Lushfoil Photography Sim pode ser descrito da mesma forma do que promete: um simulador realista de fotografia feito na Unreal Engine 5 com fidelidade impressionante para um projeto quase-solo e uma leve camada de estilização aplicada ao seu fotorrealismo romântico.
Sua camera DLSR é altamente customizável e oferece uma boa gama de lentes. Os ambientes usam da tecnologia nanite da Unreal 5 para capturar uma densidade de materiais e flora fiel a cada um dos nove locais reais recriados. Animais e pássaros podem ser avistados de vez em quando; alguns até secretos e com pequenas janelas de oportunidade para foto, mas o foco é a fotografia de paisagens. Um dos apelos é o turismo digital, como uma maneira de fotografar uma coleção de locais que custariam uma boa grana para serem visitados em uma viagem. Mal existem interiores nos mapas e, nem um objetivo de foto de animal sequer.

É, objetivos. Acontece que Lushfoil também possui uma dedicação além de sua simulação, que é a de um videogame collectathon baseado em achar coletáveis, segredos, e tirar fotos específicas. É assim que você libera novos mapas. Ou seja: o jogador interessado apenas no aspecto de simulação vai ter que interagir com a parte videogame de Lushfoil para continuar a experiência. Isso é bem estranho.
Lushfoil Photography Sim foi lançado em 15 de abril de 2025, desenvolvido por Matt Newell e publicado pela Annapurna Interactive para PC, Xbox Series X|S e Playstation 5.
Lushfoil é, em partes, um compilado de simuladores antigos de Newell remasterizados na Unreal 5 no lugar da 4. Castle Rock Beach (Austrália), Fushimi Inari Taisha (Japão), e Mýrdalssandur (Islândia) haviam sido lançados nos últimos anos separadamente nas plataformas Itch e Steam, mas desde então foram retirados do ar pela compra da propriedade intelectual por parte da Annapurna, segundo Newell. Isso me entristece muito. O único local ainda disponível para compra é Wakamarina Valley (Nova Zelândia), que joguei — a sua estrutura e visuais são distintos comparados ao Lushfoil, e isso vale pros outros delistados também.

A curadoria de locais de Lushfoil Photography Sim é relativamente limitada, mesmo que inclua locais vislumbrantes como a trilha de Mardi Himal (Nepal) e a ilha de Shengshan (China). As Américas e a África não estão presentes em nenhuma capacidade. Tanto o Japão quanto o Reino Unido recebem dois locais cada. O leste europeu e países árabes também ficam de fora. Lushfoil é uma obra de uma pessoa australiana, e assim exubera o interesse estético de uma pessoa do norte global de nosso planeta. Isso tudo me incomoda, mas não tenho nenhum ponto em específico para fazer sobre isso além de trazer estas escolhas à tona.
A natureza semi-coletânea do projeto traz uma textura única na experiência. O primeiro local, Lago di Braies (Itália), foi feito do zero para Lushfoil, e assim transparece características de exploração bem livres (dentro dos confins da área explorável) mas, logo em seguida, os três mapas previamente lançados são desbloqueados uns atrás dos outros. O perfil deles é um pouco diferente: são mais confinados aos caminhos e trilhas naturais do local, e assim possuem uma gama menor de ângulos bizarros a serem explorados. Logo em seguida, de Le Prarion (França) para frente, você pode se perder ou até se prender facilmente no meio das matas e colinas. Prefiro esse estilo, e fico feliz que Newell resolveu seguir este caminho.




As limitações de um videogame costumam fazer da fotografia de paisagem uma atividade pouco variada. Mesmo com a densidade oferecida, os locais mais pitorescos ainda serão mais limitados ao óbvio. Clareiras de árvores que abrem espaço à uma bela vista, espaços planejados para fotos por indústrias de turismo locais, objetos únicos e afins; qualquer nerd um pouco mais doidinho vai ter uma certa dificuldade de desviar destes objetos de foto com sucesso. Mas, claro, ainda é possível tirar umas fotos legais em pedaços mais bizarrinhos.
É a sina do fotorrealismo, mas eu aceito esse preço. Tirar prints ou fotos em videogames é uma tarefa quase inteiramente dependente do jogo, já que suas opções de movimento, pose, e outros elementos interativos são fixos. Jogos de fotografia como Lushfoil e Umurangi Generation procuram te embebedar de informação visual espalhada por seus locais. Pontos focais existem, mas são bem mais separados que os mundos abertos utilitaristas e maquetes planejadas de jogos que possuem outros objetivos — e isso vale em dobro para Lushfoil, que representa espaços reais.

