Mais um ano, mais um Steam Next Fest para apresentar demos de jogos de todas as variedades, desde os mais aguardados até os ainda desconhecidos. Como junho vem sendo um mês muito corrido, não consegui finalizar nenhum dos projetos que texto que vinha planejando para o mês. Entretanto, com essas diversas demos do segundo Steam Next Fest de 2023, quis aproveitar para trazer um texto mais descontraído para o site e não deixar o marco de metade do ano não passar batido.
Sem mais delongas, neste texto pretendo apresentar seis jogos que chamaram minha atenção no festival, apresentar os projetos e mostrar minha visão sobre eles.
The Cosmic Wheel Sisterhood
The Cosmic Wheel Sisterhood é uma “experiência narrativa” sendo desenvolvida pela Deconstructeam e publicada pela Devolver Digital. O jogo gira ao redor da história de Fortuna, uma bruxa que foi condenada ao exílio por 1000 anos por ter feito uma divinação que ia contra o “bem-estar” do seu próprio pacto. Duzentos anos depois, ela decide recitar o encanto proibido que há muito tempo foi lhe ensinado, e com isso uma entidade antiga chamada Ábramar é invocada. A partir daí ambas firmam um contrato com o fim de ajudar Fortuna à sair de sua penitência.
Fortuna é uma adivinha e a partir daí nasce a mecânica mais interessante do jogo: ao firmar um contrato de familiar com Ábramar, Fortuna ganha os recursos para poder montar seu próprio baralho de divinação, algo que vai além do tarot ao qual ela estava habituada. O processo envolve três etapas:
- A esfera da carta (o fundo)
- A arcana da carta (a figura principal da carta)
- Símbolos (coisinhas para dar mais significado à carta)
Cada combinação de elementos dá origem a uma carta única com simbolismo variado que é adicionado ao seu grimório. Mais tarde na demo você tem direito a um test-drive das leituras usando seu deck. Todo o processo de construção do seu baralho é extremamente interessante e ver o simbolismo final traz uma satisfação estranhamente única. A devolver lançou um vídeo que mostra o processo de criação de cartas! Recomendo caso tenha tido curiosidade sobre a mecânica.
+Leia também: WarioWare — os melhores momentos duram 5 segundos | Análise
O jogo esta marcado para ser lançado ainda em 2023, então aproveitem para ter um gostinho da demo antes do lançamento oficial!
Laika: Aged Through Blood
Laika: Aged Through Blood é um motorvania desenvolvido pelo estúdio espanhol Brainwash Gang e publicado pela Thunderful Games. O jogo acompanha nossa protagonista Laika, mãe de Puppy e filha de Maya, fazendo o que é necessário para sobreviver nesse mundo onde a violência e escassez são cada vez mais cruéis e recorrentes (aos moldes de “Mad Max” e “Lisa: The Painful”).
Em Laika, existe um contraste lindo entre a seriedade da atmosfera e narrativa e o quão ridícula é a gameplay, e olha que eu digo isso como um elogio. É divertidíssimo ficar empinando sua moto pelo mapa, dando mortais com ela no ar e logo em seguida morrer de traumatismo craniano porque você não soube calcular o timing da sua queda. Honestamente? Eu sofri bastante no jogo (especialmente jogando no controle) controlando a moto e principalmente quando o combate fica mais intenso, mas, eu admito que foi muito mais skill issue da minha parte do que culpa do jogo.
O jogo é lindo e não poupa esforços em te impressionar visualmente. Entretanto, sua demo tem alguns bugzinhos da câmera travar em certos personagens e problemas como o fato de você não poder usar o quadrado para nenhum outro comando no jogo. O quadrado é usado para resetar todos os comandos padrões, então toda vez que você o aperta para tornar o botão relativo àquele comando, o jogo dá prioridade à retornar aos comandos padrões. Além disso Laika poderia se beneficiar muito de um indicador para onde a frente da moto está apontando, já que muitas vezes a câmera fica muito longe da Laika e você não consegue saber muito bem em que posição ela está.
Laika: Aged Through Blood ainda não tem nenhuma data de lançamento confirmada, então a demo é a única e melhor experiência por sabe-se lá quanto tempo.
