin nunca recebe seu grande fim de arco se declarando para Sakaki, e seu maior impacto na história talvez seja ter feito a roupinha de pinguim da Chiyo.
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Caindo de paraquedas na história errada
Apesar de torcer bastante por ela, Kaorin foi amaldiçoada com um status terrível: personagem secundária, em um anime de comédia. Ela não deveria estar aqui.
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Kaori poderia ser facilmente a protagonista do seu próprio anime shoujo de romance yuri, mas não foi o caso. Na chance que ela teve de convidar Sakaki para o clube de astronomia dela e para sempre mudar o rumo da história (pois Sakaki iria aceitar), ela deixou a chance escapar.
E cada vez mais sua presença na história é reduzida, até que a Yukari esquece de colocá-la na sala no terceiro semestre e ela acaba ficando presa na sala do… Kimura. Eu nunca vou perdoar o Azuma por isso, mas pelo menos, o Kimura é mais “irritante” com ela do que… bem, o que ele costuma ser em geral. Ainda assustador.
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Eu gosto bastante da Kaorin e gostaria que ela tivesse um pouco mais de impacto. Parece o personagem perfeito para um spinoff curtinho de OVAs em que, no final, ela nem sequer consegue um beijo da Sakaki. Apesar de que seria lindo… eu me identifico bastante com ela, até demais!
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Animais, seres sobrenaturais e Chihiro
Além das já mencionadas personagens, temos alguns “menores”. Chihiro é um dos personagens mais engraçados de Azumanga Daioh, pois seu único efeito, assim como muitos músicos de nosso país, é ser amiga de alguém. Pior ainda, ela é como amiga do Fiuk, que é um cara que só conhecemos por ser filho do Roberto Carlos. É como ter um violão que foi autografado pelo intérprete do empresário do Sérgio Reis. Chihiro é a personagem secundária de uma personagem secundária, conhecida por ser a única amiga próxima da Kaorin que, como vocês já sabem, não tem importância nenhuma. De alguma forma, Chihiro foi apresentada oficialmente no anime com um namecard, provavelmente como piada de mal gosto para deixar seus fãs se sentindo ainda pior.
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Chiyo tem um cachorro bem grande e branco, em que ela pode até mesmo montar em cima. Tadakichi-san não tem muita personalidade e também é só conhecido por ser cachorro da Chiyo. Ele é gentil e nunca briga com nada ou ninguém. Um doce, mas difícil sequer chamar de personagem.
Maya é um gatinho selvagem, provavelmente o único que gosta da Sakaki. É uma gata fêmea, mas não posso falar muito sobre pois seria spoiler. Bizarro, né? Spoiler de Azumanga Daioh…
Por último, Chiyo tem um pai, e ele nunca aparece na tela. Mas ela também possui outro pai, criado pela mente da Sakaki e por vezes aparecendo nos sonhos da Osaka. Um gato amarelo cartunesco que voa, fala, entre outros poderes. É o mais próximo que conhecemos da família da Chiyo, e ele não realmente existe… apesar de isso ser debatível. Não fica claro, no mangá ou no anime, quem é essa entidade. Ele está em pelúcias no mundo real, e por vezes “aparece” longe da visão das meninas, mas normalmente invade o sonho delas onde ele tem o mesmo papel na mente de todas as garotas: ser pai da Chiyo-chan. Se é um self-insert do Azuma ou… algo mais, não sabemos, mas continua sendo enfadonho.
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Azukkomi — A cola
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Introdução à Yomi
Koyomi Mizuhara (Yomi, para os mais chegados) é um dos personagens núcleo de Azumanga Daioh e, ainda assim, um dos menos comentados. Eu disse antes que minha personagem favorita é Osaka, e que gosto pra caramba da Kagura. Claro que amo todas as outras também mas a pergunta precisa ser feita: por que Yomi?
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Por que Yomi recebe um capítulo a parte, só pra ela? Eu rebato então: por que não Yomi? Bem, a verdade é que Yomi é um dos, senão o, personagem mais interessante de Azumanga Daioh de um ponto de vista narrativo.
