Bom dia maninhos! Para a felicidade de mim e eu, lançou mais um jogo de Tartarugas Ninja nos últimos tempos e eu fui obrigada a jogar, é claro. Teenage Mutant Ninja Turtles: Splintered Fate é o grande lançamento da Super Evil Megacorp (nome insano), e é um ROGUE-LIKE… ou, bem, uma das variações mais fáceis. Quatro áreas, oito bosses por run, e a cada sala você muda seu membro da família a fim de criar builds únicas. Uma premissa interessante demais pra deixar de lado!
Acontece que enquanto Leonardo estava treinando, o Mestre Splinter havia sido raptado por um inimigo misterioso (que acreditamos ser o próprio Clã do Pé). Para salvar seu amado pai, os quatro irmãos precisam participar de um sádico jogo organizado por um homem desconhecido. As regras do jogo são simples – vença os inimigos, chegue no final, receba um troféu. O último troféu será o Mestre.
Splintered Fate é um jogo com clara inspiração em Hades. É, não queria começar a análise assim, mas é tão fácil de notar que fica difícil não ambientar desse jeito. A perspectiva top-down, o estilo dos diálogos e personagens, o combate, os golpes dos inimigos sendo todos anunciados por alvos e todo tipo de efeito visual colorido… tudo em um pacote muito específico, no mesmo gênero de Hades. Ah, tem mais uma coisinha que logo mais vou falar sobre… mas não é justo falar sobre um jogo pelo que ele se inspira. Só deixo claro: se você gosta de Hades, dá uma chance.
O combate utiliza quatro botões. Estou na versão de Switch, mas explicando os botões de um jeito mais familiar: no Quadrado você ataca, X desvia, Triângulo usa seu ataque especial e no Bolinha sua tartaruga ativa uma ferramenta, a qual pode ser trocada durante a run. No começo você escolhe sua tartaruga, ou múltiplas caso esteja jogando Multiplayer. Além do seu golpe especial e ataques normais únicos, elas também começam com uma ferramenta diferente e com suas “Inspirações”. A do Michelangelo, por exemplo, aumenta o range dos seus golpes e adiciona chance de “multi-hit”. Essas inspirações podem ser adquiridas pelos outros irmãos durante a run, mas cada tartaruga começa com as suas duas.
Leonardo e Michelangelo são os balanceados – Leo foca mais em um inimigo, Mikey em múltiplos (dando menos dano, é claro… mais ou menos). Donatello e Rafael são os mais extremos – Rafa ataca um inimigo com muita força mas quase não consegue lidar com multidões. Donnie não tem dificuldade com muitos oponentes, mas causa muito pouco dano, fazendo de lutas contra um único inimigo mais difíceis. Adicionalmente você pode ver Donatelo como um escudo (até porque a ferramenta dele é um), e Rafael é o machado, pronto pra quebrar tudo. Isso é bem representado pela sua ferramenta inicial, a Turtle Line, que puxa inimigos para perto dele ou a si mesmo para perto de bosses.
Honestamente eu joguei demais pra ter favoritos. Eu… meio que me acostumei com todos, eu vou ter os mesmos resultados com qualquer um. Então, eu só posso dizer que minha Tartaruga Ninja favorita é o Rafa e dizer que prefiro jogar com ele. Assim que você escolhe um irmão, pode começar uma run, e falemos do combate que é o foco do jogo. Seus ataques normais são rápidos, e cada acerto carrega um pouco mais suas outras habilidades. Os especiais não demoram pra voltar, normalmente só precisa acertar uns quatro golpes. Suas ferramentas variam, no entanto. Leonardo pode usar dois especiais! Seu golpe final do combo causa mais dano que os outros, mas também é o mais lento. Você pode cancelar qualquer ação em Splintered Fate com um dash, que funciona como um desvio. Os dashes tem invincibilidade curta e precisam ser recarregados (isso leva apenas um segundo), mas são sua maior arma no jogo inteiro. Também tem dash attacks, que são melhores ou piores dependendo da tartaruga. Leonardo acerta inimigos atrás e na frente, sendo uma útil maneira de desviar para trás de oponentes e continuar sua ofensiva. Mikey dá um mortal girando super foda com muitos hits, sendo meu dash attack favorito. Os outros dois irmãos não são tão bons nesse quesito – Rafa apenas dá uma estocada demoradinha, enquanto Donnie precisa pular bem alto pra dar um Quick Blitz em um único oponente. Mas nenhum golpe em Splintered Fate pode ser medido pela sua efetividade singular – afinal estamos falando de um rogue.
A cada sala você pode escolher uma de diversas recompensas. Pode ser um dos três tipos de dinheiro do jogo (dois são permanentes), uma pizza, um boost temporário (costuma durar quatro salas), uma nova ferramenta ou… Turtle Powers! Turtle Powers sempre seguem um elemento. Alguns elementos são mais fáceis de entender, outros não. Água é só água, Ultrom é eletricidade, mas Astral pode ser tanto luz quanto sombra, e se você escolher um não poderá ter o outro nessa run. O elemento “Maestria” é mais geral, apenas te dá habilidades muito boas que podem até envolver outros elementos. Também tem o elemento Ninja, Chamas e Gosma (veneno), além das inspirações. Nessas recompensas também pode aparecer a oportunidade de evoluir uma das suas Turtle Powers!
