Super Meat Boy é um clássico de plataforma indie essencial – Análise

Super Meat Boy

Super Meat Boy foi um marco no mundo indie quando lançou a mais de uma década atrás (2010). Desenvolvido por Edmund McMillen e Tommy Refenes, e talvez você até reconheça esse primeiro nome, já que Edmund também foi criador de outros hits de jogos independentes como The End Is Nigh e The Binding of Isaac.

Mesmo com estes vários outros sucessos, Super Meat Boy foi o primeiro projeto grande dele, e o projeto não apareceu do nada. Em 2008, Edmund lançou um protótipo do jogo gratuitamente no site Newgrounds, feito no falecido Adobe Flash Player (saudade…), que acabou gerando uma boa base de fãs para o jogo. Na época, o projeto era simplesmente chamado de “Meat Boy“.

Meat Boy original
Meat Boy era um protótipo simples, mas fez sucesso o suficiente para receber um investimento da Microsoft

A versão comercial do jogo foi uma proposta vinda da Microsoft para fazer parte do lineup de jogos do Xbox Live Arcade, e ele foi tão bem lá que acabou ganhando versões para diversas outras plataformas ao longo dos anos. A que eu joguei para esta análise é a de Nintendo Switch.

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Sou familiar com Super Meat Boy e já havia jogado boa parte dele, tanto em sua versão original de 360 quanto a de PC, mas por algum motivo nunca cheguei a terminar ele… pelo menos não até agora. Ao receber a chave da Blitworks e Team Meat para Nintendo Switch, eu resolvi dar uma chance completa para ele.

Certo, mas O QUE É SUPER MEAT BOY???

Calma ai, ele é bem fácil de descrever, na verdade. Super Meat Boy é basicamente Kaizo Mario* com mais velocidade e nenhum jeito de derrotar inimigos (com a exceção do uso de um personagem desbloqueável).

*Se você não é familiarizado com Kaizo Mario, eles são uma série de três hacks de Super Mario World onde as fases são inacreditavelmente difíceis e injustas, e que acabaram ganhando popularidade no Youtube no começo dos anos 2010 exatamente por conta dessas características.

Kaizo Mario
Kaizo Mario é considerado um desafio enorme para fãs de hacks da franquia

É nestas similaridades que o charme de Super Meat Boy mais se destaca, pela sua habilidade de transformar elementos extremamente simples de design em algo único. Começando pelos seus controles, que são essencialmente idênticos aos de Super Mario, e acabam vazando em quase todo o resto do jogo, incluindo…

A história

Não existem muitos elementos a serem falados sobre a história de Super Meat Boy, pois ele possui no total apenas 15 minutos de cutscenes. Mesmo assim, elas incluem uma parte importante da personalidade e humor do jogo que não deve ser ignorada.

Lembra da história dos Super Mario Bros. antigos (e até a dos atuais, pra ser sincero)? É basicamente isso. Meat Boy é um garoto que não possui pele, e por isso espirra sangue para todo lado. A namorada dele é Bandage Girl, uma garota feita de Band-Aid que foi capturada pelo Dr. Fetus, um feto que fica dentro de uma jarra que usa terno.

Super Meat Boy 2

Os personagens podem parecer estranhos, e são mesmo. Se você já é familiar com o resto dos jogos de Edmund (principalmente The Binding of Isaac), é fácil de perceber as semelhanças. Essas bizarrices são parte de seu humor, e boa parte das piadas feitas são bem edgy, fazendo as cutscenes serem sempre inesperadas e interessantes de assistir.

Os visuais

Super Meat Boy 3

O estilo gráfico de Super Meat Boy é muito similar ao visto em outros jogos de sua época no Newgrounds, ou seja, bem cartunesco e simples. Mesmo assim, ele combina perfeitamente com a energia caótica das fases e se mantém variado o suficiente do começo ao fim.

Além das fases principais, Super Meat Boy também apresenta uma gama enorme de fases secretas, e muitas delas usam outros estilos gráficos, alguns inspirados em 8-bit, outros em Atari, e por ai vai.

Todos esses elementos visuais contribuem para o status de Super Meat Boy como uma homenagem aos jogos de plataforma antigos e atuais, que também são refletidas em sua gameplay.

A gameplay

Essa é a parte mais forte e o foco de Super Meat Boy, além de ser a mais proprensa a te irritar se estiver sem paciência para enfrentar seus desafios.

Como já citado, ele funciona como um jogo de plataforma comum e você não tem nenhum jeito de matar inimigos, devendo desviar deles e lidar com todos os outros obstáculos exclusivamente usando seus movimentos.

Existem cerca de 300 fases no jogo, sendo a maioria delas opcionais/secretas, o que torna a experiência basicamente tão duradoura quanto você quiser, sem contar nos diversos personagens desbloqueáveis como recompensas oferecidas ao pegar colecionáveis ou completar ditas fases opcionais.

A maioria das fases dura menos de 20 segundos, mas morrer constantemente é inevitável. O ritmo do jogo é bem acelerado e requer domínio completo das mecânicas que a fase oferece para ser passada (ou você pode ter pura sorte). Mesmo assim, eu não consideraria Super Meat Boy um jogo particularmente “injusto”.

Extraordinário Garoto Carne
O Extraordinário Garoto Carne em ação.

Para começar, não existem vidas (com a exceção de algumas fases opcionais) e você volta imediatamente para o começo da fase ao morrer, algo que não incomoda já que os níveis são curtos. Além disso, quanto mais você prestar atenção e se acostumar com a física do Meat Boy, mais aparente fica saber o que o jogo está pedindo de você para passar aquela fase específica.

