Quando eu era criança, sempre havia aquela clássica discussão de “qual o super herói mais forte?” Era fácil se deparar com respostas padrões, como Goku ou Superman, mas era muito raro uma criança responder Aquaman, quase tão raro quanto aquele espertão falando que “o Flash é o herói mais forte”.
Logo no ensino médio me foi ensinada a teoria da relatividade, e então todo o debate dos heróis fez sentido. De maneira resumida, o tempo é relativo à velocidade do objeto em movimento. Quanto mais rápido ele estiver, mais lento o tempo passa na perspectiva do mesmo. Em outras palavras, enquanto nós vemos tudo passando numa velocidade normal, quando o Flash corre ele vê tudo em câmera lenta.
Posso estar errado, já que tenho uma bala de ursinho no lugar do cérebro quando o assunto são ciências exatas, mas foi isso que eu entendi ao fazer mais pesquisas sobre o assunto.
Algumas obras fictícias respeitam essa teoria ao retratar seus personagens super rápidos, seguindo corretamente as regras fundamentais impostas pela teoria. Ou seja, sim, o Flash é um dos heróis mais fortes por conta dessa lei da física.
Mas ok, já que eu tô falando tanto sobre heróis com super velocidade, então o texto vai ser de algum personagem rápido. E já que esse é mais um texto da minha série de análises da franquia Kamen Rider, o principal poder deve ser a velocidade extrema, não é? Não, muito pelo contrário.
Vamos tentar explorar o conceito do “tempo relativo” de maneira mais literal. Assistindo Kamen Rider Kuuga, percebi que seu fluxo narrativo é extremamente diferente daqueles com que eu estou acostumado.
Eu demorei três meses para terminar essa série. Talvez isso se deva por seu gênero, ou algumas…. escolhas artísticas curiosas, ou talvez até os dois (e mais!) ao mesmo tempo.
Toda essa esticada vem por conta de seu gênero de drama policial. A estrutura desse estilo de série televisivo foca muito nos policiais, analisando o seu M.O. (modus operandi), e costumam mostrá-los desenrolando um plano de ação para capturar um criminoso. Por exemplo, séries como CSI e Criminal Minds trazem como foco principal o time da perícia exercendo a prática de análise e só no final do episódio executam um plano de ação para apreender o suspeito.
Kuuga segue a mesma estrutura, onde um assassino em série mata suas vítimas com métodos muito específicos; após analisar seu M.O., a polícia elabora um plano para evitar mais mortes de civis, culminando no conflito decisivo entre o herói e vilão. Há episódios tão focados nessa operação policial e no impacto das vítimas mortas que em alguns episódios nem têm cenas de luta.
Isso não quer dizer que ela é uma obra ruim. Chata eu posso até entender, mas ruim ruim não é, de forma alguma. Se tedioso fosse necessariamente sinônimo de ruim, inúmeras obras seriam tão ruins quanto.
Kamen Rider Kuuga é um tokusatsu como qualquer outro. O protagonista se transforma em uma armadura de baixa renda e luta contra inimigos com armaduras de pouco orçamento. Seu diferencial está na forma como as cenas são tratadas, algo que torna possível a existência de episódios com poucas cenas de luta e mais focadas na narrativa.
Por ser tratado de maneira diferente, algumas vezes eu sentia que os episódios passavam muito rápido, enquanto outros pareciam passar em câmera lenta. É uma sensação difícil de colocar em palavras, talvez graças a quantidade enorme de informações que a obra foi jogando para eu consumir, criando uma sobrecarga que mexeu com a minha noção de tempo.
Por conta dessa sensação estranha, a afirmação de que o “tempo é relativo” se prova verdade novamente. Acredito que sejam momentos que passam com velocidades diferentes, dependendo do que você está fazendo e de como você está se sentindo. Atualmente eu me sinto muito cansado, então os dias acabam passando num piscar de olhos. Um exemplo que talvez seja comum é como todo domingo parece ter apenas 20 minutos de duração. O tempo é realmente algo bizarro.
Pode parecer que essa temporada tem só o pacing como qualidade positiva, mas não é só isso não. Para aqueles que gostam de analisar o visual e estética das obras, garanto que aqui você vai encontrar um prato cheio de conteúdo. Com cores abundantes e enquadramentos criativos, Kamen Rider Kuuga usa e abusa da criatividade dos membros da produção. Cada cena que um vilão aparece é seguida por um filtro diferente, o que deixa as cenas lindas de se ver.
Terminando de assistir qualquer episódio, você (eu) vai ter uma pasta lotada de prints só com cenas magníficas, e eu não estou colocando palavras na sua boca para não parecer estranho (confie em mim). Também não estou exagerando quando eu falo que essa temporada é uma obra de arte.
Entretanto, acredito que essas cenas só puderam ser executadas por conta do pacing lento da série, respeitando sua minutagem e narração. Dessa maneira o produto final fica perfeito e deixa um impacto muito maior no público. Tudo acontece quando tem que acontecer, e quando os momentos chave chegam são extremamente carregados de emoções.
Kamen Rider Kuuga é uma betoneira movida a mão. Dentro dela uma ótima história está sendo misturada lentamente com a direção de fotografia linda que deixa qualquer amante da área do audiovisual impressionado, personagens carismáticos e um trama recheada até o talo. Depois de um tempo processando, essa betoneira descarrega um cimento sólido e duradouro chamado Kamen Rider Kuuga.