Nesse aguardadíssimo jogo de feitiçeiros (e bruxos) lançado em 2023, você vai aprontar uma série de confusões dentro de uma renomada escola para bruxos (e magos), junto de seus colegas e até mesmo professores. Entretanto, nem tudo é o que parece e a existência de uma pedra filosofal vai alterar o destino da vida de nossa protagonista, mas é claro que eu estou falando sobre…
Talvez GrimGrimoire não seja o título mais amado da Vanillaware, tão pouco um dos mais vendidos, mas desde que eu o conheci, eu sempre tive uma espécie de curiosidade do que se tratava o mesmo, tanto pela questão da estética quanto pela arte, que não é tão megalomaníaca em suas amálgamas de músculos tal qual dragon’s crown, mas que é um tanto mais contida do que os contos de fada de Odin Sphere (2007); todavia o que mais me impressionava realmente e acabou me assombrando por um longo tempo até eu finalmente o experienciar é o como diabos se joga GrimGrimoire.
GrimGrimoire OnceMore é um jogo desenvolvido pela Vanillaware, conhecida por jogos como Dragon’s Crown, Odin Sphere, Muramasa: The Demon Blade e mais recentemente 13 Sentinels. Foi publicado para Playstation 4/5 e Nintendo Switch pela NIS America em 4 de Abril de 2023 no ocidente. Ele se trata de uma remasterização de GrimGrimoire, lançado para o Playstation 2 em 2007.
Comercialmente falando, ele é o primeiro jogo da Vanillaware, mas na verdade ele foi o segundo, feito num curtíssimo período de tempo (seis meses +/-) acabou por chegar mais cedo que o real (e mais ambicioso) projeto de estreia da Vanillaware, Odin Sphere, que por sua vez era sequência espiritual de Princess Crown (1997). Esse período de tempo consegue explicar alguns dos pequenos tropeços de GrimGrimoire, mas principalmente destaca a inacreditável qualidade dele.
GrimGrimoire é um RTS. Sim, um jogo de estratégia em tempo real japonês em duas dimensões para o Playstation 2 e eu creio que isso seja um tanto assustador. Mas assim, sinceramente, ele funciona bem na medida do possível. É difícil entender através de vídeos na internet, e mais ainda em simples screenshots da obra, mas é mais simples do que parece. Essa simplicidade no jogo veio muito do fato que as pessoas no Japão não eram tão habituadas a jogar RTS e migrar esse gênero para os consoles não era uma tarefa tão simples devido aos controles focados em mouse (até hoje existem muitos tropeços em alguns ports).
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Basicamente você tem grimórios com grupos de criaturas mágicas diferentes: Glamour (Fadas, Elfos, Unicórnios), Necromancy (Cavaleiros Fantasmas, Magos Esqueléticos), Sorcery (criaturas diabólicas como Dragões e Gatos Feiticeiros) e Alchemy (Homunculus, Chimeras), cada um com fraquezas e vantagens referente a outros grimórios, e através de um sistema monetário de mana você aloca unidades que podem trabalhar para acumular mais mana através desses cristais espalhados pelo mapa e, com isso, comprar unidades para guerrear e também torretas para proteger as runas (uma espécie de portal que você constrói para summonar suas unidades). Você aloca suas runas à seu própio critério, assim cumprindo objetivos que tendem a destruir as runas de seu respectivo inimigo.
Talvez não esteja ficando tão claro, mas o ciclo de jogo é: construir uma runa com unidades de trabalhadores que vão acumular mana de um cristal para gerar um ciclo de renda. Por sua vez, isso irá te proporcionar mana o suficiente para te permitir invocar unidades ofensivas e defensivas e assim atacar ou se defender de um inimigo que, tal qual você, possui unidades, runas e torres espalhadas pelo mapa.
Agora, se você mesmo assim não entendeu, suave, GrimGrimoire tem um tutorial de umas duas horas (um tanto cansativo considerando que é fácil incorporar as mecânicas logo de cara) que você pode jogar na íntegra através de uma demo que lançou no Playstation e Switch e ainda pode migrar o save para o jogo completo.
Se você quiser uma dica: faça um exército de fadas no nível máximo, algumas Quimeras e/ou um Dragão. Assim a maior parte dos desafios do jogo são dilacerados. Certamente devem existir estratégias bem mais mirabolantes e divertidas na internet, mas essa foi a que eu encontrei sozinho e mais usei durante boa parte do jogo.
