Por mais que todo gênero de jogo tenha suas próprias especialidades e regrinhas à serem quebradas e por vezes até seguidas, o RPG digital sempre foi o que mais me fascinou.
Eu não tive uma grande experiência com as histórias do gênero quando era menor por ainda não entender inglês na época. As paredes de texto e diálogos pessoais passavam reto pela minha cabeça, que no fim das contas desenhava minha própria visão dos acontecimentos dos poucos RPGs com quais eu realmente interagi na infância. Mesmo assim eu achava a diversão em meio ao caos. Consegui chegar longe no Kingdom Hearts II inventando meu próprio absurdo contexto e sem saber nem equipar habilidades por estar jogando a versão Final Mix em japonês.
Porém, nos últimos anos, venho jogando mais e mais RPGs de todos os tipos, principalmente os japoneses. Já formei e quebrei diversas concepções que eu tinha com os que terminei, mas ainda quero ganhar mais experiência, e ao mesmo tempo compartilhar minha jornada. Por isso começei o projeto “Ode aos RPGs” que detalharei nesse texto! Vamos começar definindo um RPG para esse projeto…
…Ou não exatamente. Ao definir um gênero, gosto de deixar as bordas bem abrangentes. Especificidade é pra subgênero, e olhe lá. Não vejo motivo de limitar o termo apenas aos jogos com maiores escopos, múltiplas escolhas de classe e playstyle, e outras coisas do tipo. Prefiro aderir à uma mistura do senso comum em volta das definições de cada jogo (que muitas vezes é o que fica representado numa página de Wiki feita por fãs), e quando isso falha vou para entrevistas com desenvolvedores ou blurbs de marketing oficiais.
Então vale quase tudo, e isso é bom! Por que? Bem, esse é um experimento, e quanto maior a amostragem, melhor! Montei uma lista com mais de 300 jogos que inclui todo RPG que eu nunca zerei mas possuo interesse. Nem completa ela está, porque ainda falta uma quantia imensurável de jogos para eu descobrir no caminho! Ao retirar minhas escolhas dessa lista com um certo senso de direção em mente, irei escrever sobre tudo que acabar jogando dela. Não estou prometendo trezentas e poucas análises, mas vamos dizer… umas XVI inicialmente. Parte do lineup já foi decidido, inclusive.
Essa jornada vai ser dividida em “arcos” de tantos em tantos jogos separados por algo que lembra um fim de temporada. Cada um dos textos que eu terminar vai ser linkado nesse texto (como um master post) também.
A ideia desse projeto foi inspirada por três outros em específico. Detalhá-los vai nos dar uma perspectiva maior de onde quero chegar com a minha própria.
1- RPG Quest por Landail — O canal do Youtube de Landail é a casa da RPG Quest, onde ele busca zerar todo RPG lançado oficialmente em inglês para consoles em ordem cronológica. Parece uma missão impossível, mas seis anos e mais de 374 jogos depois, ele segue firme e forte em sua jornada (ele já chegou no PS2!). Landail oferece comentário constante em suas livestreams que apresenta o gênero de forma mais descontraída para o público.
2- CRPG Book por Felipe Pepe — Este projeto descomunal realizado por 145 voluntários que traça a história dos RPGs de computador, desde os mais famosos até os mais obscuros e esquecidos, esteve em produção por cinco anos antes de ser lançado em 2019. Alguns dos melhores textos sobre estes jogos residem neste livro e neste caso conseguem entreter tanto quanto ensinam. Uma versão atualizada foi lançada em 2022.
3- The Impossible JRPG Marathon por Blah_bee — 250 JRPGs. O cara vai terminar 250 JRPGs inteirinhos. Assim como Landail, Blah_bee também está há seis anos nessa jornada. Toda hora que completa um jogo, Blah faz uma pequena dissertação sobre a experiência enquanto aumenta seu repertório exponencialmente. Os textos são diretos e relativamente formais, mas ainda assim buscam destilar os pensamentos do autor fora do contexto de apenas um jogo por vez.
