Sabe aquele jogo que você começa a jogar só para ver do que se trata e acaba se encontrando com um amor estranho por ele? Pois é, Last Stop foi esse jogo pra mim.
Na minha opinião, dentro do catálogo do Xbox Game Pass, esse game desenvolvido pela Variable e publicado pela Annapurna é um dos melhores no quesito de narrativa (e não de jogabilidade, mas vou falar disso mais pra frente), que me impressionou MUITO.
Sendo uma mistura de The Sims, com Telltale’s The Walking Dead e Stranger Things, o point-and-click lançado em 2021 merece muito mais reconhecimento.
Há pontos fracos no jogo? Sim, há muitos.
Há pontos fortes no jogo? Digo com tranquilidade que sim, na mesma proporção da resposta anterior.
Então bora para análise de Last Stop, o jogo que é muito mais do que aparenta ser. Vou evitar ao máximo dar spoilers nessa análise (avisarei com antecedência caso ocorra), afinal de contas, não quero estragar sua primeira percepção com a narrativa do jogo,
Last Stop é uma aventura solo em terceira pessoa que se passa em Londres nos dias atuais. Escrito e desenvolvido pela Variable State, criadora do premiado Virginia, Last Stop conta três histórias interconectadas com três personagens principais jogáveis.
Sinopse de Last Stop
Ele não é o que parece
Lendo isso, possivelmente o que vem na sua cabeça é uma história ligada à emoções (como Life is Strange), onde três diferentes narrativas acabam se cruzando e, no final, sempre acaba sendo mais do mesmo.
Mas e se eu te falar que o jogo possui viagens no tempo, seres místicos, portais, sentimentos, paradoxos e muitos outros questionamentos profundos, você vai acreditar?
Como eu disse, ele não é o que parece. Sabe aquela famosa frase, “não julgue o livro pela capa”? Isso se encaixa perfeitamente nesse game. E eu acrescentaria: “não julgue o livro (ou jogo) pelos três primeiros capítulos, também”.
O começo é “chato”
Se tratando do começo monótono e, infelizmente, proposital, preciso deixar alguns comentários.
Ainda não tocamos no assunto jogabilidade, mas já vou deixar claro: é aquele tipo de jogo no qual você só faz escolhas, e são os raros os momentos que você tem total controle (dá pra contar nos dedos de uma só mão).
Assim como jogos da Telltale como The Walking Dead e The Wolf Among Us, ou os jogos de David Cage, dentre muitos outros, esse point-and-click é feito apenas pra você observar a narrativa que, no começo, é beeem lenta.
O fator disso poder ser considerado “chato” pode variar do seu tipo de jogo favorito; pra mim por exemplo, ele é bem construído.
Mas há momentos de pura caminhada na qual, durante uns dois minutos, você só acompanha o personagem transitando por locais até chegar ao seu destino. São momentos que passam uma sensação bem “cult”, mas acabam quebrando o grau frenético da cena anterior.
Mesmo assim, momentos como esses fazem parte do jogo: interpretei-os como momentos de reflexão onde o player realmente acaba se colocando na cabeça do ser da história, e fica se perguntando sobre diversas coisas que acabou de presenciar.
Quando as coisas começam, elas realmente começam
Nos primeiros capítulos há muitos momentos entediantes, porém, na mesma proporção, há momentos bem importantes e super apreensivos.
No entanto, é a partir do terceiro capítulo que tudo começa a explodir sua mente e a sensação de um carro quando engata a quarta marcha em alta velocidade fica presente até o final, te prendendo na tela (e até fora dela) do meio da narrativa ao fim dos créditos.
Então assim, jogue, aguente o monotonismo dos diálogos iniciais, aprecie a lenta construção de personagens e suas histórias, problemas e medos, porque eventualmente tudo se tornará muito mais importante.
Por trás de cada pessoa
Last Stop nos apresenta três histórias paralelas, onde, em certo momento, elas se cruzam. Levando em conta isso, temos mais de um protagonista dentro da narrativa.
As três crônicas possuem 4 importantes personalidades que se diferenciam muito uma da outra, mas no fim, todas tem algo em comum: a proximidade com problemas reais. Mas fica tranquilo, vou evitar dar spoilers.
Jack e John
Os vizinhos Jack e John fazem parte da primeira introdução do jogo.
Com diferenças absurdas no cotidiano dos dois, a proximidade de problemas ligados a doenças, saúde, estilo de vida, formas de pensar e parentescos problemáticos fazem parte do que eu, pessoalmente, considero a melhor história de Last Stop.
Além disso, eventuais problemas extras que surgirão no trabalho e um paradoxo ENORME nessa cronografia mudarão TODO o contexto do jogo.
Meena
A personagem mais complexa e misteriosa do game: com problemas relacionados a traição, trabalho problemático e drogas, essa jornada é a mais pesada, e, na mesma proporção, a mais intrigante.
Vale destacar que é impossível não se apaixonar pelo desenvolvimento que ela tem, cada fala é minuciosa e amplamente bem trabalhada.
Donna
A mais jovem dos quatro possui a narrativa que é mais ligada ao sobrenatural.
Neste caso, Donna enfrenta diversos problemas adolescentes (podem parecer bobos, mas são muito bem explorados) como amor, amizade, problemas com pais e irmãos.