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Claro que gosto dela em personalidade também, mas como escritora, admiro bastante como a personagem dela é empregada na história. Mais e mais Koyomi Mizuhara invade meu coração, a ponto de eu me questionar como tanto amor surgiu do nada.
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Ela é o personagem que eu mais gosto de desenhar, que eu mais gosto de usar de foto de perfil nas minhas redes sociais, e eu sempre presto atenção extra nas cenas dela. Mas por quê? Bem, eu sei a resposta, mas até eu acho estranho. E por isso, vale começarmos dizendo quem é Yomi.
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Rápido estudo
Koyomi Mizuhara é bem diferente de uma típica personagem “nerd”, pois ela não tem muitos dos traços estereotipados desse estilo de personagem. Ela tem o óculos e é naturalmente “estraga-prazeres”, mas é só isso. Ela nem estraga os prazeres tanto assim!
Uma garota alta e comum. Tomo fala que ela é gorda, mas é impossível notar qualquer noção de peso nela fora… tamanho dos seios? Bem, não acho que isso conte, especialmente para a Tomo.
Yomi é naturalmente mais lógica e realista sobre as situações, mas não perde a oportunidade de brincar do seu próprio jeito quando possível. Muita gente descreve ela como “rude” ou “maldosa” mas isso só não é verdade, apesar das vezes que ela fez uma pegadinha ou outra com alguém.
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Ela é uma pessoa confiável e de certa forma pouco interessante. Ainda assim tem alguns traços da sua personalidade que se destacam ao menos um pouco, como seu apetite, “maturidade”, inseguranças sobre peso ou o fato de que ela é amiga de infância da Tomo, pois já tentou muito se desgrudar dela e não conseguiu (nem acho que ela realmente quer).
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Yomi venceu a corrida
Yomi pode, por vezes, ser acusada de ser desinteressante ou pouco importante para a trama, e apesar de eu discordar e logo falar os porquês, preciso dizer: você sabia que ela era um personagem secundário?
No início da história ela possuía um título claro de coadjuvante, sendo comparada à Kaorin e (deus me perdoe) Chihiro. Está claro que Kaorin é bem menos secundária que Chihiro, uma menina que nem sequer sabemos qualquer detalhe sobre além de ser dupla da Kaorin.
Mas se você for analisar qual delas venceu a corrida, foi a Yomi, que conseguiu entrar no elenco principal. No início ela era apenas amiga das outras meninas e uma ferramenta narrativa, até que conseguiu se juntar ao time de forma natural.
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Todas as garotas tiveram capítulos para serem apresentadas, e no anime fica ainda mais evidente. Chiyo e Osaka foram, na verdade, apresentadas na frente da turma. Tomo teve seus capítulos para mostrar sua personalidade, Yukari já aparece no início da história, Kagura rouba a cena quando entra na sala, Sakaki possui algumas historinhas focadas nela nas primeiras aparições… mas Yomi nunca foi apresentada, ela só brotou ali.
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Toda piada precisa de uma Yomi
E o que solidificou o papel da Yomi na trama foi sua habilidade como “straightman”. As piadas da história precisam de um ouvinte, alguma reação, e Yomi é a pessoa para isso.
Yomi é a cola para que toda a história de Azumanga Daioh possa funcionar. Quando somos introduzidos ao estranho comportamento das meninas, o natural é que, com o tempo, fôssemos nos acostumar com ele e acabar interpretando como “comum”. Yomi impede isso.
Yomi é uma conexão natural com o leitor, para que você possa entender Azumanga Daioh como uma situação real e se ligar com essas personagens. Pensa comigo: se os personagens reagissem como algo comum e rotineiro toda vez que Tomo fizesse uma maluquice, Osaka dissesse algo bizarro ou Chiyo, que tem 10 anos, fosse elogiada por suas capacidades mentais, Azumanga Daioh seria visto como abstrato.
