REMATCH — o primeiro passe é o mais importante | Análise

REMATCH — o primeiro passe é o mais importante | Análise

É curioso quando você encontra um jogo que estava “bem debaixo do seu nariz” por juntar certos gostos pessoais e tendências de mercado recentes. Pois, para além de ser um produto que parece ser endereçado a você enquanto consumidor, há o bônus de se sentir satisfeito por ser surpreendido por uma ideia óbvia. É assim que vejo Rematch. E, mesmo assim, talvez ele falhasse logo no lançamento como vários outros títulos do gênero. Mas o desempenho do jogo em suas semanas iniciais traz motivos para acreditar que ele está indo por outro caminho.

Desenvolvido pela Sloclap, Rematch surpreendeu por diferir tanto dos títulos anteriores da empresa que, apesar de já ter experiência com jogos multiplayer graças a Absolver, não se esperava por um jogo de futebol nos moldes competitivos de um Rocket League. Mesmo que, após seu lançamento, cada vez faça mais sentido a direção tomada em relação às habilidades de seus desenvolvedores.

Sua apresentação já traz bastante carisma ao incluir um tutorial com história e personagens — mesmo que simples — para te apresentar ao mundo de Rematch e sua estética futurista que marca cada um de seus elementos, desde campos de futebol envoltos por campos de força que simulam biomas variados até seus efeitos sonoros e trilha dinâmica que se adaptam aos momentos de tensão do jogo.

Homem branco de cabelo castanho e barba em cutscene do jogo.

Durante sua beta, acesso antecipado e lançamento, Rematch conseguiu me cativar, mesmo com um início de vida marcado por problemas de estabilidade de rede e bugs variados. Joguei por dezenas de horas em uma espécie de fluxo onde um jogo te encanta e engaja, mesmo com as falhas aparentes. Talvez meu gosto por jogos de futebol em diversos gêneros faça uma diferença, mas — com certeza — a engenhosidade da gameplay construída pela desenvolvedora francesa precisa ser pontuada.

Diversos jogos permitem modos que envolvem controlar apenas um jogador em campo; FIFA ou PES, dentro da linhagem de cada franquia, já permitiram de diferentes maneiras e, em diversos outros jogos, modos específicos já se popularizaram até alguns focados apenas nisso foram feitos. Porém, a grande sacada de Rematch para se destacar é conseguir replicar algo de Rocket League que poucos jogos inspirados conseguiram: construir possibilidades de expressão a partir de um conjunto básico de controles.

Não é um jogo fácil, porque há uma necessidade de gastar uma quantidade razoável de tempo até conseguir pegar o jeito, pois a construção de sua jogabilidade permite uma evolução que parece surgir quase de forma natural pela repetição e pensamento de jogo. Isso permite não só o desenvolvimento emergente individual, mas também coletivo enquanto experiência compartilhada dentro de uma comunidade. Esta é uma qualidade indispensável para qualquer jogo que queira se firmar como competitivo.

Partida de Rematch na linha em um campo de futebol azul como se fosse o fundo do mar.

Com certeza não é o lançamento mais polido do gênero e a falta de features importantes para um jogo multijogador atual como o crossplay preocupa, porém é sempre bom ver um título com uma base sólida e bem pensada em meio à um mercado de acionistas tão instável e cheio de projetos chiclete feitos sem nenhum pensamento na esperança de algum grudar.

Existe até certa coragem, pois apesar dele chegar para preencher um buraco em um nicho carente de jogos, a jogabilidade de um jogo de futebol já está de certa forma um tanto estabelecida pelas franquias de longa data que sempre fizeram enorme sucesso. E, mesmo assim, Rematch traz sua própria forma de jogar e pede que o jogador se acostume — e que esteja preparado para mudanças que podem ocorrer enquanto entendem como tudo está funcionando.

O que traz seu lado positivo de ver que é um jogo que está sendo levado a sério pelos seus desenvolvedores e que se pode esperar suporte por um bom tempo — ponto importante ao considerar abandonos constantes de títulos multiplayer — contudo, traz a sensação em todas as etapas da experiência de que ainda é algo em construção. Principalmente ao pensar nas funções sociais e de matchmaking que ainda são muito rudimentares comparados a outros jogos.

Sobre o matchmaking: o maior problema decorrente de sua superficialidade é o impacto direto na qualidade da experiência por ser um jogo com uma alta dependência de trabalho em equipe. A quantidade de horas parece influenciar muito pouco na melhora do nível de seus companheiros de equipe, o que pode ser frustrante para quem está acostumado a jogar sozinho e depender dos sistemas do jogo.

Até mesmo seu passe de batalha parece carecer de um certo trabalho, pois apesar de servir para te recompensar, ele nunca dá a sensação de ser integrado o bastante. Parece estar lá só porque é uma necessidade desse tipo de jogo atualmente como forma de adquirir cosméticos.

Partida de Rematch como goleiro em um campo verde tradicional em estádio.

Apesar disso, a variedade de opções de customização existente desde o início é um dos pontos altos do jogo; desde a escolha de roupas até a personalização das cores e padrões dos uniformes que permitem um nível de expressão considerável por parte dos jogadores.

Rematch se encontra nesse espaço estranho entre um jogo com uma base firme e um que tem muito a melhorar. No entanto, acredito que ele já acertou em suas características essenciais, o que o coloca à frente de diversos outros títulos multijogador atuais.

O que resta é o acompanhar para ver até onde ele chegará e se conseguirá cumprir tudo o que promete ainda ser.