Devil May Cry 5 é um retorno estiloso, eletrizante e demoníaco à franquia

Capa de Devil May Cry 5. Fonte: Capcom / Divulgação

Finalmente, após 10 anos de hiato da franquia de Demônios contra Emos (o reboot não conta “nem em um milhão de anos”), a Capcom voltou em chamas e da forma mais triunfal possível com Devil May Cry 5.

Junto de Resident Evil 2 Remake, outro sucesso enorme de vendas e críticas, Devil May Cry acaba se saindo até melhor em questão de notas, pegando muitos 9 e 10 nas primeiras semanas de lançamento.

Nesse jogo, finalmente temos a história de Nero aprofundada, e podemos ver os antigos personagens em toda sua potência na nova geração de consoles com a RE Engine (Resident Evil Engine), desenvolvida para Resident Evil 7 e utilizada em todos os jogos da franquia desde então.

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História

O prólogo da história de Devil May Cry 5 é contado através do mangá Before The Nightmare, onde vemos o último encontro entre Nero e Dante em Devil May Cry 4, e que também revela como foi o primeiro encontro entre Nero e a artesã Nicoletta Goldstein (Nico, para os íntimos).

Os dois não se dão bem de início, mas Nero (que agora mora com Kyrie) acaba criando uma amizade com a engenheira maluca. Nico revela que era filha de Angelo Agnus, o demônio-besouro e alquimista do grupo A Ordem, os antagonistas de DMC4; isso considerando que Agnus foi morto por Dante em um… “combate“.

Nico e Nero então se juntam para criar sua própria Devil May Cry, corporação de caça-aos-demônios com base no “DMC-Móvel”, uma van com um letreiro do nome da empresa em neon azul.

Van de Devil May Cry 5. Fonte: Capcom / Divulgação
Fonte: Capcom / Divulgação

Ambos eventualmente se deparam com a invasão da Árvore da Morte, Qliphoth (que é o contrário da Árvore da Vida), numa cidade chamada Redgrave. Então, o agente de Dante conhecido como Morrison junta ele com Nero, Lady e Trish para realizar o contrato de um homem misterioso, V, que os pede para impedir que “um demônio perigoso, o rei do inferno: Urizen“ destrua o mundo.

Ao longo do jogo, vemos as piadinhas de Dante, a rebeldia de Nero e a sabedoria de V sendo desenvolvidas em um combate com escala de nível Vingadores: Guerra Infinita. Ao longo da história, temos várias referências aos jogos antigos da franquia, especialmente na reintrodução de inimigos.

O jogo abre com nossos heróis de longa data tomando uma bela de uma surra, além de Dante desaparecer logo após entrar em combate contra Urizen em algum lugar da árvore.

Urizen, o Rei Demônio. Fonte: Capcom / Divulgação
Urizen, o Rei Demônio. Fonte: Capcom / Divulgação

É uma pena, e é algo que já vou pontuar para vocês, que muitos personages (como Lady, Trish, Kyrie, Morrison e até a Nico) são subutilizados na história, não tendo aparições relevantes ou marcantes o suficiente fora algumas poucas cutscenes.

Dito isso, o Enredo foi definitivamente algo deixado um pouco de lado para favorecer a Gameplay e Trilha Sonora do jogo.

Gameplay

Ok, essa parte vai ser provavelmente a mais extensa. Temos o combate de Nero, Dante e V, que possuem três estilos completamente diferentes. Vamos começar pelo mais fácil:

Dante

Dante praticamente não mudou desde DMC4, com exceção de suas novas armas: agora, ele possui a Balrog, Cavaliere-R, King Cerberus e 3 versões da Rebellion, além das pistolas Ebony e Ivory, a escopeta Coyote-A, o chapéu cowboy que atira orbes vermelhos Dr. Faust (e que também serve pra farmar muitos orbes, nos lugares certos), além das famigeradas Kalina Ann I e II, sem contar na arma especial que Nico faz caso o jogador ache as duas (uma é escondida e não-obrigatória).

Antes que você pergunte, sim, você precisa de uma coordenação motora inacreditável pra entender o que faz com esse cara.

