Algo que mudou minha vida nos últimos anos foi o samba. Tanto samba quanto bossa e por vezes até pagode, a música brasileira me fez muito mais otimista e feliz. Embora a minha introdução tenha sido Tom Jobim, o que realmente começou minha forte ligação com o samba foi o álbum “Maria Creuza”, da… Maria Creuza! Por isso eu ia fazer um texto só sobre ele, mas decidi falar sobre outras mulheres também que para mim são a alma do samba e bossa nova.
É o mês da mulher no Recanto e acho que seria bem interessante falar sobre outros álbuns que escutei de três artistas diferentes. É minha primeira vez falando de música então talvez eu não seja tão boa com isso, por isso mantive o número pequeno. Sendo sincera eu poderia falar de 15 mulheres do samba mas talvez quando eu for mais experiente com meio.
Esse texto faz parte da nossa comemoração do Mês das Mulheres! Você pode ver os outros clicando aqui!
Maria Creuza — Maria Creuza (1972)
Este álbum conta com músicas melancolicamente felizes, sobre amor e saudade. Mas em especial, a voz da Maria e as letras que ela compôs (assim como as canções que ela escolheu cantar mesmo quando não são dela) fazem desse álbum uma coisa muito única. As músicas dele são simples, com mensagens claras e muito sentimento no canto maravilhoso de uma mulher. Mulheres são incríveis cantando bossa nova!
A música em especial que me puxou com força pro gênero foi “Você Abusou”, uma canção que reconhece suas próprias limitações e virtudes, assim como é uma ótima reflexão sobre o gênero:
“Que me perdoe se eu insisto neste tema, mas não sei fazer poema ou canção que fale de outra coisa que não seja o amor. Se o quadradismo dos meus versos vai de encontro aos intelectos que não usam o coração como expressão… você abusou!”
Embora o conceito de cantar sobre amor seja repetitivo, cafona e por vezes considerado infantil, esses são os sentimentos reais dos artistas. A bossa é simples, a bossa é bonita, e se trata principalmente de sentimento. Você acha meus versos previsíveis? Pois essa é a prova que falo com coração.
Fora as mensagens simples, o conforto que a voz da Maria e a lírica de suas falas passam introduzem perfeitamente o que é o samba. O samba é a felicidade na tristeza, é o consolo que diminui a dor, pura arte. É claro que isso pode ser dito de música em geral, mas o diferente do samba é o quão fácil é se identificar. Por vezes, não precisa ser com a letra — você pode se identificar com o tom da voz da Maria que passa todos os seus sentimentos, ou com a instrumentalização que te lembram de casa e de dias melhores, ou pode aproveitar o aconchego lindo e confortável do sentimento de esperança.
Bossa Nova é o cantar natural do coração do ser humano. É o sentimento puro dirigido para um futuro melhor. “Maria Creuza” com certeza não é o único álbum a mostrar isso, mas foi a minha introdução definitiva ao melhor gênero musical que existe. Não importa o quanto eu evolua em conhecimento sobre o gênero e quanto mais escute dele, esse álbum ficou marcado em mim, e também em muitas pessoas no mundo afora.
O álbum “Maria Creuza” está disponível no Spotify!
Nara Leão — Dez Anos Depois (1971)
Eu amo muito a Nara e o jeito único que ela tem de cantar. Seja a música em questão dela ou não, sempre tem uma energia própria em tudo que canta. Esse álbum em específico é um pouco mais melancólico, ainda que muito bonito. Poucos instrumentos e uma voz calma relaxam o coração de uma maneira tão boa…
A voz da Nara tem muito carinho e ternura, como se ela fosse uma amiga próxima falando com você. Também é muito fofo pra mim escutar mulheres cantando bossa nova falando sobre mulheres, como na música “Bonita” em que a Nara declara seu amor em inglês pra uma mulher (provavelmente é só a música de outra pessoa que ela tá cantando). “Minha Namorada” também é uma faixa meio suspeita! É difícil não associar alguma coisa quando a voz da Nara parece tão sincera…
A música mais importante desse álbum pra mim é a “Esse Seu Olhar”, uma que ficou no meu coração quando escutei. Acho que bossa nova fica mais efetiva em pessoas românticas.
O álbum “Dez Anos Depois” está disponível no Spotify!
Rosinha de Valença — Um Violão em Primeiro Plano (1971)
Não tenho palavras pra descrever o que eu sinto com esse aqui. Esse é possivelmente o melhor álbum de bossa que eu já escutei e tem só 32 minutos. Rosinha cozinhou muito forte nesse.
Além das músicas serem extremamente memoráveis, os instrumentais dessa mulher é absurdo demais. Eu juro que me arrepiei escutando Summertime, e o pior é que o álbum não se reprime apenas em ser contagiante e divertido, essas são as músicas mais confortáveis que eu escutei em meses. É um álbum extremamente variado que tem muitas energias diferentes a cada música, o que me deixa bem triste porque as elas acabam em menos de três minutos.
Eu tive que fazer um certo esforço pra escutar álbuns inteiros de uma vez só pra escrever sobre, mas com esse aqui eu facilmente fiquei feliz ouvindo umas três vezes. Algumas composições tem um ar mais infantil e aconchegante, algo familiar (no sentido de família mesmo). É tão fácil sentir a beleza do Brasil nesse álbum, e não de uma maneira turística mas pela própria vida do brasileiro. O jeitinho do povo, as pessoas fortes sobrevivendo a cada dia… podem ser músicas liricamente simples (algumas nem tem letra) mas ainda assim comunicam tanto sentimento… O violão da Rosinha é inexplicável.
Embora isso também seja uma característica da Elis Regina, o samba da Rosinha por vezes beira o jazz, o flamenco, o tango, até que volta pra velha bossa. As músicas dela não passam apenas uma mensagem bonita sobre vida — são uma experiência empolgante e única. O trabalho dela facilmente mostra como o samba é dinâmico. É muito difícil comentar sobre um álbum como esse, porque eu quero acima de tudo que o escutem.
Por isso enfatizo que o álbum “Um Violão em Primeiro Plano” está disponível no Spotify! Por favor escutem.