One Piece Odyssey foi anunciado com esplendor, com escrita e designs de Eiichiro Oda e com mãos do pessoal dos Dragon Quests recentes… os poucos que ligavam pra jogos de anime foram à loucura. Eu não fui, porque eu tava em Skypiea. Bem, as coisas mudaram, e em 26 de julho a Bandai Namco relançou o jogo para Nintendo Switch, onde eu podia jogar.
A história começa como de costume: uma nova ilha descoberta pela tripulação, um problema avassalador e então uma atracagem catastrófica em uma praia desconhecida… One Piece, basicamente. Em pouco tempo o Bando precisa enfrentar um monstro de pedra gigante e, quando estavam para vencer, uma menina aparece e rouba as habilidades de todos os Chapéu de Palha. Clichê, mas perfeito para um RPG! Eu tava achando estranho a lista de habilidades gigantesca com a qual você inicia a aventura.
O Bando é salvo por um pistoleiro chamado Adio, que nos apresenta sua casa e dá uma ideia sobre a ilha. Ele é um aventureiro e acabou naufragando nesse lugar. Desde então ele vive com a menina que roubou nossos poderes, Lim, como se fosse sua própria filha. Para seguir na jornada pelo vasto Novo Mundo e enfrentar seus terríveis oponentes, o bando não pode deixar seus poderes para trás. Então por mais suspeita que seja a situação, o plano se torna claro: vencer os Titãs que possuem boa parte das habilidades e memórias de cada um, assim como explorar o mundo de Memoria – uma dimensão à parte da nossa que é formada de memórias. Nem tudo lá é 100% igual às suas contrapartes do mundo real, mas se torna uma maneira semi-competente de fazer com que o bando enfrente inimigos antigos, agora mais fortes. Se ao menos fosse feito direitinho…
Aviso: Essa análise conterá spoilers pequenos dos primeiros arcos de One Piece (não falaremos sobre o Time-Skip), mas não terá spoilers do jogo em si.
Já vamos falar isso de cara – a parte visual e sonora de One Piece Odyssey deixa muito a desejar. Percebi que essa é uma opinião impopular sempre que pesquiso sobre o jogo. Sei que estou no Switch então fica difícil falar de visual, e de fato, tem momentos que fica claro a inferioridade do Switch comparado aos consoles mais poderosos, mas isso é raro. Fiz meu dever de casa e as mudanças não são significativas o suficiente pra que eu ache o jogo de fato bonito. O problema dele é o estilo artístico super realista, que pouco combina com os designs cartunescos do Oda. O estilo de sombra, a movimentação das cutscenes que parece feita com motion-capture ou mesmo a escolha de cores, não parece One Piece e também não é muito bonito aos olhos. Gráficos mais estilizados fariam bastante sentido aqui, mas já é um costume dos jogos modernos de One Piece trazerem esse estilo realista. Mas nem todos os lugares são feios – eu diria que Dressrosa é bem bonito! Mas na maior parte dos lugares o estilo artístico do Oda não combina e faz tudo parecer plástico.
Sobre o som, no caso, a trilha sonora, essa é a parte que a maioria das pessoas costuma discordar de mim. Eu achei tão sem graça e por vezes… ruim, que em muitos momentos da história me tirou do jogo (aviso, esse link contém spoilers de Enies Lobby). Eu não sou contra orquestrais, mas esses, com os corais e tudo, me deixaram bem desanimada. Eu não faço isso em cutscenes pra poder ouvir as vozes dos personagens, mas sempre que eu tô explorando ou lutando eu ligo outra coisa no meu celular, o que é bem triste pra um RPG de turno, que são jogos que sempre me capturam na soundtrack. E essa trilha não foi feita por um nome pequeno: Motoi Sakuraba cuida tem trabalhos na série Tales of, Star Ocean e até Dark Souls! Não sei bem o que aconteceu aqui.
Pra não dizer que a trilha inteira me afastou, teve uma música ou outra que eu gostei, em especial tocando em Alabasta. Mas é chato, porque o próprio anime de One Piece tem uma das soundtracks mais legais que eu já escutei, e que tem diversos nomes de RPGs (como Final Fantasy) no meio. Era o momento perfeito pra buscar essa vibe!