Recriar as elevações de terreno e maquiagem natural da natureza à risca parece um trabalho muito ingrato, mas sua presença em um simulador imediatamente valoriza todos os espaços dolorosamente recriados: você vai parar pra prestar atenção muito mais que em outros gêneros. As oportunidades de foto clamam por este olhar aguçado, e isso também torna estes espaços propensos à segredos, né?
Os aspectos de collectathon Lushfoil Photography Sim me pareceram uma gamificação cínica inicialmente. Por que um simulador extremamente pé no chão precisa de bugigangas a coletar (mesmo que poucas por local), câmeras novas a encontrar, e fotos específicas a tirar? Na verdade, após umas boas levas de exploração, comecei a pensar que estas inclusões dividem Lushfoil completamente entre o simulador e o… walking simulator.




Os espaços virtuais são representados como suas contrapartidas reais, mas o que você desbloqueia ao adquirir os coletáveis ficcionais muitas vezes fogem do senso de verossimilitude construído inicialmente. Quanto mais você interage com Lushfoil como um jogo, mais ele se abre como um. Muitas de suas recompensas envolvem liberar versões alternativas de cada local; por vezes liberadas no menu de seleção, e por vezes permanentemente escondidas atrás de segredos que devem ser reencontrados para serem acessadas.

Algumas das versões alternativas são uma variante noturna, diurna, ou hora mágica — outras são bem mais aventureiras, como a trilha de Mardi Himal durante uma tempestade que com certeza tornaria esta trilha impossível na vida real. Quebrar a realidade de Lushfoil interagindo com seus coletáveis e objetivos de foto te confere fantasias; ainda pautadas em algum senso de realidade, porém nitidamente romantizadas ao ponto da irrealidade tomar conta. A blue hour de Mýrdalssandur desse jogo parece ser possível na vida real apenas após uma boa mexida no Adobe Lightroom.
O mais engraçado dos objetivos de foto são o quanto eles ocupam espaço no seu catálogo de fotografias. Em meio àquelas pessoais tiradas com o carinho, residem dezenas tiradas às pressas para completar cada objetivo. Além disso, como cada foto pode ser utilizada como um ponto de fast travel, algumas das suas também serão tiradas apenas com este intuito, dependendo do seu estilo de jogo. Pensa nessa: dá pra você aproveitar pra tirar uma foto lindona sempre que querer criar um ponto de fast travel! Mas, pra deixar o ponto identificável, costuma ser bom pegar um ângulo que torne o local instantaneamente reconhecível.

É espantoso o quanto as direções de simulador e collectathon se colidem — tudo em nome de fazer uma pessoa interessadea apenas em um destes aspectos interagir e se interessar pelo outro. É um casamento de gêneros que requer respeito mútuo entre jogador e jogo; jogador e desenvolvedor.
Um senso concreto de autoria é dispensado nas escolhas de Newell. Alguns locais possuem um horário fixo: não importa quanto tempo você passar lá, a praia de Castle Rock sempre terá uma manhã de sol. Existe uma exceção notável: a primeira versão de Le Prarion começa com um saudoso por do sol rosado e, com o passar do tempo, se transforma num maravilhoso céu estrelado.

O que inicialmente parecia o mais compacto local do jogo se expande ao seu comprimento completo. Ele te dá até uma bicicleta. Se bem que, na maioria dos casos, um jogador vai apenas tirar a única foto necessária para completar esta versão do mapa e ir embora antes de ver o sol se por — especificamente por assumir que não existe este tipo de dinamismo em nenhum dos mapas de Lushfoil Photography Sim.
Os segredos se estendem até tomarem as rédeas do jogador mais astuto às tradições de videogame. Neste simulador onde você deve seguir objetivos de videogame para liberar novos locais, eles não contribuem para o seu caminho até os créditos. Eles estão ali, mas dependem de outro tipo de segredo: os portais.



Em um lugar longínquo e escondido de uma das versões de um mapa, você vai achar um portal que, além de devastar todo o ambiente em volta ao se aproximar dele, irá te levar para o limbo. Um local onde apenas resta a escuridão, o céu, uma maquete do seu lugar de partida e outra do seu destino. Estes limbos são os únicos locais ficcionais de toda a experiência. Por vezes você basicamente ganha um atalho à outro mapa sem precisar desbloqueá-lo coletando fotos e itens, e por vezes descobre mais segredos ainda.
Mas a parte mais peculiar dos portais é que eles são a única maneira de zerar Lushfoil Photography Sim. Por acaso, após fazer 100% de um dos mapas, liberei um GPS que revela a latitude e longitude do que faltava de coletáveis e portais. As bancadinhas com objetivos de fotos ainda devem ser achadas na marra, mas o resto veio como um pequeno exercício de localização pelas rotas definidas de cada um dos locais.
A devoção ao real é cruzada à ficção assim que você toca nas mecânicas além da fotografia. Para interagir com o simulador, você precisa interagir com o jogo. Para jogá-lo, a simulação é dispensável.

Uma cópia de Lushfoil Photography Sim para PC foi concedida pela Annapurna Interactive para análise no Recanto do Dragão.