Ok. Esses três projetos vêm me divertindo bastante nos últimos meses. Aprecio eles por suas qualidades únicas e maneiras diferentes de apresentarem suas relações com RPGs. No meu caso, gostaria de misturar o estilo casual com cara de papinho de minha escrita ususal com um laço histórico mais aguçado, com o intuito de atender minha vontade de conhecer melhor o gênero tanto pesquisando extensivamente sobre cada jogo (na medida do possível) quanto cedendo às minhas próprias perspectivas não convencionais sobre jogos.
Traçar um caminho entre o que sabemos estar lá e o que acredito estar no meio. Uma visão holística acobertada por história. Um monte de baboseira??
Este é um dos motivos pelo qual escolhi considerar apenas os jogos que pessoalmente me interessam, sem considerar vários dos jogos mais amados ou importantes históricamente simplesmente por não me parecerem tão interessantes; mesmo que tenha algum crossover entre meu interesse e o fator histórico de alguns. Ah, tinha esquecido de mandar a minha lista de jogos à serem considerados inclusive. Ela está aqui.
Para começar, irei escrever sobre o Phantasy Star de Master System, em honra da memória de Rieko Kodama. Pouco depois, também escreverei sobre Labyrinth of Galleria: The Moon Society. Daí pra frente deixarei os jogos como surpresa!
Quero muito poder entender as inúmeras faces de cada RPG. Quero apreciar os mais obscuros como Towelket e Amberstar. Quero saciar minha curiosidade sobre títulos odiados como Virtual Hydlide e Mass Effect: Andromeda (parece ser melhor que a trilogia inicial, ao menos). Quero pagar meus respeitos aos clássicos imortais como Chrono Trigger e Deus Ex. Quero sentir a estranheza e inovação de obras como Planet Laika e Baroque. Quero me divertir com a simplicidade de Ys IV: The Dawn of Ys e Brave Fencer Musashi. Quero presenciar o pioneirismo de Wizardry I e o brilho moderno de Dragon Quest XI. Quero ver RPGs sem combate brilhando tanto quanto os que esbanjam os sistemas mais complexos. Quero ver as convenções de jogos ocidentais e orientais mesclando, erodindo e se reconstruindo. Chegar ao pico do gênero, mas também descer até o mais solitário vale.
Eu quero conhecer o RPG, ou pelo menos parte dele. No pior dos casos, ao menos contribuir algo para a discussão.
Abaixo estão os XVI primeiros textos da Ode aos RPGs. Vou atualizando esta parte conforme os termino:
I – SEGA AGES Phantasy Star — o passado retorna ao presente
II – Labyrinth of Galleria: The Moon Society — ao luar e ao sol | Análise
Aqui estão todos os textos sobre RPGs que fiz no passado pro Recanto, que podem ser considerados prelúdios desse projeto:
Recomendação da semana: OFF (30/01/2021)
Monster Hunter Rise falha onde mais importa | Análise (20/05/2021)
Ys IX: Monstrum Nox reescreve o JRPG | Análise (16/07/21)
COPPER ODYSSEY é um RPG excêntrico que merece seu tempo (02/08/2021)
Andando pelo Apocalipse — A navegação de Fallout: New Vegas (24/08/2021)
Kingdom Hearts: Chain of Memories — uma breve retrospectiva (17/01/2022)
Pokémon Legends: Arceus — livre entre eras | Análise (02/03/2022)
Crystar — em uma prisão invisível | Análise (27/03/2022)
Final Fantasy II Pixel Remaster — uma breve retrospectiva (09/05/2022)
The Cruel King and the Great Hero — retraçando dois caminhos | Análise (12/05/2022)
Dragon Quest V: Hand of the Heavenly Bride — o tempo é inevitável (16/07/2022)
Rhapsody: A Musical Adventure só quer te fazer sorrir | Análise (26/08/2022)
This Way Madness Lies — caos Sailor-Shakespeariano | Análise (07/11/2022)
Samurai Maiden — puros batimentos | Análise (10/12/2022)
Quest 64 — o incrível JRPG que nunca teve chance (28/01/2023)
Olha, XV textos! Esses textos variam muito em abordagem e qualidade, mas tenho orgulho de todos. Eles foram o primeiro passo, mas agora posso arranjar desculpas para escrever sobre mais e mais RPGs sem medo de ser feliz.
Até o próximo texto!