Em 1996 Nintendo lança para seu console atual Mario Kart 64, uma continuação sem precedentes de Super Mario Kart do Super Nintendo. Os gráficos em 3D permitiam cenários muito mais detalhados, relevo e movimentação aprimorada. Esse jogo sempre foi um sucesso, e também foi para mim. Durante toda minha vida esse foi o Mario Kart que mais joguei com muitas pessoas diferentes, recentemente zerando umas cinco vezes junto do meu amigo Benjamin. Por conta do sucesso estrondoso dos jogos de corrida do Mario, Kart virou uma febre no mundo dos videogames e é aí que Crash Team Racing entra.
Superficialmente CTR é apenas mais uma cópia de Mario Kart e eu também pensava o mesmo, e gostava de jogar apenas por ser de fato mais do que eu já gostava. Mas eu era uma menina burra que nunca tinha jogado o Adventure Mode porque não tinha multiplayer, já que lá CTR me ensinaria como ele é o melhor jogo de Kart da história.
Vamos pelo básico antes. Assim como em Mario Kart, as corridas possuem itens que tem utilidades bem parecidas com o jogo da Nintendo. No seu carro você pode acelerar, desacelerar e dar Drift, que o jogo chama de Power Slide. Até o Drift é igual no Mario já que o personagem dá um pulinho antes! Mas esse pulinho logo mais vai receber uma importância especial.
Uma criança jogaria apenas sabendo dessas coisas, até que entrasse no modo história para aprender as mecânicas. É aí que CTR se diferencia. Primeiramente, antes de Mario Kart ter implementado essa ideia, você pode dar um dashzinho quando usa uma rampa. Essa é a mecânica de Hang Time. Em qualquer inclinação você pode pular e conseguir muita distância vertical, e assim que suas rodas encostarem na pista seu personagem vai ter um boost de velocidade. Quanto mais tempo no ar, maior o boost. Essa é uma mecânica que também foi introduzida em Mario Kart, se não em engano no Wii, mas não é tão forte ou divertida quanto Hang Time.
Super Mario Kart tinha moedas espalhadas por suas pistas que deixavam seu personagem mais rápido. Em CTR, você pode pegar Wumpa Fruits pelo caminho, mas você não fica mais rápido. Existe um certo problema de balanceamento na velocidade que as moedas te dão, porque você as perde ao levar algum dano. Por isso, quem tá atrás acaba ficando mais atrás ainda porque perdeu velocidade. Em Crash Team Racing, quando você consegue 10 Wumpa Fruits, você recebe um boost nos seus itens.
Essa é uma mecânica muito bem balanceada que, embora valorize o jogador que conseguir as frutas, não faz dos outros completamente miseráveis. Alguns itens em CTR pedem mais habilidade que seus equivalentes em Mario Kart e costumam te dar um pouco mais de controle. As bombas (Casco Verde) podem ser explodidas a qualquer momento, por exemplo. A gameplay de Crash Team Racing é menos focada nos itens e mais na sua movimentação que em Mario Kart. Além de que alguns itens fortes simplesmente não tem chance de aparecer em certas posições, então quando você vence ou perde normalmente foi sua culpa. É claro, ainda acontecem algumas injustiças mas é mais normal que as corridas sejam sobre habilidade. Vale muito mais saber como correr em cada pista do que pegar itens bons, e o quão bom seu item vai ser também é decidido pelo seu esforço extra em coletar frutas. Caixas de frutas, que são onde você vai pegar a grande maioria delas, costumam estar espalhadas em lugares não muito vantajosos. Como em um canto da pista que, embora seja fácil de chegar, é muito afastado do caminho mais rápido. Por conta da próxima mecânica que vou explicar, você acaba precisando decidir entre ganhar mais velocidade ou pegar frutas. Há muitas escolhas pra fazer em Crash Team Racing, e são elas que decidem se você vai vencer ou não, ao invés de sorte.