Na real, essa talvez tenha sido a história mais importante para a compreensão de todo o universo presente, mas ao mesmo tempo, sinto que falta uma conexão mais bem trabalhada, algo que está bem presente nas outras duas.
Uma história imperfeita e bem real
Nesse sentido, Last Stop merece ser exaltado: antes de começar a demonstrar seu lado voltado à ficção, o jogo permite acompanhar jornada reais, com problemas bem constantes da “vida normal”.
Como já disse anteriormente, temas como traição, amizade, ciclos de parentesco, inimizades, trabalho, medos e muitas outras coisas que fazem de todos nós humanos e únicos são evidenciadas no game.
Além desse ponto mais narrativo, se partirmos pra discussão sobre a jogabilidade em si, nos deparamos com um filme em formato de jogo, assim como Virginia (dos mesmos desenvolvedores e considerado um antecessor de Last Stop) e Life is Strange.
O filme jogável
Na verdade, vou me auto-corrigir, o game apresenta o que seria uma série jogável, mostrando tudo em formatos de capítulos e tendo um formato de pegada bem “Netflix-iana”.
Porém, ao contrário dos conteúdos disponibilizados na plataforma, se você desprender um pouco a atenção da tela do jogo, você vai se arrepender e acabar ficando perdido (até porque jogo geralmente não tem barra de progressão, como nos vídeos).
De acordo com o animador Terry Kenny, um dos principais nomes que participaram desenvolvimento de Last Stop, essa ideia de parecer uma série foi totalmente proposital.
Minha opinião foi tipo, ‘Eu estarei segurando um controle na minha mão e prestando atenção’. Por outro lado, se eu estivesse assistindo à Netflix, estaria olhando para o meu telefone. Há um elemento no fato da contribuição do jogador – é como ler um romance, requer um certo grau de dedicação que talvez, hoje em dia, seja até difícil de se obter.
Afirmou Kenny para o site independent.ie
Do nada, o real torna-se surreal (ou não)
Muito bem, daqui pra frente teremos alguns spoilers do terço final de Last Stop, então se você estiver interessado em jogar, esteja avisado.
Mas então, retomando: até o capítulo 3 ou 4, algumas coisas sobrenaturais acontecem, como desaparecimentos e até menções ligadas a viagem no tempo.
Porém, é a partir do fechamento do penúltimo capítulo que vemos que Last Round não é apenas um jogo de histórias reais e mistérios, e sim de pura ficção científica.
A partir do momento que chegamos no planeta/dimensão desconhecida (isso não ficou claro) por meio de um portal. toda a ideia de possíveis finais vão por água abaixo.
A mistura de Mad Max, Star Wars e Duna
Sim, isso realmente acontece. Ao partirmos com os personagens a partir do portal gigantesco, chegamos a um lugar muito “diferentão” e que parece fazer diversas referências à cultura pop.
O local
Uma mistura de Duna e Mad Max, essa é a definição ideal para esse o local do final do jogo.
Além disso, outro ponto que faz referência é nome dessa cidade – Coldharbour, mesmo nome da famosa cidade do jogo Elder Scrolls Oblivion.
Com uma área repleta de deserto, não dá para saber ao certo o que houve naquele lugar, se é a terra no futuro ou se é um outro planeta.
Provavelmente a segunda opção é mais válida, pois os personagens dessa região são bem diferentões, à la Star Wars (sim, são ETs com design reptilianos).
O escopo do universo deixou a desejar
Infelizmente, esse ponto negativo me desanimou bastante.
Um mundo novo, com leis novas, personagens novos e muitas outras características únicas poderia ser facilmente explorado com muito mais profundidade.
Devo admitir que me falta repertório nos games distribuídos pela Annapurna para saber se é alguma referência à alguma obra ou algo do tipo.
Ou ainda, quem sabe, é um mundo que será explorado mais afundo em outro jogo (como um provável Last Stop 2?).
Infelizmente nenhuma resposta para isso foi mostrada ao grande público: é bem provável que meu desejo por uma maior exploração desse mundo se torne um sonho eterno.
A superficial e repetitiva jogabilidade
Para finalizar, tenho que prosseguir novamente com o principal ponto que me tocou negativamente: a jogabilidade.
Além de ser extremamente repetitiva, parece que nos momentos de andar, correr e interagir você mal está de fato controlando, apenas dando algumas instruções já pré estabelecidas.
Os momentos de acertar o ritmo dos botões que aparecem na tela, no estilo Guitar Hero, também não são inovadores e mudam muito pouco no jogo.
Infelizmente, esse ponto estragou a experiência final, deixando o jogo bem lento e cansativo.
Afinal de contas, é bom?
Não vou deixar a decepção dos botões me contagiar, já que isso seria o equivalente a um jogador de futebol errar um pênalti por causa que o juiz apitou pra ele ir chutar, ou seja, não faz sentido.
A excelente narrativa e a profundidade dos vários personagens permitiu com que a falta de ação (e não interprete isso no sentido “emoção”) fosse relevada.
Assim, digo com tranquilidade: junto com outros jogos, Last Stop figura tranquilamente no ranking das melhores histórias do Xbox Game Pass.