Sea of Stars
Sea of Stars é o segundo jogo do estúdio Sabotage (o mesmo estúdio de The Messenger). O jogo é um pastiche claro de Chrono Trigger e outros JRPGs da Square de SNES, porém com algumas novidades aqui e ali para expandir a experiência como novas mecânicas para deixar o combate mais ativo. Ah, e minigames. Afinal, os desenvolvedores não poderiam passar a oportunidade de incluir pesca no jogo, né?
Ao começar Sea of Stars, você escolhe entre uma das crianças do solstício para ser o líder da party: Zale, o dançarino solar ou Valere, a monge lunar. A escolha serve apenas para decidir quem você controla diretamente, já que ambos mantém suas personalidades e papéis na história (sem contar que você também pode alternar entre eles toda vez que sua party for descansar).
O jogo é exatamente o que se espera do projeto que o estúdio Sabotage deixou três anos no forno com o maior carinho do mundo. Os controles são extremamente satisfatórios, os visuais são deslumbrantes e as músicas marcantes. Mesmo não sendo fã de Chrono Trigger, eu consegui desfrutar muito do combate do jogo.
A demo honestamente não tem muita a oferecer em termos de história. É basicamente uma introdução rápida aos controles e combate e logo em seguida o jogo te joga em uma seção da história sem contexto algum apenas para que você possa jogar uma dungeon. O jogo já está com data de lançamento marcada para dia 29 de Agosto, então é só uma questão de tempo para podermos desfrutar do jogo em sua glória total.
URBANO – Legends’ Debut
Urbano Legends’ Debut é um RPG de ritmo desenvolvido por Barosa (e companhia). O jogo conta a história de Vailo, um cara qualquer que durante as noites assume a identidade de “Retaliador”, uma lenda urbana que caça outras lendas urbanas. Ao se mudar para o distrito Karma (por motivos ainda desconhecidos), Retaliador já encontra seu primeiro inimigo. “Meio-Morto” é uma lenda urbana de um ex-assalariado tão obcecado por seu próprio trabalho que até depois da morte vem assombrando lugares de “diversão e vadiagem”.
O jogo transborda uma energia dos anos 2000, desde seus visuais urbanos sujos e poluídos, sua soundtrack remetente aos primeiros anos da internet com um rockzão de garagem sempre que possível, e até com seu artstyle cheio de sombras bruscas e e outlines bem demarcadas. Eu sou suspeito de falar sobre porque essa estética sempre teve e sempre terá um espaço em meu coração, mas, ainda assim acho sua execução maravilhosa.
Sobre a gameplay, o jogo se divide em praticamente três tipos de jogabilidade:
- Sessões de exploração: Esse é o mais comum de todos. Você anda de um lado para outro da cidade, interage com NPCs pelas ruas, pode ir em lojas para comprar equipamentos que melhoram seus status e alimentos que dão buffs temporários, ou ir alguns certos estabelecimentos para melhorar seus status sociais (esse mecânica ainda não está completamente implementada na demo, mas seu esqueleto está ali)
- Sessões de minigames de ritmo: Boa parte das coisas que você pode fazer em Urbano (seja trabalhar para poder tirar uma grana extra ou dar rolês para bater bico) giram em torno de minigames de ritmo. Alguns mais tradicionais como “dance ao som da música” e outros mais diferentes como “acerte o assunto atual da conversa conforme a batida”. Atualmente só temos esses dois na demo, mas o desenvolvedor já prometeu pelo menos mais dois minigames para a versão final do jogo
- Sessões de combate: O combate de Urbano é parecida com a gameplay de Unbeatable. o inimigo principal (ou fenda interdimensional em alguns casos) vai jogar notas em sua direção e você precisa reagir de acordo com o padrão de cada uma delas, a principal diferença entre Urbano e Unbeatable é que em Unbeatable você só precisa reagir, enquanto em Urbano existe um elemento adicional de side-scrolling onde além de reagir você também precisa chegar até a extremidade direita do mapa.
Agora um pouco de feedback sobre a demo: O minigame de dança na balada é super divertido, entretanto, eu sinto que a escolha de botões não foi tão bem traduzida do teclado para os controles mais tradicionais, pois por mais que por exemplo no teclado seja bem simples apertar as teclas A e W juntas, em um Dualshock 4 já não é tão mais intuitivo ter que apertar Quadrado e Triângulo juntos (uma alternativa poderia ser usar mais botões traseiros como L1, R1, L2 e R2). Além desse minigame eu também admito que eu tive um pouco de dificuldade no combate principal pois de início eu achava que a proposta era acertar os sprites dos inimigos e não as “caudas” deles. Talvez um indicativo para isso seria melhor (ou talvez só seja eu que estava errando o timing mesmo).
