Dentro de uma recente leva de jogos de terror, muitas entradas do gênero optaram por seguir uma linha de raciocínio parecida com a de Deranged. E não, a ideia de seguir explorando todos os segredos de uma casa obviamente não surgiu neste recém-lançado indie que iremos abordar durante este texto.
Na verdade, ela deve ter surgido há bastante tempo; não sei dizer ao certo, mas se pararmos para pensar, Resident Evil 1 é um belo exemplo antigo de um jogo de terror onde você deve enfrentar seus “medos” de modo a descobrir como sair de um lugar que parece ser uma caixinha de quebra-cabeça japonesa.
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Com isso, venho lhes dizer que Deranged passa longe dessa classe de horror (ele não chega nem a ser jogável), ou, pelo menos fazendo uma analogia com futebol, ele tenta fazer um gol bonito em uma jogada onde ficar parado já bastava para a bola entrar.
Se ficou confuso, fique tranquilo: abaixo vou explicar o porquê da minha decepção com o indie argentino que podia ser bom, mas não foi.
Deranged podia ser uma boa sequência espiritual de P.T.(Silent Hills)
Como já dito anteriormente, Resident Evil 1 foi um dos responsáveis por popularizar no mundo o estilo de jogos com exploração de casas complexas, cheias de puzzles e, é claro, seu universo de terror.
Porém, sinto que esse sentimento fica para os mais antigos e nostálgicos players, já que os atuais podem conhecê-lo por meio do inesquecível (mas nunca terminado) Silent Hills, o projeto simplesmente conhecido como P.T. (Playable Teaser).
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Funcionando como um reboot da amada franquia Silent Hill, a demo do jogo de terror (que foi dirigida por Hideo Kojima) apresenta aos jogadores mais novos o gênero que venho discutindo ao longo deste texto, além das suas diversas mordernizações e inovações que vieram com o tempo (e com sua estrutura única).
Foi dele que muitos outros games se inspiraram e trouxeram ideias parecidas, como Layers Of Fear, Visage e… Deranged. Quer dizer, talvez não esse último, e eu vou explicar o porquê: Deranged é uma mistura de puzzles mal elaborados (e praticamente não funcionais) com uma história preguiçosa.
Assim, ao longo dos primeiros 20 minutos de gameplay (que foi o tempo máximo que consegui jogar até travar em um “puzzle” impossível, no qual comentarei mais pra frente), este game argentino apresenta a mesma premissa do gênero: ande por uma casa, desvende seus segredos e vaze dali o mais rápido possível.
Porém as comparações podem parar por aí, já que toda sua atmosfera é repetitiva, mesmo com design de cada cômodo sendo bem “perturbador” e passando um sentimento agonizante.
Mas diferente de Visage, por exemplo, Deranged não conseguiu entregar o ponto mais importante desses jogos: uma história grande dentro de um lugar pequeno.
Deranged podia ser um belo jogo de terror argentino
Confesso que o meu repertório com jogos de terror indies não é das maiores, e foram poucos do gênero que tive o prazer de jogar.
E quando falo de “indie”, quero realmente dizer sobre estúdios “micro”, quase não passado de cinco desenvolvedores. Deranged, nesse caso, foi desenvolvido por uma dupla, e, sinceramente, acho que mesmo assim daria para ter feito um trabalho bem melhor se houvesse mais atenção na área de playtesting.
Os gráficos são bons, melhores do que eu pensava que seria antes de jogá-lo, mas as qualidades param por aí.
Logo na introdução do que seria a história do jogo, nos deparamos com uma televisão antiga passando um jornal apresentado por um homem que está lendo um roteiro. E o pior de tudo: ele está usando um ângulo de câmera e microfone de maneira similar ao de um streamer, e não um jornalista.
Pois é, daí pra frente todo o nosso clima sobrenatural foi por água abaixo. Mas calma, fica bem pior.
Bugs infinitos e constantes fazem parte de 70% do jogo. Assim, eles acabam fazendo você se sentir no controle de um X-Man com poderes de atravessar objetos ou flutuar. A atmosfera de terror digna de um jogo que seria comparado a P.T. sumiu logo que dei meu primeiro passo.
Uma experiência absolutamente injogável
Resolvi continuar jogando enquanto lutava contra sua lentíssima gameplay de exploração, o que podia ser um ponto até relevado, por conta do já citado fato de ser uma produção indie.
Confesso que logo no começo há um -belo mas não tão sutil assim- jumpscare de um fantasma 2D, que, naquela altura, havia me convencido a tentar continuar até o final da jogatina.
Pois bem, mais alguns quartos foram vasculhados e mais nenhuma coisa que vale a pena ser relatada apareceu. Vale dizer que o design de áudio e a trilha me agradaram minimamente durante essas partes.
Até que vieram os puzzles, e, com eles, a desistência total por todo o potencial que Deranged podia entregar.
Vou ser sucinto: há uma sala onde um cofre trancado tem que ser aberta. Porém, mesmo tendo a senha revelada no cômodo, é impossível acertá-la graças a imprecisão dos controles na hora de colocar os números do cadeado.
Infelizmente já acumulei mais de duas horas de jogo na Steam sendo que, de fato, demora apenas 20 minutos para chegar nesta parte (de acordo com uma única gameplay que achei no Youtube). Sim, esses outros 90 minutos foram gastos tentando desmistificar as senhas do terrível cofre que, no final das contas, se tornou o meu boss final do jogo.
E é assim que eu me despedi de Deranged, um jogo de terror que podia ser muito mais do que ele realmente é.