Obviamente nem tudo vai ser resolvido na mesma estratégia. O jogo, na falta de uma variedade de modo geral, cria circunstâncias que te obrigam a jogar com determinados tipos de unidades em situações mais limitadas com determinados objetivos opcionais, e funciona bem na maior parte do tempo; você tem a abertura pra variar e criar suas estratégias, mas com o incentivo de conhecer outras abordagens.
Algumas fases próximas do final do jogo acabam cansando muito por se basearem em “esperar” 30 minutos; 30 minutos é um tempo muito longo e mesmo usando as maravilhas do fast-foward (novidade do remaster) continua sendo algo muito infeliz quando sua estratégia falha por pouco logo ao se aproximar do fim do estágio.
Falando de novidades do remaster, a maior parte delas são um colírio: finalmente uma redução de zoom relevante em comparação a versão de 480p do Playstation 2, uma Skill Tree bem descomplicada que agrega ao combate do jogo, uma série de side quests totalmente irrelevantes à história, mas que devem divertir quem gostou muito da gameplay e deseja mais desafios (não é meu caso), e muitas artes colaborativas feitas por uma série de artistas que vão de coisas fofinhas e extremamente detalhadas, para algumas um tanto suspeitas…
Eu não tenho costume de me prolongar falando da história dos jogos que eu joguei e creio que com GrimGrimoire esse ainda seja o caso. Mesmo assim vale ressaltar o seguinte: esta é uma história de Loop Temporal; A cada cinco dias (ou cinco fases) o tempo volta e a história prossegue. O tempo não é uma mecânica no jogo em si mas sim um artifício narrativo, cada fase é única e as únicas coisas que repetem são alguns diálogos justamente pra dar esse senso de deja vu, mas voltar no tempo o tempo todo não significa que esta vai ser uma história extremamente dramática e que a protagonista Lillet Blan vai ter uma série de mental breakdowns tornando o jogo trevoso ou coisa do gênero, mas sim ficando mais “espertinha” a cada retorno ao loop para enfim solucionar os mistérios da instituição de ensino que a mesma entrou.
A trama gira em torno de oito personagens além da Lillet, sendo quatro professores e quatro alunos. Os quatro Professores representam os quatros tipos de grimórios e arquétipos de “mágicos”: Gammel Dore, o lendário mago, serve como tutor e inspiração para Lillet. Advocat é um literal capeta engomadinho não confiável. Opalnaria Rain é simplesmente uma bruxa cruel.
Opalnaria é apaixonada pelo quarto professor: Chartreuse Grande. Ele foi amaldiçoado à aparência de um leão mas nem se importa com isso. Ele não corresponde o amor de Opalnaria — sua real paixão está em suas pesquisas e descobertas, como a sua mais impressionante criação, um Homúnculo com alma de anjo chamado Amoretta Virgine. Ao longo do jogo você vai conhecer mais sobre os seus colegas de classe e eu não gostaria de estragar algumas das surpresas que o GrimGrimoire proporciona quanto à personalidade e o passado deles.
Entre poucas e boas, a história de GrimGrimoire tem algumas reviravoltas bem surpreendentes e interessantes mas que, acima de tudo, trazem um alivio e conforto as após longas batalhas que o jogo vai apresentando.
De modo algum eu achei a história extraordinária, mas confesso que a duração de tempo razoável (10 horas) junto de uma gameplay que me engajou num sentimento “estrategista” de maneira que jogos como Fire Emblem e Final Fantasy Tactics também fizeram no passado (mas de maneira alguma tão denso quanto ambos) e um conforto que fazia um tempinho que eu não sentia em um vídeo game, GrimGrimoire ganhou um carinho em meu coração. Eu fico grato dele ser o primeiro jogo que eu finalizo da Vanillaware e que, mesmo caindo em esquecimento pela multidão entre os outros classicos da empresa, é um jogo realmente interessante e que consegue se destacar.
E espero que assim essa remasterização finalmente consiga um lugar ao sol para GrimGrimoire… (mas por que não lançaram pra pc??????)
Fin.
Uma cópia gratuita de GrimGrimoire OnceMore para Nintendo Switch foi concedida pela NIS America para análise no Recanto do Dragão.