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Não seria o mundo real, seria o mundo de Azumanga Daioh. Seria como Nichijou, em que uma menina pode tirar uma shotgun no meio da sala para uma piada e atirar em alguém (que não vai morrer), e ninguém questiona nada. Precisa ter alguém perguntando! Alguém precisa estabelecer essa relação.
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Insubstituível
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Sem Yomi, essa racionalização se perde e fica mais difícil se relacionar com a história e seus personagens. As situações estranhas de Azumanga Daioh de fato acontecem na vida real com frequência e, como já estabeleci antes, você pode ter exemplos na sua vida dessas histórias. Mas isso não seria real sem a Yomi.
Na vida real, quando seu colega decide que vai escrever “Calvão” no teto em cima da mesa de um dos seus amigos com caneta permanente, você acha a situação engraçada pela bizarrice. Isso se perderia em Azumanga Daioh com o tempo, porque se tornaria natural sem alguém mais “normal” no meio para reagir a essa situação dentro do universo.
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Yomi é uma ponte entre Azumanga Daioh e a realidade, e mesmo quando ela é esquisitinha também, seu trabalho já foi feito. Ela não é apenas a continuação para uma piada, mas algo que a trama precisa.
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Azumanga Daioh não poderia existir sem a Yomi, e é justamente por isso que ela deixou de ser secundária e se tornou principal. Fez-se necessário ter ela por perto, além de suas amigas gostarem dela.
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Carismática por não ter carisma
E, dentro do elenco de Azumanga Daioh, Yomi acaba sendo estranha por ser a mais normal entre as meninas. Todas possuem algum tipo de traço ou descrição simples para dar uma ideia mais geral e padronizada de cada uma, mas não a Yomi.
Chiyo é a criança inteligente, Tomo é energética e irritante, Osaka é desligada, Sakaki é tímida, Kagura é a esportista, Nyamo é a professora responsável, Yukari é a professora irresponsável. Mas o que é a Yomi? Amiga da Tomo?
Yomi não é tão inteligente quanto a Chiyo para ser conhecida por isso. Não é tão “malvada” quanto a Tomo para ser uma trickster ou algo do tipo. Não é tão boa em esportes quanto Kagura ou Sakaki, apesar de ser decente nisso. Não é tão introspectiva quanto a Osaka para ter uma visão diferente do mundo, apesar de realmente ter. Diga-se de passagem, nem ser tão peituda quanto a Sakaki e Kagura ela pode ser, para que as piadas lésbicas relacionadas a isso da Tomo se direcionem a ela!
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E ainda assim, eu amo ela por isso, por ela ser, na sua normalidade, tão estranha. Ela não é “especial” e isso já faz ela especial o suficiente. Não tem ninguém como a Yomi em Azumanga Daioh, isso é muito lindo.
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Luz no fim do túnel
Apesar disso ela tem suas gags próprias sim, mas normalmente com outras personagens. O fato de ela ser considerada “gordinha” por exemplo, dá a ela esse traço para brincadeiras de vez em quando. Existem algumas boas piadas em relação ao peso dela, não sobre ela ser gorda e mais sobre ela achar que é.
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Também tem algumas piadinhas menores sobre ela ter medo de insetos, ou achar minimamente engraçado fazer pegadinhas com alguém. Ela reclama da Tomo, mas não é incomum ela achar engraçado uma coisa ou outra que a Tomo faça.
Ela também é o personagem que mais se irrita na história, sendo conhecida pelos seus golpes físicos contra a Tomo, pois elas tem intimidade pra isso. No anime alguns desses até tem nome!
A cena da viagem ao parque de diversões que ela perdeu também é bem memorável, ou toda a bit sobre ela ter ido para Hokkaido nas férias que desperta curiosidade e inveja nas suas colegas. Tem muitas coisas que apenas um personagem mais “normal” como a Yomi pode protagonizar!
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Te amo Yomi!!!
Por essas e outras, ela briga muito para ser minha personagem favorita e cada vez eu gosto mais dela. Me deixa feliz olhar pra Yomi!