Urbano Legends’ Debut tem sua demo disponível na Steam e atualmente está tendo uma campanha de financiamento coletivo pelo Kickstarter, então se você curtiu o jogo e tem a condição de poder apoiar o projeto em dólar, saiba que a campanha está aberta até dia 19 de Julho.
Aliás, eu tentei procurar mais afundo e não achei nada exatamente sobre o jogo se declarando como um jogo indie brasileiro porém, tanto na demo quanto no site oficial, as únicas línguas disponíveis são inglês e português (inclusive eu joguei a demo inteira em ambas as línguas e posso confirmar, a versão em PT-BR está muito bem feita) então quem sabe não estamos nos deparando com um jogo vindo de nossos irmãos?
In Stars and Time
In Stars and Time é um RPG de turno sendo desenvolvido pela insertdisc5 (Adrienne Bazir) e publicado pela Armor Games Studios. A história segue um grupo de aventureiros na reta final de sua jornada para derrotar o Monarca da Casa da Mudança, um rei que de pouco em pouco está congelando tanto o fluxo do tempo em seu território.
O sistema de combate é em ATB (Active Time Battle) bem tradicional, entretanto, seu maior charme vem em duas coisas: Em primeiro lugar, o fato de que todo o ciclo de fraquezas é baseado em pedra, papel e tesoura e em segundo, o jogo não contar com um sistema de mana para as personagens utilizarem suas habilidade especiais. Ao invés disso, temos praticamente uma “economia de ações” onde ao usar uma habilidade ela entra em cooldown por um certo número de turnos antes de poder ser usada novamente. Ou seja, toda batalha é um jogo de manejamento de recursos isolado.
Sobre o pedra, papel e tesoura que eu comentei mais cedo, a parte interessante dessa mecânica é que ela é incorporada nos sprites de todos os personagens e inimigos do jogo! Toda luta vira um jogo de “Onde está o Wally” com você tentando identificar o elemento do oponente (inclusive a última luta da demo usa isso de uma maneira muito divertida).
Meu único feedback seria tirar a opção de “save” do menu de pausa do jogo, já que é um pouco estranho a opção constantemente estar lá já que você só pode salvar em pontos fixos do jogo (eu entendo que em tese deveria ser para você poder dar load onde você desejar, mas eu acho que não tem tanto problema o jogador ter que voltar para a tela de título para fazer isso).
In Stars and Time é extremamente charmoso, cheio de carinho em cada cantinho da criação e é um prato cheio para todos os fãs de jogos de estilo RPG Maker. A demo se encontra disponível na Steam e o jogo está marcado para ser lançado ainda este ano.
Knuckle Sandwich
O que dizer sobre Knuckle Sandwich? Honestamente é um pouco difícil porque eu não me atualizei tanto sobre seu estado nos últimos tempos. Quer dizer, eu lembro dele conseguir o financiamento coletivo em 2018 e de ver alguns conhecidos comentando sobre a demo, mas conforme cinco anos se passaram e nenhuma grande notícia ter vindo eu acabei deixando o jogo de lado. Porém esse ano Knuckle Sandwich parece ter voltado com tudo e está mais perto do que nunca de ser concluído.
Knuckle Sandwich é um RPG de turno desenvolvido por Andew Brophy. A história gira em torno de você, um recém-chegado na Cidade Brilhante em busca de um emprego para poder se manter em sua nova vida. As principais inspirações para a narrativa do jogo são Fargo, À Beira do Abismo (1946) e Psicopata Americano (2000), ou seja, esteja preparado para o mais puro suco de “realismo absurdista” possível. Eu genuinamente gostaria de falar mais sobre a narrativa presente na demo mas ela vai desde comentários sobre capitalismo tardio à antropofagia de forma tão rápida que eu prefiro deixar a história como surpresa.
Sobre a jogabilidade, o jogo ele bebe muito de jogos focados em minigames como as franquias “Warioware” e “Rhythm Heaven”, então quase todo turno neste jogo é um minigame frenético e super divertido.
Knuckle Sandwich segue sem data de lançamento ainda, entretanto, temos uma demo atualizada exclusiva deste Steam Next Fest, então isso te pareceu interessante aproveite para poder testar assim que possível.