No meu texto de Dynasty Warriors: Origins, eu destaquei alguns dos meus fascínios do gênero musou, mas não tentei solucioná-los naquele momento. Eu não esperava que, durante o meu processo de jogar e analisar Origins, seria anunciado um outro jogo Warriors pela Koei Tecmo como shadowdrop… tão pouco que seria um roguelite meio que inspirado em Hades. Então, antes de desvendar o musou, venha conhecer e entender comigo o que faz Warriors Abyss ser o que ele é.
WARRIORS: Abyss é um jogo do pseudo subgênero roguelite e também do pseudo subgênero musou, desenvolvido por um estúdio interno da Koei Tecmo e publicado pela mesma em 12 de fevereiro de 2025. Disponível para Playstation 4 e 5, Xbox Series S|X, Nintendo Switch e PC.
É importante entender o escopo de WARRIORS: Abyss, afinal, ele é um videogame um tanto básico e sem decoro. Isso é bem perceptível com o uso de assets de Warriors anteriores. Isso sequer é um problema. Produzido por Kotaro Hirata (Wild Hearts), WARRIORS: Abyss foi seu segundo pitch de um roguelite que se adequasse aos padrões que a Koei Tecmo entendia como um videogame interessante de se ter em seu catálogo. O que eu quero dizer com isso é que lançar um jogo em um estilo que está em ascensão do cenário indie do exterior não é o tipo de ideia mais convencional em complexos industriais japoneses de jogos eletrônicos. Então, WARRIORS: Abyss chacoalha essas convenções.

Com inspirações claras ao tipo de roguelike polido ao extremo popularizado nos últimos anos com Hades e Slay the Spire, Abyss tem a cruel missão de engatar fãs de musou com os fã dos exageros de um roguelike. Neste sentido, acredito que essa missão tenha sido cumprida com uma eximia decência na tentativa de saciar dois públicos que não se conversam de uma forma tão direta.
Enquanto musous contemporâneos se deleitam no conforto em suas facilidades e esquematizações muito bem definidas do “fazer” e “como” o fazer, roguelikes chegam no mesmo objetivo, mas numa busca mais hiperbólica e cabeçuda de repetir as mesmas ações em busca de resultados que te apeteçam mais. Demora, mas depois de algumas dezenas de horas Hades realmente se torna um jogo confortável… mas demora!
Colocando os Ás na mesa, a proposta é simples: nas profundas camadas do inferno, você acompanha um PNG ambulante não-binário chamado Enma; ele é o governante do submundo e precisa da sua ajuda para derrotar um mal ancião chamado Gouma. Neste meio tempo de abismos, ele brinca de ser tsundere e te trata carinhosamente mal.

Apesar do jogo te introduzir como Zhao Yun, depois do pequeno tutorial algumas figurinhas carimbadas de Dynasty Warriors e Samurai Warriors já vão estar disponíveis para você. Não só eles mas, ao decorrer da exploração daqueles mapas hostis, cada um dos mais de 100 personagens disponibilizados estarão aptos a te acompanhar nessa pequena guerra pessoal.
Explore o máximo que conseguir do inferno, acumule dinheirinhos, compre heróis de guerra que também trazem atributos permanentes que te deixam cada rodada mais potente. Eu chego até a te recomendar, como foco de pelo menos suas duas primeiras rodadas, a aprender a jogar e acumular dinheirinhos para comprar mais guerreiros. Afinal, é com eles que você vai conseguir sua verdadeira potência.
A cada rodada terminada você recebe uma recompensa, na maior parte do tempo será um gacha de heróis; você pode escolher um entre três personagens lendários. Escolha aquele que tem mais compatibilidade com seu herói e ele vai fazer parte de sua constelação de habilidades…

Suponha comigo que você colocou Sun Jian no seu terceiro slot: Se você realizar um combo de quadrado, quadrado e finalizar com triângulo pressionado, Sun Jian é invocado e vai atacar os seus oponentes com uma habilidade especial. Essa é a essência da jogatina aqui; acumular o máximo possível de personagens que conversem contigo e constantemente invocá-los para o campo enquanto alterna entre golpes musou e a habilidade especial máxima que chama todo mundo para briga. Cada área tem oito andares e um boss. É aí que mora todo o ciclo de funcionamento deste jogo em que uma run dura mais ou menos uma hora.
Ok, ok, talvez você não tenha tanto carinho com roguelikes, mas pelo menos entenda um pouco de Warriors, consigo deixar isso mais claro e compreensível para todo mundo: No começo do jogo, priorize adquirir generais lendários e membros de sua família. Suponha que o personagem da vez seja Oda Nobunaga. Tente correr atrás de conseguir membros de seu clã e insista e nos rerolls dos Gachas para consegui-los. Cada membro vai te dar mais 7% de poder de ataque, além das passivas que vão naturalmente se relacionar.
Aí, aí. Minha cabeça tá doendo e eu não quero pensar.
TÁ TUDO BEM.
O jogo organiza quase que tudo em forma de DPS. A maior parte do tempo você pode se tutelar para conseguir o maior exponencial de dano a partir deste quantificador. Você vai definitivamente perder algumas das dinâmicas de passivas e habilidades mais específicas como as que eu que acabei de apresentar, mas na maior parte do tempo é bem fácil se safar e chegar longe com técnicas básicas e puro dano.

Mais do que um bom jogo nesta vibe, WARRIORS: Abyss me parece uma escolinha com questões de múltipla escolha em como abordar este tipo de gênero. Um convite formal e carinhoso para todos que conhecem qualquer Warriors se abrirem para algo que esteve preso no eixo indie-ocidental por muito tempo. Claro que na luta de andar entre dois caminhos, eu entendo WARRIORS: Abyss como quase exclusivamente um jogo ao estilo Hades, mais do que necessariamente um MUSOU na sensação de guerrear.
Conforme o número de oponentes vai aumentando, o gerenciamento de espaço se torna algo bem mais ligado à ideia de bullet hell com a necessidade de tentar prever os comandos de cada um dos seus inimigos principais. Só manter seus olhos ligados na tela é o suficiente para escapar de quase tudo. Claro que as hordas estão organizadas à espera de serem implodidas por você, a não ser que o jogador demore uma eternidade para atacar, o que é uma coisa do musou contemporâneo.
Mas não espere uma sensação tão parecida com a hostilidade e manuseamento do próprio corpo como os primeiros Dynasty Warriors e mesmo alguns momentos intensos de Dynasty Warriors: Origins.

Depois de um tempo e de tantas figuras históricas maquiadas e potencialmente demoníacas na vida real, vencer com generais apelões se torna mais um exercício de paciência do que realmente dificultoso. Por razão disto, os escalonadores de dificuldades ajudam na sua personalização. Mas, com o seu conhecimento aprofundado, tentar vencer cada um dos chefões munido de seus personagens favoritos que não são necessariamente os mais poderosos e lendários da franquia é a atividade que demonstra o potencial quase ilimitado deste jogo.
Talvez faça sentido derrotar algo pior do que o diabo usando o… Dong Zhuo?
Só não espere que esse potencial ilimitado consiga raspar no limiar dos seus roguelites favoritos — não vai ser o caso. Como não sou fã assíduo deste gênero, eu me encontrei de bucho cheio, mas tenho plena certeza de que este caso não vai ser tão generoso com aquele que busca um rogue para chamar de seu. Não enxergo atualizações frequentes e os únicos conteúdos adicionais são 500 reais… em roupinha. Eu te garanto que dá pra arranjar bastante jogo parecido com esse dinheiro.