Como menina gordinha eu consigo entender essas inseguranças, e acabo gostando muito de desenhar ela com alguns quilos a mais. Também adoro desenhar ela com a Tomo porque, pra mim, elas vão acabar namorando de alguma forma.
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Ela é meio “tsundere” (que vergonha usar esse termo) com a Tomo, mas mesmo na amizade que elas tem, eu consigo me identificar bastante. Eu acho muito engraçado quando o Benjamin faz algo bizarramente estúpido, mas tem vezes que perco a paciência com algumas coisa que ele faz. Ainda assim eu amo ele por isso e é meu melhor amigo independente de quantas vezes ele erre o caminho do quarto do Ryo em Shenmue (é a primeira porta a direita quando você entra na casa).
Tenho muito amor pela Yomi e acho que ficou claro na minha dedicatória de um capítulo só pra ela. Gosto de falar sobre ela e me deu um motivo para falar sobre seu papel como ferramenta narrativa além de personagem. Sigamos em frente agora!
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Azusensei — A infância na vida adulta
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Dupla Dinâmica
Esse capítulo faz um pouco mais de sentido lógico, ok? Azumanga Daioh não poderia ser uma obra sobre manter a juventude em qualquer circunstância ou sobre preservar a sua risada e sempre lembrar dos bons momentos se todos os personagens fossem meninas do ensino médio. Azumanga Daioh não seria nada sem as duas personagens que faltam para completar o elenco: Yukari Tanizaki e Minamo Kurosawa.
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Essas são as professoras. Yukari ensina inglês, Nyamo (apelido de Minamo) ensina educação física. Tem… mais um professor, mas fingimos que ele não existe. Se você não conhece ele, não queira. Vai por mim.
Yukari e Nyamo são amigas de infância, pois estudaram juntas nessa mesma escola no ensino médio, quando ela era uma escola para garotas. Elas tem muita história, e as personalidades delas possuem uma dinâmica bem interessante e similar à Tomo e Yomi só… bem, de uma forma um pouco diferente.
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Nyamo é mais responsável e racional, Yukari é despreocupada e infantil. Ainda assim, as duas possuem momentos maduros e imaturos, sendo bem mais do que só a professora boa e a ruim.
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De volta ao Manzai?
Yukari é uma pessoa rude, grosseira, por vezes egoísta e bastante impulsiva. Ela é o pior exemplo possível de professora! Mas também é difícil desgostar dela, e Nyamo concorda com isso.
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Minamo já é mais organizada, gentil, talvez até mais inteligente (apesar de lecionar educação física). Mas a Yukari consegue despertar um lado bastante imaturo na mulher, que parece voltar a ter 16 anos do nada.
Elas formam um dueto bastante interessante que, além de proporcionar boas piadas, também vem com sua própria dose de mensagens bonitas. A diferença entre as piadas delas e as de Tomo e Yomi é que Yukari não faz as coisas para ser engraçada, e Nyamo não costuma entrar muito na brincadeira… sem ser provocada antes.
Mesmo que sejam duas mulheres adultas, as duas combinam perfeitamente com as alunas, mostrando os dois lados de Azumanga Daioh. Sem elas a mensagem não seria tão poderosa.
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De repente 15
Nyamo e Yukari estabelecem a ponte entre a menor e maior-idade, de forma que a trama de Azumanga Daioh seja completa de verdade. Todos podem se ver no anime, não importa em que momento da sua vida você se encontra, e a mensagem funciona para todos. Na verdade, ela é particularmente efetiva com adultos, por conta das duas professoras.
Enquanto Yukari parece ser a mais infantil e imatura, sua real maturidade vem dessa atitude. Ela não é assim porque se recusa a crescer, ela é assim porque cresceu de verdade, e busca ser honesta consigo mesmo. Ao invés de tentar “ser adulta”, ela sabe que já é e foca mais em quem ela quer ser (ou quem ela já é) do que no que a sociedade espera que ela seja.
