Kamen Rider Den-O é uma introdução perfeita aos Tokusatsus (Análise)

kamen rider den-o

Em 2021, a enorme franquia de tokusatsuKamen Rider‘ comemora 50 anos desde sua criação. Ela foi estreada em 1971 durante a era Showa, criada pelo mestre mangaká Shotaro Ishinomori com um total de 98 episódios. A obra comemorativa dos 50 anos de vida da franquia se chama Kamen Rider Revice, a 32ª versão da franquia e a 3ª versão da era Reiwa.

Kamen Rider Den-O

Entre 19 de setembro e 17 de outubro de 2021, a emissora japonesa NHK realizou uma pesquisa com o povo japonês, onde 567.710 pessoas votaram em vários tópicos referentes à Kamen Rider.

Os tópicos que foram abertos para votação incluem os de melhor trabalho referente à franquia, melhores personagens e melhores trilhas sonoras. Porém, nesta série de textos, eu irei analisar apenas os mais aclamados trabalhos referentes à franquia e, dependendo do andamento do projeto, posso citar algum outro tópico nas análises.

25 posições da pesquisa foram reservadas aos filmes e as séries de televisão, que serão o foco de meus textos. Sem mais enrolação, vamos começar analisando o primeiro colocado, o mais votado entre os japoneses.

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1º Lugar: Kamen Rider Den-O

Estreada em 28 de janeiro de 2007 e finalizada em 20 de janeiro de 2008, Den-O é a 17ª versão da franquia e 8º da era Heisei fase 1, sucessora de Kamen Rider Kabuto e antecessora de Kamen Rider Kiva. A obra totaliza 49 episódios, 8 filmes e 2 especiais (a linha do tempo fica um pouco complicada, mas na prática você não precisa se preocupar).

Em Den-O acompanhamos Ryotaro Nogami, um jovem com fisionomia fraca e extrema má sorte. Logo no primeiro episódio da série, o coitado fica preso em cima de uma árvore com sua bicicleta, pois ao caminhar pela cidade um grão de areia entra no seu olho, fazendo ele perder o controle de seu veículo e passar por cima de uma rampa, de onde ele é arremessado. No mesmo dia amaldiçoado, Ryotaro é roubado, os pneus de sua bike furam e ele é possuído por um demônio. Depois é a gente que acha que tem má sorte…

Essa versão adota como tema principal o tempo, assim como a ‘viagem no tempo’, já que o protagonista pode voltar para o passado. Os vilões de Den-O são chamados Imagin, demônios que realizam pactos com os humanos para realizar seus desejos em troca de voltar no passado para destruir sua memória mais forte, assim alterando o fluxo do tempo.

Ryotaro é possuído por um demônio vermelho que concede a ele uma forma poderosa, assim tornando-o oficialmente num Kamen Rider Den-O. Com o dever de proteger o fluxo do tempo e derrotar os Imagin, Ryotaro faz uso do trem temporal Denliner, onde pode voltar ao passado e impedir a destruição do mesmo.

Imagin
Os Imagin são vilões tão marcantes que até ganharam seu próprio anime!

Apesar de Kamen Rider Den-O não ter sido meu primeiro contato com tokusatsus, eu queria muito que tivesse sido. Até me atrevo a dizer que ela, por enquanto, é minha obra favorita do gênero, uma opinião que compartilho com outros japoneses, considerando que foi a mais votada do ranking. Sua história é simples e vende os eventos com elegância, sendo tão envolvente que fez com que eu passasse dias assistindo e sempre querendo mais, e confesso que até fiquei triste quando acabou.

A ideia do protagonista ser possuído por 4 demônios no total, e de cada demônio ter sua própria personalidade e estilo de combate, é genial, visto que isso criou um ambiente mais vivo para os vagões do trem Denliner, onde eles interagem entre si. Os demônios brigam, brincam, gritam, riem, choram, celebram e comem juntos.

A execução das cenas do trem ajuda a criar um ambiente feliz também porque, apesar do objetivo principal dos demônios ser de realizar um contrato com Ryotaro, voltar ao passado e matá-lo, eles esquecem completamente disso e vivem juntos como uma família, aprendendo a amar uns aos outros, o que vai longe o suficiente para fazer você criar empatia com estes seres que são usualmente retratados como puramente maliciosos.