Dante lutando com a Balrog em Devil May Cry 5. Fonte: Capcom / Divulgação
Dante lutando com a Balrog em Devil May Cry 5. Fonte: Capcom / Divulgação

A Balrog é uma fusão dos ataques de Ifrit em DMC1, sendo manoplas de fogo, e da Beowulf de DMC3, com golpes de luz, sendo que a Balrog tem estilos alternados entre o modo de socos e o modo de chutes (e com direito a um maravilhoso ataque de BREAKDANCE FLAMEJANTE).

Já a Cavaliere-R é uma moto com poderes demoníacos que faz uso de ataques pesadíssimos e lentos, e que pode se dividir em dois para virar duas serras elétricas circulares.

A King Cerberus, que é uma versão melhorada da Cerberus de DMC3, possui ataques de nunchakus de gelo, de eletricidade, e um bastão de fogo. Por fim, também temos três variações de Rebellions diferentes.

Seus estilos e movimentos continuam muito similares aos do quarto jogo; as suas mecânicas apenas foram fortemente polidas e com um novo tipo de física menos “travada”, quando comparada ao do jogo antigo.

Avaliando tudo isso, dá pra facilmente admitir que Dante nunca parou de ficar mais e mais complexo na franquia, com muitos memes comparando sua jogabilidade com a de “pilotar um avião em altitude máxima sem saber o que $@%@&*$# cada botão faz no painel de controle”.

Nero

Com Nero, temos praticamente o mesmo combate fundamental de DMC4, mas com uma “pequena enorme” diferença: nos primeiros minutos de jogo, nosso protagonista tem seu braço demoníaco, o Devil Bringer, arrancado por uma figura misteriosa, que a transforma na Yamato (a Katana de Vergil) e usa a espada para fugir em uma fenda dimensional.

Nico então faz um suporte de metal para que ele possa usar 12 próteses diferentes, os Devil Breakers, cada um com sua função.

Seja ele o braço do Megaman ou uma manopla gigante igual o Devil Bringer de DMC4, ou até um garfo-foguete que fica furando os inimigos constantemente (e serve pra comer macarrão), os Devil Breakers são fantásticos e trazem uma enorme variedade à gameplay, sendo totalmente adaptáveis ao gosto do jogador e a cada combate e tipo de inimigo.

Nero lutando em Devil May Cry 5. Fonte: Capcom / Divulgação
Fonte: Capcom / Divulgação

Um dos braços de Nero, o Punch Line, pode até ser usado como um “foguete hoverboard” pra sair voando por aí, como se fosse um novo De Volta para o Futuro com um caçador de demônios emo.

Cada Devil Breaker possui um ataque fraco e um ataque carregado, que o destrói depois de usado, e o jogador pode apertar L1/LB para explodi-lo e escapar de ataques que o prendem (como especiais de chefões). Isso traz uma nova preocupação ao jogador: de “conservar braços” no cinto do Nero, assim como se conserva munição em jogos de terror ou similares.

Não, eu nunca pensei que ia falar pro jogador “conservar braços” como se fossem munição. Mas jogar com ele é muito mais divertido nesse jogo, e como dá pra notar, a enorme variedade de braços diversifica muito mais as estratégias que o jogador pode adotar em combate com o personagem.

V

Finalmente vamos ao misterioso, porém sábio, V. Ele tem 4 “armas” em combate, conhecidos como seus 3 “familiares demoníacos”: o Grifo (ou Griffon), Sombra (ou Shadow), Pesadelo (ou Nightmare) e sua Bengala.

V lutando em Devil May Cry 5. Fonte: Capcom / Divulgação
Fonte: Capcom / Divulgação

Griffon é um pássado-demônio falante, e Shadow é uma pantera-demônio, sendo que os dois eram bosses de Devil May Cry 1 e mascotes do rei-demônio Mundus, enquanto Nightmare é um golem gigante novo na franquia.

O combate é simples: com os ataques corpo-a-corpo, você controla Shadow; já com os ataques de longa distância, controla o Griffon, que dispara projéteis e orbes elétricos.

Cada um tem sua própria barra de vida, com seu conjunto de golpes específicos envolvendo dashes, knockups e outros, então vale a pena explorar para entender como cada um funciona na hora de fazer uma sinergia em combate. Caso o jogador deixe os demônios morrerem, eles ficarão paralizados em forma de orbes, carregando a vida de volta e se curando mais rápido se estiverem perto de V.