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Nyamo, por outro lado, tenta sempre ser um bom exemplo, sempre responsável e adulta, a ponto de perder o que faz dela a Nyamo. É fácil notar isso nos momentos em que ela, por exemplo, fala sobre arranjar um namorado. Ela claramente quer isso para se sentir adulta, porque uma mulher “precisa se casar”. É até interessante ver isso por… outro ângulo.
Nyamo age como age por obrigação, não por maturidade. Yukari, apesar de ter diversos defeitos, é realmente realista com quem ela é. Por Yukari estar ao lado de Nyamo, as duas podem ser genuínas e livres. Yukari lembra a Nyamo quem ela realmente é, e além de gostar dela como sua única amiga próxima, quer a ter por perto pois é a única ligação que tem no momento com seu real ser.
Fonte da Juventude
Apesar disso, é bem comum ver Nyamo agir como uma adolescente, sempre ao lado da Yukari, é claro. As duas são muito competitivas uma com a outra, apesar da Minamo não gostar de admitir isso. Sempre que há uma competição, elas brigam entre si, de um lado sendo bem vocal sobre isso e do outro um pouco mais sutil. Nyamo não aceita perder para Yukari e mesmo na sua positividade ela gosta de mostrar que venceu!
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Na cena em que elas saem para jantar e Kimura (ou Nyamo mesmo no anime) apontam sobre a Yukari segurar errado os hachis, Minamo mostra para sua amiga como realmente se faz comendo quase todos os sushis do prato usando o “ensino” como desculpa. Elas saem pra comer e beber bastante, mas as duas odeiam ter que pagar e sempre discutem sobre isso!
Algumas das briguinhas infantis das duas são até presenciadas pelas meninas da sala, que sempre ficam impressionadas. Por vezes Nyamo é responsável por alguns comentários assustadores, denotando parte da sua juventude mesmo quando Yukari não a influencia à isso (é o caso do carro da Yukari, em que ela diz que “seria melhor morrer menos gente”).
As duas lembram o telespectador de como era o ensino médio, nem sequer fazendo parte dele. Elas mantém essa energia da alegria viva mesmo quando adultas, e ainda tem seus problemas e dificuldades para tal.
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Blackmail
Uma das bits mais engraçadas entre as duas, que eu acabo pensando bastante sobre, é a da cartinha de amor. Tudo que sabemos é que é uma carta que Nyamo entregou para “alguém” no ensino médio, e essa história nunca foi contada porque Yukari gosta de guardá-la como arma secreta caso Nyamo fale demais sobre como sua colega era no colegial.
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Essa “love letter” deixa a forte implicação de que Nyamo é, no mínimo, sáfica (o que não é difícil de acreditar pela presença da Kaorin), pois caso não se lembrem, devo refrescar suas memórias de que as duas estudavam em uma escola só para meninas. Acho bastante improvável de que Azuma não planejasse ligar esses dois traços da história, e não seria muito interessante se Nyamo tivesse entregue para um menino de outra escola.
Mas sabe o que seria engraçado? Se o bilhete fosse entregue para Yukari. Essa é a teoria principal ao redor dessa piada, porque além de fazer bastante sentido, seria o tipo de segredo que Nyamo teria PAVOR de que fosse revelado. A coitada nunca mais ia sair de casa se todo mundo soubesse que ela já teve um crush na Yukari (pra mim ela ainda tem).
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E para Yukari, essa é uma ótima arma secreta, mesmo se fosse uma cartinha para uma menina qualquer. Imagina só se a Nyamo foi rejeitada ainda, por exemplo, que ridículo que ia ser? Pior ainda, se fosse a Yukari rejeitando ela e RINDO da cara da menina. Porra, eu me matava /j.
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Uma vida sem preocupações
Um dos episódios do anime mostra um conflito que não existe no mangá, mas exemplifica bastante esse ponto. Yukari e Nyamo saem para jantar com uma antiga colega, com a vida bem resolvida e muito dinheiro. Yukari e Nyamo, por outro lado, possuem vidas bem medianas lecionando no colegial.
