Venom: Tempo de Carnificina abraça o estilo “Filme B de ação” – Análise

Venom: Tempo de Carnificina
Carnificina fazendo pose de JoJo. Fonte: Divulgação/Sony

Venom: Tempo de Carnificina “é definitivamente uma das sequências já feitas na história”. É nisso que eu pensava por boa parte da duração do novo longa de Eddie Brock (Tom Hardy), anti-herói da Marvel que novamente se encontra num turbilhão de problemas enquanto lida com as peripécias de seu amigo trapalhão e alienígena, Venom.

A propósito, fica tranquilo: não há spoilers significantes neste texto.

Fonte: Divulgação/Sony

Para começar, vamos falando de algumas nuances dos dois filmes: mesmo sendo dirigidos por pessoas completamente diferentes (Ruben Fleischer no primeiro e Andy Serkis em Carnificina), fica muito, mas muito óbvio que todos os pontos positivos e negativos do primeiro filme são meramente expandidos no segundo.

Assim como o momento “o que aconteceu aqui” do primeiro filme, quando Venom subitamente decide que quer salvar a Terra “porque Eddie o mudou” (o que não fazia sentido e provavelmente foi elaborado nos 40 minutos de cenas cortadas do filme), Tempo de Carnificina também adota uma postura de ação divertida mas descompromissada de uma narrativa profunda.

Shriek, a "esposa" de Carnage, também aparece em Venom.
Shriek, a “esposa” de Carnage, também aparece em Venom. Fonte: Divulgação/Sony

A primeira sensação que você vai ter tentando compreender a história do novo filme, com holofotes no desenvolvimento de Eddie e Venom e no assassino em série Cletus Kassady (Carnage), é que tudo foi feito de forma corrida e meio desconexa. Nos dois filmes, várias coisas importantes só “meio que acontecem”, sem cerimônia, e a narrativa segue o fluxo sem olhar pra trás.

Isso traz a sensação de que muitos arcos narrativos de personagens secundários, como Shriek e Anne Weying, acabam no fim das contas sendo um enchimento de linguiça que não tem lá tanto peso quanto poderia.

Isso não significa que nada do filme tem importância: vemos uma versão mega acelerada do arco do Venom passando de “supervilão” para anti-herói (igual nos quadrinhos), quando passa a se chamar de “Protetor Letal“, sem contar na cena pós-créditos (que já vazou em todo santo lugar possível). Eu é que não vou te contar o que acontece (mas só tem uma, não precisa assistir os créditos inteiros, ok?).

O tal “descompromisso narrativo” pode ser explicado pelo próprio Hardy, que tanto lutou pela sequência ao ponto de pessoalmente ir fazer o pitching do filme para executivos da Sony e sendo creditado como “co-roteirista” junto de Kelly Marcel, justificando o investimento no lado sacana e humoristicamente sombrio do nosso querido simbionte: Hardy já disse em entrevistas que suas cenas favoritas no papel costumam ser as de cunho de “humor sombrio”.

Tom Hardy e Andy Serkis no set de Venom.
Tom Hardy e Andy Serkis no set de Venom. Fonte: Divulgação/Sony

Mesmo sendo um alien comedor de cabeças, Venom tem mais carisma que muito personagem de filmes de heróis por aí. Isso porque vocês não viram ele dançando na rave. Mas chega de falar daquela CENA PERFEITA, porque isso é spoiler.

Não se engane: mesmo com essa dinâmica na vibe de “Os Caras de Pau”, como se fossem dois irmãos brigando constantemente por motivos idiotas, Venom: Tempo de Carnificina não chega a ser considerado humorístico ou um “showzinho de standup”.

Muito pelo contrário, ele também investe pesado na estética edgy que era carregada pelos filmes do Aranha de Andrew Garfield, como se estivesse inspirado (ou preso) nos anos 2012 ao som de Skrillex (nesse caso, Eminem) e com Call of Duty: Black Ops 2 rodando de fundo no seu quarto.

Cletus Kassady pré-harmonização simbiótica.
Cletus Kassady pré-harmonização simbiótica. Fonte: Divulgação/Sony

Essa despretensão toda é ainda mais alimentada pelo fato de que o filme, assim como o primeiro Venom, é PG-13: não, não tem gore ou nudez explícita, e quando uma decapitação acontece literalmente nada é visível porque tudo acontece off-screen (que nem no primeiro filme). “Family friendly” que fala, né?

Um bom texto do The Hollywood Reporter comenta sobre a pespectiva campy dos filmes solo de Venom (obrigado pela recomendação, Davy), comparando-os às gerações de Filmes B de Hollywood e fazendo uma analogia entre refeições completas (blockbusters da Marvel e DC) e fast-food (Venom e o novo Suicide Squad).

Para encerrar, vale pontuar que eu pessoalmente gostei bastante do design e das CGIs de Carnage, sendo que as cenas de ação mais satisfatórias são as que ele protagoniza no filme. Também achei memorável como contam sua backstory com uma animação meio Tim Burton-iana, apesar de, novamente, o filme focar muito mais na ação que na seriedade do universo em que se passa.

Agora nos resta saber o que o inevitável Venom 3 trará pra mesa; talvez uma fusão definitiva com o arco do Aranha de Tom Holland? A exploração do arco da Ilha dos Aranhas e o simbionte Toxina? Spin-offs novos? Ninguém sabe ao certo (e se você acha que sabe, me envie os resultados do próximo jogo do bicho assim que possível).

Venom: Tempo de Carnificina chegará aos cinemas brasileiros nessa quinta-feira (07).