O céu está fechando. As videntes preveem desastre eminente. O mundo está envolto em trevas que pouco a pouco se alastram na sociedade. Monstros se multiplicam aos montes pelas planícies, cavernas e cidades. As lendas e maldições de outrora retornam para assombrar o mundo. O povo precisa de um herói. É então que, de uma pequena cidade na montanha, surge uma esperança trazida pelos ventos. O guerreiro lendário desperta mais uma vez: Wonder… Girl!?

Bem vindos à Monster World IV! Também conhecido como Wonder Boy, também conhecido como Adventure Island, também conhecido Asha In Monster World, também conhecido como Wonder Boy in Monster World 2, que também pode ser o quinto ou sexto jogo dependendo de quem você questionar. É uma franquia bem confusa.

Pra quem não conhece a franquia Wonder Boy, o que não é incomum, é uma série majoritariamente da SEGA (ao menos, na época) como uma resposta ao dez vezes mais popular The Legend of Zelda. Eu sempre fui fã de Wonder Boy! O estilo de exploração livre 2D é bem viciante, e eu sempre gostei de jogos Zelda que não são Zelda… bem, eu também gosto de Zelda. Alundra 1 e 2 são dois dos jogos que eu mais amo no mundo desde meus três aninhos! E, é claro, com os… uhh… “ports oficiais” para PS2 de jogos de Megadrive, pude conhecer essa linda franquia.

As chances de eu falar de Wonder Boy em algum momento eram muito grandes, se tornando apenas questão de tempo ou a oportunidade ideal. Bem, Monster World IV é a oportunidade ideal, porque eu acabei de descobrir que existe um Wonder Boy protagonizado por uma mulher que parecia ser de longe o melhor de todos! E, bem, ele é o melhor de todos.

Monster World IV é diferente dos seus antecessores. Acredito que quando decidiram que o herói seria uma menina dessa vez, resolveram que era uma boa oportunidade para experimentar de tudo. Ainda é um jogo da franquia, ainda tem todos os seus elementos Zelda, mas de uma forma bastante única e carismática.

Asha é o motivo disso! Não precisa olhar muito para os outros heróis para notar que houve mais cuidado na caracterização dessa menina. Enquanto os jogos anteriores possuíam animações duras e bastante genéricas (não digo isso como insulto), Asha é uma personagem bastante expressiva. Ela tem uma animação fofinha pra tudo, e fica bem claro como ela é sem sequer precisarmos ouvir ela falar. Enquanto todos os Wonder Boys são mais “neutros” (por questão de hardware na maior parte do tempo), a Asha de Monster World IV é bastante responsiva!

Asha chora, sorri, faz dancinhas fofas, se assusta, foge de explosões quando usa bombas, e ama muito seu Pepelogoo. Logo mais falamos dele! Asha é mais ágil que os Wonder Boys, possuindo mais habilidades e movimentação que eles. Isso deixa o combate e platforming bem mais interessantes porque, além de correr, a menina pode atacar para direções diferentes no ar, algo inspirado por Zelda II, é claro.

O design dos inimigos é diretamente influenciado pelas habilidades da Asha, pois eles são criados para pedir estratégias específicas. Alguns pedem que você desvie antes de atacar, outros contra-atacam logo depois de serem golpeados, forçando seu bloqueio, outros só podem ser atacados por cima, ou bloqueiam pedindo uma abordagem menos ortodoxa. Alguns inimigos estão alto demais e pedem o golpe para cima, que também é muito útil contra inimigos saltitantes! Alguns até dão diferentes aberturas possíveis para serem atacados, o que os torna os mais fortes por conta disso.

Enquanto Asha não pode lançar magia, ela possui um amiguinho que a dá novas possibilidades. O Pepelogoo pode voar, e você pode segurar nele para planar ou realizar um salto duplo. Ele também aparentemente gosta muito de calor, podendo defender a Asha de fogo, ou mesmo se tornar uma plataforma para ela subindo em um vulcão. Ele tem mais algumas habilidades secretas que você vai descobrindo com o tempo, complementando muito bem as opções da menina.