E então temos a mais importante mecânica do jogo, o Boost. Quando você usa o Drift, uma barrinha no canto inferior direito começa a subir. Ela inicia verde, mas rapidamente fica vermelha. Se você pressionar o outro botão de drift (ambos L1 e R1 servem pra isso), seu personagem vai dar um dash. Se você prosseguir no seu drift, ainda pode dar mais dois dashes no mesmo drift! Essa mecânica pede timing, porque quanto mais cheia a barra vermelha estiver maior vai ser seu drift. Aliadas de Hang Time é muito provável que seu personagem vai estar dando boosts a todo momento! Até porque tem muitas inclinações propositais pelas fases com bastante variação de relevo justamente pra acompanhar suas mecânicas de movimentação. É bastante natural que aquele que vai ganhar as corridas é o que melhor usou da movimentação do jogo e do conhecimento da pista.
Embora todas as mecânicas sejam baseadas em habilidade, nenhuma é difícil de fazer. Com o tempo e prática você rapidamente consegue se acostumar com o flow da gameplay e, com isso, se divertir bastante com algo que outros jogos de corrida não tem a oferecer. E caso você não tenha ninguém pra jogar com você, CTR tem um modo Aventura onde você vai encontrar um estilo de gameplay similar aos Crashes de plataforma.
O modo aventura é um collectathon e é um dos melhores Story Modes de Kart que eu conheço por estar intrinsicamente ligado aos outros modos de jogo. Isso se dá porque os coletáveis são adquiridos fazendo coisas diferentes. Pra pegar o troféu você precisa vencer a corrida, pra pegar uma Relíquia precisa vencer os time trials (que são muito melhores que qualquer outro jogo de Kart), pra pegar Tokens tem um desafio de exploração em todas as fases. Gems são conseguidas quando você pega todos os Tokens de uma cor específica e libera o Cup delas. Terminar o Cup não só te dá a Gem mas um personagem novo para os outros modos de jogo. Esse modo história também tem boss fights em que os chefes tem sempre um item específico em mãos (te ensinando a lidar com eles) e fases de arena onde você tem que coletar cristais em um tempo limite, usando do seu conhecimento de Hang Time para alcançar alturas usando o terreno.
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Você só precisa de Troféus para terminar o jogo, mas é muito recomendado que você pegue as outras coisas também que acabam por desbloquear conteúdo como um incentivo. Porque ambos Time Trial e CTR Challenge (Tokens) vão te ensinar de maneiras muito inteligentes e naturais a como dominar as mecânicas do jogo e cada uma das fases dele. Desse modo você pode se tornar um mestre ou muito perto de maneiras muito intuitivas. Nos Time Trials você descobre rotas novas e se desafia em pegar as diversas caixas de tempo (assim como em Crash 3) pra conseguir terminar as pistas no tempo limite, enquanto nos desafios você precisa procurar as letras C, T e R escondidas na fase e assim conhecer muito melhor ela de maneiras bem diferentes. Nesses dois modos você descobre muitos segredos que nunca teria imaginado e esse conhecimento vai ser passado pros outros modos e jogando com amigos.
Isso é algo muito interessante sobre jogos com certa competitividade, baseados em habilidade. O fato de tirar ou adicionar coisas de maneira estratégica pode levar o jogador a aprender muito mais sobre a gameplay por conta própria. Pegar uma rota muito diferente a fim de conseguir parar o tempo por mais segundos nos Time Trials não só te faz conhecer as rotas, como aprender a usar sua movimentação e Boosts para chegar mais rápido na linha de chegada. Você também aprende como dobrar melhor e usar do break pra isso. Enquanto isso, os tokens CTR me fizeram aprender coisas absurdas em cada fase, como inclinações e pulos super específicos pra conseguir muita velocidade, e tudo isso eu fiz sozinha!
Até onde eu sei, o remake chamado Nitro-Fueled tem praticamente tudo que eu falei e muito mais, pegando conteúdo dos outros jogos de corrida do Crash e da franquia em geral. Então, se não quiser usar um emulador de PS1 pra jogar CTR, você pode jogar essa versão aprimorada. O único problema de Crash Team Racing é não ter Peach e Isabelle como personagens jogáveis, mas pelo menos eu tenho a Coco! Boa noite.