Ao usar seu Devil Trigger, V estala seus dedos para Nightmare cair como um meteoro, deixando os 3 atacarem sozinhos e ficarem invencíveis por um tempo, além dos raios e socos poderosíssimos do gigante de pedra.

Porém, temos um twist: os demônios familiares não conseguem matar outros demônios, apenas danificá-los, deixando-os pálidos. Para que eles morram, V deve executá-los com a Bengala, sendo esse o único jeito de matar inimigos, ou eles ressuscitarão caso o jogador demore muito.

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Visão Geral

O combate de Devil May Cry 5 pegou tudo do que os jogos anteriores trouxeram e poliu até o extremo, deixando o combate de Nero muito mais intuitivo, fluido, e mais fácil de aprender em geral, e Dante igualmente complexo e estiloso como sempre, além de V trazer uma experiência completamente nova (e um pouco difícil de pegar o jeito).

Até eu, que simplesmente odiava o Nero nas épocas de DMC4, passei a amar ele após os créditos do 5, também aprendendo a jogar muito melhor e com muito mais gosto que antigamente.

O jogo conta com diversos estilos e designs de inimigos trazidos de jogos anteriores, especialmente alguns exemplos de Devil May Cry 1 e 3 e outros designs de Bosses anteriores, mas fora isso a variedade de inimigos verdadeiramente novos na franquia não me pareceu marcante ou relevante o suficiente.

Contudo, isso não afeta na qualidade do combate, apenas na rejogabilidade do game, que em minha opinião é menor que a média dos jogos singleplayer da Capcom.

Três protagonistas de Devil May Cry 5.
Dante, Nero e V lutando juntos. Fonte: Divulgação / Capcom

Trilha Sonora

Temos de início um coquetel de 3 temas de combate: Devil Trigger para Nero, com um remix para o estágio final (Missão 20) chamado Silver BulletCrimson Cloud para V e, finalmente, Subhuman. As músicas são, felizmente, fantásticas e cheias de personalidade.

Curiosidade Inútil: Devil Trigger é a música que eu mais ouvi no Spotify desde 2018, o que é inacreditável… já faz mais de dois anos e ela ainda não saiu do topo da lista.

Devil Trigger traz aquele ar de intensidade, com pitadas de pop e um ritmo muito rápido, mostrando todo o potencial rebelde que Nero ganhou em combate ao longo de Devil May Cry 4. Até a música, além de seu novo corte de cabelo, demonstram como Nero se separou da imagem de “mini-Dante” que tinha.

Já V conta com seu tema Crimson Cloud, que possui uma pitada de heavy metal mais lento e metódico. Com vocal menos pop-rock, a música reflete a personalidade dualista e racional de V, destacando na letra alguns problemas de “dupla personalidade” que o personagem possui.

Esse lado do V ganha ainda mais ênfase quando o vemos ler e citar sem parar as poesias do escritor William Blake. A música também combina bastante com o estilo de combate mais devagar, metódico e complexo que ele tem com seus demônios-mascote.

Dante dançando em Devil May Cry 5. Fonte: Divulgação / Capcom
Fonte: Divulgação / Capcom

Agora temos a música de Dante, Subhuman… Muitos já devem ter ouvido falar: originalmente produzida por Suicide Silence e com vocais de Eddie Hermida, acabou sendo duramente criticada por fãs de longa data.

Muitos foram os motivos, mas o principal era de ser um “metal pesado demais e com vocais muito exagerados, até mesmo pra o Dante da era de DMC3″, dentre outras comparações.

É uma música bem-intencionada, mas a vida não perdoou: Eddie acabou, poucos meses após a música lançar, sendo investigado num caso de pedofilia, resultando em regravações da música com vocais de Michael Barr, que é a versão que temos agora.

A música foi refeita, mantendo a letra e a temática de Heavy/Death Metal, mas com vocais bem mais “aceitáveis”, apesar de obviamente continuar sendo bem pesado, provavelmente para contrastar com a agora nova personalidade de Nero.