Sinto que estamos indo muito rápido, então vamos acalmar um pouco. O dever da Asha é salvar os quatro espíritos aprisionados pelos magos do mal, esses espíritos foram, aparentemente, selecionados para cuidar de templos específicos pelo Shion. Quem é Shion? É o Wonder Boy in Monster World. No caso o protagonista do jogo anterior!

Bem, para cumprir sua missão, Asha vai até Rapadagna e conhece a rainha do lugar, que a declara uma guerreira de verdade. Legal, né? Bem, toda a estética desse jogo, e sua história, foi bastante impactada pela decisão da Asha ser a protagonista. Eu não sei bem qual a ideia por trás, para ser exata, mas tudo é colorido, detalhado e… moderno? Combina bastante com a personalidade da protagonista. Toda a história tem um certo ar feminista, com as duas personagens mais importantes sendo mulheres. Tem alguns comentários sobre isso também, pois as pessoas não esperavam que a heroína seria uma menina. É simbólico pensar que ela terminou a franquia na época!
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Voltando ao assunto, libertar os espíritos pede uma visita a cada um dos templos, que são dungeons beeeem longas com puzzles interessantes, platforming difícil e muitos inimigos. No entanto, quanto mais você avança e vence os feiticeiros, mais o mal se alastra pelo país. Você nota a mudança nas pessoas pouco a pouco, e algumas cenas chegam até a ser assustadoras!

Acontece que o plano dos vilões já estava em andamento há muito tempo, o que dificulta sua missão ainda mais. O templo do sol, que deveria ser uma pirâmide no deserto (clássico Wonder Boy) está congelado, os habitantes do templo dos ventos foram diminuídos por um feitiço poderoso, e os habitantes da cidade pouco a pouco começam a enlouquecer. Até mesmo a rainha, que se tornou sua grande amiga, é corrompida pelas trevas. Alguns plot twists legais denotam o porquê de certos personagens terem sido afetados e outros não, mas quero que joguem para descobrirem sozinhos…

Algo que me chamou bastante atenção em Monster World IV é como ele parece ter vindo dos anos 2000, não de 94. Ele devia estar em um GBA! Tanto os gráficos quanto gameplay e identidade visual parecem muito modernos para a época. O menu de save, as muitas animações da Asha, a progressão da história, algumas musiquinhas, os title cards de capítulos sempre que você entra em uma área nova… isso grita anos 2000, e pouco se parecem com os jogos de plataforma da época, seja da SEGA, Nintendo, Capcom ou Konami.

Todos os Wonder Boys são difíceis, por vezes até meio injustos. Era comum isso na época! Mas de alguma forma, esse é bem desafiador mas nunca comete qualquer injustiça. Ele tem poucos saves, sim, mas são todos muito bem posicionados. Você vai morrer bastante nas seções de plataforma, mas aprender elas é bastante natural. Os chefes podem ser bem irritantes de início, mas quando você tenta uma vez ou outra, já entende seus padrões. Não que os outros jogos da franquia sejam completamente injustos, mas eram feitos de uma forma diferente. Monster World IV é algo que você encontraria nos tempos atuais!

Também é um jogo que recompensa bastante sua exploração, com dinheiro, barras de ouro, upgrades de vida ou itens consumíveis em todo lugar. É comum em jogos do tipo, eu sei, tanto Zelda como Metroid são assim, mas encontrar todos os coletáveis é bem mais viável nesse comparado a outros jogos da época. Não é um jogo “baby mode” se é o que tá parecendo, ele é apenas muito acessível. Acessibilidade dessa forma não era um assunto tão relevante na época, pois os videogames tinham acabado de nascer!

Terminei Monster World IV morrendo diversas vezes, mas nunca senti que não conseguia passar de alguma parte do jogo. Me diverti em todas as dungeons, em todos os diálogos e dava risadinhas batendo os pés na cama sempre que a Asha fazia qualquer coisa. Ela é adorável! E todo o jogo é muito bonitinho também.

Não sei por que essa análise ficou tão caótica, mas acabou saindo assim naturalmente. É um jogo que me marcou bem mais do que eu achei que iria na sua curta duração, e acho que você também vai amar ele se decidir dar uma chance. É bem curtinho, fofo, divertido e é uma experiência inesquecível, por mais simples que seja. Obrigada e boa noite!