Saindo dessa parte mais estética, vamos falar sobre combate. One Piece Odyssey tem três barras principais: HP, TP e BP, ao menos esses foram os nomes que eu dei, porque acho que a última se chama “Bond Charge”. HP você já conhece, TP é a barra especial que ativa golpes fortes. Ela sobe com ataques normais, mas não pode ser um Bond Attack. BP é diferente porque sobe de muitas maneiras diferentes. Derrotar um inimigo, curar um membro do time, ajudar na área deles… há diversas maneiras, e ela é usada para duas coisas principais – golpes em grupo e trocar de área.
As lutas funcionam em áreas, uma maneira bem eficiente de mostrar o alcance de certos ataques. Se não me engano tem quatro áreas, mas eu não tenho certeza porque nunca lutei em mais de três. Pra trocar de área ou você elimina todos os inimigos na sua (ou bazuca eles pra outra área), ou usa 1BP pra isso, chegando em outra área já batendo em alguém. Alguns golpes são de curto alcance, outros são de longo. Luffy pode acertar inimigos em qualquer área usando Gum-Gum Pistol, enquanto Usopp pode acertar qualquer um mesmo com seu ataque básico. Esse é o Rei dos Atiradores. Ah, e tem a Nami, que pode acertar todo mundo em todas as áreas com seu Thunderbolt Tempo.
É claro que novas habilidades surgem e tal, Franky mesmo pode arregaçar todo mundo como a Nami faz. Mas existe um motivo pra preferir um personagem ou outro além das suas habilidades. No caso, os Elementos e Tipos de golpe que cada um tem. Nem todos têm acesso à um elemento, e boa parte dos que têm usam fogo (Usopp, Franky, Robin… e mais alguns que não vou spoilar), mas todo mundo pode equipar acessórios que te dão acesso a um. Agora tipo, todo mundo tem! São três membros do bando pra cada Tipo de ataque, sendo eles Poder, Velocidade e Técnica. Luffy, Sanji e Chopper são “Poder”; Usopp, Nami e Franky são “Velocidade”; Zoro, Robin e Brook são “Técnica”. Ataques Poderosos vencem inimigos Velozes, enquanto estes vão vencer personagens Técnicos. É claro que Técnica, por sua vez, corta Poder. Não tem bem um padrão que decide que personagem vai ser o que, mas todos os de “Poder” atacam com o corpo enquanto os de “Velocidade” atacam à distância. Bem, mais ou menos, porque Franky é muito forte de corpo também. Sendo honesta, ele cabe em qualquer um dos três…
Existe também mais um tipo de golpe, os Bond Arts! Esses são os golpes em grupo, e eles ignoram as leis de tipo de ataque porque podem ter os três tipos de uma vez. Pra conseguir ataques em grupo você precisa fazer certas sidequests chamadas Frayed Memories. Esses golpes são apenas uma junção de ataques que você já tem, mas a animação é completamente diferente! Como Roseo Metel do Chopper acertar todos os diversos golpes em um único hit. São bem fortes e não precisam que todos os membros do golpe em grupo estejam ativos na Party, mas de fato usa bastante BP.
Por fim, Cenas Dramáticas ocorrem aleatoriamente nas lutas, sempre com uma condição especial. Cumprir essa condição vai te dar bônus, normalmente sendo mais XP no fim da luta. Pode ser algo como “Vença tal inimigo antes do próximo turno”, ou “Libere a área desse personagem antes que ele morra”, ou até “Derrote esse inimigo com Luffy”. E também tem uma espécie de Cena Dramática quando só resta um personagem no time, isso se até o pessoal na reserva for derrotado. Já aconteceu comigo! Seu personagem fica estupidamente forte, e na vez que rolou de ficar só o Chopper eu aniquilei o boss que eu tava sofrendo. Maldito titã de gelo! Perdi a condição de vencer com Luffy, mas Monster Point + single character reduziu o dano do golpe principal do chefe pra 1.