A física do jogo é a parte que mais influencia o quão satisfatório é controlar Meat Boy. Em minha jogatina para esta análise, eu me restringi completamente à ele, então não joguei com nenhum outro personagem dos quais fui desbloqueando com o tempo.

Meat Boy é escorregadio (o coitado é literalmente feito de carne), mas sua natureza errante é feita com cuidado o suficiente para não ir longe demais e transformar isso em algo incômodo. Claro que no começo é um pouco difícil se acostumar, mas em poucas fases a movimentação dele se tornará natural ao jogador.

Isso espelha em parte a mesma filosofia utilizada em jogos de plataforma antigos como Super Mario Bros. (sim eu sei que boa parte do jogo é inspirado nele), mas a agilidade extra de Meat Boy combinada com sua habilidade de pular em paredes traz uma sensação de jogo bem diferente.

Super Meat Boy 1

O design das fases também ajuda. Como dito antes, elas são bem curtas e enfatizam velocidade e paciência ao mesmo tempo. Esse tipo de design me lembra bastante o visto em outros indies especialmente difíceis como Hotline Miami, e similarmente torna o jogo muito rejogável também.

Super Meat Boy é dividido em sete mundos na versão de Switch (algumas outras versões têm mundos exclusivos), e inicialmente eu pensei que eles iam aumentando gradativamente em dificuldade, como é de se esperar de qualquer outro jogo do tipo, mas eu estava errado.

Acho que não é uma opinião impopular dizer que o mundo “Hell“, que é o quarto, é o mais difícil dos obrigatórios. Este capítulo introduz muitos obstáculos novos e requer uma alta maestria deles rapidamente, além de uma proficiência completa dos controles de Meat Boy, algo que me pegou de surpresa para um mundo que deve ser terminado ainda na metade do jogo.

É até um pouco assustador terminar Hell e achar que os próximos dois mundos obrigatórios (Rapture e The End) iriam ser mais desafiadores ainda, mas não. Talvez o jogo realmente diminui em dificuldade, ou talvez você se acostumou tanto com morrer em Hell que a dificuldade se torna quase imperceptível no resto do jogo.

Na verdade, acho que é a primeira das duas hipóteses, já que o capítulo desbloqueado ao terminar o jogo, “The Cotton Alley“, é o real inferno de Super Meat Boy. Neste mundo você controla Bandage Girl tentando salvar Meat Boy, invertendo os papéis da dinâmica original. Inicialmente ele pode parecer fácil pela sua estética agradável e trilha sonora calma, mas nele você encontra alguns dos maiores desafios que o jogo consegue te oferecer.

Super Bandage Girl

Muitas partes da gameplay de Super Meat Boy são bem simples, mas sempre recontextualizadas de maneira única, deixando o jogo ter uma identidade completamente única na indústria. É bem difícil imaginar alguém enjoando no meio da campanha principal do jogo, já que ele é relativamente curtinho e extremamente variado nos tipos de desafios que oferece.

Mesmo assim, se você quiser mais após terminá-lo, você tem muitas coisas a fazer. Além de tentar pegar A+ em todas as fases, você pode procurar Band-Aids opcionais para desbloquear vários outros personagens com habilidades únicas (22 nas versões de console, 23 na de PC, com diferenças em cada versão), completar as fases opcionais (mais de uma centena!) e descobrir as secretas também.

Isso significa que conteúdo não falta no jogo, e se você acabar gostando bastante dele sempre haverá muito mais a ser explorado. Mas não espere que este conteúdo extra seja fácil, pois ele é a parte mais difícil do jogo, indo muito além do que Super Meat Boy pede de você em sua campanha principal.

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A trilha sonora

Tanto os efeitos sonoros quanto a trilha original de Super Meat Boy fazem seu trabalho bem. Não existem muitas músicas de destaque e muitas delas só ficam de fundo enquanto você fica focado para terminar uma fase, mas o que está lá é longe de ser ruim.

Super Meat Boy 3

A trilha sonora é composta por Danny Baranowsky, que é o mesmo de The Binding of Isaac. Ela é energética e varia até que bastante entre mundos, mas em minha opinião não chega aos pés da trilha de Isaac, que é mais concisa e presente no universo do outro jogo.

Porém, a sonorização de Super Meat Boy é ótima. Todos os obstáculos são distinguíveis imediatamente com seus sons característicos e os sons de pulo de Meat Boy são satisfatórios, mas sutis o suficiente para não irritarem, já que você passa um bom tempo controlando ele.

Por favor jogue Super Meat Boy eu imploro

Super Meat Boy é uma pérola dos jogos de plataforma e uma ótima homenagem ao gênero. Tanto seu estilo visual quanto sua gameplay marcaram uma geração inteira de jogos de plataforma e influenciam desenvolvedores independentes até hoje. Seu design de níveis que prioriza velocidade e estratégia é perfeitamente executado, e ele ainda consegue ser variado mesmo sem oferecer nenhuma opção de combate.

Super Meat Boy 4

Ele é um jogo simples, mas impactante. É muito fácil terminar o jogo depois de ficar meia hora preso no boss final e ainda querer mais com a quantidade de outras coisas que tem a se fazer nele.

Dito tudo isso, acho que fica óbvio que eu recomendo Super Meat Boy. O jogo é curto e barato (pelo menos em sua versão de PC), e é uma boa introdução ao mundo dos indies se você ainda não é acostumado com eles, e uma compra certa se você já os ama.

Uma cópia gratuita de Super Meat Boy para a plataforma Nintendo Switch foi concedida pela BlitWorks para análise no Recanto do Dragão.