Nyamo vê essa como uma prova de que sua vida “deu errado” e de que ela precisa fazer alguma coisa. Yukari não dá bola e acha tudo uma grande besteira. E olha, Yukari é feliz com o pouco dinheiro que tem, com o seu emprego e com sua amiga. Ela não precisa de mais nada apesar de reclamar de tudo. Ela sabe disso!
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Minamo é sempre responsável e bem ajustada, mas nesse episódio ela é justamente o contrário. Os papéis invertem, e enquanto Yukari está satisfeita com sua vida e quem ela é, Nyamo está incerta sobre si mesma e sobre seu futuro. Ela quer algo mais, mas não sabe o que quer, e tem medo de ser um fracasso.
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As duas precisam uma da outra. Ainda que Yukari não admita, ela valoriza Nyamo bastante e, na sua vida ideal, Nyamo está lá e por ela, continuaria lá. Para a professora Kurosawa, Yukari dá a ela um propósito e certo conforto. Contanto que Yukari esteja lá, a vida dela continua em pé, enquanto ela busca seus sentimentos reais.
Conclusão
A amizade das duas nunca mudou desde o ensino médio, e talvez a própria Yukari nunca tenha mudado. Essa segurança que a amizade delas passam uma para a outra também é transmitida para o leitor ou telespectador, seja lá o meio que você prefira.
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Elas existem na trama não só por serem ótimas personagens, muito engraçadas e carismáticas, mas também por sua importância narrativa. A mensagem de que não precisa de muito para ser feliz.
E mesmo que você cresça e os anos do ensino médio, ou sua viagem favorita, ou um fim de semana com seus amigos ou mesmo sua infância fique para trás, você ainda pode levar quem você era para quem você é no presente. Como ser humano, você ainda é livre para ser você mesmo.
Não importa a idade, sempre tem tempo para ser feliz. Sempre há tempo para ser criança. Você pode entender mais do mundo, pode estudar mais, criar mais, conseguir seu dinheiro, mas não precisa deixar de lado o que faz você especial. Todo adulto precisa lembrar de ser criança.
Azutona — Rito de passagem
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Despedida
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Os últimos capítulos de Azumanga Daioh possuem uma vibe um pouco mais… séria. As piadas não param, as meninas continuam sendo elas mesmas, mas existe uma certa tristeza no ar. Um testamento de que o ensino médio está chegando ao fim.
Nos últimos capítulos, elas fazem grandes viagens, passam por provas importantes para seu futuro, riem um pouco mais, choram algumas vezes e se despedem do ensino médio, das suas professoras e de certa forma até entre si.
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Toda fase na nossa vida tem um final. Apesar da mensagem do texto, não posso mentir e dizer que tudo é eterno. Os anos de ensino médio são passageiros, e as meninas terão novos desafios daqui pra frente.
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Faculdade, trabalho, namoro, viver sozinhas, seja o que for que espere as meninas nessa nova fase, elas vão suportar. Sempre com um sorriso.
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Novos barreiras, novos horizontes
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O ensino médio não dura pra sempre, e muitas coisas ficam para trás, deixando apenas as memórias. Pessoas, brincadeiras, aulas chatas, intervalos divertidos, eventos e festinhas, até mesmo algumas viagens. É algo que todos passamos ou vamos passar, para várias fases da vida.
A vida adulta é repleta de novos desafios. Do nada precisamos pensar no que fazer daqui pra frente, cuidar de uma casa, pensar em romance (se for do seu interesse), arranjar um meio de pagar suas contas e maneiras de passar por diversas crises.
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Alguns adultos vão desenvolver problemas novos e únicos, como vício em bebidas, inseguranças maiores do que na adolescência, incerteza nos rumos a seguir… até mesmo perdas começam a ser mais comuns na maior-idade, até porque depois de certo ponto, seremos adultos até o fim.
Mas Azumanga Daioh não é sobre ignorar a existência dos seus problemas, é viver apesar deles. Aproveitar os pequenos momentos, e buscar sempre sorrir. É uma simples alteração de perspectiva, e não vai mudar seu mundo.