A música, mesmo refeita, ainda possui tons de Heavy e Death Metal, muito provavelmente produzidas para contrastar a nova personalidade de Dante e de Nero, algo que muitos fãs pediam em DMC4.

Como um penúltimo parágrafo da Trilha Sonora, as músicas de todas as batalhas de chefões são impecáveis. Combinam perfeitamente com o personagem controlado e contra que tipo de chefe estão lutando, em questão do estilo visual e de combate oferecidos, minuciosamente complementando a atmosfera oferecida na arena e deixando tudo ainda mais intenso.

Trilha Sonora Dinâmica

Alguns combates infelizmente não possuem música nenhuma por conta da atmosfera mais séria que o jogo decide tomar, mas não é nada muito frequente.

Devil May Cry 5 agora também adota um sistema de música dinâmica: quanto mais alto seu ranking de estilo é (Dismal, Crazy, Badass, Apocalyptic, Savage!, Sick Skills! e Smokin’ Sexy Style!), mais acelerada e intensa a música vai ficando, se adaptando à habilidade do jogador e fazendo pegar o ranking SSS a coisa mais prazerosa da história dos jogos que já fiz na vida.

Nero com nota Savage em DMC5
Fonte: Divulgação / Capcom

Mesmo não sendo uma trilha sonora tão impecável e memorável quanto Devil May Cry 3, a música desse jogo continua sendo uma bola dentro do gol, que complementa e harmoniza perfeitamente na atmosfera do jogo.

Dentre todos os elementos de DMC5, possivelmente a Trilha Sonora e a Gameplay sejam realmente as mais fortes.

Gráficos

Para os desinformados, Devil May Cry 5 roda na RE Engine, motor gráfico criado pela Capcom com o intuito de criar jogos originais na empresa com qualidade fiel ao fotorrealismo (texturas escaneadas de objetos reais), além de trazer detalhamento extra ao gore, iluminação e cenários de fidelidade fantástica, animações faciais e até mesmo o famigerado 4k 60FPS que todo mundo sempre comenta sobre, sem comentar nos efeitos especiais.

É difícil não achar o jogo bonito. Salvo exceções de certas cutscenes com iluminação MUITO estranha, a maioria das cenas possuem efeitos como pelos de demônios e cabelos dinâmicos, destruição de cenários, explosões, tudo em alta qualidade, até mesmo para o padrão de jogos triple-A da geração atual.

A fidelidade visual continua igual até mesmo durante o combate frenético, fazendo algumas lutas e boss-fights insanamente coloridas e satisfatórias de se assistir, apesar de deixar alguns ataques mais difíceis de defletir ou desviar por causa dos efeitos especiais exagerados.

Devil May Cry 5 Special Edition com Ray Tracing. Fonte: Divulgação / Capcom
Devil May Cry 5 Special Edition com Ray Tracing. Fonte: Divulgação / Capcom

Em resumo geral, as notas de qualidade e fidelidade que o estilo e a arte visual de Devil May Cry 5 carregam são tão boas quanto o tão aclamado Remake de Resident Evil 2, sendo que ambos foram fortemente louvados pela qualidade de tudo que entregam.

Contando com alta qualidade sonora, gráfica e uma sensação de nostalgia mas ao mesmo tempo de renovação, a Capcom acertou em cheio no investimento de criar seu próprio motor gráfico, que além de fenomenal é muito bem otimizado para os consoles e PCs médios atuais.

A propósito, sim, você pode comprar Orbes vermelhos (dinheiro do jogo) e azuis (de vida) com dinheiro real, mas confia em mim, NÃO VALE A PENA e NÃO FAZEM DIFERENÇA, ainda mais com a arma Dr. Faust de Dante.

Conclusão

Devil May Cry 5 é estupendamente maravilhoso, em todos os sentidos analisados.

O jogo é estiloso, com uma música eletrizante e frenética, gráficos de cair o queixo (com vários recursos “reciclados” de RE7 e RE2, claro), e uma conclusão de fazer todos os fãs de longa data sorrir.

Esse jogo serviu como uma grande massaroca de “Fan Service”, trazendo muitos personagens reconhecidos na velha guarda e reformulados para a nova geração, e apesar de ser um jogo curto ele entregou tudo que prometeu no passado.