Star Wars Outlaws  —  por amor e por dinheiro | Análise

Star Wars Outlaws por Takashi Okazaki
Arte de Star Wars Outlaws por Takashi Okazaki. Foto: Reprodução/Famitsu

Olha, quem iria esperar que receberíamos um jogo de orçamento exorbitante e de qualidade duvidosa, meticulosamente focado em mostrar apenas as coisas que a Disney quer, um ano depois de recebermos outro jogo de orçamento exorbitante e de qualidade duvidosa, meticulosamente focado em mostrar apenas as coisas que a Disney quer? Eu realmente não pensei nisso na real durante esse meio tempo… mas que é curioso, realmente é, né?

Star Wars Outlaws foi desenvolvido pela Massive Entertainment (e por outras dezenas de estúdios como suporte) e publicado pela Ubisoft. Foi lançado no dia 30 de agosto de 2024, ou três dias antes pra quem pagou mais caro, para Playstation 5, Xbox Series S|X e PC.

Depois de tanto tempo com os jogos de Star Wars aprisionados na mão da Electronic Arts, eu não posso dizer que fiquei tão feliz sabendo que um dos próximos jogos da franquia de grande orçamento estaria na mão da Ubisoft. Quer dizer, melhor do que na mão do David Cage. Entre os milhares de estúdios que existem na grande indústria de jogos eletrônicos, um jogo na mão dessa empresa se denominando como o “primeiro jogo de Star Wars mundo aberto” não me deixava nada confiante.

Pra ser justo eu não posso sequer dizer que sou fã da Massive Entertainment, nunca encostei em The Division e tão pouco naquele Avatar do ano passado. Mas o fato de que eu já joguei outros jogos da Ubisoft me permitiu entender os processos industriais ao redor dos jogos da corporação.

Jogadas seguras, personalidades previsíveis, batidas de sempre, etapas burocráticas, e, claro, um stealth só não tão rígido quanto o combate. Eu acho que isso não foge do perfil de muitos dos jogos contemporâneos da empresa. Um ciclo maldito fundamentado em separar o criador da criação; projeções de mercado, engravatados.

O produto como celebração da arte. O que veio primeiro? O amor ou o dinheiro? A arte como celebração do produto?

Mas vamos voltar o disco.

Em meio às intrigas que acontecem entre os filmes Império Contra-Ataca e o Retorno do Jedi, acompanhamos a história de Kay Vess em sua busca por liberdade. Marcada para morrer e caçada, você precisa fazer o que um caçador de recompensa faz de melhor.

Andar em tubulações, completar seções de stealth obrigatório, resolver quebra-cabeças óbvios, acertar ritmos para desbloquear fechaduras e hackear computadores jogando wordle intergalático. Você também pode demonstrar suas qualidades em engenharia elétrica com coisas ligadas a energia, tipo atirar em geradores de energia… para eles gerarem ou deixar de gerarem… energia! 

Não se esqueça de conversar com NPCs robóticos e repetir e repetir e repetir tudo isso. É um jogo sobre invadir instalações em molde de mundo aberto, o que por si só já mostra que o jogo nem faz questão de tal elemento grandioso, e isso por si só já é meio engraçado.

Claro que o mundo aberto pode ser o protagonista da sua jornada caso você se engaje naquele mundo tão denso, ao mesmo tempo que é tão vazio, oco… uma linda pintura de autoria desconhecida por razão das centenas e centenas de mãos que não recebem o destaque, respeito ou espaço apropriado em uma suposta “indústria” que transforma artesãos em máquinas.

A intenção e opção de fazer o jogo acontecer com aquelas barras pretas cinematográficas, tal qual os filmes clássicos, é uma decisão “meiga” e a verossimilhança com os ambientes que a trilogia original sustentou é realmente gratificante.

Que tal irmos para um planeta completamente original… Tatooine!

Mas é só isso que sobra? Analisar algo destilando frustrações e mágoas pode ser uma das coisas mais fáceis do mundo, e eu não gostaria de ser a pessoa que reclama de um jogo tal qual eu já fiz na minha análise de Star Wars Jedi: Survivor

Star Wars Outlaws é certamente melhor que aquele jogo, mas isso não significa muita coisa, assim como Star Wars Outlaws não significa muita coisa aos jogos eletrônicos das Guerras nas Estrelas e para aqueles que tem um carinho pela clássica obra.