Enfim, diversos desses poderes não são passivos. Alguns vão ativar quando você toma uma ação, como usar o último hit de um combo, dar um dash (ou dash attack), usar seu Special/Ferramenta… por isso, cada golpe é importante. Se seu finisher causar dois níveis de Gosma e ativar Light Shell por dois segundos (invulnerabilidade à projéteis), mesmo que seja lento, você vai querer acertá-lo. E olha, existe uma pequena regra em Splintered Fate que permite que você o faça quase sem dificuldades. Inimigos são stunnados quando você ataca, e podem ser atacados até morrer. Os bosses ou inimigos com escudo, no entanto, não são assim. Escudo é uma barra de vida a mais que, além de mais difícil de tirar, impedem o stun que você causaria ao atacar. Esses são os inimigos mais difíceis de enfrentar, pois podem te atacar mesmo enquanto você os golpeia.
+Leia também: Fear & Hunger — os altos e baixos da Dark Fantasy | Análise
Então talvez você note que existe uma boa nuance em tudo no combate do jogo – Rafael pode não ser bom com multidões mas ele ataca mais rápido e mais forte um único inimigo. Perfeito para trucidar oponentes armadurados, sem ser acertado por ser lento demais. Você também pode conseguir um upgrade que aumente o dano causado à escudos, ou a possibilidade de desviar aleatoriamente à ataques, ou Light Shell quando você dá dash a fim de te defender de ninjas e seus shurikens… e tudo é uma troca. Se você vai pegar uma Turtle Power como recompensa, não pode se curar, ou conseguir dinheiro para a loja, ou trocar de ferramenta, ou upar as habilidades que você já tem… e ainda precisa escolher uma das Turtle Powers se decidir por elas, sabendo que talvez nunca mais veja (nessa run) as que você rejeitou. Essa é a parada legal de roguelikes – é sorte, mas também são escolhas. Você joga com as cartas que te dão, mas você decide quais pegar. E então acha maneiras efetivas de usar tudo que você sacou do baralho em meio ao combate frenético que só uma Tartaruga Ninja é capaz de enfrentar.
E tudo isso envolto em um lindo laço – a música e escrita. Tá bem, as músicas enjoam depois de vinte runs escutando elas, mas são extremamente boas e muito memoráveis. E a escrita não deixa a desejar. Até mesmo as falas vergonhosas e piadas ridículas das Tartarugas são um colírio para os olhos e música para os ouvidos. Os diálogos são, além de práticos e dinâmicos, muito bem feitinhos. Cada personagem esbanja personalidade, até pela dublagem maravilhosa de Splintered Fate. A história ainda gosta de se situar como uma nova experiência para as tartarugas, com desenvolvimento para todas elas no meio da história (apesar de simples), piadas recorrentes referentes ao próprio jogo (a rixa entre o Rafael e o mercador, por exemplo), e a personalidade única de cada rosto familiar é bastante fiel. Isso fica claro com as tartarugas e Splinter, que além de engraçadinhos conseguem ser profundos e fáceis de se identificar… como as Tartarugas Ninja SEMPRE devem ser. E como eu mencionei a dublagem, vale dizer que ela é um dos pontos mais fortes. Todo mundo recebe a voz de incríveis profissionais que encapsulam tudo que os personagens são com as cordas vocais. Em especial quero apontar para Yuri Lowenthal como Mikey e Roger Craig Smith como Rafael. É, o SONIC. E digo mais – a voz que ele deu pro Rafa me fez imaginar como seria se ele dublasse o Knuckles. Ele é um ótimo dublador, com um maravilhoso voice range. É fácil perceber que é o Roger quando Rafa ataca, mas quando ele tá falando? É outra pessoa. Esse é o Rafael.
Mas nem tudo são… uhh, eu já disse isso muitas vezes em muitos textos. Que outra expressão seria menos repetitiva? Bem, Splintered Fate me divertiu muito e eu considero ele um jogo muito bom, mas nossa, ele tropeça bastante, tá. Esse é mais um lançamento cheio de glitches insanos e impossíveis de não ver – boa parte visuais, mas crashou comigo duas vezes e alguns glitches envolvem gameplay. Ainda assim, nada realmente alarmante. Meu problema com Splintered Fate é de design, não técnico. Se vocês jogaram Hades talvez tenham se deparado com o dilema do final verdadeiro… que pede seis runs vitoriosas. Bem, quando eu disse que esse jogo é Hades, eu falei sério. São oito runs, oito batalhas vitoriosas contra o Destruidor, a fim de finalmente terminar a história.