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Aprendizado
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Apesar de ter aprendido muita coisa com Azumanga Daioh, ainda tem diversas outras que me faltam. Sou uma pessoa um pouco mais otimista do que a maioria, mas ainda tenho dificuldade para ver as coisas como uma criança, do jeito que descrevi.
No trabalho, estudando, criando, amando, tem muitos lugares onde acabo chorando mais do que rindo. Ainda assim… é uma vida muito bonita. Eu me sinto feliz de ainda estar aqui, e de ainda poder aproveitar os bons momentos.
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Gosto de gravar com o Benjamin porque é divertido estar com ele e eu gosto de estar jogando videogames de forma produtiva. Gosto de editar textos com a Lily porque adoro falar com ela e trabalhar com arte ao mesmo tempo. Me divirto jogando RPG de mesa com amigos porque é uma maneira empolgante de me conectar com minha galera.
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Eu amo o relacionamento platônico que tenho com uma pessoa que codificarei como “J” porque ter alguém para abraçar, beijar ou dizer “eu te amo” todo dia acalma meu coração. Eu amo os momentos que passo com minha família, pois eles são meu motivo para me esforçar tanto. Adoro usar shorts apertados porque consigo olhar para minhas coxas enormes e dizer “nossa, tenho certeza que alguma mulher cis tem inveja dessa parte de mim”.
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Pequenos Momentos
São essas pequenas coisas. Comer minha comida favorita e repetir depois assistindo Jogandofoddaci, comprar alguma besteira na lanchonete e ir até a prainha comer olhando o por do sol, desenhar fanarts de Azumanga por diversão, escutar álbuns novos do Kendrick para aproveitar a vibe enquanto me atiro na cadeira do trabalho na frente do ar condicionado que eu não preciso pagar pra usufruir…
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Me animar para os dias que meu irmão visita para simplesmente ficar perto dele e de vez em quando abrir a boca pra falar algo, acordar no meio da madrugada de domingo sabendo que não preciso trabalhar quando acordar e por isso posso voltar a dormir, fazer carinho em cachorro, reassistir os mesmos episódios de Falha de Cobertura recitando fala por fala…
Abraçar minha mãe todo dia que eu puder, ir pro trabalho de carona com meu pai pra não suar andando por 20 minutos por eu ser gordinha, beber Coca-Cola ainda que seja nada saudável e faça mal pros meus dentes, ver vídeos de gatos engraçados por uma hora inteira mandando quase todos os links pra Jenny…
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Vislumbrar a beleza que são as artes de commission que usamos nos Among Gamers porque eu quase choro sempre que olho para eu mesma tão bonita na arte de alguém, chorar de rir sempre que o Jean Carteiro Cósmico diz qualquer coisa, sentir os arrepios na espinha sempre que toca WE GO!! assim que abro One Piece pra assistir, fazer call com a Jenny no meio da noite…
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Obrigada por tudo!
Essas coisas me fazem viva, me fazem eu. Eu não quero perder essa parte da minha vida nunca. Quero ser emocionalmente criança assim para sempre.
Eu me identifico com muitas das personagens. Com a necessidade de pertencer da Tomo, as inseguranças físicas da Sakaki, a necessidade de ser adulta da Nyamo, a vontade de reclamar de tudo da Yukari, a fraqueza à comida da Yomi, os traços autistas da Osaka, a sentimentalidade da Kagura, amor não correspondido da Kaorin, o rápido crescimento da Chiyo (sem a inteligência)… todas fazem parte de mim de alguma forma.
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Azumanga Daioh é especial demais, pra mim, pra muitos de meus amigos e pra diversas pessoas do mundo afora. Espero que esse textinho até que grande seja um atestado disso.
Um bom ano de 2025 para vocês, mais uma vez. Espero que tenham muitos pequenos bons momentos em suas vidas daqui pra frente. Obrigada, e até a próxima. Boa noite!
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YOU BELONG.