Naipe de Uncharted, pique de Assassin’s Creed. Outlaws é um jogo que na sua história não busca nada, se sustentando apenas naquilo que consagrou a Ubisoft como uma das empresas mais “Toyotista dos Games”.

Separando e terceirizando cada etapa do processo que se é gestar um jogo, essa é mais uma das dezenas de Quimeras Cibernéticas que a Ubisoft traz ao jogador de videogames contemporâneo e isso me machuca o coração. Claro que existe intenção nesse jogo, mas ela é tão afogada e sistematizada que nem a boa fé se sustenta por tanto tempo.

Ainda assim… Star Wars Outlaws é legalzinho!

Depois de uma introdução xoxa e capenga de umas quatro horas as coisas começam a ficar mais livres; menos sequências de stealth obrigatórias, mais opções de armamentos para enfrentar seus oponentes, maior diversidade de ambientes e personalidades para conhecer e entender. 

O esquema de gangue parece interessante à primeira vista, mas é maniqueísta e não tem influência alguma na sua vida, para algo além de não te deixar passar em algum canto. Eu não sinto sequer vontade de falar do combate espacial, ele simplesmente só existe.

Cantonica, Toshara, Tatooine, Kijimi, Akiva. Visite, percorra alguns quilômetros, cumpra os seus objetivos, faça amiguinhos e seja bem engraçadinha nas suas frases. Star Wars Outlaws é tão cativante quanto Solo: Uma História Star Wars, dentre outras produções Disney. Leve essa frase como bem entender.

Nix é o bichinho de estimação que parece que virou regra nessa franquia, mas eu tenho que admitir que ela destroça o BD-8, com todo o respeito ao droide. Nix é um merqaal feroz que destroça tudo que você mandar e é um elemento importante para os puzzles constantes básicos… 

Você está vendo o problema? Eu não consigo! Como se separa essas coisas na hora de criticar Star Wars Outlaws, como não soar passivo agressivo falando deste videogame? Eu deveria me sentir mal por isso? 

Mesmo se destacando entre os “A Ubisoft Original”, Star Wars Outlaws ainda respeita essas regras criadas pelo conceito do bom jogo de orçamento exorbitante. Ele falha com os preceitos básicos da autoria em um videogame. Tão denso e importante culturalmente quanto um grafite superfaturado do Eduardo Kobra com o Mestre Yoda segurando uma placa de STOP WARS.

A ideologia de Star Wars foi embora. Qualquer crítica, reflexão e mesmo aprofundamento na história sucumbiu. Vivemos em um mundo que qualquer coisa relacionada e produzida pela Disney é chacota e destroçada, até algum momento que ocorra alguma espécie de “reparação” pela própria base de fãs. Isso já acontecia antes da Disney colocar as mãos nisso. O sofrimento que cada pessoa (principalmente as minorias) passou na mão dos fanáticos da franquia que fazem postagens falando que o Império estava certo é o tipo de coisa que mostra como nosso mundão funciona.

Star Wars Outlaws vai ser subjugado por tais como se fosse uma aberração; não é. Kay Vess e companhia é mais cativante que Cal Kestis e sua trupe. Mas isso não é o suficiente, ao menos não deveria ser pra uma franquia tão rica por essência. Eu não sei se em um espaço tão vasto encontremos uma mensagem que cruze nossos corações. Talvez seja exigir demais de corporações e de uma galáxia nada distante como a nossa.

Durante a minha recém mudança, meu irmão me emprestou a mala de viagem dele e ela tinha a silhueta gigante do Darth Vader me encarando. Um por amor, dois por dinheiro.

Nessa história eu não tenho nada pra te dizer. Star Wars Outlaws é tão divertido como o seu bom e velho jogo de 350 reais, com a dinâmica de um loop de gameplay que pode durar ao infinito. O céu é azul. A única certeza da vida é a morte.

Vida longa e próspera. Bazinga!

Uma cópia gratuita de Star Wars Outlaws para a plataforma PC foi concedida pela Ubisoft para análise no Recanto do Dragão.