Grand Theft Auto III — uma breve retrospectiva

Grand Theft Auto III retrospectiva RDD

NOTA: Grand Theft Auto III — uma breve retrospectiva é um fragmento retirado da lista dos “125 jogos que eu zerei em 2021, ranqueados”, que talvez chegará em breve™ no Recanto do Dragão™™ .

NOTA²: Eu joguei a versão original de PC do jogo, e não a “Definitive Edition”. Ninguém vai me convencer a jogar aquela merda.

É impossível medir a importância de GTA III para o meio dos jogos. Ele foi um dos primeiros jogos a quebrar completamente a barreira de nicho que eles carregavam e criou o caminho para o crescimento sem precedente deles até os dias de hoje.

Grand Theft Auto III retrospectiva

Seu mundo aberto é impressionante até hoje em dia, e sua atmosfera só é equiparada por GTA IV dentro de sua franquia. A quieta jornada de vingança de Claude é contada por o que parece que são apenas vinhetas dos filmes de máfia favoritos dos escritores, mas já que eles focaram em parodiar mais do que copiar, as falhas criativas do roteiro ainda adicionam à experiência.

Olhando de perto, GTA III revela inúmeras qualidades sutis, como o jeito que ele usa a mecânica de roubo de carros como um constante desafio que você deve enfrentar depois de quase toda missão. Várias delas acabam te deixando sem seu carro anterior por um ou outro motivo, e não é toda hora que você consegue colocar um carro em uma das inconsistentes garagens espalhadas pelo mapa (que apagam seus carros delas depois de algum tempo!).

Claude não está interessado em ir à uma concessionária pra comprar um carro com a grana dele, então sua única opção é achar um carro para roubar. Conforme a história avança, você vai precisando de veículos melhores e melhores para acompanhar as perseguições ou aguentar as batidas devastadoras do jogo. Eu até fui decorando os lugares com os melhores spawns de carros para deixar meu trabalho mais fácil. Também é uma grande ajuda que a sensação de dirigir é tão leve e variada entre suas escolhas de carro.

E esse é o maior forte de GTA III. Liberty City não passa nem perto do nível de simulação em menor escala, mas imensamente detalhada de jogos como Thief e Deus Ex, mas as regras estranhas de seu mundo criam uma bolha de realidade imersiva em meio à sua completa rejeição de lógica real. Como qualquer jogo de mundo aberto deste tipo, ele usa o layout de seu mapa para te desafiar de maneiras progressivamente complexas, te implorando para manobrar entre atalhos e outros carros em seu caminho para conseguir chegar em algum local à tempo, seguir um carro, assassinar alguém, dentre outros objetivos da vida criminosa na icônica paródia de Nova Iorque da Rockstar (aliás, você viu que eles vão relançar a trilha sonora que a banda HEALTH fez pro Max Payne 3 totalmente remasterizada? vai ficar linda)

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Infelizmente, isso não se estende à todas as partes das missões, e muito menos às mecânicas de combate. É até fofinho ver o quão arcaicos são os tiroteios dele em comparação a outros jogos da época como Max Payne (que não era da Rockstar na época), mas quando você perceber que ele pede de você tanta precisão quanto seus concorrentes você já vai estar dirigindo para sua 3ª tentativa em uma missão que poderia levar três minutos, mas está levando trinta.

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Isso também pode ser aplicado ao design de objetivos. Eles são básicos em conceito, mas ter que lidar com uma perseguição no meio da cidade de Liberty City, por mais gostoso que seja dirigir, não parece algo que o motor gráfico do jogo aguenta. Qualquer interação no mundo que não esteja relacionada à puramente andar de carro por aí sai parecendo artificial e não considerada pelos desenvolvedores, esbanjando diversos imprevistos muito menos deliberadamente engraçados do que em outros jogos da franquia. É uma luta constante entre o jogador e o mundo, exacerbada pelas missões.

Contudo, eu amo o quão livres e soltas elas são. É fácil esquecer o quão abertos eram os jogos antigos da Rockstar em comparação com a rigidez que eles demonstram hoje em dia, e jogar este cinzento e irreverente jogo de tamanha influência me fez sentir falta de jogos que nunca existiram.

Grand Theft Auto III retrospectiva

Imagine o potencial que jogos da Rockstar com o nível de liberdade de GTA III conseguiriam atingir em um universo onde eles tentaram construir em cima dessa base, e não separar completamente a história do mundo aberto de suas obras. Um jogo tão preocupado com a estrutura e o uso de seu mundo quanto com os detalhes superficiais dele. A ambição narrativa de Red Dead Redemption 2 junta da linda bagunça de Grand Theft Auto III.

Mesmo ficando perplexo com diversas áreas de seu design, eu tenho um imenso respeito à GTA III e o que ele originalmente representa. Mesmo quase um ano após tê-lo jogado para este texto, eu ainda lembro cada pedaço de Liberty City. Sim, até de Shoreside Vale, que é a ilha que possui menos missões. Sim, até do banheiro público do Central Park. Sim, até dos esconderijos de sniper. Não importa quantos tropeços eu ignorar ou temer, GTA III conseguiu um espaço especial em minha memória.