Já começa que essa é uma ideia horrorosa. Não passa de uma maneira ridícula de estender o jogo e olha, eu até entendo duas runs, tá? Assim que você vence o Shredder, portais diferentes abrem pela jornada. Estes deixam o jogo mais difícil a fim de te dar melhores recompensas. Com conteúdo novo na segunda run, eu concordo com a existência dela. Senti que bosses ficaram mais difíceis também, o que é fácil de notar quando Leatherhead vem acompanhando dos sapos punks agora. Mas ainda assim… as runs são praticamente iguais. E oito é sacanagem. Eu tava exausta quando matei o Destruidor na terceira vez, oito vezes é de foder mesmo. Nenhuma run fica mais difícil – muito pelo contrário! Por conta dos buffs permanentes e da familiaridade com as únicas quatro áreas de Splintered Fate, fica cada vez mais fácil. As minhas últimas runs vitoriosas foram um win streak de cinco vitórias. Isso significa que após derrotar Shredder pela terceira vez, eu nunca mais morri no jogo. Nunca mais! Isso é bizarro!!
E sabe, eu ainda tava disposta a relevar. É um rogue-like né, cada run é diferente e tal… bem, não é, mas não é esse o caso. O problema é que a oitava run, a última, le grand finale… é igual a todas as outras. 100% igual, na verdade. O jogo hypa o vilão final misterioso com tudo que pode, e assim que você vence o Destruidor você… não luta com ele? A história de Splintered Fate não tem um final. Você salva o Splinter e as Tartarugas voltam pro esgoto com uma pulga atrás da orelha. Quem é o cara misterioso? O que o prefeito Stockman tem a ver com tudo isso? Quem é o mercador ou a voz que fala na nossa cabeça? Nada é explicado, porque eles falam que “o jogo não acabou”. Bem, ele acabou, claramente. Não tem mais nada depois disso, eu pesquisei muito pra confirmar e todo mundo diz isso, o jogo acabou. Sem créditos, sem último chefe, sem cerimônia. Apenas oito runs iguais vencendo os mesmos inimigos e acabando com o mesmo oponente no final, pra nem sequer saber o final a história.
Eu vou ser sincera, eu sinto que me passaram a perna. Não pela compra (não comprei e tal, recebi key) porque é um bom jogo e me divertiu, mas porque investi MUITO tempo nele. Tempo demais, tempo que eu queria estar fazendo outra coisa. Não só queria, mas precisava fazer outra coisa. Eu podia ter escrito esse texto já na quarta run terminada, ou até antes, porque teve muitas runs que eu cheguei perto do final e morri. Jogar mais quatro vezes não adicionou nada na minha opinião sobre a experiência… na verdade, manchou ela. Eu fiquei exausta, irritada, e terminei Splintered Fate decepcionada que não recebi absolutamente nada por todo esse esforço. Um esforço que não era sidequest ou coisa de coletar coisinha, eu sou muito fã dessas, mas sim obrigatório pra “zerar” o jogo. Zerar entre aspas, porque a história não chegou nem perto de um final e eu não enfrentei um último chefe. Eu não tive o mínimo de dificuldade com o Shredder nas últimas quatro vezes que esmaguei ele. Não tive dificuldade com as runs em geral depois de um tempo, e cada vez ficava mais fácil. Meu objetivo se tornou pegar o máximo de moedas que eu pudesse pra quando voltasse pro esgoto eu podia deixar meus personagens fodões pra chegar mais rápido ainda ao final. Até porque o único jeito de eu ter dificuldade agora era NÃO PEGAR upgrades daqui pra frente.
E olha, eu ainda me resguardei. Como o Leonardo mesmo disse: “estamos ficando muito convencidos”. Eu acreditei em você Leonardo, e por isso apliquei buffs e compras em coisas que me ajudariam à longo prazo caso tivesse um super boss fodão no final (que eu tinha CERTEZA que ia ter). Certeza é pouco, é o que DEVERIA ter. Todo jogo tem. É o mínimo, e a história me apontava pra isso. Pois não teve. Sei lá, cara, eu tenho mais o que fazer, sabe? Se fosse pra me esforçar tanto, que pelo menos fosse um final legal que renderia uma ótima análise. Eu prezo pela arte, então não poderia fazer um texto incompleto, mas pai amado, eu fiquei exausta demais por nada. Mais valia pesquisar a luta final do Shredder em cada uma das runs consecutivas pra ver a cutscene que viria… e aí ficar puta por descobrir que não tinha nada no final. Mas, aí, eu não teria que fazer todo esse trabalho sem sentido.
Tô esculachando total o jogo agora, mas ainda recomendo jogarem. Ele é MUITO divertido, EXTREMAMENTE divertido nas primeiras runs, e vencer Shredder ao menos duas vezes vale à pena, se você aproveitar as coisas novas da segunda run. E, além disso, eu recomendo demais o multiplayer, que apesar de não ter jogado muito (não tive oportunidade), ainda deu pra ver um pouco e eu adorei o que vi. Só que zerar oito vezes o mesmo jogo sem mudanças? Não, isso aí já é demais.
PUBLICIDADE ☁️ – Adquira também a Teenage Mutant Ninja Turtles: The Cowabunga Collection através da Nuuvem!
Uma cópia gratuita de TMNT: Splintered Fate foi concedida para a análise do Recanto do Dragão, na plataforma Nintendo Switch.