NOTA: “Final Fantasy II Pixel Remaster — uma breve retrospectiva” é um fragmento retirado da lista dos “125 jogos que eu zerei em 2021, ranqueados”, que talvez chegará em breve™ no Recanto do Dragão™™ .
Final Fantasy II é um clássico relutante. Até em seu oitavo remake, suas maiores peculiaridades continuam em evidência, como se nunca tivessem sido alteradas. Ele vai além de qualquer pretensão que o primeiro jogo tinha, mas o salto é tão ambicioso para sua época que alguns de seus inúmeros novos conceitos ainda são perceptivelmente crus.
Os personagens da party agora tem nomes predefinidos e até arquétipos de personalidades, por mais simples que sejam. A história recebe mais atenção, e passa uma melancolia dolorosa em cada momento chave. O combate recebeu uma completa repaginada, com mecânicas de nível mais “naturais”, ao menos em teoria. A lista continua.
As mudanças que Final Fantasy II faz permeiam em todas as áreas do jogo que não a sua sólida base estabelecida no primórdio da enorme franquia. Assim como é o caso de outro jogo, como Kingdom Hearts: Chain of Memories, é impossível ver como a franquia seria sem este título.
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Eu até arrisco dizer que sua narrativa é uma das melhores e mais bem contadas de toda a biblioteca do NES, de tanto que seus dramáticos momentos e conexões entre história e gameplay mudam a dinâmica do jogo.
De início, até o novo sistema de níveis não me incomodou, mas quanto mais tempo passei jogando esta sequência tão impressionante, mais difícil ficou ignorar esses seus empecilhos.
É difícil julgá-lo apenas por sua história, pois ela ainda consiste em apenas uma pequena parte da experiência. Como em qualquer outro Final Fantasy de NES, a maior parte do seu tempo será tomado pelo combate e exploração de múltiplas dungeons. Nesse caso, os dois podem gerar, até considerando seus inúmeros rebalanceamentos, algumas dores de cabeça.
É difícil imaginar o quão pior é o balanceamento da versão original de Final Fantasy II, pois, até com as acumuladas mudanças dos oito remakes presentes no Pixel Remaster, o grind é grande parte do que vai ficar colado na sua cabeça enquanto joga. O novo conceito de níveis foi executado de maneira imprática até em jogos mais recentes como Oblivion, mas a posição de Final Fantasy II como o primeiro jogo a incorporá-lo é o que o faz falhar tão unicamente.
Os níveis tradicionais foram embora, e agora você aumenta a força de seus atributos separadamente, conforme os usa em batalha. Atacou inimigos o suficiente? Ganha força. Está usando arco e flecha sem parar? Ganha proficiência com ele. Tomou bastante porrada? Ganha vida. Quer upar uma magia? Use ela 500 vezes para aumentar um pouquinho de sua eficácia!!!
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Um sistema desses em um jogo em turno é uma combinação enviada diretamente do décimo círculo do Inferno, esse habitado exclusivamente por Final Fantasy II.
A partir do momento que você começa o jogo, é importante ter em mente que mudar a build de qualquer um dos membros de sua party fica fora de cogitação. É bom já começar com um plano para cada um dos três principais e segui-lo à risca.
E as garras do combate machucam mais ainda quando combinadas com as dungeons do jogo. Elas são lotadas de salas de armadilha, impossíveis de serem decifradas antes de testá-las, e só vai ficando pior conforme o jogo avança.
As evoluções narrativas, contudo, fazem a experiência valer a pena. Por exemplo: você fica preso na dungeon Dreadnought (um dirigível que levanta voo assim que você o adentra), por que, bem, não tem como pular de um airship em pleno movimento, sendo forçado a terminá-la sem a chance de retornar mais preparado. Isso cria um nível de tensão raramente visto para os jogos da sua época.
Os múltiplos membros de sua party que vão entrando e saindo no quarto espaço podem até ser inconvenientes em ocasião, mas tornam tanto a história quanto os encontros de combate mais variados por oferecerem builds únicas que podem (ou não) sinergizar com seus outros aliados.
Além disso, o design e variedade de criaturas são ainda mais impressionantes do que o já vasto arsenal do primeiro jogo. Desde os Chocobos fofinhos até as panteras que podem paralisar todo mundo em um só turno e te destruir completamente, você consegue experienciar diversos inimigos pela primeira vez, muitos deles que marcam a franquia até hoje.
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É uma pena que Final Fantasy II é tão atrapalhado, porque eu acabo ficando sem tanto de único a dizer sobre as mecânicas dele. Tudo que eu disse aqui sobre a gameplay se encaixa na opinião geral de uma enorme parcela da fanbase da franquia, e isso me deixa meio triste.
Ao menos existe a perspectiva positiva de que a Square soube o que manter entre Final Fantasy II e suas sequências, mesmo que isso só tenha vindo após o terceiro jogo voltar à base do primeiro em questão de história e design de dungeons. A história dele é cheia de potencial, e os escritores se aproveitaram bem dos próprios talentos nos jogos futuros.