Só é triste dizer que o combate, embora divertidinho de tempos em tempos (fica excessivamente difícil de vez em quando), não tem profundidade ou dificuldade suficiente pra manter a diversão. Na maior parte do tempo não tem tanta importância trocar de personagem ou usar determinada habilidade. Pra remediar isso, eu ignorei todos os inimigos no mapa que consegui, e isso até que funcionou! Como eu acabei de dizer, sofri bastante no titã de gelo, mas não durou pra sempre. Ainda assim, eu já analisei um RPG de turno de anime ao menos dez vezes pior que esse em combate, então posso dizer que ainda estou no lucro.
Mas também, não dá pra culpar tanto o jogo na questão de diferenciar seus personagens. Eles são diferentes o “suficiente”, com Chopper podendo curar, Brook causando buffs especiais e atacando com gelo, e os efeitos de status diferentes que cada um causa. O maior motivo pra eles existirem é o fato de que One Piece é um anime, você quer usar os personagens que você gosta. Eu tentei jogar mais por gameplay e ainda assim, acabei usando todo mundo bastante. O fato de que tem três personagens de cada tipo ajuda muito, porque tem vezes que só vão ter inimigos de um tipo específico. Acaba fazendo sentido pegar seus combatentes que revidam aquele único tipo! E, é claro, quando o assunto é elementos, certos membros do time vão ser mais indicados. Brook é seu combatente de gelo, então já é motivo suficiente para escolher o esqueleto.
Sobre história, não quero me estender muito. É melhor não dar spoiler algum para que vocês joguem. Só posso dizer que as seções em Memoria são rushadas e sem graça, apesar de serem razoavelmente longas. A maioria dos personagens importantes são cortados fora, e toda a tensão dos combates mais cruciais de cada arco são quase nulas, não só por ser uma lembrança mas porque não houve cuidado. Enfrentar uma Baroque Works composta de só Crocodile e Bon Clay, ou a CP9 com apenas dois membros ao invés de nove… não dá muito certo. Sendo bem honesta, eu preferia que não tivessem essas partes, sério. Não precisa colocar algo no lugar, eu só quero a historinha original. Eu sei que é em Memoria que boa parte de One Piece Odyssey se passa e lá que o relacionamento entre os Mugiwaras e Lim é construído, mas tinha maneiras melhores de fazer isso. Waford podia ser maior e ter áreas mais diversas além das dungeons (que são ótimas), e aí a gente explorava esses lugares novos ao lado da Lim. Sei lá, talvez poderiam ter inimigos antigos pra enfrentar nesses lugares, vindo das memórias dos personagens. Uma parada mais Unlimited Adventure, que é um jogo muito melhor em tudo mas não vamos entrar nesse âmbito.
Só que a história original, fora desses mapas de lembrança, é MUITO boa. Envolve diversos conceitos já conhecidos de One Piece, alguns pouco explorados naquele ponto da história do anime, e também vem com seus próprios mistérios e twists legais de desvendar. Os diálogos entre os personagens são bem fofinhos também, com muita personalidade. Apesar de One Piece Odyssey faltar com carisma em diversos aspectos, na escrita ele realmente se parece com o mangá… até porque é escrito pelo autor!
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Por fim, a parte que eu realmente gostei de One Piece Odyssey foi a exploração. É realmente um JRPG clássico, e fora das lutas é extremamente bem feito. Cada personagem tem uma utilidade e você vai ganhando novas com o tempo.
Luffy pode pegar objetos à distância (muito importante, porque tem lugar que você não pode ir pegar), chegar à certos lugares com Gum Gum Rocket (hookshot), e ele também tem o Haki de Observação, que permite que você encontre itens bem escondidos ou descubra quais inimigos vão te dar mais XP com Cenas Dramáticas.
Zoro pode cortar ferro (é, essa é a parada do Zoro, o espadachim que corta ferro), Nami consegue encontrar dinheiro em qualquer lugar, Usopp pode atirar pra derrubar coisas no alto, Sanji encontra ingredientes por aí. Chopper pode passar por lugares apertados, por ele ser pequeno, enquanto Robin encontra pedaços da história de lugares pelo mapa. Por último, Franky constrói pontes. É, Brook não faz nada, infelizmente. Mas olha, o que ele faria? Eu só consigo pensar em buffs com música dentro das lutas, como um bardo faria em RPGs. Já é estranho que você não pode controlar Franky no mapa.