Kamen Rider Den-O

Seguindo o padrão das coisas que mais me chamaram atenção, a armadura não foi um desses. Na realidade, nada em Den-O me pegou de primeira, pois no geral acho que as armaduras antigas de Kamen Rider não eram tão chamativas como as de hoje em dia, apesar de ainda serem agradáveis.

A maneira que a produção criou o dispositivo para as armas dos heróis é bem criativa. São 3 componentes que, ao serem juntados, desdobrados e revirados, criam armas diferentes para cada forma. Sendo assim, um único dispositivo vira uma espada, uma vara de pesca, um machado e até uma arma de fogo. Isto é por si só criativo e divertido, tanto para quem assiste quanto para quem compra o brinquedo que a série busca vender no fim das contas (e olha que essa cultura de vender brinquedos é fortíssima no Japão).

A sequência de transformação de Den-O é simples, do jeito que eu gosto, e não poderia ser melhor. O que difere entre cada transformação é o demônio que está no controle, como dito anteriormente. Cada forma tem uma frase de efeito que fica marcada na sua mente e remete muito ao personagem que a gerou.

Seguindo em frente para uma parte mais técnica, a trilha sonora de Den-O é magnífica. O tema de abertura dela ocupa duas posições no ranking de melhor tema da pesquisa da NHK: a abertura “Climax Jump” e a versão “Climax Jump DEN-LINER form”, cantada pelos dubladores dos quatro Imagin que estão no corpo de Ryotaro Nogami.

Essas duas versões são divertidas e extremamente memoráveis. Eu me apaixonei fortemente por essa música. O jingle de transformação também é muito bom e (novamente) é diferente para cada forma.

Kamen Rider Den-O

O ponto forte principal da obra com certeza é o roteiro. Tanto os personagens como a narrativa são magníficos. Inclusive quero ressaltar que o ator Takeru Satoh, responsável por dar vida ao nosso protagonista, é extremamente talentoso.

Há cenas onde Ryotaro é possuído por Imagin em sua forma humana, onde tanto seu visual quanto seu comportamento mudam para combinar com o respectivo demônio. Ou seja, Takeru teve que basicamente atuar diversos papéis diferentes na mesma série, e ele vendeu todos perfeitamente.

Ele ainda dança muito bem, como é possível ver nos shows em palcos onde ocasionalmente faz algumas aparições e se junta aos outros dançarinos. Vários dos mesmos elogios que dirigi a Takeru também podem ser redirecionados para o ator por trás da armadura de Den-O, mas com a complexidade multiplicada, já que estas mudanças acontecem muito rapidamente em algumas cenas específicas.

Antes de terminarmos, acho importante dar alguns passos para trás para voltar a falar do enredo de Den-O. Ele é relativamente simples; digo relativamente porque sempre que existe uma obra de ficção onde o tema abordado é “viagem no tempo”, eu pessoalmente nunca consigo acompanhar.

Mesmo assim, Kamen Rider Den-o atingiu o impossível, que é deixar uma história sobre viagem temporal facilmente compreensível. Logo no final da série, a resolução da linha do tempo e a questão da viagem temporal são completamente esclarecidas.

Imagin

A única coisa que não me agradou tanto foi o uso constante tema da série, Climax jump hip hop, pois acaba ficando meio repetitivo ouvir isso múltiplas vezes quando um personagem entra em cena. Também não gostei da maneira com que eles enfiam parte do enredo do primeiro filme no enredo principal – ou seja, se você pular o filme (como eu fiz), é fácil perder uma quantia considerável de contexto.

Ainda assim, acredito que deixei claro que Kamen Rider Den-O é espetacular. Se você é um novato em tokusatsu, assim como eu era, começar por ele é uma ótima pedida. Mesmo se você já é mais experiente e ainda não assistiu Den-O, eu o recomendo você ver em primeira mão o Kamen Rider mais queridinho da grande maioria dos telespectadores.

Caso você ainda tenha dúvidas de onde assistir, o canal oficial da Toei Company disponibilizou no seu canal do YouTube os dois primeiros episódios de todos os Kamen Rider já lançados.