Voltando ao assunto… A exploração utiliza cada um desses personagens, uns mais do que outros, e é claro que não ter o personagem no momento que precisamos dele (ou não ter a habilidade) influencia na exploração. Ainda assim, o que acaba importando mais é encontrar as coisas. Os coletáveis principais, que são os cubos que upam seus golpes, estão muito bem escondidos! Mesmo que eles se destaquem com o brilho verde que emanam, estão sempre em lugares que você não esperaria. É muito divertido de encontrar, e tem vezes que você vai achá-los em cantos nada a ver do mapa que normalmente estariam vazios.
As dungeons também são muito divertidas, com puzzles simples que todo RPG tem. Elas até que brincam bem com algumas mecânicas, como Gum Gum Rocket ou as partes que só Chopper pode passar, às vezes mudando um tiquinho a maneira que o jogador precisa interagir com certas seções. As dungeons me lembram Skies of Arcadia, o que é um SUUUPEEEEEEEEEER bônus pra mim.
Fora as dungeons também tem as sidequests, que eu não acho muito legais. Todas envolvem meramente ir até tal lugar e vencer um inimigo. Mas olha, tem diversas áreas no mapa que você normalmente não iria se uma quest não pedisse isso, então não é tão ruim. Também tem os Fragmentos de Memória, que são pequenos puzzles de história em um mundo ainda mais ilusório do que Memoria, onde você vai com apenas três ou quatro personagens a fim de ganhar um Bond Art com eles.
Por último, tem as Bounty Hunts, em que você vai atrás de criminosos para entregá-los à Marinha. Mas como você vai entregar pra Marinha sendo um pirata? Bem, tem um mediador que faz isso por você, e então te traz sua parcela da recompensa. São personagens engraçadinhos, mas reutilizando os modelos de NPC genéricos que permeiam One Piece Odyssey por inteiro.
Também dá pra cozinhar, construir e fundir acessórios no jogo. Comidas são meio que itens de cura mais poderosos, causando efeitos diversos e em maior qualidade. Com Usopp você pode construir Trick Balls, que são itens ofensivos usados para atrapalhar o oponente, seja por diminuir seus atributos ou causar efeitos especiais. Por último, fundir acessórios permite que você equipe mais efeitos usando menos slots, no sisteminha “Maleta de RE4” que esse jogo tem nos equipamentos. Bem útil, mas em um jogo fácil desses, acaba ficando de lado. No caso eu usei o suficiente, não pensando demais em estratégias mirabolantes. Afinal, não tem necessidade.
Antes de acabar o texto preciso dizer que, de todas as keys que já recebi, esse foi o jogo mais bem polido. Alguns pequenos errinhos gráficos ocorrem de vez em quando, mas nada demais. Ainda assim, ele crashou dez vezes. Sim, dez. Acabei me acostumando com o tempo e ao menos nunca perdi progresso demais, mas alguém com certeza deve ter perdido por crashar na hora errada. Não é algo que me incomoda tanto, mas na última vez me irritou bastante porque eu tava correndo contra o tempo pra fazer esse texto.
O veredito é que One Piece Odyssey foi uma experiência… esquecível. Fico bem triste de analisar tantos jogos que eu não gostei recentemente, mas não posso fazer nada. Para fãs do anime, a história vai trazer coisas bem legais. Pra quem quer um RPG bem feito, não é bem o caso. Mesmo nos jogos de One Piece, esse fica bem atrás de diversos outros. Grand Adventure (assim como Grand Battle 3 e Rush), a série Unlimited e talvez até Romance Dawn são jogos que mostram muito mais qualidade e personalidade que One Piece Odyssey. Em algumas coisas, ele fez exatamente o que se propôs a fazer, e em outras deixou bastante a desejar. De um jeito ou de outro, podia ser bem melhor e bem mais divertido. Boa noite a todos!
Uma cópia gratuita de One Piece Odyssey foi concedida para análise ao Recanto do Dragão, na plataforma Nintendo Switch.